• Nenhum resultado encontrado

551 Ernst Jünger, O passo da floresta, 1995, pp.96-97 552 MS 146 35v: 1933-1034, CV, pp.27-28

“Hoje em dia, as pessoas acreditam que os cientistas existem para as ensinar e que os

poetas & músicos etc., para as entreter. Que estes têm algo para lhes ensinar; isso nunca lhes ocorre.”554

Não existe no corpus wittgensteiniano uma obra dedicada ao problema da estética ou aos problemas das artes, excluíndo os apontamentos dos seus alunos reunidos em Aulas e

Conversas, as anotações avulsas que Wittgenstein escreveu nos seus cadernos e diários e a

utilização ocasional que faz do conceito de estética, sobretudo, nos seus escritos sobre a filosofia da psicologia. Nem se pode construir, em sentido estrito, uma teoria estética sobre o belo, o juízo estético ou sobre a criação artística. Pensar a estética no contexto do pensamento de Wittgenstein é, sobretudo, dar-se conta do modo como a arte — sobretudo poesia, música e arquitectura — faz parte da vida e de que modo a apreciação estética é, como o mostra Fernando Gil, um “exercício de percepção”555

: as ocasiões em que Wittgenstein fala de arte são decisivas não só do ponto de vista estético, mas no modo como esclarecem — ou, de acordo com as IF, “dissolvem” — aquelas imagens ou problemas com as quais a linguagem mantêm os homens prisioneiros e, por isso, Wittgenstein diz nas AC que as questões estéticas são de enorme importância para toda a filosofia. A pertinência filosófica dos “enigmas estéticos”, referidos na abertura deste estudo, reside no modo como a experiência com as obras de arte é reveladora de certos aspectos perceptivos e cognitivos, e, como se pode ler nas AC, porque quer em estética, quer em filosofia o problema reside num certo ideal de correcção ou exactidão: “por exemplo: o que está mal neste vestido, como deveria ser.”556

Este é um outro ponto em que a semelhança e identificação entre as investigações estética e filosófica se manifesta. Ambas as actividades conhecem uma afinidade por serem acções que se levam a cabo de acordo com certas regras, costumes ou, melhor, actividades que pressupõem o domínio de determinadas técnicas.

554“Die Menschen heute glauben, die Wissenschaftler seien da, sie zu belehren, die Dichter & Musiker etc,

sie zu erfreuen. Daß diese sie etwas zu lehren haben; kommt ihnen nicht in den Sinn.” CV, MS 162b 59v: 1939-1940

555 Fernando Gil, Entre o aspecto e o eterno, a arte, 1998, p.440 556 CV, MS 112 56: 1937

No TLP, o estético surge indirectamente. A única ocasião em que Wittgenstein fala de estética é, como já referido neste estudo, na secção §6.421 em que diz “a ética e a estética são

um” [sind Eins], ou seja, uma identificação que não define a ética e a estética, mas autoriza transições, como Wittgenstein faz na CE, entre o bem e o belo e ver que ambas, além de transcendentais, dizem respeito a uma certa relação com o mundo em que os factos surgem de uma outra forma, isto é, vê-se o mundo sob a forma do eterno. Portanto, só indirectamente e através do estabelecimento de uma forte relação e cruzamento com as anotações dos Diários se pode traçar os contornos da natureza da estética. Mas, mesmo seguindo este procedimento, em rigor não se pode dizer que a estética seja um tema do TLP: ela é transcendental e dado as proposições não poderem dizer nada do que é mais elevado, a estética, tal como a ética, não se pode pôr em palavras e qualquer tentativa de o fazer corresponde à produção de mero sem- sentido [Unsinn]. De acordo com a lógica aquilo que a ética e a estética querem dizer, e o pressuposto é que se quer dizer alguma coisa que a forma lógica da linguagem não permite, não pode ser dito, porque aos elementos consituintes das proposições éticas e estéticas não foi dado, nem nunca poderá ser dado, significado, denotação [Bedeutung], isso que se quer dizer numa proposição ética ou estética não só não obedece às leis lógicas do sentido, como utiliza sinais aos quais nunca nenhum objecto ou estados de coisas poderá corresponder. De acordo com o TLP, as proposições éticas e estéticas são uma tentativa de atribuir valor e as proposições só podem descrever factos e estados de coisas.

É na disjunção entre facto e valor que a estética encontra o seu espaço de existência. No

TLP a estética corresponde a uma perspectiva ou, se se preferir, a um modo de ver, olhar ou

contemplar o mundo a que Wittgenstein chama sub specie aeternis (que literalmente traduzido significa “sob a forma do eterno”). E esta relação entre a estética e um determinado modo de ver é permanente no pensamento de Wittgenstein: a percepção e a experiência estéticas vão estar sempre relacionadas com um determinado modo de olhar para o mundo, objectos e estados de coisas. Mas no TLP este olhar surge como uma experiência sentimental do sujeito que consiste não só num certo modo de ver, mas tambem de sentir o mundo em que não só se vê o mundo sub specie aeterni como um todo limitado, mas a felicidade é uma instância de transformação do todo que é o mundo: “o mundo do homem feliz é diferente do dum homem

infeliz.”557

Esta ligação da ética e da estética com um sentimento do sujeito, torna-se mais clara nas anotações dos Diários em que Wittgenstein mostra não só que a ciência deixa o homem insatisfeito, bem como que a ética e a estética estão ligadas à felicidade. Já na CE o ético (e, portanto, o estético), que se expressa na tentativa de falar sobre o bem, é apresentado como um correr contra e ao longo dos limites da linguagen e do mundo, dado os limites da linguagem significarem os limites do mundo. No TLP pode dizer-se que o ponto de vista estético corresponde a um excesso relativamente ao que pode ser dito e pensado: por isso é sem- sentido. Aqui a estética, em contraste com o modo como será entendida nas AC ou nas IF, está ligada a uma deslocação sentimental que o sujeito realiza relativamente ao modelo lógico do sentido da representação expresso pelo TLP.

O caminho que se fez até aqui, centrado na descrição das possibilidades de uma representação correcta da realidade e nas correcções que Wittgenstein foi introduzindo, nas OF, na GF ou nos ditados a Waismann, nos conceitos de imagem e proposição, serviu como apresentação do pano de fundo contra e em oposição ao qual a possibilidade da visão estética se pode construir. E porque, tal como Wittgenstein diz a von Ficker a propósito da ética, e dado a ética e a estécia serem a mesma coisa [sind Eins], só se pode correctamente identificar a visão estética a partir do interior do livro de Wittgenstein. Se se trata de caracterizar qual é o tipo de transformação e expressão a que corresponde a estética, então as proposições do TLP são determinantes enquanto contexto no interior do qual a estética surge.

A visão estética corresponde a uma experiência com dois aspectos principais: é uma experiência de excesso e é uma experiência de transformação dos limites do mundo. Porque se a ética e a estética, como é dito na CE, são um certo correr contra e ao longo dos limites da linguagem, no sentido em que “não pode haver proposições da ética. As proposições não podem

exprimir nada do que é mais elevado”558, então esta experiência do limite é uma experiência com os limites do mundo e da vida, na medida em que, como já foi referido559, “os limites da

minha linguagem significam os limites do meu mundo”560e porque “mundo e vida são um.”561 E

trata-se de uma experiência de excesso porque aquilo que se tenta dizer ou expressar em

557 TLP, §6.43 558 TLP, §6.42 559 cf. p. 173ss deste estudo 560 TLP, §5.6 561 TLP, §5.621

estética não pode ser expresso porque excede os objectos, factos e estados de coisas descritiveis e representáveis numa proposição: o valor, e é enquanto valor que Wittgenstein no

TLP pensa a ética e a estética, tem de “estar fora do que acontece e do que é”562, porque a estar

no que acontece seria um acaso descritível do mundo. Mas este mundo do valor, da ética, da estética e do homem feliz, não pode ser dito, não só porque corresponde ao que não se pode exprimir por se localizar para lá da linha de fronteira do pensamento, a qual coincide com a fronteira da linguagem com sentido, mas este mundo não pode ser dito porque a sua essência é ser sem-sentido, isto é, o ético não pode ter uma forma proposicional com sentido, pois admitir a existência de proposições éticas significaria que o que se quer dizer com a ética e a estética são factos idênticos a todos os outros.

Na CE Wittgenstein, sublinhando que a essência das expressões éticas é o seu sem- sentido, diz: “estas expressões sem sentido [Wittgenstein está a referir-se às expressões sobre o milagre da existência e todas as expressões que tentam expressar um valor absoluto ou ético]

não eram sem sentido por eu ainda não ter encontrado a sua expressão correcta, mas que o seu sem sentido era a sua própria essência. Pois, tudo o que quis fazer com elas foi unicamente ir para além do mundo e isso quer dizer ir para além da linguagem significativa.”563 Esta conclusão

retoma os pontos essenciais do TLP, mas abre espaço para um tipo de proposições cuja essência é ser sem-sentido as quais não são excluidas ou silenciadas, mas documentam a tendência do espírito humano em querer ir além do mundo e da linguagem. E dizer que o sem-sentido pode ser a essência de uma proposição tem consequências para a compreensão da visão estética, porque se assume nesta conferência que existe um conjunto de expressões humanas que nada representam, mas que no entanto existem, são usadas e o filósofo não pode senão respeitar. Na

CE a situação em que se está relativamente à ética é semelhante à da estética, porque

Wittgenstein logo no início da conferência declara: “agora vou usar o termo Ética num sentido

ligeiramente mais amplo, num sentido que, de facto, inclui aquilo que acredito ser a parte mais essencial do geralmente é chamado Estética.”564 Declaração esta que, em conjunto com a

identificação da ética com a estética declarada pelo TLP, autoriza a fazer transições entre o que

562 TLP, §6.41

563 “These nonsensical expressions were not nonsensical because I had not yet found the correct

expressions, but that their nonsensicality was their very essence. For all I wanted to do with them was just to go beyond the world and that is to say beyond significant language.” CE, p. 44

564 “Now I am going to use the term Ethics in a slightly wider sense, in a sense in fact which includes what

Wittgenstein diz sobre a ética e a esfera da estética. Mas estas transições estão condicionadas aos campos específicos a que correspondem a ética e a estética. No TLP Wittgenstein não faz qualquer distinção entre elas, mas nos Diários é apontada uma diferença: "A obra de arte é o

objecto visto sub specie aeternitatis; e a vida boa é o mundo visto sub specie aeternitatis. / Esta é a ligação entre a arte e a ética.”565 Para a distinção que aqui interessa estabelecer, o importante é sublinhar que, do ponto de vista de Wittgenstein nos Diários, a ética diz respeito ao mundo e a estética aos objectos, mas que o modo como ambas os intuem [Anschaaung] é semelhante, ou seja, trata-se de um olhar que vê os objectos e a vida ‘sob a forma do eterno’.

Relativamente às expressões estéticas, que Wittgenstein pensa no contexto da relação entre facto e valor, acontece que: “não podemos exprimir o que queremos exprimir e que tudo o

que dizemos acerca do miraculoso em absoluto permanece sem-sentido [non-sense]. Agora a resposta a tudo isto parecerá absolutamente clara a muitos de vocês. Dirão: Bem, se certas experiências constantemente nos tentam a atribuir-lhes a qualidade a que chamamos valor absoluto, ou ético [aqui pode acrescentar-se: estético], e importância, isto mostra simplesmente que com estas palavras nós não dizemos algo sem-sentido, que, apesar de tudo, o que queremos dizer ao dizer que uma experiência tem um valor absoluto é somente um facto como outros factos e que tudo se resume a que nós ainda não conseguimos encontrar a análise lógica correcta do que queremos dizer com as nossas expressões éticas e religiosas [acrescente-se:

estéticas]. Quando isto é lançado contra mim, vejo claramente como se fosse um relâmpago,

não somente que nenhuma descrição em que eu pudesse pensar serviria para descrever o que quero dizer por valor absoluto, mas que também rejeitaria qualquer descrição significativa que qualquer um pudesse sugerir, ab initio, com base fundamento do seu significado.”566 Portanto,

tudo o que se diz acerca do miraculoso, que é um dos exemplos que Wittgenstein dá de uma

565 “Das Kunstwerk ist der Gegenstand sub specie aeternitatis gesehen; und das gute Leben ist die Welt sub

specie aeternitatis gesehen. Dies ist der Zusammenhang zwischen Kunst und Ethik.” Diários, 7.10.1916

566 “We cannot express what we want to express and that all we say about the absolute miraculous remains

nonsense. Now the answer to all this seems perfectly clear to many of you. You will say: Well, if certain experiences constantly tempt us to attribute a quality to them which we call absolute or ethical value and importance, this simply shows that by these words we don’t mean nonsense, that after all what we mean by saying that an experience has absolute value is just a fact like other facts and that all it comes to is that we have not succeeded in finding the correct logical analysis of what we mean by our ethical and religious expressions. Now when this is urged against me I at once see clearly, as it were in a flash of light, not only that no description that I can think of would do to describe what I mean by absolute value, but that I would reject every significant description that anybody could possibly suggest, ab initio, on the ground of its significance.” CE, p. 44

expressão ética, permanece sem-sentido não porque diga respeito a um facto, como outros factos, para o qual ainda não se encontrou a análise lógica correcta, mas porque nunca nenhuma descrição o poderá descrever, o que é uma forma de dizer que nunca nenhuma proposição serviria para dar conta daquilo que se quer expressar: “parece-me óbvio que nada

que pudéssemos alguma vez pensar ou dizer seria a coisa.”567. Como se dirá nas AC e nas ORD acerca da explicação: o tipo de descrição possível e em causa nestas palavras não satisfaz aquilo que se procura quando se tenta exprimir um valor.

A CE é um momento charneira no pensamento de Wittgenstein pois é um momento de transição, nomeadamente porque a sua conclusão relativamente às expressões cuja essência é o sem-sentido, não é o seu silenciamento, mas o dever serem respeitadas. E este respeito, em certo sentido, já é uma admissão das expressões sem-sentido que no TLP são irremediavelmente silenciadas.

Mas mesmo no TLP o que não se pode dizer — por ser sem-sentido e inexprimível e, logo, impossível de ser pensado — não anula a permanência daquilo que as proposições nunca poderão dizer, porque “existe no entanto o inexprimível [Unaussprechliches]. É o que se mostra [zeigt sich], é o místico.”568 E o papel do inexprimível no pensamento de Wittgenstein é central,

porque é o fundo sob o qual toda a sua expressão repousa e relativamente ao qual tudo o que Wittgenstein diz adquire sentido569. Por isso o inexprimível, tal como surge no TLP, não se pode

dispensar em razão do seu sem-sentido. O inexprimível ético, estético e místico, corresponde a um núcleo importante de proposições do TLP que são duplamente sem-sentido: são ‘sinnlos’ e ‘unsinnig’, não possuem nem uma forma lógica adequada, ou um sistema de simbolização possível, nem representam nada da realidade; e, por isso, podem ler-se como proposições sobre as quais a lógica não tem qualquer domínio legislativo, porque, como a lógica, a Ética é transcendental570. A distinção entre estes transcendentais é que a lógica é a possibilidade de toda a representação com sentido e a ética é a condição do sentido do mundo e não da representação, pois o “sentido do mundo tem que estar fora do mundo.”571 E o transcendental

ético, e portanto estético, embora não permita à ética dizer o que quer dizer [nicht aussprechen

567 “It seems to me obvious that nothing we could ever think or say should be the thing.” CE, p.40 568 TLP, §6.522

569

CV

, MS 112 1: 5.10.1931

570 TLP, §6.421 571 TLP, §6.41

läßt]572, permite que o mundo, através de um sentimento do sujeito, seja visto de uma outra forma: sub specie aeterni. E o território constituído por esta intuição, a que corresponde um certo modo de ver, está fora do domínio da lógica, por isso acerca dele não se pode dizer se é com sentido ou sem-sentido, se é uma representação correcta ou errada.

As proposições sem-sentido da ética, da estética e do místico, dizem respeito a uma transformação dos limites do mundo: “se a vontade boa ou má altera o mundo, então só altera

as fronteiras do mundo, não os factos; não o que pode ser expresso através da linguagem. / Em suma, através da vontade boa ou má o mundo tem de tornar-se num outro. Enquanto todo tem de, por assim dizer, crescer ou diminuir. / O mundo do feliz é diferente do do infeliz.”573 Uma transformação na qual a vontade tem o papel de catalisador na medida em que, como se viu574, a vontade do sujeito penetra o mundo e é através dela que o mundo cresce e diminuí, o que é uma forma de dizer que as suas fronteiras são alteradas. Esta transformação do mundo, nos

Diários e no TLP, corresponde a uma intuição do mundo sub specie aeterni a qual “é a sua

intuição [Anschauung] como um todo limitado. / O sentimento do mundo como um todo limitado é o místico.”575

E místico “é que o mundo exista, não como o mundo é.”576

Esta identificação do místico não significa, de acordo, com a leitura aqui proposta, que as proposições éticas e estéticas sejam místicas. O que há em comum é o modo como se exprime a existência do mundo [daß die Welt ist] e o modo como se exprime o valor ético ou estético e o facto de nos três casos estar em causa um sentimento do mundo [Gefühl der Welt] como uma totalidade. Esta raiz sentimental comum é sublinhada por Wittgenstein nos Diários: “somente da

consciência do carácter único da minha vida brota a religião – a ciência – e a arte”577, uma

consciência a qual, no dia seguinte, Witttgenstein diz ser “a própria vida.” 578

572 TLP, §6.421

573 Tradução modificada: “Wenn das gute oder böse Wollen die Welt ändert, so kann es nur die Grenzen

der Welt ändern, nicht die Tatsachen; nicht das, was durch die Sprache ausgedrückt werden kann. / Kurz, die Welt muß dann dadurch überhaupt eine andere werden. Sie muß sozusagen als Ganzes abnehmen oder zunehmen. / Die Welt des Glücklichen ist eine andere als die des Unglücklichen.” TLP, §6.43

574 cf. Diários 17.6.1915ss

575 Tradução modificada e sublinhados nossos: “Die Anschauung der Welt sub specie aeterni ist ihre

Anschauung als — begrenztes — Ganzes. / Das Gefühl der Welt als begrenztes Ganzes ist das mystische.”

TLP, §6.45

576 TLP, §6.44

577 “Nur aus dem Bewutsein der Einzigkeit meines Lebens entspringt Religion – Wissenschaft – und

Kunst.”, Diários, 1.8.1916

O carácter único da vida a partir do qual nasce a arte e a religião não pode ser descrito numa proposição: a linguagem não pode dizer mais que os factos e estados de coisas, ou seja, não pode dizer mais do que aquilo que pode dizer e a “própria vida” não pode ser descrita. E, por isso, “todas as proposições têm o mesmo valor.”579

No contexto da distinção entre facto e

valor, a ética e a estética não correspondem a configurações de factos ou a objectos observáveis, isto é, aquilo que a ética e a estética tentam dizer não pode fazer parte do mundo que tem uma forma lógica. Portanto, a possibilidade da ética e da estética é corresponderem a uma experiência de transformação do mundo. Mas trata-se de uma transformção particular, porque aquele que reconhece valor no mundo afasta-se do mundo não o perdendo de vista: os factos continuam a existir e o mundo, enquanto totalidade daquilo que acontece, permanece. Este movimento de transformação é descrito por Wittgenstein como se o sujeito, no caso da ética, pudesse pôr-se no exterior do mundo, o que significa uma saída do sujeito para fora de si próprio: “o mundo é-me dado, isto é, a minha vontade alcança o mundo todo do exterior como

Documentos relacionados