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Impacto da Internet nos Sistemas de Distribuição Global (GDS)

Capítulo 2 Tecnologias de Informação e Comunicação no Turismo

2.7 Impacto da Internet nos Sistemas de Distribuição Global (GDS)

O modelo dos sistemas de distribuição global funcionou bem durante toda a década de oitenta e praticamente durante toda a década de noventa do século passado. No entanto, pela natureza do processo de desintermediação suscitado pela Internet, este actor do processo distributivo acabou por se tornar muito caro para os seus criadores, as próprias companhias aéreas (Patrão e Alves, 2004).

2.7.1 Tendências Gerais

Segundo Laliberté (2005), o desenvolvimento da Internet possibilitou às companhias aéreas a criação de sítios que informam os clientes e tornam possível a criação de itinerários, a construção de tarifas e a realização de reservas. Estes sítios atraem os consumidores, possibilitando-lhes a compra dos seus bilhetes na Internet, afastando as agências de viagens do processo de venda e poupando nas comissões a atribuir mas afectando, igualmente, os sistemas de distribuição global por comissões não recebidas. Para além desse facto, a representação online das companhias aéreas em portais bem estruturados e organizados, que permitem uma comunicação directa com os consumidores,

levou à realização de algumas mudanças estruturais, das quais a mais relevante terá sido a sucessiva redução e agora a eliminação das comissões às agências de viagens e aos sistemas de distribuição global, pelo excelente canal de distribuição que constituem para as companhias aéreas.

Desta forma, torna-se evidente que também os sistemas de distribuição global encaram alguns riscos com o esforço de venda das companhias aéreas directamente ao consumidor. Entre estes, os mais comuns são:

ƒ Os fornecedores de serviços turísticos têm, agora, um canal com menores custos de distribuição, evitando, dessa forma, os sistemas de distribuição global que ganham uma comissão pelo seu papel intermediador;

ƒ Os consumidores finais podem aproveitar o novo canal de distribuição (Internet) para chegar aos fornecedores de serviços, o que não acontecia com os sistemas de distribuição global, aos quais somente as agências tinham acesso;

ƒ A chegada de novos intermediários online, que procuram efectuar o mesmo tipo de negócio no campo do comércio electrónico.

Na fase final da década de noventa, são as próprias companhias aéreas a abandonar os seus interesses nos sistemas de distribuição global. Segundo Patrão & Alves (2004), o modelo que até então atendia às necessidades das companhias aéreas passa, de certa forma, a concorrer com estas empresas, na medida em que o processo da elaboração de reservas e emissão dos bilhetes acabou por resultar em aumentos dos custos das companhias aéreas com o pagamento de taxas pelo uso dos sistemas de distribuição global (booking fees), para além de um custo de comissão por cada segmento reservado nessas companhias. Peloquin (2004a), sobre esta matéria, refere que a Southwest Airlines anunciava que um bilhete reservado pela Internet custava um dólar ao transportador, enquanto que a venda através de um sistema de distribuição global custaria seis dólares.

Na sequência destes acontecimentos, em 2000, o sistema de distribuição global Sabre torna-se uma empresa autónoma e, em Junho de 2003, segundo Laliberté (2005), o

Worldspan é adquirido por uma empresa nova no mercado e sem interesses nas

companhias aéreas, a Travel Transaction Processing Corp.

Na Europa, o Galileo dispersa o seu capital em bolsa em 1997. O Amadeus inscreve-se na bolsa em 1999, com a Continental Airlines a vender os 25% que detinha, passando a ser a

As grandes companhias aéreas, agora com muito menos interesses nos sistemas de distribuição global, para concorrer com as grandes agências de viagens online criam enormes “portais“ na Internet, de que são exemplo o Orbitz, constituído pela United

Airlines, Delta Airlines, Northwest e Continental Airlines, com oferta de bilhetes de avião,

hotéis e rent-a-car, o Opodo, da Bristish Airways, Air France, Lufthansa, Alitalia, Ibéria, KLM, Austrian Airlines e Finnair e o Zuji da Singapore Airlines, Cathay Pacific, Quantas e China Airlines.

Depois destas movimentações, os sistemas de distribuição global reavaliam a sua posição no mercado e, como consequência da posição das companhias aéreas, tomam a decisão de entrar no mercado das agências de viagens online, ficando desta forma em concorrência directa com os seus próprios clientes originais, as agências de viagens tradicionais.

O Sabre é o primeiro a entrar neste mercado, lançando a agência de viagens online

Travelocity.

O grupo Cendant, a maior empresa de franchise hoteleira do mundo, adquire uma posição muito importante neste segmento, adquirindo o Galileo, as rent-a-car Avis e Budget, o portal Orbitz e a agência online europeia Ebookers, adaptando o modelo de integração vertical dos grandes operadores mundiais (Laliberté, op. cit.).

Apesar de todas estas movimentações, as reservas nos agentes de viagens tradicionais com a utilização intensiva dos sistemas de distribuição global, ainda são, neste momento, apesar do crescimento exponencial da Internet, um meio muito utilizado para a realização de reservas da parte aérea.

Na actualidade, a sobrevivência dos sistemas de distribuição global passa pela velocidade de reacção e adaptação ao mercado e pelo conhecimento dos clientes. Em concreto, os

GDS adaptam-se a plataformas tecnológicas abertas e amigáveis. O seu negócio já não

pode ser a mera distribuição dos grandes inventários de recursos turísticos. Devem aproveitar o grande activo da penetração, proximidade e conhecimento do sector para, por um lado, proceder à prestação de serviços de tecnologias de informação avançados e integrais às agências de viagens e aos fornecedores de serviços e, por outro, à assistência técnica personalizada em tecnologia de informação, oferecendo, deste modo, um valor acrescentado aos processos de tomada de decisão das agências de viagens e fornecedores de serviçosturísticos (Miranda, 2002).

Para além disso, e para evitar conflitos com os ainda seus maiores clientes, os sítios web dos sistemas de distribuição global constituem um elemento de apoio às próprias agências de viagens tradicionais.

2.7.2 A situação em Portugal

Em Portugal, e contrariamente a toda a Europa, o sistema de distribuição global com maior implantação é o Galileo. Estima-se em 90% a sua quota de mercado, em contraponto ao seu rival Amadeus, que após uma entrada de mercado com muitos problemas tenta agora o relançamento.

Não se deve estranhar, à partida, a quota de mercado do Galileu, porque este teve origem no sistema que anteriormente estava implantado em todas as agências de viagens e operadores turísticos, o Tapmatic.

Apesar de constituir uma plataforma para venda de muitos e diversos serviços, as reservas de avião continuam a ser, em larga medida, o serviço mais solicitado.

A descida ou a eliminação das comissões às agências de viagens por parte das companhias aéreas está a criar grandes estrangulamentos financeiros a agências especializadas em turismo de negócios, pensando-se que muitas delas podem encerrar. Acrescenta-se a isso a vontade das companhias aéreas de “puxar“ para si, directamente, as reservas dos consumidores, através dos seus sítios na Internet, call centers, direct business, ou o

ticketless (máquinas de bilhetes instaladas em vários locais estratégicos), reservas essas

que deixarão, assim, de ser efectuadas através dos sistemas de distribuição global, criando problemas de índole comercial e financeira a estes intermediários, já que a sua principal fonte de receita é constituída pelas comissões pagas pelas companhias aéreas por cada “segmento” reservado e emitido.