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5.5 O Telefone Celular como Mídia

5.5.1 O Telefone Celular é a Mensagem

“O Meio é a Mensagem” essa é, provavelmente, uma das citações mais famosas de McLuhan. Para McLuhan (MCLUHAN; LAPHAM, 1994) uma mídia é

tudo que seja uma extensão da mente, corpo ou sentidos. Pode ser tangível (uma nova tecnologia, como o telefone celular) ou intangível (como um processo), por exemplo: a roupa é uma extensão da pele, o rádio é uma extensão da voz, a televisão é uma extensão dos olhos e ouvidos.

McLuhan mencionava também que cada mídia continha outras mídias. Para o autor todas as mídias são multimídias em que cada camada tem um conjunto de efeitos distintos, através de mensagens distintas que devem ser analisadas de forma independente. Nas comunicações móveis, voz e dados podem ser considerados mídias diferentes, com mensagens distintas que devem ser objetos distintos de análise (GANITO, 2005).

McLuhan cita que quando se cria uma nova mídia não se usa imediatamente para novas finalidades, tentamos antes recriar o presente, estendendo o uso de outras mídias (MCLUHAN; LAPHAM, 1994).

“As formas de conteúdo que serão fenômeno na mobilidade, em um primeiro momento, são as formas de conteúdo que você está acostumado a consumir e impedido de consumir. Existe uma demanda latente, no momento que você oferece o produto que atende, o mercado cresce rapidamente. Depois que todos estiverem acostumados a ligar um dispositivo portátil e dedicar atenção a ele, o próprio consumidor começa a buscar algo diferente e identificar novos sabores e degustar novas experiências. Ai surge uma relação que retro-alimenta os fornecedores. Quanto mais ele consome estes produtos mais ele dá sinais ao mercado do que funciona ou não.” (Roberto Franco, entrevistado em 31/10/2006)

Por outro lado, a mensagem tende a ser interpretada como o conteúdo, ela é para McLuhan o conjunto das alterações provocadas pela mídia – “Nós forjamos as ferramentas e, em seguida, as ferramentas nos forjam.”. Quando se cria uma nova mídia, a sua mensagem é o conjunto de mudanças na natureza, ritmo e âmbito das interações e atividades. Essas mudanças provocam alterações nos usuários à medida que se adaptam e reagem à mudança (MCLUHAN; LAPHAM, 1994).

Ao passo que as perspectivas mudam, muda também o contexto e, assim, a mídia passa a ter um novo ambiente que também será transformado pela ação da mídia, num contínuo de mudança. Esse fenômeno, que McLuhan (1994) denomina de “feedforward”, torna o mundo complexo e incerto.

Segunda essa perspectiva, o telefone celular tem alterado a produtividade dos profissionais, as relações pessoais e o comportamento diário. Essas alterações também alteraram a própria mídia telefone celular, que tem evoluído para incorporar maior capacidade de processamento de informação e novas funcionalidades.

A Internet é um exemplo paradigmático da dificuldade em gerir essa incerteza e complexidade. O que McLuhan afirma é que o meio, sendo a mensagem, é medido pelos seus resultados. Nesse sentido, a Internet é uma mídia de grande magnitude devido à forma como mudou todo o contexto social. Compreender essa mensagem é a chave do sucesso para introduzir ou usar uma nova mídia (FEDERMAN; KERCKHOVE, 2003).

A partir desse conceito de mídia de McLuhan (MCLUHAN; LAPHAM, 1994), o telefone celular é de fato uma mídia porque é uma extensão da voz, da audição, do ser/estar e até mesmo da personalidade. Ele tem provocado profundas alterações no contexto e forma de transmitir e receber mensagens, assim como aconteceu com a Internet: acessibilidade constante, liberdade de movimentos, possibilidade de controle e segurança, a queda de fronteiras entre a esfera pública e a esfera privada etc. (GANITO, 2005).

O telefone celular tem contribuído para a satisfação do desejo de personalização tão presente na sociedade atual. Nos estudos de Mizuko Ito (2003), os usuários de telefones celulares no Japão afirmam que nunca atenderiam uma chamada em um telefone celular que não fosse dele, mesmo olhar e tocar um telefone celular sem permissão pode ser um comportamento inaceitável. Essa ligação pessoal faz com que o usuário queira que o seu telefone celular seja um reflexo de si mesmo. A partir daí se presume que os serviços de customização e personalização, como os toques e imagens, estão entre os mais populares.

[...] acima da questão da mobilidade da comunicação ele é um dispositivo pessoal. O celular não é um dispositivo da casa, ele é um dispositivo meu. Raramente uma pessoa atende uma ligação no telefone celular de outro. Você, quando liga na casa de alguém pergunta com quem está falando, quando liga no celular você chama a pessoa pelo nome. É uma relação pessoal (ROBERTO FRANCO, entrevistado em 31/10/2006).

Segundo Ganito (2005), as empresas precisam avaliar a mensagem do telefone celular para perceber o impacto da mobilidade na sua atividade. O simples

ato de falar ao telefone celular é muito mais revolucionário do que a maioria das coisas que foram ditas utilizando o telefone celular.

Levando em conta a revolução que foi o advento do telefone celular, em uma indústria particularmente ligada à tecnologia, pode parecer natural focar na tecnologia em si ou nos conteúdos que ela permite transmitir, e deixar para segundo plano os efeitos que essa indústria pode causar na sociedade. A Internet pode ser tomada como um paradigma desse efeito. Muitas empresas faliram por estarem centradas nas características da Internet, no que era possível fazer com ela, e esquecerem os seus efeitos. As empresas que desenvolveram a sua atividade na Internet anteriores ao “estouro da bolha” em meados de 2000 não consideraram o efeito de “feedforward”, ou seja, ignoraram os efeitos da Internet sobre elas mesmas.

Criam-se novos significados cada vez que a mensagem muda, mesmo para uma mídia que se mantém constante. Para Federman e Kerckhove (2003), quando ocorreu o rompimento da “bolha” da Internet em 2000 ficou claro que as empresas não perceberam que os seus produtos, serviços e modelos de negócios estavam sendo alterados e não foram capazes de acompanhar e responder à mudança.