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Nazaré Vilhena Aires, Graça Martins Gomes, Luísa Macau, Paula Figueiredo

2 – PERCEBER O PROBLEMA

A dor representa “um sinal de alarme vital para a integridade do indivíduo e fundamental para o diagnóstico e monitorização de inúmeras patologias”, não devendo ser causa de sofrimento desnecessário (DGS – PENCDor 2013, p.3). Em 2003, torna-se por isso o 5º sinal vital, implicando a avaliação e registo sistemático da intensidade da dor como norma de boa prática clínica, conforme dispõe a Circular Normativa da Direção-Geral de Saúde Nº 09/DGCG, de 14/06/2003. Institui ainda, no âmbito dos serviços prestadores de cuidados de saúde:

“1. O registo sistemático da intensidade da Dor.

2. A utilização para mensuração da intensidade da Dor, de uma das seguintes escalas validadas internacionalmente: “Escala Visual Analógica” (convertida em escala numérica para efeitos de registo), “Escala Numérica”, “Escala Qualitativa” ou “Escala de Faces”. 3. A inclusão na folha de registo dos sinais e sintomas vitais, em uso nos serviços prestadores de cuidados de saúde, de espaço próprio para registo da intensidade da Dor” (Circular Normativa da Direção Geral de Saúde Nº 09/DGCG, de 14/06/2003, p.1). Para além deste princípio orientador o PNCD (DGS – PENCDor 2013) enuncia mais 4 que deverão estar sempre presentes na nossa prática profissional, os quais são:

• Subjectividade da dor – A intensidade da dor é exactamente aquela que é referida pela pessoa, não havendo nenhum indicador biológico mensurável e devendo-se dar particular atenção ao controlo da dor na pessoa com dificuldade ou impossibilidade de comunicação verbal. “A percepção e a expressão da dor variam na mesma pessoa e de pessoa para pessoa, de acordo com as características individuais, a história de vida, o processo de saúde / doença e o contexto onde se encontra inserida” (ORDEM DOS ENFERMEIROS 2008, p. 13).

• Direito ao Controlo da Dor – Toda a pessoa tem direito ao adequado controlo da dor, seja qual for a sua causa, por forma a evitar sofrimento desnecessário e reduzir a morbilidade que lhe está associada, requerendo de uma abordagem multidisciplinar coordenada.

• Dever do Controlo da dor – todos os profissionais de saúde devem adotar estratégias de prevenção e controlo da dor na pessoa ao seu cuidado, contribuindo para o seu bem- estar, redução da morbildade e humanização dos cuidados de saúde. A ORDEM Dos Enfermeiros (2008, p.13) diz mesmo que o Enfermeiro tem “o dever ético e legal de advogar uma mudança do plano de tratamento quando o alívio da dor é inadequado”.

• Tratamento diferenciado da dor – O controlo da dor deve ser efectuado a todos os níveis da rede de prestação de cuidados de saúde, quer nos cuidados de saúde primários como nos cuidados de maior diferenciação e especialização.

Perante estas novas indicações e de a própria equipa de enfermagem sentir esta necessidade, houve a preocupação de elegermos uma escala de avaliação da dor e de começar a proceder ao seu registo. Assim, em 2004/2005, realizou-se um projecto neste âmbito e introduziu-se a Escala Qualitativa da Dor, onde atribuímos uma numeração de 0 a 4 respectivamente para facilitar o registo sistemático da dor na folha de enfermagem.

Escala Qualitativa Sem Dor 0 Dor Ligeira 1 Dor Moderada 2 Dor Intensa 3 Dor Máxima 4

Contudo, verificou-se sempre lacunas na avaliação da dor nos doentes admitidos na nossa Unidade de Cuidados Intensivos. Factores esses que consideramos que se prenderam essencialmente com o facto de:

 não haver um local próprio na folha de registo de enfermagem (a solução que se encontrou na altura foi o uso de um carimbo para colocar numa das colunas de registo dos parâmetros vitais, mas com o passar do tempo deixou de se colocar o carimbo e deixou-se de proceder ao registo);

 a escala eleita não se adequar à maioria dos nossos doentes admitidos na UCI, visto ser uma escala de auto-avaliação e que muitos destes se encontram em estado crítico, com incapacidade para comunicar de forma verbal e/ou motora a sua dor e encontram-se submetidos a ventilação mecânica.

Em 2010 a Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos lançou um projecto que consistiu na aplicação de ferramentas de avaliação da dor do doente em todas as unidades de cuidados intensivos portuguesas, por forma a obter uma melhor qualidade de cuidados na área da avaliação e controlo da dor em doentes submetidos a sedação e a ventilação mecânica. Este projecto consistiu em usar duas escalas validadas (BPS e ESCID) durante um período de dois meses para avaliação da dor em doentes ventilados e que não conseguem verbalizar, sendo que no final do estudo será adoptada a que melhor se ajustar aos interesses do doente e dos

técnicos de saúde. A nossa Unidade demonstrou logo interesse em entrar no estudo pois seria uma forma de tentarmos resolver uma lacuna sentida que comprometia a qualidade dos nossos cuidados de enfermagem e assim a possibilidade de aprofundarmos conhecimentos e consequentemente implementarmos uma escala comportamental da avaliação da dor.

O estudo implicou várias fases onde a formação de toda a equipa de enfermagem se tornou muito relevante, por forma a sensibiliza-los para a importância da avaliação da dor e a dar a conhecer o projecto para obtermos a colaboração desta e avançar-se com o projecto.

Com base nos resultados verificámos que a nossa Unidade de Cuidados Intensivos escolheu a Escala BPS, o que também coincidiu com a escolha a nível nacional (53,5% preferiu a escala BPS e 46,5% preferiu a escala ESCID) (PNAD –SPCI, 2012).

Assim, com base neste estudo em Junho de 2012 implementámos no serviço duas escalas para avaliação da dor a todos os doentes adultos admitidos na UCI:

1. Uma Escala de Autoavaliação, para doentes que comunicam, onde optámos por implementar a EVN/EVA, visto ser esta a recomendada pela SPCI;

2. Uma Escala Comportamental, para doentes que não comunicam, sedados e ventilados, onde optámos pela BPS também por ter sido esta a recomendada pela SPCI após o estudo realizado.

Para que desta vez fosse mais eficaz o registo sistemático da dor resolveu-se proceder a uma actualização da folha de registo de enfermagem onde ficou impresso um campo específico para

a avaliação da dor e as escalas adotadas para consulta. Recomendou-se ainda que a avaliação

da dor fosse realizada pelo menos uma vez por turno, e, que houvesse uma reavaliação da dor, caso score> 4 ou após intervenção de medidas farmacológicas ou não farmacológicas para alivio da dor. Como refere a ORDEM DOS ENFERMEIROS (2008, p.17)

“sempre que se preveja a ocorrência de dor ou a avaliação evidencie a sua presença, o enfermeiro tem o dever de agir na promoção de cuidados que a eliminem ou reduzam para níveis considerados aceitáveis pela pessoa”.

A actualização do suporte onde se procede os registos de enfermagem deve espelhar a actuação do enfermeiro, sendo um elemento importante na organização dos cuidados de enfermagem, na procura premente da excelência dos cuidados, onde deve constar “as necessidades de cuidados de enfermagem do cliente, as intervenções de enfermagem e os resultados sensíveis às intervenções de enfermagem obtidos pelo cliente”

Contudo temos a percepção que continuamos a ter falhas na monitorização da dor, pelo que nos parece urgente melhorar a monitorização e avaliação da dor a todos os doentes adultos admitidos na UCI, assim como, melhorar a avaliação da dor após realizarmos medidas farmacológicas/ não farmacológicas para diminuir a dor, como forma de melhorarmos a qualidade dos nossos cuidados de enfermagem e consequentemente termos ganhos em saúde.