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4.1 ORONTIO FINEO

4.1.1 As ilustrações em Finé

Sabe-se que o cartógrafo e médico francês Oronce Finé viveu na primeira metade do século XVI. Foi um apreciador da matemática e a sua obra mais importante, intitulada Protomathesis, apareceu completa em 1532, e o segundo volume, sobre geometria, é o que contém tópicos que hoje podem ser classificados como de trigonometria. Apresenta resoluções de problemas práticos, incluindo os de medição alturas de objetos com uma ilustração para cada problema proposto.

De acordo com O’Connor e Robertson (2005), assim como muitos matemáticos do tempo, Oronce Finé foi um especialista em fortificações e nelas também trabalhou, como em Milão. Isso, provavelmente, influenciou a escrita de sua obra sobre geometria já que propôs a construção de um instrumento de medida chamado quadrante geométrico, empregado para resolver problemas como os de cálculos de declives de montes e alturas de torres.

Figura 18 - Esquema explicativo do uso do quadrante geométrico por Finé Fonte: Finé (1556, p. 8).

A Figura 18 exemplifica uma ilustração utilizada por Oronce Finé para explicar a resolução do problema de medir a altura de uma torre. Nesse caso, a ilustração contempla a torre, o quadrante geométrico e a triangulação usada para encontrar a solução do problema. Observa-se que, diferentemente de Alberti, Finé utiliza-se de um instrumento mais sofisticado de medida, o que, possivelmente, indica uma melhor aproximação da altura obtida em relação à altura real da torre.

Febvre e Martin (2005) mencionam algumas das obras eleitas entre as mais célebres do século XVI e recordam os nomes de alguns artistas que também fizeram sucesso naquela época, os quais incluíram ilustrações em seus trabalhos, como Albrecht Dürer.

Albrecht Dürer (1471-1528) foi um pintor alemão, gravador e teórico de Nuremberg. Suas famosas obras ainda incluem as xilogravuras do Apocalipse, do Cavaleiro, da Morte e do Diabo (1513), São Jerônimo em seu Estudo (1514) e Melancolia I (1514), as quais têm sido objeto de extensa análise e interpretação. Suas aquarelas determinaram-no como um dos primeiros paisagistas europeus, enquanto suas ambiciosas xilogravuras revolucionaram o potencial desse meio. A introdução de Dürer de motivos clássicos dentro da arte do Norte, através do seu conhecimento de artistas italianos e humanistas germânicos, tem assegurado sua reputação como uma das figuras mais importantes do Renascimento do Norte. Isto é reforçado por seu tratado teórico o qual envolve princípios de Matemática, perspectiva e proporções ideais. Suas impressões estabeleceram sua reputação em toda a Europa quando ele ainda estava com seus vinte anos, e ele tem sido convenientemente considerado como o maior artista da Renascença do Norte da Europa desde então (ALBRECHT DÜRER, tradução nossa).65

Vale salientar também o interesse de Albrecht Dürer pela Matemática, tanto que são encontrados vários relatos da influência da mesma, em seus trabalhos, como a gravura Adão e Eva (Figura 19), descrita em sua obra The four books on human

proportions (publicada em 1528), feita utilizando-se régua e compasso para construir

as figuras, com intuito de obtê-las, proporcionalmente, adequadas. As obras de Dürer também foram influenciadas pela perspectiva (ALBRECHT DÜRER, s.d., 2000).

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Figura 19 – Adão e Eva por Albrecht Dürer

Fonte: http://www.albrecht-durer.org/Adam-and-Eve-(The-Fall-of-Man).html

Conforme Flores (2007, p. 69), “Albrecht Dürer é considerado o responsável por divulgar, na Alemanha, a teoria italiana da perspectiva, retomando a imagem do quadro transparente e definindo a perspectiva como visão transparente”. Ainda segundo a autora, Dürer fornece exemplos, mostrando como eram os procedimentos usados por Brunelleschi e Alberti para desenhos em perspectiva e utiliza vários instrumentos perspectivos (ou perspectivadores) que, em princípio, deveriam ajudar o artista no processo de produção dos desenhos em perspectiva.

Chartier (2002, p. 68) classifica esse tempo de produções de livros, por meio da xilografia de “antigo regime tipográfico” e ressalta que as intervenções, especificamente, editoriais se fazem nessa época “nas escolhas feitas em razão dos públicos visados e que comandam as decisões quanto ao formato, ao papel, aos caracteres, à presença ou não de ilustrações”.

Constata-se que o século XVI foi um período precursor da difusão dos livros ilustrados. Ocorre o desenvolvimento da arte aplicada aos livros por meio das iluminuras e xilogravuras. Conforme registrado por Febvre e Martin (2005, p. 101, tradução nossa):

[...] eles, herdeiros e sucessores da xilografia, tiveram em suas origens o mesmo objetivo e os mesmos clientes dos livros com as xilogravuras: educar um público extenso que frequentemente apenas sabia ler, explicar um texto por meio de imagens, precisar e fazer inteligíveis os diversos

episódios da vida de Cristo, dos profetas e dos santos, dar aparência sensível aos demônios e aos anjos que disputavam as almas dos pecadores, e também aos personagens míticos ou legendários, familiares para o povo naquele momento.

Por outro lado, o livro ilustrado teve um período de repercussão muito positiva na Alemanha e França, sendo que os franceses estiveram em contato com o Renascimento por meio da Alemanha. Foi o caso do professor de matemática Oronce Finé, que fez gravações em folhas (também em suas margens), normalmente talhadas no cobre, assim como fizeram os alemães.

As Figuras 20 e 21 ratificam as considerações feitas por Febvre e Martin (2005) ao ressaltarem que os estudos levaram o professor de matemática Oronce Finé a se interessar pela ilustração dos livros e a criar moda das margens geométricas com temas alegóricos, fiéis ao espírito do renascimento alemão.

Figura 20 – Ilustração apresentada na margem superior na obra de Finé Fonte: Finé (1556, p. 2).

Figura 21 – Ilustração da letra S que inicia a primeira parte do livro de Oronce Finé Fonte: Finé (1556, p. 2).

Assim, percebe-se que Oronce Finé se viu naturalmente imbuído desse espírito de apresentar ilustrações em seus trabalhos, tendo, possivelmente, utilizado neles a técnica dos gravados em cobre, como era moda no seu tempo.