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Nazaré Vilhena Aires, Graça Martins Gomes, Luísa Macau, Paula Figueiredo

1 IDENTIFICAR E DESCREVER O PROBLEMA

Uma Unidade de Cuidados Intensivos caracteriza-se, por um local “paradigmático da transdisciplinaridade em ambiente de trabalho fisicamente fechado e tecnicamente exigente”, destinando-se a responder às necessidades do doente em estado crítico, através de cuidados imediatos e altamente qualificados (SARMENTO e FESTAS 2002, p.226). Apresenta um ambiente próprio, muitas vezes mencionado como agressivo, hostil, tenso e traumatizante, onde a tecnologia se sobrepõe muitas vezes à vertente humana. Este facto prende-se por se tratar de um serviço onde a preservação da vida é uma prioridade e onde a presença da morte é uma constante, havendo tendência dos profissionais em geral e do próprio enfermeiro, em se centrarem no tratamento do órgão, no físico, predominando a tecnologia e o tecnicismo. O doente em estado critico é submetido continuamente a procedimentos dolorosos, onde frequentemente os profissionais de saúde subestimam a dor (PNAD –SPCI, 2012).

Assim, verifica-se uma tendência em subvalorizar a intensidade da dor nos doentes em estado crítico não sendo considerada uma prioridade quando comparada com outos sinais vitais, apesar de que desde 2003 esta é considerada um sinal vital (circular normativa nº9/DGS de 14/06/2003), sendo por isso “a sua gestão um direito do doente, um dever do profissional e um passo fundamental para a efectiva humanização dos cuidados de saúde” (PNAD – SPCI 2012, p. 6).

A nossa Unidade de Cuidados Intensivos caracteriza-se por uma unidade cirúrgica onde predomina essencialmente a dor aguda associada à cirurgia e a todos os procedimentos dolorosos que lhe estão inerentes, mas também se verifica a dor crónica nos doentes com patologias associadas e os que permanecem por um longo período de tempo na nossa Unidade devido a complicações associadas. Impõe-se assim a necessidade de avaliação e controlo da dor nos nossos doentes.

Verificámos, que apesar de já termos percorrido um longo caminho neste âmbito ainda se verifica lacunas na avaliação da dor, tornando-se uma necessidade a resolução deste problema por forma a melhorarmos a qualidade dos nossos cuidados. Apercebemo-nos, da nossa prática diária, que apesar de já termos instituindo instrumentos de avaliação da dor (EVN e BPS), e de nos preocuparmos com as medidas interventivas de controlo da dor (farmacológica/não farmacológicas), esta não é sempre registada.

De seguida apresentamos os requisitos essenciais propostos pela ORDEM DOS ENFERMEIROS (2013), por forma a preencher os critérios necessários para a realização de um projecto de melhoria contínua da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem.

O problema está centrado no cliente?

O problema centra-se no doente internado em Cuidados Intensivos, onde a preocupação com o conforto e controlo da dor se tornam fundamentais para minimizar o seu sofrimento e contribuir para o seu bem-estar. Sabemos que a dor para além do sofrimento que causa, diminui a qualidade de vida da pessoa, facto que associado à condição de doente em estado crítico, o coloca num estado de extrema fragilidade e vulnerabilidade, não conseguindo sequer na maioria das vezes de a verbalizar. Assim, consideramos o controlo da dor uma prioridade na prestação dos nossos cuidados como um contributo fundamental para a humanização dos cuidados.

A intervenção de enfermagem pode produzir ganhos em saúde para a população? A monitorização sistemática da avaliação e controlo da dor, constitui uma intervenção de enfermagem capaz de produzir ganhos em saúde, visto ser um indicador de qualidade sensível aos cuidados de enfermagem.

Desde 2003 que a DGS lançou uma circular normativa intitulada “A Dor como 5º sinal vital”, onde institui como norma de boa prática, no âmbito dos serviços prestadores de cuidados de saúde:

“1. O registo sistemático da intensidade da Dor.

2. A utilização para mensuração da intensidade da Dor, de uma das seguintes escalas validadas internacionalmente: “Escala Visual Analógica” (convertida em escala numérica para efeitos de registo), “Escala Numérica”, “Escala Qualitativa” ou “Escala de Faces”. 3. A inclusão na folha de registo dos sinais e sintomas vitais, em uso nos serviços prestadores de cuidados de saúde, de espaço próprio para registo da intensidade da Dor” (Circular Normativa da Direção Geral de Saúde Nº 09/DGCG, de 14/06/2003, p.1). É Foco da CIPE?

A Associação Internacional do Estudo da Dor (IASP, 1994) define-a como “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal lesão”.

O ICN, na versão CIPE 2011 descreve o foco da dor como,

“Percepção comprometida: aumento de sensação corporal desconfortável, referência subjectiva de sofrimento, expressão facial característica, alteração do tónus muscular, comportamento de autoprotecção, limitação do foco de atenção, alteração da percepção do tempo, fuga do contacto social, processo de pensamento comprometido, comportamento de distracção, inquietação e perda de apetite” (ORDEM DOS ENFERMEIROS 2014, p.49). A definição de Dor dada pela CIPE revela-se bastante abrangente, realçando a própria complexidade deste fenómeno. Por outro lado, mostra-nos também toda a dimensão associada a este fenómeno que não sendo um foco de atenção na boa prática de enfermagem se pode tornar numa ameaça à própria Identidade da Pessoa Humana.

Inclui-se no enquadramento conceptual e enunciados descritivos da enfermagem? Tendo presente os padrões de qualidade da ORDEM DOS ENFERMEIROS (2001) a dor, como foco de atenção dos cuidados de enfermagem, inclui-se no enquadramento conceptual estando implícito na própria definição de Saúde e de Cuidados de Enfermagem. Assim, ao centrarmo-nos na avaliação, prevenção e controlo da dor, estamos a agir, segundo os enunciados descritivos definidos nos padrões de qualidade dos Cuidados de Enfermagem, ao nível da “Satisfação do cliente” e “Bem-estar e Autocuidado”.

Pretende-se que o enfermeiro monitorize e avaliei a dor de forma a contribuir para a satisfação do dente que tem ao seu cuidado, melhorando o seu bem-estar e auto-cuidado.

Faz parte do Core de focos do Resumo Mínimo de Dados?

O Foco Dor faz parte do Core de Focos do Resumo Mínimo de Dados, sendo por isso considerado um marcador específico do estado de saúde da população capaz de “traduzir o contributo singular do exercício profissional dos enfermeiros para os ganhos em saúde da população” (ORDEM DOS ENFERMEIRO 2007, p.2). Contudo, para que se seja possível retirar dados que contribuam para produzir ganhos em saúde é fundamental o registo sistemático da nossa actuação.

Na nossa Unidade de Cuidados Intensivos ainda não foi possível informatizar todos os nossos registos pelo que o registo da dor é feito em suporte de papel e será a partir daí que todo o nosso projecto se irá desenrolar.