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Neste capítulo será feito um resgate do significado da paisagem, enquanto categoria geográfica. Esta discussão, em torno do conceito da paisagem, se torna oportuno, uma vez que é sobre essa categoria da geografia que se pode fazer uma melhor apreensão do espaço geográfico de acordo com o interesse do pesquisador. Sobre a problemática do fenômeno das chuvas ácidas, a análise da paisagem pode revelar significativos indícios sobre a ocorrência desse fenômeno, que pode ser expresso visualmente nas paisagens naturais e sobre as paisagens construídas.

2.1 - A Paisagem e as Chuvas Ácidas

A relação existente entre a paisagem e as chuvas ácidas, aqui abordadas, se faz na medida em que é através da paisagem que o fenômeno das chuvas ácidas se torna visível. O homem ao longo dos tempos vem modificando gradativamente a paisagem de acordo com os seus interesses. Dessa forma, a leitura da paisagem se reverte em uma valiosa ferramenta que pode revelar as diversas transformações do homem sobre o espaço geográfico em determinados momentos históricos.

Da paisagem se pode fazer uma leitura espacial de como o homem vem transformando os elementos da paisagem natural como também a introdução de novos objetos espaciais. Segundo passagem no livro “A natureza do espaço”, do geógrafo Milton Santos (2006), o autor faz uma comparação para o entendimento do que vem a ser paisagem, no intuito de deixar evidente a distinção entre o conceito de espaço e o da paisagem, segue a frase:

Durante a guerra fria, os laboratórios do Pentágono chegaram a cogitar da produção de um engenho, a bomba de nêutrons, capaz de aniquilar a vida humana em uma dada área, mas preservando todas as construções. O Presidente Kennedy afinal renunciou a levar a cabo esse projeto. Senão, o que na véspera seria ainda o espaço, após a temida explosão seria apenas paisagem. Não temos melhor imagem para mostrar a diferença entre esses dois conceitos (SANTOS, 2006, p.68-69).

Portanto, pode-se concluir que a paisagem traz em sua essência o elemento humano como agente transformador e como o elo que permite que tal conceito se torne concreto, uma vez que a paisagem é o “resultado material acumulado das ações humanas através do tempo” (...) (SANTOS, 2006, p.69).

Como produto das ações do homem impregnado no espaço, a paisagem também sofre as marcas da interferência do homem em seu processo de desenvolvimento, com relação às diversas formas de poluição, causada pelo mesmo. Sendo que, a poluição a qual o estudo irá se remeter é provocado pelo crescimento econômico dos países, que por sua vez repercute na poluição do ar nas cidades, potencializando condições para o surgimento do fenômeno das chuvas ácidas que ao entrarem em contato com as paisagens provocam danos ao meio ambiente natural e construído.

É sabido, que as paisagens naturais distribuída sobre a superfície da terra estão direta ou indiretamente sendo modificadas pela ação do homem sobre o meio ambiente. Ações que são potencializadas em determinadas partes do planeta, têm suas repercussões muito além de seu lugar de origem. Como por exemplo, as chuvas ácidas. Que são resultado de uma grande quantidade de poluentes lançados através da queima de combustíveis fósseis principalmente advindos das indústrias e dos automóveis, que vão se concentrar na atmosfera e ao reagirem com os vapores d’água suspensos no ar, precipitam e voltam à superfície na forma de chuva ácida.

Tal fenômeno não ocorre apenas de maneira localizada, pode ser também observado em outras partes do planeta, devido ao movimento das massas de ar que se tornam um meio de transporte para a poluição causadora das chuvas ácidas. Sendo comum o aparecimento de tal fenômeno onde a poluição do ar não é ainda significante ou em áreas onde não existe liberação efetiva da poluição atmosférica, como nos pólos.

No entanto, para o estudo das chuvas ácidas é interessante e oportuno conhecer a dinâmica das correntes de ar para acompanhar os efeitos da poluição do ar, derivada da emissão de gases provenientes da queima dos combustíveis fosseis e das atividades industriais, que tendem a se deslocarem para diversas partes do planeta. Então, observa-se, que diante do atual estágio de desenvolvimento atingido pela sociedade dita pós-industrial, o ser humano atingiu níveis de desenvolvimento tecnológico expressivos, que se reverteu em benefícios para a humanidade.

Mas todos esses benéficos, que por ventura, o homem adquiriu ao longo dos anos, também têm gerado efeitos negativos sobre o meio ambiente. O desenvolvimento tecnológico empregado nos meios de transportes, permitiram ao homem uma maior mobilidade sobre o espaço como também possibilitou a uma maior agilização nas trocas comerciais entre países. Nas indústrias, esse desenvolvimento permitiu que a capacidade de produção fosse processada em curto período de tempo.

É nesse contexto de desenvolvimento tecnológico que o fenômeno das chuvas ácidas se torna mais evidente. Dessa relação do homem como o meio ambiente, vem gerando contradições e acaloradas discussões a respeito do preço que o homem tem que pagar para manter esse estágio de desenvolvimento. A ocorrência do fenômeno das chuvas ácidas são apenas um dos diversos impactos negativos que o homem tem gerado sobre o planeta, e é sobre esse problema ambiental que o estudo irá se debruçar, utilizando-se para isso, a análise da paisagem como ferramenta auxiliar no estudo das chuvas ácidas.

O fenômeno climático das chuvas ácidas pode ser apreendido pelo estudo minucioso das paisagens nas áreas onde há evidencia do referido fenômeno. Varias evidências da ocorrência das chuvas ácidas foram percebidas pelos pesquisadores através da observação das paisagens ao redor de algumas cidades industriais. Os cientistas perceberam que alguns monumentos e fachadas dos prédios apresentavam desgastes que logo foram relacionados com as chuvas ácidas, uma vez que as conseqüências desse fenômeno sobre as construções causam a corrosão das superfícies quando ao contato com as chuvas ácidas, devido ao valor ácido contido nas águas das chuvas poluídas.

A partir da identificação dos efeitos da chuva ácida sobre a paisagem, estudos científicos foram aprofundados para identificar com maior precisão as conseqüências e o comportamento das paisagens naturais diante do processo de acidificação, causado pela poluição atmosférica e potencializado pelas chuvas ácidas. A pesquisa cientifica aprofundada dos sintomas da chuva ácida sobre o meio ambiente natural, evitará que análises superficiais prejudiquem ou produzam diagnósticos equivocados sobre as reais evidencias dos efeitos da chuva ácida.

Sabe-se que nos dias atuais, diversas paisagens espalhadas pelo mundo, sejam elas naturais ou construídas, estão sendo acometidas pelo fenômeno da chuva ácida. Os efeitos da chuva ácida na vegetação são perversos, uma vez que causa a morte das árvores. As espécies

das coníferas2 são exemplos de como os efeitos da chuva ácida se manifesta na vegetação, pois tal espécie é a que mais sofre os efeitos da acidez trazida pelas chuvas poluídas. Segundo Baines (2003), as coníferas apresentam os seguintes sintomas quando atingidas pela chuva ácida: diminuição na folhagem das árvores, manchas amareladas devido ao dióxido de enxofre em contato com as folhas; maior produção de pinhas, pois uma conífera quando atingida pela acidez das chuvas, entram em processo de morte, e nessa fase final, a árvore tende a produzir mais frutos; morte das pontas, pois as partes das coníferas mais expostas como o topo e as pontas dos ramos, são as mais atingidas perdendo as folhas mais do que as outras partes da planta.

Por conseguinte, cada paisagem natural reage de maneira distinta ao fenômeno das chuvas ácidas, os rios e demais corpos d’ água, quando são atingidos por esse fenômeno, ocorre uma alteração do teor de acidez contido na água, tornando esses corpos d’ água impróprios para a continuação da vida aquática, bem como a inutiliza para a utilização pelo homem.

A princípio, como relata Baines (2003), os efeitos da chuva ácida nos rios, lagos e demais mananciais, para um leigo, pode aparentar que estes não foram afetados pela contaminação da chuva ácida. Essa constatação superficial se deve ao fato de que, os corpos d’ água não apresentarem sua aparência alterada quando são contaminados pela chuva ácida, pois os efeitos da acidez na água não são perceptíveis a um simples olhar de um mero observador. Neste caso, só uma análise precisa de um pesquisador será capaz de identificar como os elementos da paisagem natural se comportam quando são contaminados pela poluição ácida.

Neste sentido, desenvolver estudos para compreender como os efeitos das chuvas ácidas se manifestam no meio ambiente se torna tão pertinente para o bem estar da população, uma vez que tais efeitos não são apreendidos pela sociedade em geral, isso as torna vulneráveis a contaminação pelas chuvas ácidas, no caso delas utilizarem águas poluídas, com alto grau de acidez e também contendo substâncias contidas na atmosfera que podem causar problemas de pele, chegando até auxiliar a presença do câncer.

Além dessa problemática, constatada nas paisagens naturais, outros males vem a se somar aos efeitos negativos da chuva ácida para a paisagem natural, no caso específico da utilização dos mananciais hídricos para o lazer ou para o consumo humano, no caso da

2 Coníferas – vegetais comuns nas regiões de clima temperado e subártico, que não possuem frutos, mas tem

suas sementes dentro de pinhas. Suas folhas são finas e compridas como agulhas. Abetos e pinheiros são dois exemplo. (BAINES, 2003, p.43).

utilização das águas das chuvas para o abastecimento humano, em locais onde ocorre a chuva ácida, tal pratica se torna inviável.

Os efeitos da poluição do ar, que potencializam a chuva ácida, também são percebidos e sentidos pelo homem. A poluição atmosférica, na forma da precipitação seca, ou seja, quando os gases que estão em suspensão no ar, emitidos, principalmente, pelos meios de transportes durante a queima de combustíveis fósseis, provocam vários problemas de ordem respiratória ao homem, quando os mesmos ficam expostos a inalação de tais gases. Os efeitos da chuva ácida também têm sua relação com as paisagens construídas, onde a ação das mesmas se manifesta diretamente na corrosão das superfícies expostas a acidificação das águas da chuva, destruindo-as e que gradativamente irá danificá-las, levando aos administradores públicos, a realização de ações constantes para a recuperação dos monumentos e fachadas de prédios públicos.

Segundo Baines (2003) a precipitação ácida pode causar danos nos edifícios e estruturas expostas ao ar, com destaque para os edifícios históricos e monumentos, especialmente os construídos ou revestidos com calcários e mármores. Esse aumento da corrosividade resulta da reação do ácido sulfúrico contido na precipitação com os compostos de cálcio contidos na pedra, formando gesso que é solubilizado ou se desagrega da estrutura:

CaCO3 (s) + H2SO4 (aq) =CaSO4 (aq) + CO2 (g) + H2O

A desagregação que se segue é rápida e comum, basta observar elementos escultóricos e lápides localizadas nas grandes cidades, onde é comum elementos epigráficos ficarem ilegíveis em poucas décadas. A precipitação ácida também aumenta o ritmo de oxidação das estruturas em ferro, causando um rápido crescimento da ferrugem e dos danos por ela causados (BAINES, 2003).

Na fotografia 01 se têm alguns exemplos de como a chuva ácida afeta os monumentos espalhados pelas cidades:

Fonte: Baines, 2003.

Fotografia 01 - Fotos Comparando a Ação da Chuva Ácida em uma Estátua na Europa

Diante de todas as repercussões ambientais que a chuva ácida provoca, a mesma pode ser considerada como uma ameaça a vida no planeta. Não mais limitada aos grandes centros industriais, localizados nos países europeus, onde primeiramente foram identificados evidências da ocorrência desse fenômeno e onde ele é mais intenso (BAINES, 2003). Mas o planeta todo se encontra vulnerável aos efeitos da chuva ácida, uma vez que é sabido que os poluentes causadores da chuva ácida podem ser transportados por longas distancias através das correntes atmosféricas. Como também o próprio crescimento natural das cidades insere-as diante de um problema ambiental antes decorrente de áreas com intensa atividade industrial, uma vez que se descobriu que os meios de transportes também são agentes potencializadores da chuva ácida.

Sendo assim, o mundo todo compartilha desse fenômeno em escala mundial, pois a chuva ácida já é uma realidade presente nas concentrações urbanas, devido à descoberta de que os veículos são um dos principais fatores contribuintes para o aparecimento e a intensificação da poluição atmosférica. Como os sintomas da chuva ácida na paisagem têm sido perceptíveis e sentido não apenas pelos estudiosos do assunto, mas por aqueles que, embora desconheçam sobre o tema, sabem descrever como os principais sintomas do

fenômeno em questão se processa, tanto diretamente sobre os elementos da paisagem como a sua manifestação na saúde humana.

O pesquisador brasileiro, Jesus (1996), descreveu a seguir, a ocorrência da chuva ácida em âmbito mundial, bem como suas repercussões na paisagem, incluindo em sua exposição, o exemplo do Brasil:

Países Problemas Evidenciados na Paisagem

Canadá Além de danos sobre a vegetação, a água de 300 lagos na região de Ontaro tem pH inferior a 5. Estados unidos Extensos danos sofrem as florestas de Coníferas e nos Montes Apalaches. Cerca de 10% dos lagos da Região das Montanhas

ADIRONDAK têm pH inferior a 5.

Brasil As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro registram chuvas com pH inferior a 5 médio. Cubatão apresenta forte deteriorização em seus prédios, além da morte de vários seres vivos como plantas e animais. Suíça Na região dos Alpes Centrais, cerca de 50% das Coníferas estão mortas ou danificadas. Reino unido A chuva ácida causou estragos em 67% das florestas.

Noruega Na região Sul daquele país, cerca de 80% dos lagos estão biologicamente mortos ou extremamente ameaçados. Grécia A poluição ácida em Atenas ameaça o Partenon e outros edifícios históricos. Suécia Estão acidificados 20 mil lagos, onde cerca de 4 mil deles não têm mais peixes. Alemanha As chuvas ácidas causaram estragos em mais da metade de suas florestas. Polônia A chuva ácida provocou um grande efeito corrosivo sobre as dormentes de suas ferrovias República Sul

Africana A chuva ácida provocou danos nos edifícios e monumentos históricos. Índia A poluição industrial danifica edifícios em Bombaim e o Palácio de Taj Mahal um dos mais importantes monumentos hindus. China Próximo a Chongging, a chuva ácida causou danos às plantações de arroz, em Guiyang as chuvas têm pH médio inferior a 4. Japão Em Tóquio, certos problemas de saúde são atribuídos ao ar extremamente poluído. Fonte: The Global Ecology Handbook (1990) apud Jesus (1996, p.149).

De acordo com a leitura do quadro 1, pode-se constatar que a ocorrência das chuvas ácidas não se constitui como um fenômeno isolado, característico apenas de um continente, região, país ou cidade. Em varias partes do mundo, e, inclusive, no Brasil, e em algumas cidades brasileiras, já foram diagnosticado a aparição das chuvas acidas, notadamente na cidade de Cubatão (SP), tida como o principal exemplo de cidade brasileira com níveis elevados de poluição do ar. Outras cidades como: São Paulo e Rio de Janeiro também enfrentam a ocorrência da chuva ácida (JESUS, 1996). Localidades que, por apresentarem grande dinamicidade em seus parques industriais e pela grande frota de veículos, obtiveram conseqüências significativas que se reverteram em impactos negativos ao meio ambiente, notadamente como o agravamento da poluição do ar e a conseqüente aparição da chuva ácida. Mas como fora dito anteriormente, a aparição da chuva ácida se faz presente por razão de diversas fontes geradoras, entre elas têm-se, segundo Lago e Pádua (1984, p.79), “a combustão em motores de carros, aviões e outros tipos de transportes; a combustão de equipamentos estacionários e outros tipos de processos industriais e a queima de lixo solido”. De acordo com os fatores citados, que potencializam a ocorrência da chuva ácida, pode-se entender porque não são apenas as cidades com intensa atividade industrial sofrem da aparição e dos problemas da poluição do ar. Fato esse que justifica porque a cidade de Natal /RN, que é considerada uma cidade de médio porte, com pouca atividade industrial e voltada para atividades do setor terciário, apresentar indícios da chuva ácida. Ou seja, a poluição do ar em Natal tem como principal fonte geradora, a combustão advinda dos veículos que circulam pelas principais avenidas da cidade. Tal poluição tem deixado marcas nas paisagens naturais, bem como nas construções e monumentos espalhados por várias partes da cidade.

Com o aprimoramento de pesquisas cientificas na área da climatologia em várias partes do mundo e do Brasil, a fim de monitorar o fenômeno das chuvas acidas, foi possível conhecer melhor esse fenômeno com relação às suas causas e efeitos ao meio ambiente. Devido à difusão dos estudos sobre o clima urbano, a problemática da poluição do ar nas cidades deve ser considerada uma prioridade nas políticas de gestão pública, uma vez que a ocorrência chuva ácida e dos problemas dela advindos à saúde humana, em algumas cidades é devido à poluição do ar causada pela concentração da frota de veículos. Portanto, a problemática da poluição do ar deve ser encarada como um problema socioambiental de ordem pública, uma vez que sabido as causas e conseqüências da chuva ácida, os governantes locais podem intervir em ações preventivas para que o problema não tome proporções difíceis de serem resolvidos ou do Poder Público atuar com medidas mitigadoras.

III

- UM ENFOQUE SOBRE O TEMA DA QUALIDADE