• Nenhum resultado encontrado

“Fazemo-nos imagens dos factos.”270

“A totalidade dos pensamentos verdadeiros é uma imagem do mundo.”271

“Na proposição colocamos uma imagem originária junto à realidade.”272

“A proposição é a descrição de um estado de coisas.”273

“A proposição é uma imagem da realidade.”274

“A imagem é um modelo da realidade.”275

Imagens e proposições não são termos equivalentes ou permutáveis, mas possuem uma estrutura lógica equivalente, o que lhes permite chegar ao mundo (“junto da realidade”) e ser um seu modelo. Genericamente, pode afirmar-se que tanto as imagens [Bild] como as proposições [Satz] são representações ou modelos de presentações do mundo. E o ponto de partida do TLP é que as representações humanas, quando logicamente correctas e articuladas, podem fazer sentido: imagens e proposições se fizerem sentido representam, dado possuirem uma mesma forma lógica, o que acontece. Relativamente às imagens e às proposições, o objectivo do TLP é identificar de que modo a linguagem pode ser uma descrição daquilo que acontece, do como é o mundo e fazer a crítica de certos modos — porque sem-sentido e logicamente incorrectos — de usar proposições. Se a filosofia é compreendida no TLP como

270 TLP, §2.1 271 TLP, §3.01

272 “Im Satz legen wir ein Urbild and die Wirklichkeit an.” Diários, 24 de Novembro de 1914 273 TLP, §4.023

274 TLP, §4.01 275 TLP, §2.12

actividade de crítica da linguagem que resulta na elucidação dos problemas da filosofia, o seu objecto são as formas humanas de dizer e representar o mundo. Mas se nas proposições se coloca “uma imagem originária junto à realidade”, uma parte dessa investigação terá de ser uma espécie de crítica do modo como certas imagens são usadas. Função crítica que vai ter eco nas IF em que o procedimento gramatical tem a função terapêutica de retirar o homem do cativeiro em que certas imagens o mantêm. E trata-se de uma crítica de certos usos das imagens e não do modo como se formam imagens, esse seria, do ponto de vista de Wittgenstein, o campo da psicologia e não da Lógica. Pode dizer-se que as imagens são a priori não só por não se poder negar uma imagem276, mas igualmente por serem a possibilidade de fixar a realidade em sim ou em não. Relativamente às imagens está-se na mesma situação que relativamente aos estados de coisas: “só podemos postular as regras de acordo com as quais pretendemos falar.

Não podemos postular estados de coisas”277, isto é, podemos postular o modo como usamos a

linguagem, que é um produto humano, mas não podemos postular, ordenar, impor, o mundo, enquanto totalidade daquilo que acontece.

A compreensão wittgensteiniana da imagem diz respeito, tal como a sua investigação acerca da natureza da proposição, à tentativa de encontrar a ligação entre imagem e mundo:

“O facto tem de ter, para ser imagem, alguma coisa em comum com o que é reproduzido [Abgebildeten] pictoricamente”278 e “na imagem tem de haver algo idêntico ao que é

representado pictoricamente.”279 O idêntido e comum entre o facto-imagem (porque a imagem é um facto280) e a imagem de um facto, o elemento que permite que a imagem seja a apresentação “[da] situação no espaço lógico, a existência e a não existência de estados de

coisas”281 é a forma lógica. Uma forma que, ao ser equivalente entre a imagem e o que ela

representa, permite à imagem ser uma representação possível da realidade: “o que a imagem,

qualquer que seja a sua forma, tem de ter em comum com a realidade para a poder de todo representar pictoricamente — correcta ou incorrectamente — é a forma lógica, isto é, a forma

276 “Pode negar-se uma imagem? Não.”, Diários, 26 de Novembro de 1914

277 “Wir können nur Regeln postulieren, nach welchen wir sprechen wollen. Wir können nicht Scahverhalte

postulieren.” WWK, Conversa com Waismann, em casa de Schlick, em 25 de Dezemebro de 1929, p. 62

278 TLP, §2.16 279 TLP, §2.161 280 cf. TLP, §2.141 281 TLP, §2.11

da realidade.”282

Imediatamente a seguir, Wittgenstein faz equivaler à forma lógica a forma da representação pictórica e esta equivalência permite que a imagem seja lógica: “se a forma da

representação pictórica é a forma lógica então a imagem chama-se imagem lógica.”283 Esta

necessidade da existência de um elemento comum significa as condições que a imagem deve cumprir para poder representar a realidade porque aquilo “que a imagem tem de ter em comum

com a realidade para a poder representar pictoricamente – verdadeira ou falsa – do seu modo e maneira, é a sua forma de reprodução pictórica [Form der Abbildung]”284 . Esta forma “pode ser

chamada aquilo em que uma imagem DEVE estar em sintonia com a realidade (de modo a que seja capaz, em geral, de a reproduzir.)”285 Mas este elemento de sintonização da imagem com a realidade, a imagem não pode representar, mas somente “exibir”286

, porque ela “não pode […]

colocar-se no exterior da sua forma de representação.”287

Uma impossibilidade de saída para fora da imagem que corresponde à impossibilidade, anunciada por Wittgenstein no Prólogo do

TLP, de sair para fora do mundo, da linguagem e do pensamento. Por isso, é a partir do interior

da imagem, enquanto representação da realidade, que Wittgenstein determina a sua forma e a sua possibilidade de sentido e e verdade.

O haver uma equivalência entre a forma lógica do mundo e a forma lógica da imagem, a que corresponde a harmonia entre a imagem e a realidade, significa que está em causa uma imagem lógica que representa o que acontece e que está “em conexão [verknüpft] com a

realidade”288, “[chega] até ela”289, porque a imagem “é como uma régua aposta à realidade.”290

A imagem é, com esta metáfora da régua, uma espécie de medida da realidade, no sentido em que fixa a realidade em sim ou em não e porque pode ser verdadeira ou falsa, correcta ou incorrecta: “a imagem representa pictoricamente a realidade, ao representar uma possibilidade

da existência e da não-existência de estados de coisas”291, a imagem representa “uma situação

282 TLP, §2.18 283 TLP, §2.181 284 TLP, §2.17

285 “Die Form eines Bild könnte man dasjenige nennen, worin das Bild mit der Wirklichkeit stimmen

MUSS (um sie überhaupt abbilden zu können) …” Diários, 10.10.14, p.15

286 TLP, §2.172 287 TLP, §2.174 288 TLP, §2.1511 289 Ibidem 290 TLP, §2.1512 291 TLP, §2.201

possível no espaço lógico.”292

Portanto, a imagem é o momento em que se afirma ou se nega uma situação do mundo, a sua forma não diz respeito à possibilidade de uma existência, como a lógica ou a geometria, mas afirma ou nega uma existência ou situação.

A sintonia com a realidade significa o esforço cognitivo do homem em dizer o real, na medida em que a imagem não só é um modelo da realidade, mas apresenta o esforço de conhecimento objectivo dessa mesma realidade que representa. Não está em causa com o conceito de imagem [Bild] uma representação das qualidades empíricas das coisas do mundo, mas a localização ou posição dessas mesmas coisas no contexto a que Wittgenstein chama espaço lógico. As imagens exibem a realidade e o modo como as coisas nela acontecem, e mostram a ligação de todos os factos com todos os factos, unidos na totalidade lógica a que se chama mundo. Fazer imagens do real, representá-lo, dizê-lo, é expressar e possibilitar essa existência porque é na imagem, enquanto modelo da realidade, que se pode conhecer o modo como as coisas se relacionam umas com as outras: “a forma da representação pictórica é a

possibilidade de as coisas se relacionarem entre si, como os elementos da imagem”293 e “que os elementos da imagem se relacionam entre si de um modo e uma maneira determinados representa que as coisas se relacionam assim entre si. / Chame-se a esta conexão dos elementos da imagem, a sua estrutura, e à sua possibilidade, a forma da sua representação pictórica.”294 As

imagens do TLP são uma figuração [Bild] do real cujos elementos correspondem, em termos lógicos, aos elementos da realidade que essa mesma imagem representa, e dos quais ela é um modelo: um isomorfismo entre o facto a representar e o facto imagem possibilitado por haver uma equivalência entre a forma da realidade, a forma lógica e a forma de representação da imagem.

Este isomorfismo é uma consequência da lógica ser uma imagem espelhada do mundo, pois nada cria, é apenas a possibilidade de uma existência. E, por isso, o critério da correcção ou verdade das imagens lógicas é “a concordância ou não-concordância do seu sentido com a

realidade” a qual “constitui a sua verdade ou falsidade.”295 E para verificar se a imagem é

verdadeira ou falsa é necessário “compará-la com a realidade.”296 Porque se é verdade que “a

292 TLP, §2.202 293 TLP, §2.151 294 TLP, §2.15 295 TLP, §2.222 296 TLP, §2.223

imagem lógica pode representar pictoricamente o mundo”297

, ela só o faz não só porque a sua forma lógica é equivalente à do mundo, mas porque também a imagem “contém a possibilidade

da situação que representa.”298O que a imagem representa, “independentemente da sua

verdade ou falsidade”299, é o seu sentido300 o qual ao concordar ou ao não concordar com realidade “constitui a sua verdade ou falsidade.”301

A verdade da imagem lógica é uma relação de ajustamento com a realidade de tal forma que é a partir do exterior que a imagem retrata o objecto, isto é, de acordo com o ponto de vista [Standpunkt] (o qual significa no TLP uma forma de representação [Form der Darstellung]) a que uma imagem corresponde.302

Em suma, “pode dizer-se: Aqui está a imagem, mas se ela está certa ou não, não se pode

dizer antes de se saber aquilo que ela deve dizer? / A imagem deve agora novamente lançar

[werfen] as suas sombras no mundo.”303

Comparar o facto imagem com o facto de que a imagem é imagem e averiguar as suas sombras é uma forma de encontrar os limites da imagem e de determinar se ela é verdadeira ou falsa: as sombras são uma metáfora que mostra que na comparação da imagem com a realidade não pode haver sombras. A compararação com a realidade é possível, não só porque a imagem é um modelo da realidade, mas porque “aos

objectos correspondem [entsprechen] na imagem os elementos da imagem”304 e estes

“substituem [vertreten] os objectos na imagem.”305 Uma relação de correspondência,

adequação e substituição entre objectos do mundo e elementos da imagem que, dado a forma lógica da imagem ser equivalente à forma lógica do mundo, permite que os elementos da imagem substituam, no interior da representação [Bild], os objectos. Aqui já não se trata exclusivamente de uma relação lógica, mas de uma relação pictórica possibilitada pela lógica e em que os elementos da imagem da imagem e das coisas estão em coordenação [Zuordnungen].306 E para mostrar que tipo de coordenação com a realidade é esta, Wittgenstein

297 TLP, §2.19 298 TLP, §2.203 299 TLP, §2.2 300 TLP, §2.221 301 TLP, §2.222 302 TLP, §2.173

303 “Könnte man sagen: Hier ist das Bild, aber ob es stimmt oder nicht, kann man nicht sagen, ehe man

wei, was damit gesagt sein soll? / Das Bild mu nun wieder seinen Schatten auf die Welt werfen.” Diários, 6.11.1914

304 TLP, §2.13

305 Tradução modificada. TLP, §2.131 306 TLP, §2.1514

diz, metaforicamente, que na relação de representação pictórica estas correlações entre os elementos da imagem e as coisas são como as “antenas dos elementos da imagem, com as quais

a imagem toca a realidade.”307

É preciso não esquecer que o TLP é um texto sobre os limites, esta é a moldura no interior da qual se desenvolvem todas as proposições enunciadas: os limites do mundo, das imagens, da lógica, da linguagem e, como não podia deixar de ser, os limites do pensamento. A afirmação feita por Wittgenstein no prólogo ao TLP e na carta a von Ficker são a expressão rigorosa da natureza da actividade filosófica em causa no TLP. Uma tarefa de delimitação que se transforma em crítica da linguagem e em que ecoa a compreensão da tarefa filosófica como crítica308.

No caso da imagem, são as sombras projectadas que constituem o território, o espaço, sobre o qual se deve levar a cabo uma espécie de levantamento topográfico, por ser nesse lugar que as imagens, e consequentemente as proposições, tocam a realidade, por ser ai que se podem realizar as comparações entre imagem e objecto, entre o facto da representação e o facto representado. Contudo, aquilo que fica fora da região delimitada pelas sombras das imagens lógicas é um ponto inacessível, porque a imagem não só não pode sair do seu ponto de vista, que é a sua forma de representação (§2.174), como aquilo que permite que uma imagem [Bild] seja uma representação pictórica de uma situação não é por ela representável. A possibilidade da imagem representar o seu sentido e de poder concordar com a realidade não se pode transformar numa representação pictórica, mas pode ser exibida. A estrutura da

307 TLP, §2.1515

308Uma definição da tarefa da filosofia que, evidentemente, tem ecos kantianos. Porque quer em Kant,

sobretudo na Crítica da Razão Pura, quer no TLP está em causa a delimitação dos territórios e regiões da objectividade do conhecimento humano. Kant acredita que o ponto de vista crítico deve fazer um levantamento topográfico desses territórios e regiões e que deve ser feito através de um olhar para os mecanismos das faculdades do ânimo humano. Para Wittgenstein o olhar é para a linguagem como o lugar em que os mecanismos das representações se deixam ver, não quer dizer que Kant tenha desprezado a linguagem porque também no seu caso se assiste a um esforço linguístico de delimitação do dizível e, logo, do pensável. De tal modo que em muitos momentos a ‘filosofia como crítica’ e a ‘filosofia como crítica da linguagem’ parecem equivaler-se. Erik Stennius, no seu Wittgenstein’s Tratactus, 1964, pp.214-226 (citado por Alex Burri, Facts and Fiction, 2004, p. 294) coloca esta proximidade nos seguintes termos: “The task of (theoretical) philosophy is for Wittgenstein as for Kant to indicate the limits of theoretical discourse. But since what belongs to theoretical discourse is what can be ‘said’ at all in language, the investigation of this limit is the investigation of the ‘logic’ of language, which shows the ‘logic of the world’… What Kant’s transcendental deductions are intended to perform: this is performed by the logical analysis of language.”

proposição vai possuir exactamente as mesmas características: a proposição não pode dizer aquilo que lhe permite ser uma imagem da realidade, a forma lógica, mas pode mostrá-lo.

Não poder dizer e não poder representar são no TLP processos equivalentes. Mas, tal como a linguagem que também não pode dizer, mas apenas exibir/mostrar, o que lhe permite tocar e chegar à realidade, a imagem só pode representar na medida em que é uma reprodução do mundo, mas aquilo que lhe permite ser esse modelo, a sua condição de possibilidade, ela só pode exibir/mostrar e não reproduzir. Um não poder sair de si própria, uma impossibilidade de desdobramento da imagem em meta-imagem que implica o reconhecimento dos seus limites, o qual é assinalado através da identificação das imagens que são sem sentido e que o TLP quer eliminar. Não está em causa um lamento, mas é como se Wittgenstein estivesse a dizer: as imagens não podem dizer o mais importante, aquilo que as faz serem o que são, o seu ser potência de representação e reprodução, mas é tudo o que se tem. O papel das imagens é de tal modo crucial que Wittgenstein afirma: “ ‘Um estado de coisas é pensável’, quer dizer: podermos

fazer dele uma imagem.”309

A posição da imagem na ontologia do TLP é de tal modo importante que nem sequer se poder negar a imagem, pode dizer-se se é ou não correcta, mas negá-la não: “pode negar-se

uma imagem? Não. E nisso está a distinção entre imagem e proposição. A imagem pode servir de proposição. Pois a ela, além disso, qualquer coisa mais é feito e assim diz alguma coisa. Em suma: só posso negar aquilo em que a imagem é correcta, mas não se pode negar a imagem.”310 No TLP, a compreensão das imagens não pode ser isolada da compreensão da linguagem, porque a relação entre proposição e imagem é de afinidade e correlação. As proposições utilizam imagens como sua fonte de sentido e é na medida em que uma proposição é uma imagem do mundo que é uma sua representação, tal como as imagens necessitam das palavras como modo de se lançarem ou projectarem no mundo. O isomorfismo que se tínha visto acontecer entre imagem e mundo, repete-se na relação entre linguagem e realidade:

“A teoria da reprodução lógica [Theorie der logischen Abbildung] através da linguagem

diz – de um modo geral: para ser possível a uma proposição ser verdadeira ou falsa – para poder

309Tradução modificada: “ ‘Ein Sachverhalt ist denkbar’, heißt: Wir können uns ein Bild von ihm

machen.”, TLP, §3.001

310 “Kann man denn ein Bild verneinen? Nein. Und darin liegt der Unterschied zwischen Bild und Satz. Das

Bild kann als Satz dienen. Dann tritt aber etwas zu ihm hinzu, da das Bild stimmt, aber das Bild kann ich nicht verneinen.” Diários, 26.11.1914

estar em sintonia ou não com a realidade – para isso a proposição tem de possuir alguma coisa idêntica com a realidade.”311

Aqui, Wittgenstein não pode admitir senão uma estrita objectividade, enquanto condição do sentido, da linguagem e das imagens. Ou seja, têm de resultar de uma relação objectiva com a realidade, isto é, Wittgenstein não reconhece ainda que o conhecimento pode ter diversos aspectos perceptivos. Multiplicidade esta que não anula o poder representativo, mas alarga o seu âmbito ao introduzir diferentes modos de conhecer, compreender e perceber aquilo que acontece. Nas IF, a renuncia ao indizível e, de algum modo, àquilo que não se diz e só se mostra, é fruto da admissão que a expressão humana tem múltiplas formas de exteriorização, entre as quais linguagem e imagens, que podem usar o não-dito como estratégia e ferramenta de dizibilidade. Depois do TLP aquilo que mais parece interessar ao filósofo são os variegados aspectos perceptivos do conhecimento humano, os quais Wittgenstein no TLP nem sequer considera. Para perceber a transformação posterior do seu pensamento, é importante sublinhar que o conceito de imagem é uma espécie de paradigma da representação do mundo (tal como apresentado no TLP), porque é a partir deste conceito que se pode inteiramente perceber os diferentes vocabulários perceptivos utilizados nas IF. As imagens no TLP são modelos de representação, verdadeiros paradigmas compreensivos do mundo, quer isto dizer que as imagens são o ponto de partida e o ponto de chegada do esforço cognitivo.

No caso das proposições, a actividade filosófica estende-se da formação das proposições até à sua utilização, mas no caso das imagens essa actividade circunscreve-se à sua utilização. Uma utilização que é múltipla: usa-se imagens para formar proposições, para pensar e uma imagem pode “substituir uma descrição.”312 Mas, se se atentar nas passagens que abrem este

capítulo, as fronteiras entre imagem, linguagem e pensamento são ténues, tratam-se de territórios em permanente contacto, por isso, muitas vezes, parecem termos permutáveis e substituíveis. Muito sinteticamente, pode dizer-se que pensamento, linguagem e imagem são modelos ou representações lógicas do mundo que têm uma forma lógica equivalente e, por isso, em certos momentos podem fazer-se equivaler. A imagem é preponderante, porque a sua forma de representação é comum a todas as representações humanas: toda a representação é

311“Die Theorie der Logischen Abbildung durch die Sprache sagt – ganz allgemein: Damit es möglich ist,

dass ein Satz wahr oder falsch sei – da er mit der Wirklichkeit übereinstimme oder nicht – dazu mu im Satze etwas mit der Wirklichkeit identisch sein.” Diários, 20.10.1914

pictórica. Isto é, as proposições, bem como o pensamento, dizem respeito a um certo modo de construir imagens: relembre-se as secções já referidas “a totalidade dos pensamentos

verdadeiros é uma imagem do mundo” (§3.01) e “a proposição é uma imagem da realidade” (§4.021).

Nesta relação entre imagem, proposição e pensamento, este último exige ser melhor caracterizado, porque, mesmo possuindo uma forma pictórica de representação, não vai ser compreendido exclusivamente enquanto imagem ou representação. No TLP, o pensamento começa por ser caracterizado como imagem lógica [logische Bild] dos factos313 e a totalidade

[Gesamheit] dos pensamentos verdadeiros é o mundo314. Mas como entre pensamento, imagem e mundo existe uma forma lógica equivalente, que é transcendental e a priori, porque senão “teríamos de pensar ilogicamente [Unlogisches denken]”315

, os estados de coisas pensáveis são, não só aqueles dos quais se pode fazer uma imagem316, mas também os que são possíveis

porque “o pensável é possível.”317

Se nestas secções o pensamento parece constituir um território autónomo, ele acaba por se fundir com as proposições na medida em que “o pensamento é a proposição com

sentido.”318 Uma relação que não é de equivalência formal, mas a proposição, através do sinal

proposicional319, é o meio de expressão do pensamento, ou seja, é na proposição que o

pensamento se torna perceptível pelos sentidos320: “o pensamento pode ser de tal modo

expresso, que aos objectos do pensamento correspondem os elementos do sinal proposicional.”321

Mas, como se tem vindo a ver, esta expressão é logicamente condicionada

Documentos relacionados