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2. Imanência, Diferença e Ontologia: uma incursão inicial pela filosofia da diferença de

2.2. A Imagem Tradicional do Pensamento

Uma imagem, seguindo as considerações de Deleuze, consiste em um conjunto de premissas acerca da atividade do pensamento e da sua função principal. Essas premissas não constituem conceitos, nem são explicitamente discutidas na obra dos filósofos, sendo antes um engajamento pré-filosófico acerca da atividade de pensar e da sua finalidade mais relevante. Tratam-se de postulados sobre os quais as filosofias são erguidas84.

A história da filosofia nos tem reiteradamente apresentado uma relação próxima entre pensamento e engajamento, aqui no sentido das ações e intervenções dos sujeitos no mundo: o modo como se pensa determina também as possibilidades de reflexão e ação sobre o mundo. Examinar uma imagem específica do pensamento, portanto, implica também em delimitar as possibilidades que aí se fazem disponíveis. Deleuze opera essa delimitação ao identificar os quatro postulados que compõem a imagem tradicional do pensamento, portanto, a mais recorrente na tradição filosófica ocidental.

O primeiro postulado se refere ao caráter comum do pensamento e à sua aspiração natural ao verdadeiro: cogitatio natura universalis. O pensamento é aquilo que todos sabem uma vez que se encontram naturalmente inclinados para o pensar. A função deste postulado consiste em estabelecer uma relação interna entre pensamento e verdade. “O senso comum é o resultado de um acordo a priori entre as faculdades ou uma boa natureza, uma natureza sadia e reta das faculdades que lhes permite pôr-se de acordo com proporções harmoniosas”85, comenta Roberto Machado.

84 Aqui vejamos a preocupação em se articular filosoficamente um ´puro começo´, a exemplo do que

Descartes pretende fazer com o cogito, e da própria crítica hegeliana em torno da incapacidade do cogito de servir como puro começo. Encontraremos também em Heidegger uma menção a este começo através do que ele chama de compreensão pré-ontológica do Ser. Cf. DELEUZE, Gilles. Difference and Repetition. London: Continuum, 2001, p. 129 e ss; DELEUZE, Gilles. Logic of Sense. London: The Athlone Press, 1990, p. 75 e ss.

85 MACHADO, Roberto. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 114; Cf.

DELEUZE, Gilles. Kant´s Critical Philosophy - The Doctrine of the Faculties. London: The Athlone Press, 1984, p. 21 e ss; BRYANT, Levi R. Difference and Givenness: Deleuze´s Transcendental Empiricism and the Ontology of Immanence. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2008, p. 49 e ss; ZOURABICHVILI, François. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 38 e ss.

O segundo postulado, concordia facultatum, consiste na relação entre reconhecimento86, bom senso e senso comum. A função é garantir tanto a identidade do

sujeito cognoscente e de suas categorias (senso comum, a identidade subjetiva), quanto a identidade dos objetos a serem conhecidos (o bom senso). Trata-se de um ponto bastante relevante para algumas teses subsequentes defendidas neste trabalho, e por isso precisa ser mais desenvolvido. Os dois postulados remanescentes serão também apontados nessa exposição.

O conceito de reconhecimento integra a imagem dogmática analisada em

Diferença e Repetição87. Deleuze aponta o elo entre o reconhecimento e o segundo postulado:

Um objeto é reconhecido, no entanto, quando uma faculdade o concebe como idêntico ao de algum outra, ou mesmo quando todas as faculdades juntas associam o seu dado e se relacionam com a forma da identidade em um objeto. O reconhecimento, deste modo, depende do princípio subjetivo da colaboração das faculdades para “todo mundo” – em outras palavras, um senso comum enquanto concordia facultatum, ao mesmo tempo que, para o filósofo, a forma da identidade do objeto depende de um fundamento na unidade do sujeito pensante de que todas as outras faculdades são modalidades88.

Todos os objetos percebidos são delimitados pela atuação unitária das faculdades – percepção, memória, imaginação, entendimento - que refletem a identidade do sujeito cognoscente. E se ocorresse um desarcordo entre as faculdades? Nesta hipótese o reconhecimento não seria possível porque a percepção que possuímos de um objeto seria diversa da representação conceitual que temos dele89. O entendimento difere da imaginação e da percepção, mas o reconhecimento só é possível quando entendimento, imaginação, percepção e memória concordam entre si sobre a identidade do objeto.

86 Acerca de uma definição mais concisa em torno do modelo de recognição, Cf. MACHADO, Roberto.

Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 135; BRYANT, Levi R. Difference and Givenness: Deleuze´s Transcendental Empiricism and the Ontology of Immanence. Evanston, Illinois: Northwestern University Press, 2008, p. 50.

87 Flaxman oferece uma concisa e organizada leitura sobre a introdução da transcendência através do

platonismo e a pretensão de Deleuze em reverter o platonismo. Cf. FLAXMAN, Gregory. Plato. In: JONES, Graham; ROFFE, Jon. Deleuze´s Philosophical Lineage. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2009, p. 8 e ss.

88 DELEUZE, Gilles. Difference and Repetition. London: Continuum, 2001, p. 133. No original: “An object

is recognised, however, when one faculty locates it as identical to that of another, or rather when all the faculties together relate their given and relate themselves to a form of identity in the object. Recognition thus relies upon a subjective principle of collaboration of the faculties for ´everybody´ - in other words, a common sense as a concordia facultatum; while simultaneously, for the philosopher, the form of identity in objects relies upon a ground in the unity of a thinking subject, of which all the other faculties must be modalities”.

89 Para uma discussão minuciosa deste ponto, Cf. FARRELL, Patricia. The Philosopher-Monkey: Learning

and the Discordant Harmony of the Faculties. In: WILLATT, Edward; LEE, Matt. Thinking Between Deleuze and Kant - A Strange Encounter. London: Continuum, 2009, p. 12 e ss.

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Afirmar a unidade do sujeito significa sustentar a concordância das suas faculdades na relação que possui com os objetos circundantes. É o caso do sublime kantiano, que força o pensamento a conceber o suprassensível90.

Aqui nos interessa mais a relação entre reconhecimento, verdade e juízo. Dentre as possíveis concepções de verdade, uma recebeu grande destaque na história da filosofia: a de verdade como correspondência. Uma concepção usual de verdade nos diz o seguinte: uma proposição só é dita verdadeira quando se encontra em conformidade com um estado de coisas empiricamente constatável. Zourabichvili comenta sobre essa concepção:

Assim que interpreta seu objeto como realidade, o pensamento lhe consigna a priori a forma da identidade: homogeneidade e permanência. O objeto é submetido ao princípio da identidade para que ele possa ser conhecido, de modo que todo conhecimento é já reconhecimento. O pensamento reconhece o que ele previamente identificou; ele dá a si próprio para pensar apenas aquilo que tenha passado de antemão pelo crivo do Mesmo91.

Essa visão só se sustenta se houver um acordo entre as nossas categorias e percepções: as nossas impressões sensoriais acerca de uma estrutura habitacional precisam se adequar ao conceito que possuímos de um objeto para que, a partir daí, torne- se possível avaliar a veracidade e a falsidade de uma proposição sobre ele. Trata-se do terceiro postulado da imagem dogmática do pensamento: a pressuposição de um exercício harmônico das faculdades perante a determinação do objeto. O acordo entre elas é mantido como pressuposto92.

Seria a linguagem tão cristalina e as nossas categorias tão estáveis para a viabilidade da ideia de verdade como correspondência? A determinação da linguagem de modo que o encaixe entre conceitos e impressões possa ser averiguado parece-lhe bem ser também um outro pressuposto. Entretanto, o que aconteceria se os objetos de nossa percepção extrapolassem os conceitos que associamos a eles? Se, por exemplo, aquilo que eu percebo como um livro ou uma cadeira seja algo mais do que os conceitos de cadeira e de livro. Acrescentemos mais uma hipótese: a de que a nossa linguagem é porosa e atravessada por certa indeterminação.

90 Cf. DELEUZE, Gilles. Kant´s Critical Philosophy - The Doctrine of the Faculties. London: The Athlone

Press, 1984, p. 4 e ss; MACHADO, Roberto. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009, p. 149 e ss.

91 Cf. ZOURABICHVILI, François. Deleuze: Uma Filosofia do Acontecimento. São Paulo: Editora 34,

2016, p. 41 e ss.

92 Cf. DELEUZE, Gilles. Kant´s Critical Philosophy - The Doctrine of the Faculties. London: The Athlone

Uma hipótese como essa introduziria, na linguagem e no mundo, uma complexidade que anularia a correspondência entre eles, central para imagem dogmática do pensamento. No contexto histórico de sua formação, a filosofia teve como projeto o de romper com a doxa, a opinião. A maiêutica socrática, o mito da caverna de Platão e a abordagem dialética de Aristóteles frente à doxa apontam para essa ruptura. A imagem dogmática permite o confronto com as opiniões estabelecidas, mas, no geral, permanece circunscrita ao próprio domínio da opinião93. A opinião não é apenas compartilhada por todos, mas é também inofensiva porque sempre reflete aquilo que é reconhecido e estabelecido. Discutindo este ponto em Diferença e Repetição, James Williams faz o seguinte comentário:

Em síntese, o que Deleuze sustenta é que a construção da filosofia é realizada contra um pano de fundo estabelecido pelos postulados. Este pano de fundo é pressuposto pelo filósofo e sustentado por ele, embora não seja propriamente filosófico. A imagem se encontra no senso comum cotidiano e no bom senso que as filosofias pretendem suportar e levantar, embora estejam bastante aquém da qualidade experimental e inovadora de todas as grandes filosofias94. Uma imagem dogmática cujo pressuposto consiste na equivalência entre pensar e reconhecer, portanto como um espelho daquilo que existe. Como Deleuze vai reagir a isso? Propondo uma ontologia alternativa. Ao invés de uma ontologia que concebe a própria filosofia como fundada na verdade e no conhecimento do mundo, uma que esteja orientada pela ruptura, pelo experimentalismo e pela criatividade95.

A imagem dogmática do pensamento sustenta uma equivalência entre pensar e reconhecer, mas vimos que isso só é possível ao sustentarmos uma estabilidade no mundo, na linguagem e no sujeito cognoscente. Os três pontos são atravessados pela permanência e pela estabilidade, e por isso a busca pela correspondência entre a linguagem, pensamento e mundo através de uma concepção específica de verdade. A diferença entre

93 Cf. DELEUZE, Gilles. Logic of Sense. London: The Athlone Press, 1990, p. 75 e ss.

94 WILLIAMS, James. Gilles Deleuze´s Difference and Repetition - A Critical Introduction and Guide.

Edinburg: Edinburgh University Press, 2005, p. 111-112. No original: “Put simply, Deleuze´s point is that the construction of philosophy takes place against a background defined by the postulates. This background is presupossed by the philosophy and supported by it but it is not the philosophy proper. The image is in the everyday common sense and good sense that philosophies can seem to support and give rise to but these fall far short of the experimental and ground-breaking quality of all great philosophies”.

95 Para um maior aprofundamento deste ponto em sintonia com a semiótica de Peirce, uma relevante

influência para Deleuze e Guattari, Cf. BOWDEN, Sean; BIGNALL, Simone; PATTON, Paul. Deleuzian Encounters with Pragmatism. In: BOWDEN, Sean; BIGNALL, Simone; PATTON, Paul. Deleuze and Pragmatism. London: Routledge, 2015, p. 6 e ss. Zourabichvili chega a afirmar que não existe uma ontologia propriamente deleuzeana caso venhamos a tomar a ontologia como um discurso sobre o ser. Logo adiante, no entanto, mostra como o termo, no horizonte da obra deleuzeana, associa-se ao devir e a uma filosofia processual, das relações e do múltiplo sob a univocidade do ser, Cf. ZOURABICHVILI, François. Deleuze: uma filosofia do acontecimento. São Paulo: Editora 34, 2016, p. 26 e ss.

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as coisas existe enquanto derivação da identidade que elas possuem consigo mesmas. O dogmatismo da imagem tradicional pode ser enunciado deste modo: o mundo enquanto objeto é representado pelas categorias que estruturam o nosso pensamento96. Henry

Somers-Hall desenvolve essa questão da seguinte forma:

A filosofia nesta leitura não se preocupa com o processo ativo de pensar sobre si mesma, mas sim com a imagem ou a representação do pensamento que pode ser reconhecida e comunicado aos outros. Além disso, os conceitos com que ela opera não são conceitos voltados para capturar o mundo, e sim conceitos estabelecidos que o intelecto espera estar refletido nos outros. Ao invés de explorar a estrutura metafísica do mundo, a filosofia tem produzido uma imagem paralogística de um senso comum compartilhado. É por essa razão que embora aparentemente estejamos rememorando, descobrindo e reconhecendo algum estado de coisas objetivo, nós estamos de fato mapeando a própria estrutura da razão97.

Estabelece-se uma cisão entre pensamento e mundo: o fluxo, o devir, é contido pelo senso comum e bom senso compartilhados entre os demais, daí a expressão “aquilo que todos sabem”. A construção conceitual não é operada a partir de uma experiência dinâmica e desarticuladora, antes submete esta experiência aos conceitos compartilhados, ou seja, ao senso comum, ao que “todo mundo sabe”.

O quarto postulado estabelece o lugar da diferença na representação: identidade do conceito, analogia, oposição ou semelhança. Em todos eles, uma constante: a diferença deriva-se da identidade. As mencionadas experiências desarticuladoras não têm espaço porque se encontram representadas pelos conceitos disponíveis do nosso pensamento. A diferença entre as experiências, assim como a nossa diferença frente àquelas experiências, encontra-se estabelecida pela identidade, como visto no terceiro postulado.

Retomemos, como ponto de partida alternativo, a outra hipótese mencionada, a de que qualquer categoria ou conceito que venhamos a possuir jamais conseguirá capturar em sua plenitude aquilo que ele aponta e representa. Uma hipótese como essa demandará uma reversão da relação entre identidade e diferença que vimos caracterizar a

96 Acerca deste ponto, dentre outras referências, Cf. DELEUZE, Gilles. Kant´s Critical Philosophy - The

Doctrine of the Faculties. London: The Athlone Press, 1984, p. 13 e ss.

97 SOMERS-Hall, Henry. Introduction. In: SMITH, Daniel W.; SOMERS-HALL, Henry (orgs.). The

Cambridge Companion to Deleuze. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, p. 4. No original: “Philosophy on this reading does not therefore concern itself with the active process of thinking itself, but rather with an image or representation of thought which can be recognized by and communicated to others. Furthermore, the concepts that it operates with are not concepts meant to capture the world, but rather those ready-made concepts that the intellect expects to find mirrored in others. Rather than exploring the metaphysical structure of the world, therefore, philosophy has instead produced a paralogistic image of a shared common sense. It is for this reason that it appears to be the case that we are remembering, discovering, or recognizing some objective state of affairs, while in fact we are merely mapping the structure of reason itself”.

transcendência na história da filosofia. Em seu comentário acerca da obra deleuzeana, Claire Colebrook ressalta alguns dos seus traços característicos:

Pensar, para Deleuze, não é um ato de julgamento auto-suficiente que se contrapõe sobre ou contra a vida; pensar é parte do fluxo dinâmico da vida. O grande pensamento, seja na forma da arte, ciência ou filosofia, não permanece limitado a um sistema fixo ou a um fundamento. Nós criamos conceitos não para rotular a vida e amarrá-las às nossas ideias, mas para transformar a vida e complicar as nossas ideias98.

Para que o pensamento integre esse fluxo dinâmico, é necessário que ele possa ser concebido como algo mais do que representação, e os conceitos mais do que elementos voltados para o reconhecimento e estabilização do mundo. Não apenas representar, mas intervir e transformar. Uma imagem de pensamento como esta estaria orientada para a experimentação, para o novo e para o desestabilizar, e por isso Colebrook fala em complicar as nossas ideias. Um prelúdio para um pensamento sem imagem:

Como já se disse, a crítica de Deleuze a uma imagem do pensamento dita dogmática é feita em nome de um pensamento sem imagem. Ora, isso significa que o pensamento, sem um Modelo prévio do que seja pensar (por exemplo: pensar é buscar a verdade), abre-se a outras aventuras (por exemplo: pensar é criar). Tudo muda de um para o outro. Deleuze diz que são dois planos de imanência diferentes, o clássico e o moderno, o da vontade de verdade, por um lado, e o da criação, por outro99.

Inverter a relação entre diferença e identidade, a princípio, é insuficiente para realizar esse propósito uma vez que a identidade do conceito de diferença faria com que retornássemos a um pensamento ancorado na representação. Necessitamos de uma noção de diferença que escape à própria representação100. A preocupação não é a de identificar uma essência mais originária e pontual da diferença na filosofia deleuzeana, mas antes de compreender essa noção como algo que escapa, elude e subverte as nossas categorias. A diferença é o que não se pode capturar, sendo condição da identidade. O ser é singular e difere de si mesmo101.

98 COLEBROOK, Claire. Understanding Deleuze. Crows Nest, Australia: Allen & Unwin, 2002, p. xix. No

original: “Thinking, for Deleuze, is not a self-sufficient act of judgement set over or against life; thinking is part of the dynamic flux of life. Great thinking, whether it takes the form of art, science or philosophy, does not settle with a fixed system or foundation. We create concepts not in order to label life and tidy up our ideas but to transform life and complicate our ideas”.

99 PELBART, Peter Pál. O Tempo Não-Reconciliado. In: ALLIEZ, Éric (org.). Gilles Deleuze: uma vida

filosófica. São Paulo: Editora 34, 2000, p. 95

100 Observar a conexão que Derrida desenvolve entre representação e a pura visibilidade, portanto, do

vínculo entre representação e um significante transcendental, Cf. DERRIDA, Jacques. The Theater of Cruelty and the Closure of Representation. In: DERRIDA, Jacques. Writing and Difference. Chicago: The University of Chicago Press, 1978, p. 238 e ss.

101 HARDT, Michael. Gilles Deleuze - An Apprenticeship in Philosophy. Minnesota: University of

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Considerando que a diferença não é representável, as coisas que percebemos extrapolam as categorias e conceitos que empregamos para confiná-las em nossos esquemas de representação. A realidade é sempre mais do que aquela com que nós nos defrontamos: ela ultrapassa o nosso pensamento.