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“A palavra é uma sonda, umas vezes chega fundo, outras pouco fundo.”432

“Quanto mais antiga é uma palavra, mais fundo chega.”433

“As palavras são como a pele em águas profundas.”434

A relação entre linguagem e imagens é, como se viu no capítulo anterior, profunda e muitas vezes tornam-se equivalentes. Ainda que ambas representem, são instâncias distintas de apresentação e representação do mundo. Em comum têm a forma lógica de reprodução pictórica e ambas necessitam de estar numa determinada relação com a realidade de forma a poderem ser verdadeiras. No TLP a frase, a proposição435, é válida, de um ponto de vista lógico, na medida em que se pode converter em imagem. Uma relação justificada por Wittgenstein na medida em que se pode eficazmente fazer transições entre imagens e linguagem e, na medida, em que o modo como a linguagem representa é enquanto imagem ou, nos termos do TLP, na medida em que reproduz pictoricamente a realidade devido à equivalência das suas formas lógicas. É também enquanto imagem que a proposição adquire o seu poder projectivo, isto é, é na medida em que a proposição é uma imagem do mundo que pode ser comparada com a realidade e, assim, verificar-se a sua verdade.

432 “Das Worte ist einse Sonde, manches reicht tief; manches nur wenig tief.”Diários, 23.1.1915 433“Je alter ein Wort ist, desto tiefer reicht es.” Diários, 5.3.1915

434 “Die worte sind wie die Haut auf einem tiefen Wasser.” Diários, 30.5.1915

435 A palavra alemã Satz tem uma riqueza para a qual não encontramos correspondência na língua

portuguesa. Tanto pode querer dizer “proposição”, como “frase”, “afirmação”, “princípio, “axioma”, etc. A tradição do comentário de Wittgenstein fixou o termo “proposição” como a boa tradução de Satz, ainda que não seja uma tradução errada circunscreve demasiado o âmbito de compreensão aqui em causa. Quando Wittgenstein utiliza a palavra “Satz” está a referir-se não só às proposições da lógica, como às frases (enunciativas, predicativas, declarativas, interrogativas, etc). Assim, vai usar-se aqui o termo ‘proposição’ mas no sentido mais vasto aqui indicado.

Dado na proposição se “colocar um modelo junto à realidade”436

, é no seu ser imagem (o que constitui a pictorialidade) que a proposição chega ao mundo, ou seja, é enquanto imagem que a proposição é uma representação da realidade. Acrescente-se que a proposição é um “imagem da realidade” e “um modelo da realidade tal como nós a pensamos” 437

, uma relação apresentada de tal forma que imagem e modelo, no contexto proposicional, são equivalentes. E imagem, neste contexto, significa a possibilidade de através da proposição se compreender qualquer coisa acerca do mundo, porque “a proposição é uma imagem da realidade: se eu

compreendo a proposição, então conheço a situação [Sachlage] por ela representada.”438 Ou

seja, é enquanto imagem que a proposição permite compreender a situação por si descrita, porque “a proposição só declara [aussagen] alguma coisa na medida em que é uma imagem.”439

E mesmo o sentido da proposição só é alcançado na medida em que a proposição é uma representação lógica: “quase se pode dizer — em vez de: esta proposição tem este e este

sentido—; esta proposição apresenta [vorstellen] esta e esta situação.”440

É na sua relação com o mundo que a linguagem pode ou não ser correcta, dado a sua natureza ser essencialmente descritiva e a realidade dever poder ser “completamente descrita

ela proposição”441e a sua forma geral ser “as coisas passam-se desta e desta maneira.”442

Portanto, aquilo que o TLP tenta descrever são as possibilidades lógicas não só do sentido, que é anterior a qualquer relação com o mundo, mas igualmente as condições através das quais as proposições podem ser correctas, dizer o mundo e ser um modelo da realidade. Este acentuar da função descritiva da proposição pode ser visto como uma variante do critério do uso das IF na medida em que se “de facto todas as proposições da linguagem corrente estão, tal como

estão, na sua ordem perfeita”443e se “em filosofia a pergunta ‘Para que fim utilizamos esta

palavra, esta proposição?’ conduz sempre a descobertas valiosas”444

, então é necessário não só descrever o modo corrente do uso das proposições, que já são dadas na sua ordem perfeita, como, muito ao estilo das IF, responder à pergunta sobre a finalidade da utilização de tal palavra

436“Im Satze legen wir ein Urbild an die Wirklichkeit an.” Diários,. 26.11.1914 437 TLP, §4.01 438 TLP, §4.021 439 TLP, §4.03 440 TLP, §4.031 441 TLP, §4.23 442 TLP, §4.5 443 TLP, §5.5563 444 TLP, §6.211

ou modo de expresssão. A diferença relativamente às IF é, de acordo com a leitura aqui proposta, que no TLP Wittgenstein acredita que só uma investigação lógica acerca dos princípios lógicos que regem a utilização da linguagem poderá dar uma resposta e, depois, essa investigação passa a ser uma investigação não acerca de princípios lógicos eternos e imutáveis, mas uma descrição, a que ele chama gramatical, dos modo reais, actuais e possíveis, da utilização da linguagem na sua ligação com as formas vida. Porque, de acordo com as IF, pensar uma questão na linguagem é pensar o papel que a linguagem tem na vida daqueles que a usam, por isso a linguagem não é, como no TLP, isolada da comunidade dos seus utilizadores e das actividades dessa comunidade, mas, pelo contrário, é desse lugar que a linguagem é vista, por só a partir desse ponto de vista [Standpunkt] ser possível uma visão sobre o “todo formado pela

linguagem com as actividades com as quais ela está entrelaçada”445

a que Wittgenstein chama jogo de linguagem.

No TLP o problema da descrição é colocado por Wittgenstein da seguinte forma: “uma

proposição só pode dizer como uma coisa é [wie ein Ding ist], não o que ela é [was est ist].”446

Portanto, é do modo como as coisas coisas são e não do que elas são que a proposição é uma imagem e, assim, uma representação. A função descritiva da proposição logicamente articulada e com sentido, é central no modo como o TLP compreende a relação humana com o mundo, porque é a proposição que dá a essência do mundo: “dar a essência da proposição quer dizer

dar a essência de toda a descrição, logo, a essência do mundo.”447 Um mundo que, como se viu, tem uma estrutura complexa mas “mesmo que o mundo seja infinitamente complexo, de tal

modo que cada facto consista em infinitamente muitos estados de coisas, e que cada estado de coisas seja composto por infinitamente muitos objectos, ainda assim terá de haver objectos e estados de coisas”448, logo é sempre possível a sua descrição. E relativamente à estrutura da linguagem Wittgenstein vai seguir o mesmo princípio lógico, que de algum modo é uma espécie de modelo ou imagem mecânica (recorde-se as referências que Wittgenstein faz à mecânica de Hertz), em que qualquer complexo tem de se deixar decompor em unidades menores e simples, sendo, assim, possível na análise de um qualquer complexo chegar aos seus elementos constituintes primeiros, logo levar a análise até ao seu último passo. Uma análise que não só

445 IF, §7 446 TLP, §3.221 447 TLP, §5.4711 448 TLP, §4.2211

tem de ser completa, mas a única possível porque “há uma e só uma análise completa da

proposição.”449 Se no mundo os elementos simples são os objectos e estados de coisas, se na

imagem são os elementos da imagem, na proposição o mais simples, a proposição elementar450,

são os nomes que substituem e representam na frase os objectos.

Esta compreensão da linguagem tem o objectivo, anunciado na moldura do TLP, de traçar, rigorosamente, o domínio do sentido. Por isso a estratégia é encontrar o bom critério que permita, indiscutivelmente, fazer aquela distinção identificando as proposições com sentido e libertando a filosofia de entidades metafísicas e pseudo-probemas. E o traçar da linha de fronteira do domínio do sentido é encontrado assumindo-se que “o sentido da proposição é a

sua concordância ou a sua não-concordância com as possibilidades da existência dos estados de coisas”451

, um acordo que é necessário descrever e verificar. Mas, como se viu, a proposição é não só o espaço de possibilidade dos estados de coisas, mas, se for correcta “a proposição

representa a existência e a não existência de estados de coisas.”452 No TLP, os problemas da

filosofia não são esclarecidos através de uma investigação acerca da verdade ou falsidade da linguagem (isso faria da investigação do TLP uma investigação empírica e não lógica), mas sim através da descrição e identificação das condições lógicas que possibilitam a uma proposição fazer sentido: a lógica é transcendental.

A possibilidade do sentido da proposição deve-se à existência de uma forma lógica equivalente entre a proposição e os estados de coisas, a qual permite que o mundo seja representado e/ou projectado na proposição. Esta estrutura, que também é uma exigência lógica, da linguagem marca uma enorme diferença relativamente aos escritos posteriores, não só em termos de método, mas em termos do modo como a linguagem é vista. No TLP, são as proposições elementares, os nomes na sua relação directa e unívoca com os objectos e estados de coisas, que é preciso compreender e justificar com vista a estabelecer as condições de verdade de uma proposição, posteriormente já não são as palavras isoladamente o ponto de partida, mas a situação, o jogo, o modo de vida, a actividade, o ritual, em que essa palavra é pronunciada. Se no TLP o critério do uso está presente, o modo como o compreende é distinto do modo posterior: no TLP, o sentido em nada depende da relação entre os homens,

449 TLP, §3.25 450 cf. TLP, §4.21 451 TLP, §4.2 452 TLP, §4.1

posteriormente qualquer sentido é construído no contexto de uma forma de vida onde o outro é um elemento essencial para que o jogo de linguagem, que é essencialmente comunicativo, aconteça. Nas IF é a partir da comunicação, da interacção com os outros participantes do jogo de linguagem, que o sentido pode ser construído. A situação da estética é um momento exemplar desta necessidade de compreender a forma de vida, ou, se se preferir, o contexto, situação ou actividade, para se poder compreender a linguagem. Nas AC, não são as proposições (ou expressões como aí Wittgenstein chama às manifestações de agrado e desagrado relativos a uma obra de arte) o objecto central da actividade filosófica mas sim as situações, “enormemente complicadas”, em que são utilizadas: “debruçamo-nos não sobre as

palavras ‘bom’ ou ‘belo’, que são absolutamente incaracterísticas […] mas sobre as ocasiões em que são proferidas — sobre a situação enormemente complicada na qual a expressão estética tem um lugar, na qual a expressão propriamente dita tem um lugar quase insignificante.”453 Se

no TLP se elucida a natureza proposição, posteriormente a actividade filosófica de Wittgenstein debruça-se sobre as ‘formas de vida’ de que as palavras fazem parte e em que “as subtis

distinções estéticas”, e não lógicas, são determinantes.

No TLP o problema prende-se com o encontrar a ligação lógica entre proposição e mundo, e Wittgenstein recorre a uma metáfora musical para mostrar de que modo essa relação não só é possível, como real: a relação existente entre disco fonográfico, pensamento musical, notação musical e ondas sonoras, serve como elucidação da relação existente entre a linguagem e mundo porque entre essas diferentes linguagens existe uma forma equivalente que permite que a música se mantenha idêntica independentemente do seu suporte ser a partitura, o disco fonográfico ou o pensamento. “O disco fonográfico, o pensamento musical, a notação musical,

as ondas sonoras, todos eles estão uns para os outros naquela relação interna de reprodução pictórica [abbildenden internen Beziehung] que é a que existe entre a linguagem e o mundo. / A construção lógica é comum a todos eles.”454

E na secção seguinte Wittgenstein desenvolve esta analogia da relação entre proposição, mundo e música: “no facto de haver uma regra geral [allgemeine Regel], pela qual o músico pode extrair [entnehmen kann] a sinfonia da partitura,

através da qual se pode deduzir [ableiten kann] a sinfonia das estrias do disco fonográfico, e segundo a primeira regra de novo a partitura, nisso justamente consiste a semelhança interna

453 AC, p. 17

destas construções aparentemente tão diferentes [innere Ähnlichkeit dieser scheinbar so ganz

verschiedenen Gebilde]. E essa regra é a lei da projecção [Gesetz der Projektion], que projecta a

sinfonia na notação musical. É a regra da tradução [Regel der Übersetzung] da notação musical para a linguagem do disco fonográfico.”455

Nessa secção do TLP são apresentados vários conceitos que esclarecem a relação entre proposição e mundo. Pode desenvolver-se esta imagem da construção lógica em música, a qual é dada pela regra da tradução ou projecção, fazendo corresponder à sinfonia o mundo, à partitura e ao disco fonográfico a proposição e, de algum modo, a imagem lógica que representa o mundo. Desta forma, há uma regra geral que permite representar ou projectar a partitura e construir o disco, os quais não só representam a sinfonia como são seus modelos, traduções da sinfonia numa outra linguagem, num outro sistema de representação. Tal como a sinfonia se projecta na notação musical, o mundo projecta-se ou traduz-se nas suas correctas representações, devido à sua forma lógica comum, e este método de projecção e/ou tradução é o que permite “pensar o sentido da proposição.”456

A possibilidade do mundno poder ser convertido ou traduzido numa linguagem é uma possibilidade lógica. O pressuposto é existirem afinidades internas entre as diferentes linguagens simbólicas correctas, porque: “cada

linguagem simbólica correcta tem que se deixar traduzir para qualquer outra segundo tais regras: isto é o que todas elas têm em comum.”457 O elemento comum a todas elas é serem

construídas de acordo com um conjunto de regras que permitem fazer transições e traduções, regras estas, que no TLP são as regras lógicas da reprodução pictórica, as quais garantem que toda a linguagem simbólica lógica e correctamente formada está em convergência com o mundo e tem no mundo o seu referente e o seu garante de significado [Bedeutung].

Esta afinidade e equivalência entre diferentes linguagens simbólicas é garantida pela lógica a qual é entendidada como uma espécie de sistema mecânico. O modelo que Wittgenstein tem em mente é sempre mecânico, por isso lógica e mecânica estão “numa

posição recíproca”458e esta imagem é conveniente porque “aquilo que caracteriza a imagem [da

reciprocidade entre lógica e mecânica] é que ela pode ser descrita por uma certa rede de uma

455 [sublinhados nossos] TLP, §4.0141 456 TLP, §3.11

457 TLP, §3.343 458 TLP§ 6.342

certa finura completamente.”459

Só descrevendo completamente as condições de possibilidade do mundo e da sua representação é que a lógica permite responder às exigências de simplicidade e completude, e, assim, permite que qualquer construção, desde que obedeça às suas leis gerais, seja possível.

Neste sentido, a investigação de Wittgenstein é sobre os princípios a priori que permitem construir qualquer linguagem e não sobre a diversidade de modelos ou diferentes linguagens simbólicas utilizados para representar o mundo: “e como seria possível que eu, em

Lógica, me tivesse de ocupar com formas que posso inventar? Terei, antes, que me ocupar com aquilo que me torna possível inventá-las.”460 E é desta forma que a lógica é a possibilidade de uma existência e, enquanto tal, as suas proposições “dizem o mesmo. Nomeadamente nada.”461

E a mecânica, em reciprocidade com a lógica, significa para Wittgenstein “uma tentativa de

construir todas as proposições verdadeiras, que usamos na descrição do mundo, a partir de um plano único.”462 A forma lógica é assim não só o denominador comum entre o facto da

representação e o facto representado, mas o plano único a partir do qual todas as descrições do mundo se podem construir. Posteriormente, este plano comum vai chamar-se forma de vida e o ponto de vista que permite a libertação do cativeiro em que algumas imagens mantêm os homens vai ser o da descrição gramatical, para o qual o elemento central é o papel que a linguagem possui no contexto das formas de vida.

Sendo o mundo, como a lógica, dado a priori (não o podemos imaginar como não existindo), o espanto com a existência, no sentido do espanto com o ‘was’ do mundo, nunca é considerado uma experiência com sentido, por ser logicamente impossível espantar-se com algo que não se pode imaginar, ou pensar, de modo diferente. Este sem sentido lógico de alguém se espantar com a simples existência é descrita na CE assim:

“Se digo ‘fico espantado com a existência do mundo’ estou a usar mal a linguagem.

Deixem-me explicar isto: tem um sentido correcto e, perfeitamente, claro, dizer que fico espantado por uma coisa ser assim, todos percebemos o que significa dizer que me espanto com o tamanho de um cão que é maior do que qualquer um que alguma vez vi, ou com alguma coisa,

459 Ibidem 460 TLP, §5.556 461 TLP, §5.43 462 TLP, §6.343

no sentido habitual da palavra, extraordinária. Em qualquer um destes casos espanto-me por alguma coisa ser assim, a qual podia conceber como não sendo assim. Espanto-me com o tamanho deste cão porque podia conceber um outro cão, nomeadamente de tamanho normal, face o qual não me espantaria. Dizer ‘fico espantado com que tal e tal sejam assim’, só tem sentido, se puder imaginar que tal e tal não sejam assim. Neste sentido qualquer um pode ficar espantado com a existência de, digamos, uma casa que vê, a qual há muito tempo não visitava e que entretanto imaginava ter sido destruída. Mas é sem-sentido dizer que me espanto com a existência do mundo, porque eu não podia imaginá-lo como não existindo. Podia certamente espantar-me que o mundo que me rodeia seja como é. Se, por exemplo, tivesse esta experiência ao olhar para o céu azul, podia espantar-me com o céu azul por oposição ao caso em que está nublado. Mas não é isto que eu quero dizer. Estou a espantar-me com o céu sendo ele o que quer que seja. Alguém pode sentir-se tentado a dizer que aquilo com que me estou a espantar é uma tautologia, nomeadamente com céu ser azul ou não azul. Mas então é sem sentido dizer que alguém se está a espantar com uma tautologia.”463

O espanto relativamente à existência é, de um ponto de vista lógico, sem-sentido, porque a lógica é sem surpresa e, logo, destitui de sentido esse tipo de experiência: o que existe [Bestehen] tem de poder ser descrito, logo tem de ser de um determinado modo, tem de se poder dizer ‘como’ [wie] isso é, ou seja, tem de ser formal e materialmente determinado. No limite, o TLP não admite qualquer tipo de espanto com a existência, com o ‘quê’ [wie] do mundo, porque nenhuma proposição verdadeira pode ser antecipada ou a priori, por oposição às proposições lógicas com sentido que são a priori. Nesta conferência não se trata da previsibilidade das operações lógicas, mas do assumir que não é possível pensar, ou imaginar, a

463 “ If I say ‘I wonder at the existence of the world’ I am misusing language. Let me explain this: It has a

perfectly good and clear sense to say that I wonder at something being the case, we all understand what it means to say that I wonder at the size of a dog which is bigger than anyone I have ever seen before of at any thing which, in the common sense of the word, os extraordinary. In every such case I wonder at something being the case which I could conceive not to be the case. I wonder at the size of this dog because I could conceive of a dog of another size, namely ordinary size, at which I should not wonder. To say ‘I wonder at such and such being the case’ has only sense if I can imagine it not being the case. In this sense one can wonder at the existence of, say, a house when one sees it and has not visited it for a long time and has imagined that it had been pulled down in the meantime. But it is nonsense to say that I wonder at the existence of the world, because I cannot imagine it not existing. I could of course wonder at the world around me being as it is. If for instance I had this experience while looking into the blue sky, I could wonder at the sky being blue as opposed to the case when it’s clouded. But that’s not what I mean. I am wondering at the sky being whatever it is. One might be tempted to say that what I am wondering at is a tautology, namely the sky being blue or not blue. But then it’s just nonsense to say that one is wondering at a tautology.” CE, pp. 8-9

não existência. Wittgenstein não recorre a nenhuma prova ontológica, o seu princípio é lógico e está relacionado com o facto de não se poder pensar o ilógico, isto é, aquilo que não se deixa pensar. E acerca daquilo que não se pode pensar, também não pode haver espanto. Porque o espanto está logicamente condicionado àquilo que é possível representar: o espanto é legítimo na medida em que está em ligação com uma experiência possível. O exemplo de Wittgenstein, ficar espantado com um cão de um tamanho que nunca antes se tinha visto, corresponde a uma expansão das representações da realidade, por oposição ao espanto com a existência do mundo: esta é uma experiência sem sentido porque, tal como a lógica, o mundo é uma

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