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TÓPICO 1 - IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS DA

2.2 IGREJA

A Igreja é outra instituição social, esta ligada à religião. A religião existe desde os tempos mais remotos e é encontrada em todas as sociedades, nas mais diversas formas. Muitas religiões já surgiram, outras desapareceram e outras continuam até os dias atuais. A crença em um elemento divino ocorre, de forma geral, em todos os grupos sociais.

Desde as antigas civilizações, percebe-se o culto ao sobrenatural como algo muito importante, mostrando que o espírito de religiosidade acompanha o homem desde os primórdios. Cada povo tem sua cultura própria, tem o culto ao sobrenatural como motivo de estabilidade social e de obediência às normas sociais. As religiões, as liturgias variam, mas o aspecto religioso é bem evidente. O homem procura algo sobrenatural que lhe transmita paz de espírito e segurança. A religião sempre desempenha uma função social indispensável (OLIVEIRA, 1999, p. 117).

A instituição da religião sempre está acompanhada de um misticismo, da crença em poderes sobrenaturais, existindo respeito, medo e veneração com relação à divindade, materializada nas atitudes públicas de relação com esses poderes. A comunidade espiritual formada pelos fiéis é a chamada Igreja.

A religião é uma instituição que não surgiu de necessidades físicas ou materiais das pessoas, mas sim da necessidade espiritual, de uma necessidade simbólica. E sua forma de existência varia conforme os grupos religiosos, eles podem atribuir maior ou menor importância aos rituais ou às crenças, por exemplo.

Com as mudanças sociais geradas pela industrialização e o avanço científico, as religiões do Ocidente tiveram que se adaptar à nova visão do homem de si mesmo e do mundo que o cerca. Assim, estas religiões buscam conciliar sua doutrina com a ciência. Além disso, novas correntes dentro da própria Igreja defendem uma luta por maior igualdade social entre os fiéis.

Mas há também nas igrejas os grupos conservadores, que defendem a tradição e são enfáticos com relação à missão delas, não concordando com modificações realizadas em suas bases.

As angústias do homem moderno e os problemas sociais como as crises econômicas e sociais deixam espaços a serem preenchidos pela religião, e as grandes religiões buscam ocupar este espaço com projetos de reconstrução do mundo. Os chamados movimentos carismáticos procuram amenizar o chamado mal-estar da civilização contemporânea, utilizando recursos como a mídia para difundir sua mensagem. Outros exemplos de recursos utilizados são o tele-evangelismo, movimentos carismáticos católicos ou evangélicos protestantes ou reislamização (OLIVEIRA, 1999).

Dentro da prática sociológica, as religiões já foram estudadas pelos clássicos. Você lembra-se da Unidade 1, na qual falamos sobre os estudos de Durkheim? Ele estudou as religiões e produziu uma obra importantíssima: “As Formas Elementares da Vida Religiosa”. Já neste livro ele destaca alguns aspectos das religiões, como as crenças e práticas sagradas adotadas por toda uma comunidade.

Para a sociologia, a grande questão não está em definir a veracidade ou não de uma religião, mas em estudá-la como fenômeno social encontrado em todas as sociedades, estabelecendo-a como instituição social e estudando sua estrutura (DIAS, 2005). Há, inclusive, uma ramificação chamada Sociologia da Religião, que busca investigar o fenômeno social da religião.

Dentro dos estudos acerca da religião existe um conceito importante, o conceito de secularização. Ele trata do processo pelos quais passam pessoas, crenças, instituições, de mudança do domínio da religião para o regime leigo. O mundo contemporâneo apresenta esta tendência à secularização, mas não é em todos os lugares que ela consegue se estabelecer.

Dias (2005, p. 219) nos traz a diferenciação entre a sociedade religiosa e a sociedade secular:

• A sociedade religiosa

As sociedades religiosas ou sagradas são aquelas que consideram que todas as suas instituições e costumes são de origem divina. Os principais problemas são explicados tendo como origem a manifestação de Deus, e a violação das leis divinas implica o surgimento de desgraças. A responsabilidade dos homens está no cumprimento dos rituais, que determinam a fertilidade do solo ou a estabilidade do clima. Nas sociedades religiosas, há pouca distinção entre o que é ou não sagrado. A religião está presente todos os dias, regula a lei, o casamento, as obrigações morais, a alimentação, o plantio e a colheita, a cura de enfermidades e todos os múltiplos aspectos de uma cultura.

• A sociedade secular

As sociedades seculares podem apresentar rituais e ritos religiosos que, no entanto, não procuram estabelecer seu domínio interpretando as instituições e os costumes do ponto de vista religioso. As leis são regras estabelecidas pelos homens e não pela vontade de Deus. O plantio e a colheita são planejados em função do conhecimento científico, como o são também todos os aspectos da economia. A distinção do que é sagrado, religioso ou não, é perfeitamente estabelecido. A religião pode não estar presente na vida de um grande número de pessoas, e, para muitos, sua prática está restrita a um determinado dia da semana.

Nas sociedades religiosas, as religiões apresentam três dimensões: as doutrinas, que são as crenças relacionadas à relação do homem com a divindade; os rituais, que são a manifestação simbólica das doutrinas e deixam as pessoas conscientes do significado destas; as normas de comportamento, que estão relacionadas e de acordo com as doutrinas (DIAS, 2005).

As religiões são classificadas de acordo com sua forma de organização (DIAS, 2005):

Ecclesia – organização na qual há uma forte ligação da Igreja com o Estado, na qual a Igreja aceita o apoio do Estado e sanciona as práticas culturais da sociedade. É uma organização religiosa muito forte dentro da sociedade, posicionada, com Igreja estabelecida e que representa a religião, inclusive a religião nacional, como a Igreja Católica na Itália. Toleram-se outros credos, mas a ecclesia está em uma posição privilegiada e exerce influência, inclusive na educação. Também podemos citar como exemplo a Igreja Anglicana na Inglaterra.

• Denominação ou congregação – sustentada por doações privadas e não governamentais, é um grupo amplo, que influencia o comportamento de seus membros e da sociedade em geral, e resiste às influências institucionais que não estão de acordo com suas regras de conduta. É um grupo grande, que existe com estabilidade e está organizado e institucionalizado. O sacerdote é capacitado para suas funções, os novos membros são captados pela socialização e o serviço religioso é calmo e reservado. Citamos como exemplos a Igreja Católica e a Assembleia de Deus.

• Culto – o culto enfatiza a experiência emocional de seus participantes, não costuma entrar em conflito com as atividades governamentais ou educacionais, controladas por outras instituições. Com relação à sociedade em geral, procura fazer com que tolere comportamentos que são considerados esquisitos. Em geral possuem poucos membros, são grupos menores e enfatizam aspectos particulares da religião, como exemplo a cura pela fé. Pode-se exemplificar com o candomblé.

• Seita – as seitas são rígidas, buscam fazer com que seus membros sigam todos as suas doutrinas na vida, sem desvios, e seus costumes podem ser bem diferentes da sociedade em geral. A seita não busca converter grandes massas, quer apenas realizar suas práticas sem entraves. Ela geralmente é pequena e pouco formal, e a conversão acontece por meio de uma experiência pessoal e emocional. O líder também não é formalizado. Temos como exemplo os menonitas.

As funções institucionais da Igreja e da religião se dividem em psicológicas e sociais. A função psicológica se define pela necessidade humana e possui uma explicação para tudo o que não podemos verificar como experiência pessoal. Neste ponto entram as crenças, que são institucionalizadas, e explicam o que a ciência ainda não conseguiu alcançar.

A religião explica ao indivíduo o mundo por meio da fé e elimina suas incertezas, incapacidades e carências. As incertezas causadas pela morte, por exemplo, são interpretadas pelas religiões e explicadas aos que creem, e com base nisto eles organizam sua vida. As incapacidades relacionam-se ao domínio do futuro, como, por exemplo, a incapacidade de encontrar uma solução para sair da pobreza. A religião explica esta condição, melhorando a autoestima e dando condições para o enfrentamento do cotidiano. As carências materiais e sentimentais são supridas muitas vezes pelas religiões, enquanto a divindade trará conforto e um futuro pródigo quando seguidos determinados valores (DIAS, 2005).

É por meio da ação nestas esferas psicológicas que a religião recebe o significado das pessoas, sendo apoio psicológico por responsabilizar a divindade; transmitindo segurança, pois existe a proteção divina; e facilitando o conformismo, justificando as condições dos menos favorecidos na sociedade (DIAS, 2005).

Já na esfera social, as funções da instituição religiosa são dez, de acordo com a análise de Dias (2005), que iremos resumir a seguir:

• participa do processo de socialização, difundindo valores e costumes;

• influencia decisivamente outras instituições sociais, como a influência exercida na família;

• é uma força de controle social, pois proíbe desvios de conduta e pune os desviantes;

• contribui para eliminar ou para promover o conflito social, defendendo valores de paz, mas muitas vezes motivando conflitos entre as religiões;

• importante fator de sociabilidade, pois favorece o contato entre seus membros, incentivando casamentos entre eles;

• preenche a falta de explicações de fatores não explicados cientificamente, pois proporciona interpretações neste sentido;

• é um instrumento utilizado para incentivar perseguições a outros grupos sociais, pois justificam-se os motivos por meio dela;

• é utilizada para conservar a sociedade e ir contra mudanças sociais, pois muitas posições são justificadas na religião;

• contribui para a coesão social, pois incentiva a unidade que facilita o enfrentamento dos problemas sociais;

• promove a solidariedade grupal, pois incentiva o sentimento de pertença a um grupo.

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