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Identificações dos colaboradores-professores(as) com o extrativismo vegetal da floresta,

Pois um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois. Walter Benjamim58

O terceiro eixo nasce conforme afirma a epígrafe dos acontecimentos vividos e lembrados, a chave para experimentar “um antes e um depois”, o que faz também compreender as palavras “extrair e extrativismo”. Extrair talvez seja uma das formas mais antigas e conhecidas pelos seres humanos no sentido de promover atividades para produção de alimentos, remédios ou trabalho para subsistência vive no campo, floresta e beiras dos rios.

Desde os primórdios, os homens se mantiveram graças à prática da atividade de recolher alimentos para sua subsistência, um extrativismo próximo ou não de seu ambiente de trabalho ou de moradia; no caso dos ribeirinhos, o extrativismo não é próximo da moradia, viver do extrativismo vegetal é um malabarismo e até uma maratona de exercícios físicos uma rotina por vezes desconfortável e obrigatória. E, como uma chave indicada na epígrafe, de quem abre portas, mostra os acontecimentos revividos pela memória abrem caminhos e atravessam a vida daqueles que lutaram em busca de escolarização, do extrativismo vegetal na floresta densa, cheias de perigos, junto aos rios Anauá, rio Branco, Jauaperi, Água Boa, Catrimani e Xereuini. Com base nos acontecimentos, no extrativismo, no turismo, na floresta e nas lembranças é que esse eixo se instaura, pelo deslocamento da memória, de lembrar, contar, empurrar e reajustar as palavras de cada um dos colaboradores da pesquisa, alinhados por suas experiências, vivências, fatos; teias que se transformam em discursos literais.

Nessa perspectiva, apresentamos os ditos do professor Paulinho sobre o contexto do extrativismo da floresta para a economia do Território do Rio Branco/Roraima e para a alimentação das famílias e os efeitos de sentido de identificação com os espaços que retratam essa realidade vivida pelos ribeirinhos.

58 Teses sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. Trad. S. P. Rouanet. São Paulo:

O leite da seringueira era pra borracha, calçados, brinquedos e outros objetos. Todo trabalho era braçal, artesanal, o transporte feito nas costas até chegar ao rio. Os extrativistas faziam os barracos na margem dos rios, igarapés precisava destruir a floresta para fazer os caminhos e facilitar o transporte do produto à beira dos rios, dos igarapés para chegar até Manaus. [...] A extração vegetal foi uma grande fonte de renda dos

riobranquenses, eles faziam muitas coisas com esse sumo da balata que

parece um grude. (PROFESSOR PAULINHO, 08/07/19, grifos da autora).

Professor Paulinho explica a utilidade dos produtos colhidos na floresta, “o leite da

seringueira servia para a produção da borracha, calçados, brinquedos e outros objetos”.

Sobre o extrativismo do baixo rio Branco, professor Paulinho justifica a importância da exploração dos vegetais, um negócio lucrativo, cobiçado, porém árduo, que trouxe danos irreversíveis ao meio ambiente pela destruição da floresta, esmagada por sujeitos ambiciosos e sem escrúpulos, que via na extração vegetal o rompimento das fronteiras econômicas da região. O extrativismo, como atividade econômica e política na Amazônia rio-branquense, não apresenta uma data específica, mas se acredita que teve início por volta da década 1920, quando a borracha se destacou como a riqueza do Brasil: “Tudo era um trabalho artesanal, o corte, a

limpeza das árvores, o transporte feito nas costas até chegar ao rio”. O trabalho era difícil,

escravo e podia destruir a floresta sem que houvesse nenhuma punição, além disso era um risco a exploração das matas pelos insetos, animais ferozes, peçonhentos e a distância para o socorro:

“[...] os extrativistas precisava destruir a floresta para fazer os caminhos e facilitar o

transporte do produto até a beira dos igarapés e dos rios para chegar até Manaus”. A

borracha pesava, a distância dos rios movimentava outras formas de transportes pelas picadas que exigiam estratégias, força física e trabalho em grupo.

Havia pontos negativos desse trabalho, mas também o exercício positivo da extração vegetal pela confecção artesanal de objetos diversos, “eles faziam muitas coisas com esse sumo

da balata que parece um grude”. Ao longo da leitura dos excertos vai-se observando que estes

saberes como práticas dessa região, que ainda não são homogêneos, fazem a diferença pela cultura, questões sociais, regionais e econômicas.

Nessa região se vivencia uma ampla variedade de saberes tácitos, saberes ribeirinhos no trato das ervas medicinais, da lua para o plantio, a pesca, a caça, a colheita, a pesca dos peixes ornamentais, a coleta da castanha, até a vazante tem seu significado para a plantação nas terras de várzeas. Parece impossível, mas cada comunidade tem suas práticas, seja para o trabalho com a terra, a escola, os trabalhos artesanais motivados pela escola que orienta, constrói saberes e destina as experiências para subsistência pela venda dos produtos aos turistas.

Em sua fala abaixo, descreve cautelosamente como se dava o processo da extração da balata e a forma como se usava o leite da seringueira.

Com a resina da balata59 eles faziam artesanatos, tubos, sandálias, chiclete,

braceletes, vasilhas e outros objetos. Os balateiros passavam de seis meses fazendo a colheita da balata. Alguns balateiros não plantavam nada, viviam na miséria esperando pela resina sem esperança de melhorar a vida financeira, pulando de um lado pro outro da floresta com a família deixando os filhos fora da escola. [...] Quem cortava a seringueira, que também fazia parte das riqueza do país. As fornalhas para defumar o leite da seringueira também era um trabalho pesado, precisava de muita lenha pra queimar e defumar o leite e formar a borracha. Isso também causava doença nas

pessoas pela fumaça e escravidão. As borrachas pesavam trinta a quarenta quilos. Não conheci nenhum balateiro ou seringueiro rico ou que tivesse

uma vida financeira tranquila. Todos eram pobres, melhor dizendo miseráveis, só possuíam o barraco e a família. A borracha pronta, pesada era entregue aos coronéis ou seringalistas (donos dos seringais).

(PROFESSOR PAULINHO, 08/07/2015, grifos da autora).

Professor Paulinho mostra que as extrações dos vegetais se sobressaíam ao longo do percurso de colonização, pela força de trabalho e economia fonte de renda anterior à criação das comunidades ribeirinhas: “Com a resina da balata eles faziam artesanatos, tubos,

sandálias, braceletes, o chiclete, vasilhas e outros objetos”. E mesmo sendo um trabalho

escravo, de destruição da floresta, de intenso esforço físico, que prejudicava as árvores, promovendo sua extinção, os extrativistas a tinham como a única fonte de renda em determinados períodos: “Os balateiros passavam de seis meses fazendo a colheita da balata”. Esses produtos possuíam valor, aplicabilidade doméstica e movimentavam a economia local e regional. “Alguns balateiros não plantavam nada, viviam na miséria esperando pela

resina sem esperança de melhorar a vida financeira, pulando de um lado pro outro da floresta com a família, deixando os filhos fora da escola”. Pela vida nômade dos extrativistas,

a escola não significava esperança para algumas famílias. Estas resinas possuíam grande importância comercial, em sua forma original ou quando transformados em produtos exportados para o mercado internacional.

A curiosidade aguçava meus pensamentos ao imaginar os trabalhos dos balateiros, assim como dos meus pais no corte da seringueira. A narrativa de professor Paulinho era cercada de mistério ao narrar histórias de balateiros, mateiros (conhecedor da floresta), “Quem cortava a

59 Ecclinusa balata Ducke Sapotaceae, o termo “balata” pode designar outra espécie produtora de gomas não-

elásticas: Manilkara huberi Ducke & Standl (Sapotaceae), conhecida como maçaranduba comum na região

amazônica. Disponível em: <http://agroeco.inpa.gov.br/reinaldo/RIBarbosa_

seringueira, também fazia parte das (riqueza) do país. As fornalhas para defumar o leite da seringueira também era um trabalho pesado, precisava de muita lenha pra queimar e defumar o leite e formar a borracha”. A riqueza de detalhes sobre o trabalho do caboclo na

floresta demonstra como se dava a coleta dos vegetais, dentre eles o látex.

Professor Paulinho, com brilho no olhar, coça a cabeça e com os olhos arregalados fala desse tempo sombrio, do trabalho escravo, numa conta que os soldados da borracha não liquidavam, quanto mais produziam mais deviam aos patrões os coronéis de barranco corruptos, além de ser pouco valorizado pelos compradores, regatões que exploravam os ribeirinhos em troca de gêneros alimentícios básicos por preços exorbitantes, em relação ao preço da borracha, o couro de animais, a castanha, tartarugas e outros objetos. Professor Paulinho garante que a vida do balateiro e do seringueiro era um desafio, pelo sofrimento, o trabalho na chuva, sol, a pobreza crônica, mesmo com significativas safras os trabalhadores não cresciam economicamente. Na década de 1980, a exploração da balata no baixo rio Branco decaiu, assim como a seringueira, deixando centenas de famílias sem renda para sobreviver. “Não conheci

nenhum balateiro ou seringueiro rico ou que tivesse uma vida financeira tranquila. Todos eram pobres, melhor dizendo miseráveis, só possuíam o barraco e a família”. O esquema de

trabalho se mostrava desafiador, arcaico, pouco lucrativo para quem exercia o ofício de balateiro e seringueiro, coletor de castanhas, juta e sorva.

As mulheres também exerciam a profissão de cortadoras, coletoras e produtoras de borracha. Minha mãe Nazira, minhas avós são realidades viva desse trabalho não exclusivo aos homens, quando colhia e defumava o látex, as mulheres e crianças carregava longas distâncias o leite em baldes pesados, sem um calçado apropriado, por vezes até descalços ou com sapatos feitos do látex da seringueira. “A borracha pronta, transportada e pesada era entregue aos

coronéis ou seringalistas (donos dos seringais)”. Esse momento evidencia a alegria do

professor Paulinho de relembrar tudo que sua memória não apagou, enquanto informa sobre a borracha como riqueza do país, da sua liberdade o tema da escravidão, e o medo dos homens invadir a floresta, situação que exigia determinação e coragem.

Entre os produtos extraídos das florestas e utilizados para diversos fins, professor Paulinho cita cada uma com suas particularidades, no excerto abaixo a sorva, uma árvore frutífera proibida a comercialização da madeira, assim como a seringueira e a castanheira, somente quando morriam caia e faziam uso das madeiras pelo valor alimentício mas do leite, dos frutos e da castanha do brasil. No caso da sorva meu pai utilizava para calafetar suas canoas, como vermífugo, para cabos de machado, facão e panelas até para construção de casas e o leite também usado pelos caboclos para calcificação de ossos quebrados.

Nesse universo das matas, águas, vizinhos, várzeas, praias, árvores, pássaros e animais, os saberes tácitos contribui para a vida em família, a economia, o trabalho, os costumes dos caboclos. Nessa região, os povos ainda convivem com as águas que representam uma variedade de especificidade, valores, poderes numa dimensão que alcança o cotidiano dos ribeirinhos de inúmeras formas.

Dentre o extrativismo, o látex da seringueira, era usado em sua forma original para transformar-se em cernambi com o leite coalhado, cortava-se enrolava na madeira dando início borracha, por meio da defumação do leite (Figura 13), e, em função da fumaça, do esforço físico, da postura, os homens e mulheres que exerciam essa profissão eram acometidos de diversas doenças pulmonares, de coluna, de artrose, o que não impedia que a mulher executasse o serviço com a mesma habilidade e interesse que os homens.

FIGURA 13 - Mulher defumando o látex, sustentabilidade e água viva da Amazônia

FONTE: Arquivo ferdinandodesousa.com 1950.

Professor Paulinho relato sobre o extrativismo na floresta do São José do Anauá, e expressa as barbaridades da extração do leite e dos frutos da sorveira pela barbaridade com que se extraiam os frutos causava danos irreparáveis às árvores.

A sorva há muito tempo deixou de ser comercializado devido à Lei do Meio Ambiente, que proibiu sua extração devido à forma cruel que era colhida o

leite, os coletores subiam com esporas60 para cortar os galhos em cima, dali

colhia o leite que tomava com café, e fazia o mingau das crianças e o preparo de outras comidas. As esporas penetravam na árvore e muitas chegaram a morrer ficando quase em instinção. Outro motivo a falta de bom preço do produto, a exploração de quem comprava, se tornou quase inviável

a produção da sorva. Mas ali a gente tinha muita fartura de comida,

faltavam outras coisas que a gente comprava dos barqueiros. O extrativismo da sorva, o corte da seringueira, a colheita de castanhas era um trabalho intenso, cansativo e perigoso. No inverno se tornava escasso algumas extrações e coletas (PROFESSOR PAULINHO, 08/07/2015, grifos da

autora).

Dessa árvore se usava-se tudo, dos frutos se fazia sucos, tortas, sorvetes, doces, geleias, picolés, sua casca é vermelha leitosa que cola nos lábios, os ribeirinhos afirmam que é rica em vitamina C, além do látex ter inúmeras utilidades.

Nesse excerto, em função da destruição das árvores, “a sorva61 há muito tempo deixou

de ser extraída e comercializada devido à Lei do Meio Ambiente”, apesar de ser considerada

um alimento farto, extraído da floresta, que alimentava milhares de famintos em uma época de muita pobreza na amazônia roraimense. No entanto, essa pobreza se materializava em função da distância, dos parcos recursos que advinham desse trabalho, necessário para a compra de outros alimentos básicos, como: café, açúcar, sabão, querosene, roupa, calçados etc. “Os

coletores subiam com esporas para cortar os galhos em cima da árvore, dali colhia o leite que tomava com café, e fazia o mingau das crianças e o preparo de outras comidas”. A

extração se tornou proibida pela forma cruel da coleta do leite e dos frutos da sorva, uma destruição em massa das árvores. “As esporas penetravam na árvore e muitas chegaram a

morrer ficando quase em instinção”.

Professor Paulinho, nesse momento, apresenta outras circunstâncias para a interferência na extração do leite da sorveira, “a falta de bom preço do produto e a exploração de quem

comprava se tornou inviável a produção um prejuízo econômico”, na verdade, essa fonte de

renda extinta fez com que os extrativistas mudassem de lugar em busca de trabalho para o sustento das famílias. “Mas ali a gente tinha fartura de comida, faltavam outras coisas que a

gente comprava dos barqueiros”. Havia fartura de peixe, de caça, de quelônios, palmitos e

frutos retirados das árvores, como açaí, bacaba, buriti, uixi, jatobá, taperebá fruta-pão, ingá... E

60Acessório para subir nas árvores, como forma de segurança. Porém as garras da espora fere as árvores

chegando a mata-las.

61 Sorva ou sorveira é o nome popular de uma árvore que produz um leite usado como remédio e alimento na

região amazônica. Seu nome científico é cormus domestica spach.e pyrus sorbus, da família botânica:

apocynaceae. Seus frutos são muito saborosos e doces. Disponível em:

http://globoreporter.globo.com/globoreporter/0,19125,vgc0-2703-18503-1-304874,00.html>. Acesso em: 5 jul. 2019.

também evidencia que do leite aos frutos da sorva, tudo servia de alimento para os ribeirinhos, além da venda do produto ao mercado externo.

Professor Paulinho explica a forma como se dava a coleta dos produção dos produtos extraídos da floresta. De inverno a verão havia a produção de borracha, no verão, tanto a “o

extrativismo da sorva, o corte da seringueira, a colheita de castanhas era um trabalho intenso, cansativo e perigoso”. Cada produto tem um período para colheita ou extração, como

a balata que também havia um tempo certo de colheita. Ao classificar o trabalho do extrativismo com os adjetivos “intenso”, “cansativo” e “perigoso”, é pelo risco do ouriço de castanha cair na cabeça de alguém, ou dos galhos da Sorveira se quebrarem, causando uma queda livre no meio de árvores e tocos, acidentes que poderiam resultar numa fatalidade.

FIGURA 14 - Frutos da Sorveira / Árvore da Sorveira colhendo o látex junto da espora

FONTE: Arquivo Sorva-Wikipédia, a enciclopédia livre. / Arquivo. Mindenpictures.com

A busca desses homens que de alguma forma lutava por moradia, escola, trabalho, alimento, considerando suas relações estabelecidas pela constituição dos saberes, dos modos de vivência, governamento da vida, uso da floresta, da terra como trabalho que faziam parte da cultura, costumes e histórias dos ribeirinhos, se revelava intensivo, estratégico naquele ambiente sem apoio político e criação de políticas públicas à saúde dos trabalhadores.

Assim, professor Paulinho compreende a forma de vida em que o “outro” se faz conhecer pela integração social, pelo trabalho, o direito a exploração da floresta, considerando a escola instrumento compromissos, de interesse, transformação e mudanças, no sentido de atentar para as necessidades da aprendizagem, das relações pessoais, políticas, econômicas,

religiosa e familiares, pelo olhar do discurso inteirava-se de seu papel sem perder sua identidade de professor vivenciando a calamidade do extremismo.

No trecho abaixo, a relação do professor Paulinho com a verdade, constitui-se de sua racionalidade para descrever a preocupação com a destruição da fauna e da flora riobranquense e expõe a falta de compromisso dos governantes, dos ribeirinhos, dos caboclos e dos mateiros que eram peritos na destruição do meio ambiente.

(...) os grupos que vendiam as tartarugas e tracajás, que explorava as matas em busca de madeira de lei, a matança das onças, anta, porco do mato, gato do mato, jacaré era muita gente que vivia disso. Eles matava pra vender o couro que dava dinheiro mais também comiam a carne. Eu sempre fui contra esse negócio de matar daquele jeito os animais, era coisa de doido, e arrumei muita briga com isso. Nunca tive condições proteger os animais não

tinha apoio. Eu queria proteger a floresta, as árvores como castanheira, a

sorveira, o cedro, mas carecia do poder público para garantir o sucesso do trabalho. Sozinho não tive força para proteger. Hoje é proibido pegar as tartarugas e os tracajás que era um negócio de ouro pros traficantes que pegavam pra vender tantos os quelônios como seus ovos. O IBAMA protege

os animais dos matadores mais não dá conta de cuidar. É um espaço grande

de praias onde desova os bichos de casco é impossível de proteger. Uma coisa nunca vou esquecer o jeito que eles assavam as tartarugas e os tracajás fazia um fogo e punha para assar vivo com a parte de cima para baixo. A gente via os bichos pedir socorro com as pernas e pescoço esticando no fogo quente (PROFESSOR PAULINHO, 08/07/2015, grifos da autora).

Paulinho se revolta com a situação, sua mensagem é formulada com tristeza no semblante, ao relatar os procedimentos dos caçadores, dos turistas, dos ribeirinhos e caboclos que viam nos quelônios, o prato típico da região as carnes de animais silvestres servem como alimento à população, “os grupos que vendiam as tartarugas e tracajás, explorava as matas

em busca de madeira de lei, a matança das onças, anta, porco do mato, gato do mato, jacaré era muita gente que vivia disso”.

Professor Paulinho não esqueceu tais atrocidades vivenciadas em sua infância, juventude e vida adulta; após anos, a crueldade surge em sua mente como um terremoto que tragava a região pela venda dos quelônios. “Eles os [caçadores] matava pra vender o couro e

a carne que dava dinheiro mais também comiam a carne. [...] fui contra esse negócio de matar daquele jeito os animais, era coisa de doido e arrumei muita briga com isso”. Mesmo

ameaçado, Paulinho não se permite intimidar, enraíza suas relações de poder no sentido de mostrar seu trabalho, se identificando como quem mantinha o controle sobre os predadores humanos.

O discurso ritualizado de Paulinho, nos permite compreender mais sobre a matança dos animais, tendo em vista que não havia nenhum controle na região, havia liberdade as práticas de caçadores, como um trabalho qualquer. Paulinho expressa sua indignação como educador, cuidador, protetor sensível às barbaridades que presenciou: “Eu queria proteger a floresta, as

árvores como castanheira, a sorveira, o cedro, mas carecia do poder público para garantir o sucesso do trabalho. Sozinho não tive força para proteger”. Hoje tem-se a garantia de leis que

protegem os animais, o meio ambiente, executada por profissionais no controle sobre sua aplicação, embora ainda seja ineficaz nesse extenso território desprotegido.

Professor Paulinho aborda sobre o trabalho do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, para coibir os predadores, embora o trabalho dos