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4.2 Categorias de Entretenimento Móvel

4.2.3 Imagem e Vídeo no Celular

Os aparelhos mais recentes trazem telas de alta resolução e maior dimensão, incorporam também câmeras de alta resolução e boa parte dos aparelhos vendidos atualmente possibilitam a visualização de vídeos. Essas características abrem a possibilidade de novos produtos, que exploram a imagem e o vídeo, para o entretenimento móvel, sejam eles produzidos por produtores de conteúdo ou pelo próprio usuário.

Hoje, os nossos celulares, mesmo falando do meio para cima, já tem câmeras VGA, que é razoável, você consegue passar para o seu computador e postar no fotolog e você consegue ver que aquele pontinho, na verdade, não era um pontinho, era uma pessoa. A tela é infinitamente melhor. Temos telas de, no mínimo, 65K cores e temos telas que chegam a 262K no Brasil e lá fora 1 milhão de cores (ROBERTA ZOUAIN, Samsung, entrevistada em 03/11/2006).

Existem diversos produtos que se enquadram na categoria imagem e vídeo. Atualmente, os logos e as imagens constituem uma categoria de sucesso que, juntamente com os toques, compõem os serviços de personalização dos aparelhos. O fato de um usuário estar disposto a pagar por logos e imagens para telefones celulares contrasta com o modelo gratuito adotado para os mesmos conteúdos em PCs.

Segundo Ganito (2005), a importância que o usuário dá à personalização pode ser a chave para o sucesso dos modelos de negócio dessa categoria de conteúdos. Segundo os argumentos da referida autora, os telefones celulares, ao contrário dos PCs, são tecnologias individuais, no sentido em que estão ligadas a uma única pessoa e são muito visíveis quando ela se encontra em espaços públicos, funcionando como um símbolo para afiliação social, cultural, etária etc, sendo, ao mesmo tempo, uma forma de pertencer a um grupo e de ostentar diferenciação - “ter o que os outros ainda não têm”. As entrevistas realizadas nesta pesquisa confirmaram essa percepção para o mercado brasileiro: os toques e as imagens são usados para personalizar os aparelhos.

Hoje no Brasil, o que se fala de conteúdo móvel para uma grande maioria, na verdade, são ringtones, imagens para o visor ficar mais bonito. Isso, na

verdade foi uma necessidade de personalização do celular. Então você tinha, no passado, aqueles Motorolas antigos que pesavam muito e todos tocavam igual. Começava a tocar um e você não sabia se era o seu ou se era de um colega. O celular, sendo uma coisa que você carrega para todo lugar com você é natural que apareça essa necessidade de personalização. Você quer colocar uma música que você gosta. Você quer diferenciar para dizer: ’Olha, é o meu que está tocando‘. Você quer colocar uma foto de sua sobrinha de dois meses que você acha linda, apesar do resto da humanidade poder não achar. Foi daí que começou a surgir [tal necessidade] (ROBERTA ZOUAIN, Samsung, entrevistada em 03/11/2006).

Outro produto ligado à categoria de imagem e vídeo é a Televisão Móvel, ou seja, o uso do celular para assistir TV, tanto programação ao vivo quanto a seleção de programas específicos, disponíveis para a visualização (SIEMENS, 2006). A pesquisa efetuada pela Siemens (2006) mostrou grande aceitação entre todos os usuários, tendo como principal conteúdo a reprise de programas, informações do momento, previsões de tempo e pequenos filmes. Ainda segundo a pesquisa, o perfil de uso desses produtos é diário, as principais funcionalidades são as trocas fácil e rápida de canais e a possibilidade de poder continuar a assistir os programas posteriormente (TV On demand). Essa categoria passou por um teste importante durante a Copa do Mundo de 2006, já que foi o primeiro grande evento mundial com transmissão disponível para equipamentos móveis.

Há muito tempo existem aparelhos que permitem o consumo de vídeo em movimento. O primeiro leitor portátil de vídeo foi produzido no mercado pela Seiko em 1982 e não obteve grande sucesso. Mais tarde, em 1997, surgiram os primeiros leitores de DVD portáteis, que também tiveram uma baixa procura devido ao seu preço elevado. Nos últimos anos, com o surgimento de vários concorrentes no mercado, o preço caiu e o leitor de DVD portátil ganhou nova visibilidade.

As pessoas sempre tentaram pegar vídeo com mobilidade, sempre comparam aparelhos que não funcionam. Você vê vários carros com tela instalada que não funcionam. E DVD em carro tem sido uma coqueluche até para que fábricas que vendem carros de R$ 60 mil façam ofertas do tipo “compre um carro e ganhe um DVD”. As pessoas são obrigadas a consumir os títulos que elas têm disponíveis em DVD porque a TV aberta não funciona (ROBERTO FRANCO, SBT, entrevistado em 31/10/2006).

De acordo com essa perspectiva, os conteúdos da TV para telefones celulares devem iniciar com o formato que os consumidores estão acostumados a ver através dos canais convencionais de TV aberta. A argumentação principal dos

defensores dessa modalidade de oferta de conteúdo é a adaptação paulatina do consumidor ao hábito de consumo de TV em dispositivos móveis. Outro forte argumento é que o consumo de TV móvel deve ser complementar ao da TV fixa, inicialmente, aumentando o tempo disponível para ver TV e criando assim um novo “horário nobre”, notadamente os horários que as pessoas estão indo e voltando do trabalho.

As formas de conteúdo que serão fenômeno na mobilidade, em um primeiro momento, são as formas de conteúdo que você está acostumado a consumir e é impedido de consumir [...] Em um primeiro momento, você está dando ao produtor de conteúdo uma extensão do hábito de consumo de seus conteúdos. Num segundo momento, quando essa relação começa a ser desenvolvida, você pode abrir a possibilidade de produzir conteúdos totalmente específicos para tocar o consumidor, nesse momento em que ele está utilizando dispositivos portáteis, com maior intensidade e maior propriedade. Mas em um primeiro momento, em todos os testes feitos no mundo inteiro, o que o consumidor procura são aqueles conteúdos que ele está habituado a consumir (ROBERTO FRANCO, SBT, entrevistado em 31/10/2006).

Esse argumento reforça que a TV móvel teria um consumo de conveniência, de poder continuar acessando um determinado conteúdo, mesmo que se tenha optado por estar fora de sua casa. Através desse modelo, a exibição dos canais de TV aberta seria gratuita, abrindo a possibilidade para serviços complementares pagos.

Voltando ao exemplo do futebol, o consumidor está vendo o jogo e sai um gol. Se eu estiver assistindo a programação vou ter acesso ao replay que a TV fornece. Mas se eu ligar a TV e já estiver 1X0, como eu posso ver o replay do gol? Tenho que esperar o primeiro tempo acabar? Eu posso esperar, mas posso apertar um botão e acessar um menu, “você quer um conteúdo? ' Ok vou conectar na minha rede EDGE, EVDO e o gol vai lhe custar R$ 5,00’. Se você quiser você paga. A questão apenas dever ser transparente para o consumidor. Ai entram questões éticas. Não podemos estar oferecendo um conteúdo gratuito para o consumidor e passar a conteúdos pagos sem ser alertado. Fora essa necessidade, o consumidor nem precisaria ficar sabendo que passou de uma rede a outra (ROBERTO FRANCO, SBT, entrevistado em 31/10/2006).

Apesar de ter demonstrado potencial em pesquisas (SCREEN DIGEST, 2006a; JUNIPER RESEARCH, 2006) ainda é um produto incerto no que diz respeito aos aspectos técnicos e aos modelos de negócio. A ausência de redes de alta velocidade em grande escala dificultam muito a transmissão de vídeos. De acordo

com a Screen Digest (2006j), o vídeo móvel enfrenta vários obstáculos que impedem a sua massificação, por exemplo:

• O Calendário de Lançamento comercial inclui Ásia e América do Norte em 2006 e Europa em 2007. No Brasil ainda existem questões relativas à adaptação do formato tecnológico escolhido, modelo japonês chamado de ISDB-M, e regulamentação da transmissão. O calendário oficial aponta para 2008 como o ano do lançamento comercial (TELECO, 2007).

• A apresentação gráfica deve ser adaptada para os serviços de transmissão ao vivo de TV. As propostas de serviço devem ser personalizadas, localizadas, formatadas para reduzir o tempo e a resolução gráfica para adequá-las às telas menores. Desta forma, a oferta tem que ser relevante para o contexto de utilização em movimento, principalmente no formato comercial;

• Os gêneros viáveis para a inclusão em massa são: notícias, esportes ao vivo, negócios, comédia, infantis, vídeos musicais, serviços adultos e ‘mobisodes’ (episódios criados especialmente para TV digital móvel). O primeiro programa produzido especificamente para os telefones celulares pela News Corporation foi uma telenovela “Hotel Franklin” e cada episódio durava um minuto.

De acordo com a Ericsson (apud GANITO, 2005), os “espectadores” móveis usam a televisão no telefone celular para ocupar tempos mortos e esperam que os “programas” sejam individuais, em vez de sociais. Assim, a interatividade com a televisão poderá ter mais sucesso nos telefones celulares do que na televisão convencional.

São dispositivos pessoais que lhe dá hábitos de navegação muito mais individuais, comparados como a relativa coletividade da televisão, por exemplo. O ato de ver televisão é algo coletivo. Por mais que tenha evoluído de cada indivíduo ter uma televisão no quarto, ainda é um hábito que, nos programas principais estamos acompanhados. Sua mulher quer ver a novela com alguém do lado, você quer ver o futebol acompanhado para torcer junto. Você quer estar tomando uma cerveja, bebendo um refrigerante, comendo uma pipoca e compartilhando. O móvel já é um hábito individual. A forma de ver, trocar canal, interagir é diferenciado (ROBERTO FRANCO, SBT, entrevistado em 31/10/2006).

Segundo Roberto Franco, não é de se esperar que os usuários substituam o televisor fixo pelo telefone celular. Entretanto, o acesso a diferentes experiências, a conveniência ou conteúdos extras, principalmente em situações nas quais não se teria acesso a um televisor, podem ser grandes argumentos de venda para os usuários. Por outro lado, é prematuro apontar tendências, pois as informações sobre o comportamento dos consumidores em contextos móveis ainda são muito limitadas.

Por fim, existem também questões relacionadas aos direitos autorais e direitos de arena, que tornam a transmissão de conteúdos de vídeo para telefones celulares um tema de discussão à parte, na Gestão de Direitos Digitais. Do lado da indústria de mídia e difusão, ainda é necessário encontrar modelos de negócio que lhes garantam receitas e contorne as questões de direito de imagem. Mesmo nos países onde essa indústria está mais desenvolvida a oferta existente ainda é composta por projetos pilotos, o que é previsível já que a própria viabilidade técnica ainda não atingiu uma escala de mercado de massa.