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Imagino que pelo título você pensou o que obviamente todos pensaríamos de primeira: Assistência Farmacêutica nada mais é do que a orientação farmacêutica sobre o uso correto de medicamentos Certo?

No documento LasVegas: SSN (páginas 53-55)

Digamos que a resposta está parcialmente correta. Para sanar as dúvidas, começaremos com uma breve expli-

cação sobre o que faz a Assistência farmacêutica. Vamos lá!

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m 2003, o Ministério da Saúde instituiu o Departamento de Assistência Farmacêutica e Insu- mos Estratégicos (DAF), vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE).

A DAF possui diversas competências. Por hora, deixo para você, leitor(a), apenas algumas das funções, entre elas: participar da formulação, implementação e coordenação da gestão das políti- cas nacionais de Assistência Farmacêutica e de Medicamentos; normatizar, promover e coordenar a organização da assistência farmacêutica, nos dife- rentes níveis da atenção à saúde, obedecendo os princípios e diretrizes do SUS, propor acordo e con- vênio com os Estados, Distrito Federal e Municípios para a execução descentralizada de programas e projetos especiais no âmbito do SUS.

Como pudemos observar, a Assistência Farmacêutica está muito além das orientações rece- bidas em farmácias e drogarias, pois o DAF, junto com o SCTIE, é responsável pela coordenação, im- plantação, formulação e orientação tanto de Políticas

Nacionais de Saúde, quanto de projetos e pro- gramas relacionados à sua área de atuação.

Mas, a orientação dos farmacêuticos nas farmácias é menos importante? De maneira alguma. É ai que entra a Assistência Farmacêutica Básica.

Só para melhor esclarecimento: “A Assistên- cia Farmacêutica Básica compreende um conjunto de atividades relacionadas ao acesso e ao uso racio- nal de medicamentos, destinado a complementar e apoiar as ações da atenção básica à saúde.”

Portanto, é de extrema importância que o cidadão entre em contato com o farmacêutico, pois só assim o indivíduo receberá a orientação correta sobre os riscos que um medicamento pode oferecer, não só pela super dosagem, mas também pela interação medicamentosa entre diferentes tipos de medicamentos ou até mesmo com alimentos.

Segundo o Código de Ética Farmacêutico Brasileiro (Conselho Federal de Farmácia, 2001), o profissional deve atuar buscando a saúde do paci- ente. É o que deveria acontecer, mas nem sempre isso é possível.

O que acontece em muitas farmácias e dro- garias, é que muitos profissionais não conseguem liberdade para atuarem plenamente como farmacêu- ticos, uma vez que assumem atividades administrativas, principalmente de gerenciamento, que demandam tempo e responsabilidades não ne- cessariamente relacionadas à promoção de saúde, mas sim aos interesses empresariais.

Fala

Farmacêutico

Outro obstáculo é a competição entre os farmacêuticos e outros funcionários do mesmo esta- belecimento, para atender clientes. Isso ocorre prin- cipalmente por questões centradas na venda comis- sionada, a qual gera um aumento na renda mensal bruta do balconista, levando a uma competição de atendimento com o farmacêutico.

Além disso, segundo um estudo publicado na Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas (Rev. Bras. Cienc. Farm. v.41 n.4 São Paulo out./ dez. 2005) muitos profissionais não sentem-se ca- pacitados a prestar Atenção Farmacêutica Básica, necessitando de cursos preparatórios. No entanto, falta lhes tempo e incentivo por parte das empresas.

Triste, não?! Quero dizer, os proprietários das farmácias deveriam buscar vantagens comer- ciais na atenção farmacêutica, como um diferencial em relação a outros estabelecimentos, numa ten- tativa de diminuir as resistências a sua execução. Dessa forma, como foi apontado em um estudo da Revista Saúde Soc. São Paulo (v.18, n.1, p.7-18, 2009), ocorreria a diminuição da perda de lucro atre- lada à venda desorientada de medicamentos. Assim, não só o estabelecimento sairia ganhando, mas tam- bém o cliente que teria toda a orientação preventiva e também o farmacêutico que estaria exercendo ple- namente sua função como profissional da saúde.

Atrevo-me a contar uma experiência que tive ao tentar realizar um trabalho para graduação. A princípio, parecia ser simples. Eu só precisava ir em cinco farmácias de manipulação e uma drogaria, e me informar com o farmacêutico responsável quais eram os fármacos que pertenciam a classe de fár- macos Adaptógenos (para quem não sabe, adaptó- genos diminuem a fadiga e aumentam o rendimento intelectual).

Pois bem, das cinco farmácias de manipu- lação que visitei eu não consegui informação em nenhuma. Desapontador, não é mesmo?!

Os motivos pelos quais não recebi Atenção Farmacêutica Básica são praticamente os mesmos já descritos no decorrer do texto. São eles: falta de tempo do farmacêutico, falta de capacitação, pois muitos sentiam-se receosos à vir sanar minhas dúvi- das, ausência do farmacêutico e aconteceu também de eu sofrer descaso pelo profissional.

O único lugar que consegui um bom atendi- mento foi em uma drogaria.

A mesma dificuldade foi encontrada pelos meus colegas de classe, considerando que a pes- quisa foi realizada em cidades diferentes.

Esta experiência é um exemplo vívido da situação atual da Assistência Farmacêutica Básica.

Como pudemos observar, a orientação prestada por farmacêuticos está em falta e a escas- sez desse serviço pode acabar com o uso errôneo de medicamentos pela população, podendo levar a sérios problemas de interação medicamentosa, toxi- cidade e até mesmo a morte.

Para mudarmos essa situação, é necessária a mobilização de profissionais e acadêmicos para a implantação da atenção farmacêutica como parte dos serviços farmacêuticos prestados em farmácias comunitárias. No entanto, esses profissionais recém formados necessitam de estímulos que promovam a admissão e entendimento da real necessidade do programa por parte da comunidade atendida.

Por fim, leitor, acredito que falta as pessoas ignorarem um pouco o individualismo para tornarem –se mais humanizadas, só assim um farmacêutico realmente será visto como profissional da saúde pelo Conselho Regional de Farmácia, pois a única maneira de atuar visando a saúde do paciente, é quando se enxerga o paciente.

Referências Bibliográficas: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_ area=1462 http://www.fns.saude.gov.br/assistenciafarmaceuticabasica.asp http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/incentivo_assit_ farm.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 93322005000400002&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v18n1/02.pdf

Fala Farmacêutico

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e acordo com a Secretária de Estado de Saúde (Sesa), cerca de 35% das ocorrências noti- ficadas cotidianamente pelo Centro de Atendimento Toxicológico (Toxcen) decorrem de intoxicação por medicamentos, sendo a automedicação a principal responsável por esse fato. Os antidepressivos são os grandes causadores de intoxicação, seguidos pe- los analgésicos, antitérmicos e antiinflamatórios. No entanto, os problemas causados por medicamentos que agem no sistema nervoso central podem ser mais graves e por isso necessitam de uma atenção maior.

A automedicação, como o próprio nome diz, nada mais é do que a administração de um medica- mento por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, ou seja, sem a avaliação prévia de um profissional da saúde. Esse uso incorreto pode acarretar desde reações alérgicas até graves quadros de intoxicação, bem como o agravamento da doença, uma vez que determinados sintomas po- dem ser mascarados, além de certos medicamen- tos como antibióticos, por exemplo, provocarem a resistência de microrganismos. Outro problema é a possibilidade de ocorrer uma combinação inadequa- da que pode anular ou potencializar o efeito de um dos medicamentos devido à interação entre os mes- mos.

Por mais inacreditável que seja, existem ca- sos em que a pessoa também pode ficar em coma por administrar um medicamento que sempre utilizou como aconteceu no Espírito Santo. Após se auto- medicar para melhorar a sua febre, uma adolescente ficou 18 dias em coma e teve três paradas cardíacas

e duas respiratórias no mesmo dia. Além disso, quando saiu do coma, precisou reaprender a falar e a andar fazendo sessões de fonoaudiologia e de fisioterapia. Porém, ter uma prescrição não é sinônimo de segurança. É necessário que o tratamento seja feito corretamente, sem aumentar as doses por conta própria caso os sintomas não melhorem. Como as propagandas dizem, “se os sintomas persistirem procure um médico”.

A fim de diminuir essa pratica de automedicação, houve a aprovação da RDC 96/08 que trata de restrições à distribuição de amostras grátis e de regras para a veiculação de propagandas de medicamentos em rádios, televisão e meios de comunicação impressos. As amostras grátis, a partir de então, só podem ser distribuídas se conterem a dose recomendada na bula. Ou seja, não podem mais ser em tamanhos menores como ocorria com pomadas, por exemplo. Em relação às mensagens publicitárias, é vedado na propaganda ou na publicidade, estimular ou induzir o uso indiscriminado de medicamentos, sugerir ou estimular diagnóstico do público em geral e incluir imagens de pessoas fazendo uso de medicamentos.

No documento LasVegas: SSN (páginas 53-55)