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Nesse cenário da pesquisa, como professora, pedagoga e pesquisadora na área da Educação, parece razoável direcionar os procedimentos metodológicos que incluem a investigação, considerando as possibilidades de apresentar os modos pelos quais foram possíveis conduzir a metodologia de pesquisa.

Estrategicamente, os procedimentos de pesquisa de campo foram conduzidos por um roteiro de entrevista semiestruturada (Apêndices B, C e D), com questões direcionadas, de interesse da pesquisa aliada a um caderno de campo denominado “Meu amigo de fé dessa jornada”, os quais contém anotações, fragmentos e experiências pontuais para a construção desse texto. As entrevistas apresentavam entre vinte e três a trinta e nove questões abertas e direcionadas à temática da pesquisa, organizadas, selecionadas com antecedência e sem restrições para os entrevistados falarem o que julgassem importante.

Em parte, alguns colaboradores(as), antes mesmo de serem entrevistados, já eram conhecidos pela pesquisadora, que, inclusive, mantinha contato mais próximo com alguns, o que facilitou a realização das entrevistas, mesmo parte deles não residirem mais no lugar que ajudaram a construir, o município de Rorainópolis, pelos mais diversos motivos.

O levantamento do corpus, conforme já mencionado no memorial, teve início com a pesquisa de mestrado, quando tomamos como um trabalho extensivo, vivo, a pesquisa de campo desenvolvida entre 2 a 30 de julho de 2015 e de 10 de dezembro a 30 de janeiro de 2016, período em que entrevistei cinquenta e duas pessoas com o objetivo de conhecer a história da migração

da Vila do Incra, a implantação da Casa-Escola do Valentin, o surgimento e origem da EJA. Porém, no percuso do doutorado entre 2017 a julho de 2020, realizei outras entrevistas, no sentido de tirar dúvidas e tornar possível a compreensão na escrita das histórias de vida do professor Paulinho, professora Marlene e professora Ordalha. Em parte, duas entrevistas com Perla Araújo foram de cunho presenciais e uma com a filha do professor Paulinho, as demais foram realizadas via WhatsApp, Facebook, ligação por celular.

As entrevistas foram realizadas nas residências e/ou locais de trabalho (roçado, escola, universidades, praças etc.), e em diferentes munícipios do Estado de Roraima. A idade dos participantes-entrevistados variava, naquele momento, entre 40 e 82 anos, com diversos estados cívis e econômicos, aposentados, pessoas que atuavam ou aturaram como professores, agricultores, funcionários federais, estaduais, municipais, mecânicos, administradores de empresas, domésticas, pescadores e carvoeiros, entre outros.

Dessas, foi possível agendar e antecipar o assunto tratado na entrevista em seis casos, após contato pessoal por celular ou pelo próprio interesse em participar da pesquisa, sem a necessidade de marcar horário e data. No entanto, minha agenda esteve sempre lotada, já que o tempo e a distância foram meus concorrentes. Para tal realização, todos os entrevistados foram informados sobre o processo de gravação em áudio, vídeo, fotografias, da taquigrafia ou escrita dos relatos, normas que garantem a segurança das suas falas. Alguns entrevistados não permitiram nenhum tipo de tecnologia de gravação, ou seja, apenas a forma tradicional de taquigrafia e anotações à mão.

Agi respeitando o direito de acordo com as exigências de cada participante. Informo também que todas as pessoas que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a fim de princípios éticos de pesquisa.

O processo de produção de dados envolveu um grupo de digitadores, profissionais aptos à organização das perguntas e transcrição das entrevistas. Após a transcrição, os textos foram devolvidos aos entrevistados para leitura, confirmação das informações prestadas e a retirada dos termos que porventura, de acordo com o entendimento, poderiam ser comprometedores.

Assim, após todo o processo de aprovação pelos colaboradores, as entrevistas foram assinadas, garantindo a autorização para uso dos seus respectivos nomes, sem nenhum pseudônimo na publicação de seus discursos, haja vista que nenhuma informação há, que possa causar dano à saúde física, mental, psicológica ou espiritual dos entrevistados. Sendo assim, entendo que todos os aspectos das entrevistas foram esclarecidos para tornar possível o alcance dos objetivos propostos, elemento fundamental para a realização desse trabalho.

pesquisa do mestrado, e três estão presentes nesta tese. A seleção da amostra desses três colaboradores foi realizada de forma intencional, pela força das informações que carregam e por serem considerados os mentores da Educação nas comunidades ribeirinhas, indígenas e assentamentos, sobretudo por se relacionarem com a EJA.

Paulo Lopes da Silva foi o primeiro professor contratado pelo Governo Federal para lecionar na escola isolada José de Alencar, na Comunidade de São José do Anauá entre 1959- 1973. No momento da entrevista, em sua residência em Boa Vista-RR, em 8 de julho de 2015, contava 82 anos.

Marlene Pedroso, de 66 anos, professora, foi entrevistada na Praça do Garimpeiro, Boa Vista, às sete horas, no dia cinco de julho de 2015. Ela reside no Projeto de Assentamento Jacamim, no município do Cantá - RR. Sua fala trouxe revelações interessantes sobre o processo de constituição da escola, desde a instituição no PAD/ANAUÁ às suas transformações em anexos incluídos nas estradas vicinais da Vila do Incra. Também relata as atividades e as festas realizadas por Ordalha Araújo, Padre Nilvo e pelos moradores daquela região.

Perla Jordana é filha de Ordalha Araújo, primeira diretora oficial da Escola de 1º Grau José de Alencar, quando instalada no PAD/ANAUÁ-1982. A entrevista foi realizada em sua residência, em Boa Vista. Os acontecimentos que envolviam sua administração escolar foram narrados pela filha. Perla é divorciada, mãe de dois filhos, formada em Administração de Empresas e no período da entrevista contava 40 anos, mostrou-se satisfeita em colaborar na construção da história de vida de sua mãe.

As entrevistas de Perla Jordana e Marlene Silva Pedroso foram gravadas em áudio; e a de Paulo Lopes da Silva foi taquigrafada e feitas anotações. As três das entrevistas foram realizadas em Boa Vista, capital de Roraima, com datas e horários distintos.

Em relação aos participantes, no momento de escrita do texto, além do já citado falecimento de Ordalha Araújo e Adalgiza Xavier, faleceu o Sr. Paulo Lopes da Silva, em 2017. A transcrição do corpus apresenta as vozes dos colaboradores de forma literal, e as falas são marcadas por termos, o mais fiéis possíveis, nos excertos escolhidos e interpretados de maneira única. Às vezes, em consideração a uma crítica mais evidente, outras surgem com emoção e paixão; são expressões que governam suas falas e, consequentemente, dominam a minha escrita, pela liberdade de expressão e a realidade vivenciada individualmente.

É importante ressaltar que mesmo diante do cuidado com a transcrição, sempre existe algo do pesquisador: a interpretação dos dados, uma linguagem regional, impressões observadas na oralidade, as gesticulações, as expressões faciais etc.

reconhecimento dos, espaços o mapeamento do lugar por meio das viagens realizadas a fim de identificar e fotografar o espaço geográfico de localização da EJA.

As viagens para essa região são longas realizadas por barcos, canoas a remo, motor rabeta, botes, caiaques e lanchas velozes. A viagem até ao lócus inicial da pesquisa leva em torno oito horas descendo o rio Branco de barco com motor potente e um dia para retornar subindo o rio Branco, já de lancha de motor 40Cvs30, saindo do Porto de Caracaraí até a antiga São José do Anauá dura em torno de seis horas de viagem descendo o rio Branco.

As temperaturas são altíssimas, as chuvas torrenciais durante o inverno, rios cheios trás medo pelo banzeiro dos barcos e balceiros31 que levam todo entulho dos barrancos, ainda assim, garanto que ao contemplar a paisagem, uma verdadeira obra de arte da natureza, não se percebe a distância, o incômodo dos insetos, do vento e o barulho do motor, porém se vislumbra a natureza como um combustível que nos leva cada vez mais longe de forma indescritível.

A viagem torna-se um calmante, mesmo com os barcos lotados de mercadorias gêneros alimentícios, eletrodomésticos, animais, material de construção, nos faz conhecer a identidade dessa região e desejar olhar de perto a beleza dos lugares, experimentar os saberes ribeirinhos, sua cultura, seus costumes caboclos, culinária e discutir suas práticas de trabalho escolares e vivências com as águas dos inúmeros rios que desaguam no rio Branco.

A partir dos critérios de localização dos espaços, vale lembrar que são apresentados dois lócus de pesquisa: o desconhecido São José do Anauá, extinto em meados de 1982, e o município de Rorainópolis situada as margens da BR 174, locais em que se esteve/está localizada a escola pesquisada.

Esse desejo de compreender as relações de poder que percorre nas vidas dos colaboradores me fez debruçar na organização dos eixos de pesquisa, e acredito que, para chegar aqui, houve a formação de um mosaico, construído a partir das muitas reelaborações do projeto de pesquisa. Para tanto, busquei organizar os quatro eixos que serão apresentados ao longo da tese, definindo as falas recorrentes dentro da temática de pesquisa. Desse modo, os eixos temáticos estão separados de acordo com as recorrências discursivas presentes nos excertos e em consonância com os objetivos de pesquisa são na ordem: Identificações dos colaboradores-professores(as) com o cuidado dos alunos e das comunidades; Quem sou eu? Identificações dos colaboradores-professores(as) no contexto da terra e sua origem; Identificações dos colaboradores-professores(as) com o extrativismo vegetal da floresta,

30 CVs – Cavalos de força do motor das lanchas

31 Palavra que na região indica a sujeira que na enchente dos rios lavam os barrancos e levam tudo que a água

economia local e com a EJA; e Identificações dos colaboradores-professores(as) com as relações de poder e a influência do militarismo vigente no ex-Território Federal de Roraima.

As próximas seções complementam o capítulo, quando discorreremos brevemente sobre a história de vida dos três professores(as) da EJA, a fim de produzir a emergência da vida escolar nos sertões de Roraima, uma narrativa que nos faz viajar e conhecer o novo modo de fazer Educação para além da forma convencional da escola.

1.3 Representações de si: a trama na construção da história de vida do Professor Paulinho,