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PEDAGÓGICO DE ENSINO MÉDIO

5.1 TRÊS CATEGORIAS IMAGÉTICAS

5.1.2 Imagens ilustrativas

Essa é a categoria imagética mais conhecida por parte dos profissionais de História. Conforme Meneses (2003), no campo de História desde o século XX, o uso de imagens é feito predominantemente como ilustração, por isso essas são reconhecidamente, imagens para observar.

As imagens foram e ainda são muito usadas nos livros didáticos como ilustrações. Tendo em vista que a formação da maioria dos professores se deu a partir destes livros e, ainda assim foi-lhes possível constituir-se profissionais, permite concluir que tal uso do recurso imagético não deva ser tão pouco considerável. Por isso é que não se propõe o abandono do uso ilustrativo das imagens, apenas sugere-se o acréscimo de outros tipos de utilização dessas fontes.

Ao adotar o uso pedagógico de imagens é importante considerá- las, sobretudo as ilustrativas, como documentos produzidos com alguma intencionalidade por um sujeito que, ao optar por um ou outro tipo de material, de estilo ou forma na sua confecção, está exercendo uma escolha. No entanto, além de documento, as imagens também são monumentos, como afirma Le Goff (1996, p. 545), o monumento “é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder”.

Toda e qualquer imagem, portanto, não é somente a produção de um indivíduo isolado, mas sim de um sujeito que atua e se relaciona em sociedade. A partir dessa constatação avança-se de modo a deduzir-se que “só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa” (LE GOFF, 1996, p. 545). Tal concepção leva a uma utilização mais emancipada das imagens ilustrativas em sala de aula, pois se assume a possibilidade de questionamento do documento, tomado não mais como verdade irrefutável.

Para essa discussão Sousa (2005, p. 33) contribui ao alargar a visão sobre a capacidade indiciária dos recursos imagéticos:

[...] os documentos históricos não são apenas os textos ou as obras de arte cuja temática ou cujo conteúdo se referem a fatos ou personagens da história. Os materiais e técnicas utilizados, os elementos apresentados, o tratamento estético dado a esses elementos e a maneira como foram organizados na composição são percebidos como importantes indícios históricos e muito reveladores das condições econômicas, políticas e culturais do momento em que a obra foi realizada. Não só o que o autor de alguma obra visual quis expressar, mas também os meios e materiais utilizados para dizê-lo podem ser indicados como elementos ilustrativos ou mesmo explicativos do seu tempo e das suas condições de vida. Tudo isso se constitui em recursos para as interpretações sobre as realidades produzidas noutras épocas.

Tal explicação é importante porque essas considerações nem sempre foram objeto de atenção. Burke (2004) demonstra que as diferentes interpretações acerca das produções artístico-visuais, por vezes foram controversas e orbitaram entre os conceitos de “iconografia” e “iconologia”.

O termo “iconologia”, conforme Burke (2004), fora usado no título de um livro de imagens francês ainda no período renascentista, escrito por Cesare Ripa e publicado em 1593. Já “iconografia”, segundo o autor, estava em uso desde o século XIX. Porém será por volta da década de 1930, que o uso desses termos se constituirá como uma reação contrária à análise estabelecida exclusivamente sobre a composição formal das pinturas, em detrimento do tema nelas abordado.

A esses historiadores, que no século XX enfatizaram o conteúdo intelectual dos trabalhos de arte, Burke (2004, p. 44) convenciona denominar de “iconografistas”, pois para eles as “pinturas não são feitas simplesmente para serem observadas, mas também para serem lidas”.

Uma maneira possível de leitura de imagens foi orientada por Panofsky (1939 apud BURKE, 2004, p. 45), distinguindo três níveis de significado: o primeiro nível seria a descrição pré-iconográfica, por meio da identificação dos objetos e eventos retratados, como resumido por Kossoy (2007), esse é o nível primário da representação pictórica. O segundo nível seria da análise iconográfica propriamente dita, voltada para o significado convencional da representação. O terceiro nível seria o da interpretação iconológica, ou seja, o esforço de compreensão do significado intrínseco, especialmente útil para uma hermenêutica cultural, ou uma “decifração daquilo que o fragmento visual não tem de explícito em seu conteúdo” (KOSSOY, 2007, p. 47).

Há ainda, outras formas de emprego do termo “iconologia”, bem como a sua crítica, por tentar estabelecer uma interpretação sobre o espírito de uma época, relacionando fenômenos culturais em contextos distintos (BURKE, 2004, p. 46).

Assim, é possível observar como o foco de atenção sobre as imagens ilustrativas, em História, fixou-se principalmente no conteúdo retratado, sem atentar suficientemente para a forma e os materiais empregados na sua produção, os quais também informam sobre a sua história. Tal procedimento negligencia outras possibilidades de interpretação do passado e do presente. A esse respeito Burke (2004, p. 52) contribui ao concluir que “os historiadores precisam da iconologia, porém, devem ir além dela”, praticando-a de um modo mais sistemático, podendo incluir o uso da psicanálise, do estruturalismo, enfim de outras teorias na composição das perguntas feitas às imagens.

Interessa-nos para o modelo proposto, o fato de que nas imagens ilustrativas predomina o discurso naturalista, permitindo a visualização de representações dos fenômenos em aproximação com o real. Mais precisamente, a linguagem das imagens ilustrativas se estabelece através um discurso orientado ao receptor da sua mensagem, “informando-o com clareza especular sobre as qualidades sensíveis e naturais das coisas” (SOUSA, 2001, p. 187).

Na teoria da percepção de Peirce (SANTAELLA; NÖTH, 2008) as imagens ilustrativas tendem a confirmar o automatismo dos hábitos perceptivos, apresentando imagens apaziguadoras, confirmadoras e recorrentes no contexto da temática estudada.

Para além de testemunharem sobre si mesmas, sobre sua própria história e sobre a história da arte, as imagens ilustrativas também registram materiais, técnicas, acontecimentos e estilos da época de sua produção, documentando assim o seu tempo.