A
gora, deve esar claro para nós que a boa pregação exige muio rabalho de preparação. Mas odo o nosso rabalho se perderá, se os ouvines não puderem praicar e recordar o que foi pregado. Foi por essa razão que gasamos um capíulo considerando o assuno da esruura clara. A mesma razão agora nos leva ao assuno de ilustrações vívidas.1) O valor das ilustrações
Uma ilusração é uma linguagem figurada que raz clareza ou discer- nimeno a um assuno. É uma janela que permie a luz enrar em uma sala escura. Muias pessoas não êm muia facilidade no manuseio das palavras. Acham difícil lidar com a lógica absraa e a argumenação eórica. Argu-
menos profundos e consisenes deixam-nas confusas. Quando as palavras são usadas desa maneira, ais pessoas se senem perdidas na escuridão. Al- guém quer ajudá-las a ver? Será que alguém pode lhes dar um par de óculos infravermelhos? Ou melhor, uma ocha?
Muias pessoas não podem enender muio bem alguma coisa, se não puderem vê-la em sua mene. Elas reagem posiivamene a palavras que projeam imagens, mas consideram as palavras em si mesmas como algo monóono, obscuro e desineressane. Os Arqueiros é um programa de rádio inglês que em sido ransmiido quase odos os dias por mais de cinqüena anos. Milhões de pessoas ainda o sinonizam. Elas ouvem as palavras dos
aores, mas não vêem nada. Enão, o que é ão araene nesse programa? Divulga-se a si mesmo como “uma hisória diária do povo inglês”. Os seus fãs não esão sinonizados em um dilúvio de proposições absraas, e sim em uma hisória que podem ver descorinada em sua mene.
Muios pregadores são basane críicos da culura moderna, especial- mene de sua dependência de linguagem figurada. Peço-lhes que enfrenem a realidade. alvez não gosem da maneira como as coisas são. Mas precisam lembrar que esa é uma geração que precisa de linguagem figurada. E, o que há de errado nisso? As escriuras conêm ilusrações em cada uma de suas páginas, e nosso Senhor as usou em odo o empo.
O assuno de ilusrações exige nossa aenção urgene. Não precisamos ser semelhanes a radialisas que enam comenar uma parida de fuebol, quando os holofoes já apagaram. Acenda as luzes! Mosre a Palavra de Deus em odas as suas cores e movimenos. Prepare suas ilusrações e, para comprovar seu valor, considere eses rês ponos:
As ilustrações explicam a verdade
Esa é a razão porque o Senhor dizia freqüenemene: “O reino dos céus é semelhane a... (M 13.24, 31, 33, 44-45, 47). Uma vez que uma ilus- ração se abrigue na mene de uma pessoa, udo se orna claro.
Em omanos 6 e 7, o apósolo Paulo explica por que coninuar no pecado é um absurdo para uma pessoa jusificada pela fé. Eu mesmo, por exemplo, acharia difícil enender aqueles capíulos, se esivessem cheios de argumenos complexos e racionalizados. Mas não esão. Paulo fala sobre um escravo que morre para um senhor, mas é ressusciado para servir a ouro. Ele se refere a um mercado de escravos no qual você pode dizer quem é o senhor de cada servo. Fala a respeio de um casameno em que um cônjuge morre e deixa o ouro livre para casar com oura pessoa. O apósolo não usa nada mais do que palavras, mas nos fala por meio de figuras. E esas não somene nos ajudam a enender, mas ambém nos convencem do que ele esá dizendo. Não devemos copiar o exemplo do apósolo? Alguém conhece uma maneira melhor de explicar a verdade?
As ilustrações tornam a verdade atraente
Você já viu um pregador perdendo a aenção de seus ouvines? As pessoas esão no emplo, mas seus pensamenos esão em ouro lugar. e- peninamene, elas se concenram, olham para o pregador e lhe dão oda a sua aenção. O que aconeceu? O que causou a mudança de aiude? Ele esá usando uma ilusração!
Os pregadores nem sempre podem ornar udo fácil. Algumas coisas na Bíblia são difíceis de enender. Mas as pessoas só podem ouvir coisas difí- ceis por um período limiado de empo. Dê-lhes um descanso, um refrigério e, logo, esarão pronas para ouvi-lo novamene.
A maioria das pessoas da Suíça não vive em chalés, e sim em blocos de aparamenos. Quase odos os blocos de aparamenos êm um ele- vador � maravilha das maravilhas! � que quase nunca quebra. Mas, se quebrar, pode-se usar as escadas. Há dois lances de escadas para cada an- dar, e, onde os lances se enconram, há sempre uma cadeira! É difícil subir escadas, mas, se você parar e senar na cadeira para descansar, descobrirá que, afinal de conas, subir escadas não é ão difícil. As ilusrações de um sermão são como essas cadeiras.
Se ivéssemos de fazer uma longa viagem em um breve período de em- po, acharíamos melhor ir por uma auo-esrada. Isso não é ão ineressane como dirigir pelas esradas do inerior. Na auo-esrada, cada quilômero parece exaamene igual ao anerior. Depois de um empo, cansamos da au- o-esrada e paramos nos seus resauranes e lojas de conveniência. Vamos ao banheiro, omamos um cafezinho e passamos alguns minuos nas lojas. Assim, achamos que esamos pronos para coninuar a viagem e desejamos
coninuá-la. O que aconeceu conosco? Descansamos e fomos revigorados. As ilusrações dos sermões são como essas paradas na auo-esrada.
Você já leu uma hisória para uma criança que assenou ao seu lado? A princípio, ela esá ineressada e se deleia com a hisória. Mas, depois de alguns minuos, começa a inquiear-se. Enão, udo muda: ela insise que você prossiga. Você virou a página e a criança viu uma figura!
Viso que as ilusrações ornam a verdade araene, elas ambém a ornam impressionane. Nosso Senhor poderia er dio algo assim: “Não
impora como você vive, nem onde, nem durane, ou por quano empo em vivido assim, se você se volar para Deus, Ele o receberá”. Mas esas não foram as suas palavras. Pelo conrário, Ele disse: “Cero homem inha dois filhos...” (Lc 15.11). A parábola do Filho Pródigo imprime em nós a recepção do Pai de um modo que nenhuma oura afirmação poderia fazê-lo. Vemos a verdade, vemos com clareza e choramos de alegria.
Quando Davi pecou ão descaradamene conra o Senhor, com adulé- rio e crime de assassinao, e meses se passaram sem que ele se volasse para Deus em oração, Deus lhe enviou o profea Naã. Ese invadiu a presença do rei, aponou-lhe o dedo, com ira, e o denunciou? Não. Naã foi muio sábio ao fazer isso. Seu alvo era resaurar o pecador caído, e não levá-lo a aposaar. Ele enrou com genileza e conou uma hisória a Davi. Pouco depois, era o rei, e não o profea, quem esava furioso. Conudo, milhares de anos mais arde, ainda ficamos chocados com a auoridade de Naã, ao dizer: “u és o homem” (2 Sm 12.7).
As ilustrações fazem com que
a verdade fique gravada em nossa mente
O que você recorda do úlimo sermão que ouviu? Algumas frases lhe cau- saram impaco? A linguagem o comoveu? Houve alguns exemplos brilhanes de argumenos persuasivos? São esas as coisas que você recorda? alvez não. Mas esou cero de que você, assim como eu, pode lembrar as ilusrações!
Muios anos arás, no início de meu minisério, recebi um convie espe- cial para assisir o exame cadavérico de um fumane. O propósio era que eu ficasse ão chocado ao ver o que o abaco faz aos pulmões das pessoas, que usa- ria minha influência miniserial para desesimular a práica de fumar em odos os lugares. Sou um homem frágil e provavelmene eria desmaiado, se ivesse assisido ao exame. Por isso, recusei o convie. Mas de uma coisa esou cero: se aceiasse o convie, eria ficado infiniamene mais impressionado pelo que eria viso do que por odas as esaísicas que já li a respeio de fumar. ecor- damos aquilo que vemos. Esquecemos muio do que lemos e ouvimos.
Como pregadores, não usamos recursos visuais. Nosso Senhor nos cha- mou a rabalhar com palavras. Mas devemos usá-las para esimular o poder
de imaginação que Deus ouorgou às pessoas. emos de colocar olhos nos ouvidos das pessoas. Não há maneira melhor de aingirmos a sua mene.
Quando nos levanamos para pregar, emos diane de nós odos os ipos de pessoas. Elas são diferenes em raça, idade, culura, educação, habilidades, conhecimeno, caráer, emperameno e ouras coisas mais. odavia, pode- mos araí-las com ilusrações bem ponderadas. Foi isso que nosso Senhor fez durane os dias que o levaram à crucificação. Um exemplo é a parábola dos lavradores maus que enconramos em Marcos 12.1-12, bem como as rês parábolas em Maeus 25. Durane esse período, nosso Senhor falou a uma variedade de pessoas excessivamene ampla. Sua audiência incluía inimigos
erudios que não esavam presenes em seu minisério fora de Jerusalém. Ele lhes ensinou verdades desagradáveis que nunca esqueceriam!
Uma verdade lembrada pode cumprir seu objeivo muio, muio em- po depois de o sermão haver sido pregado. Quando eu inha os meus vine anos, li vários sermões de F. B. Meyer. Os sermões coninham ilusrações que êm ajudado minha vida crisã aé aos dias de hoje. De modo semelhan- e, minha alma coninua a se alimenar dos sermões de Hywel Griffihs, de Bridgend, que foi indubiavelmene o maior pregador que já ouvi. Eu inha vine anos de idade quando o ouvi pela primeira vez, em uma de suas visias anuais à nossa pequena vila no Sul do condado de Pembroke. E suas prega- ções, proferidas naquela época, ainda me fazem bem, quase odos os dias. Isso ocorre não porque as gravei em cassees, e sim porque eu as recordo. enho escuado milhares de sermões aravés dos anos, e quase odos eles não se abrigaram em minha memória. Mas a pregação de Hywel Griffihs coninua viva, primeiramene por causa de seu poder celesial (um assuno que abordaremos em ouro capíulo) e, em segundo lugar, porque a prega- ção dele era ilusraiva do começo ao fim.
O que as pessoas vêem, elas o recordam. O que as pessoas vêem em sua mente, elas ambém recordam. Esa é a maneira como somos consiuídos. Pessoas que êm se ausenado da igreja por muios anos, mas que freqüen- aram a escola dominical quando crianças, ainda podem lembrar muias hisórias bíblicas. Porano, podemos uilizar ilusrações em nossa pregação e ajudar os ouvines a lembrar o evangelho.
Um dos livros que êm moldado meus ponos de visa sobre a pregação é Some Great Preachers o Wales (Grandes Pregadores do País de Gales), es- crio por Owen Jones.1 Esse livro considera em dealhes vários homens cuja
pregação poderosa resulou na conversão de milhares de pessoas e, conse- qüenemene, ransformou a nação. A pare mais proveiosa desse livro é sua inrodução, na qual Owen Jones idenifica cinco caracerísicas que esses homens inham em comum. É ineressane observar que uma dessas carac- erísicas era a imaginação. Esses homens, em medidas diferenes, levavam os seus ouvines a ver algo. Não podemos fazer o mesmo?
2) Fontes de ilustrações
odo pregador que conheço me diz que é fraco no uso de ilusrações e que gosaria de melhorar. ambém me diz que apreciaria ajuda no que concerne às fones de ilusrações.
As Escrituras
Pode obê-las nas Escriuras. Quando raamos do assuno de exaidão exegéica, vimos que a Bíblia é auo-inerpreaiva. Ela ambém é auo- ilusraiva. Ela é rica em hisórias, biografias, poesias e provérbios; e udo isso pode ser usado para ilusrar quase odas as dourinas ou lições que en- sinamos com base nas Escriuras. econhecendo que os próprios crenes conhecem ão mal a sua Bíblia, por que não usar sempre as Escriuras como sua primeira fone, quando esá à procura de ilusrações?
Mas precisamos ser cuidadosos. Quando lemos sermões dos puria- nos do século XVII ou de Charles H. Spurgeon, do século XIX, observamos que eles usaram cada livro da Bíblia para ilusrar o que inham a dizer. Não podemos fazer exaamene como eles o fizeram. Pregaram a congregações que conheciam muio bem as Escriuras. Às vezes, as referências deles aos aconecimenos bíblicos eram meras alusões. Falaram sobre “sibolee”, bar- ba rapada pela meade, o Vale de Bacaa, a casa do oleiro, a orla da sobrepeliz
e a enfermidade de Públio � e odos sabiam a respeio do que eles fala- vam! Não podemos fazer isso hoje. A fim de usarmos essas alusões como
ilusrações, eríamos de apresenar uma explicação mais ampla ou conar a hisória. No enano, ao fazer isso, poderíamos maar dois coelhos com uma só cajadada: ilusraríamos o que emos a dizer e daríamos aos ouvines um melhor conhecimeno de odo o conselho de Deus.
Há oura coisa a respeio da qual precisamos ser cuidadosos. Falamos sobre isso no capíulo anerior, mas precisamos mencioná-lo de novo. Sem- pre precisamos disinguir enre o significado intencional das Escriuras e o seu uso como ilustração. Essa disinção em de ficar clara para os ouvines. Use Naamã como uma ilusração da fé reluane e infanil, mas nunca dê a impressão de que ese é o único propósio de 2 eis 5.1-19. Use a chamada de Samuel para ilusrar a proximidade de Deus, porém não deixe as pes- soas imaginarem que o propósio de 1 Samuel 3 é ransmiir essa verdade. Com cereza, devemos usar porções das Escriuras para esclarecer a passa- gem sobre a qual esamos pregando. odavia, ao fazer isso, não queremos obscurecer o enendimeno que as pessoas êm a respeio da passagem que usamos como ilusração!
Observação
Deus em dado a cada pregador uma cona bancária cheia, não de di- nheiro, mas de ilusrações para os sermões. Se irássemos dessa cona mil ilusrações por dia, nunca ficaríamos falidos. Como emos acesso a esa con- a? Não com um alão de cheques ou com um carão de crédio, e sim com os olhos e os ouvidos. Devemos apenas manê-los aberos, anoar em nossos pensamenos o que vemos e ouvimos e acrescenar um pouco de raciocínio.
As coisas que vemos, as que ouvimos e as experiências do viver diário são uma fone inesgoável de ilusrações. eire dessa esane udo que você puder e perceberá que seu esoque se renova imediaamene. Encha o seu sermão com a água desse poço, porque ele nunca em o aviso “fora de uso”. Aé uma baeria de longa durabilidade se acaba, mas esa baeria nunca o deixa na mão. Ese é um sol que sempre resplandece, um veno que sempre sopra, um manancial que nunca seca, uma esperança que não desapona � um suprimeno de ilusrações que nunca se acaba!
vola. Ele falou sobre semear rigo, edificar casas, conservação de vinho, levedar a massa, assar pães, empresar do vizinho, acender lâmpadas, var- rer a casa e achar esouros. Jesus falou sobre os deveres dos servos, cães embaixo da mesa, ladrões assalando, raças desruindo roupas, devedores na prisão, crianças brincando, fesas, casamenos, julgamenos e evenos coidianos. Ele veio do céu, mas viveu na erra. Conversou com homens e mulheres da erra usando figuras que eles podiam enender. Seus mais fiéis seguidores fazem o mesmo.
C. H. Spurgeon queria que odos os seus alunos fossem pregadores que usassem ilusrações. Ele os exorava freqüenemene a maner os olhos aberos e mediar no que viam. Em uma ocasião, Spurgeon lhes disse que, se udo que ivessem diane de si fosse uma vela, essa vela lhes daria ilusrações suficienes para muios sermões! Eles riram. Spurgeon provou sua afirma- ção pregando-lhes dois sermões consiuídos oalmene de lições obidas de velas. Seu livro Sermons on Candles (Sermões sobre Velas) é uma versão impressa desses sermões.
As ilusrações obidas de velas não eriam muio efeio sobre as pes- soas de nossos dias. Vivemos em um mundo de energia elérica, elevisão, compuadores, carros, celulares, supermercados, música comercializada, espores profissionais, viagens mundiais e esperanças de exploração do espa- ço. Nosso Senhor reirou suas ilusrações da Palesina do século I; Calvino, da Genebra do século XVI, enquano as palavras de Spurgeon refleiam a Londres do século XIX. E nós? Os nossos ouvines do século XXI ouvem ilusrações de nossa época? Se não ouvem, falhamos para com eles.
A criatividade total
O conhecimeno da Bíblia, dois olhos, dois ouvidos e uma mene pon- deradora são udo que um bom ilusrador precisa. Mas ele pode fazer ainda melhor, se esiver disposo a enrar no mundo da criaividade oal. Parábo- las e alegorias criadas pela própria pessoa são especialmene eficazes. É claro que as alegorias de O Peregrino e Guerra Santa, escrios por John Bunyan, não podem nem mesmo começar a rivalizar com as parábolas de nosso Se- nhor, mas esses livros não êm sido uma bênção para milhões?
Durane quase rina anos, enho ilusrado o ensino de Paulo em omanos 7 usando uma hisória simples. Fala de um homem que esá cami- nhando para casa em uma noie escura. Ele cai em uma poça de lama, mas não percebe o quano esá sujo aé que se aproxima de uma luz. Ele faz o melhor para ficar limpo. Mas o problema é ese: quano mais ele se aproxima da luz, ano mais percebe a sujeira e mais dificuldade enconra para ficar limpo. Finalmene, ele se coloca bem debaixo da luz e clama em desespero ao ver oda a sujeira que ainda esá grudada nele: “Desvenurado homem que sou!” (omanos 7.24.) Esse clamor pode ser proferido ão-somene por aqueles que esão próximos do Senhor.
Por que menciono isso? Bem, alguns meses arás, depois de um iner- valo de quarena anos, decidi reler um livro que li quando era esudane.
Queria observar o que penso sobre o livro hoje. Ele se chama A Vida Cristã Normal, escrio por Wachman Nee. Fiquei admirado em enconrar nele a parábola da poça de lama que eu pensava sinceramene haver invenado! O fao é ese: a parábola do Sr. Nee se mosrara ão eficaz, pelo menos em mim,