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Capítulo 1 Caracterização da Actividade Turística

1.6 Sistemas de Distribuição Global (GDS)

Os sistemas computorizados de reservas (CRS) e, posteriormente, os sistemas de distribuição global (GDS), nasceram para facilitar às companhias aéreas um meio automatizado que lhes permitisse armazenar e gerir dados sobre voos, tarifas e lugares disponíveis. Posteriormente, os agentes de viagens começaram a utilizar, mediante contrato com as companhias aéreas, estes sistemas informatizados através da base de dados central das companhias. O objectivo era obter a disponibilidade de lugares nos voos e os respectivos preços para efectuar reservas.

Até meados dos anos 70, cada CRS era apenas utilizado para disponibilizar informação da companhia aérea a que pertencia. Em 1976, os sistemas Apollo (United Airlines) e Sabre (American Airlines) foram ampliados, de forma a fornecer informação a outras companhias aéreas e “alugados“ a agências de viagens nos Estados Unidos.

Na verdade, segundo Patrão & Alves (2004), a estratégia do modelo do Computer

Reservation System visava, principalmente, o atendimento às necessidades de expansão e

penetração global das companhias aéreas que os desenvolveram. Tal acção não possibilitou o acesso dos próprios passageiros/consumidores aos sistemas de reserva, mas sim a negociação electrónica das companhias aéreas com os agentes de viagens, o seu principal canal de distribuição para os clientes finais.

Até finais dos anos 80, nenhum sistema computadorizado de reservas estava disponível na Europa para ser utilizado pelas agências de viagens, facto devido à liberalização tardia do sector da aviação na Europa, que provocou atrasos notáveis na automatização dos sistemas de reserva em relação aos Estados Unidos (Serra, 2002:348).

Em 1987, dois consórcios europeus, por força da regulamentação comunitária que impedia tendências monopolistas, desenvolveram sistemas para serem utilizados pelas agências de viagens, o Galileo (British Airways, Swissair, KLM, Alitalia e Tap-Air Portugal) e o

Amadeus (Air France, Ibéria, Lufthansa). Em 1990, foi criado o Worldspan (Delta Airlines,

Northwest, TWA) e em 1993 dá-se a fusão do Galileo com o Apollo, formando o Galileo Internacional (Rita et al. 2001: 111).

De acordo com Fernandez & Blanco (1999: 43), o aperfeiçoamento dos sistemas computadorizados de reservas, com a incorporação de outros serviços turísticos, deu lugar aos sistemas de distribuição global, de cobertura global em termos geográficos, incluindo as seguintes funcionalidades:

ƒ Informação de serviços de transporte (avião, comboio, barco); ƒ Informação sobre hotéis e situação de reservas;

ƒ Reserva, venda e emissão automática de bilhetes de transporte; ƒ Reserva e venda de serviços de alojamento e restauração;

ƒ Reserva, venda e emissão de documentação de outros serviços turísticos (rent-a-

car, espectáculos, seguros);

ƒ Reserva, venda e emissão de documentação de pacotes turísticos dos operadores turísticos integrados nos sistemas;

ƒ Informação turística variada sobre países, cidades e aeroportos, referindo igualmente a documentação necessária para viajar.

Segundo Patrão & Alves (2004), o Sabre, como primeiro CRS do mercado, constituiu uma versão antecipada do que hoje se denomina um marketplace electrónico. Afirmam, ainda, que os sistemas de distribuição global, pela consolidação da informação dos produtos das muitas companhias aéreas envolvidas, criaram um verdadeiro marketplace com informações relativas a voos, horários, frequências, tarifas e regras, atendendo perfeitamente às necessidades da cadeia de valor do turismo.

Hoje, a evolução e compatibilização entre sistemas e a sua harmonização faz com que as informações que aparecem em primeiro plano se refiram a voos mais directos e com menor duração, permitindo ainda efectuar reservas de hotéis e proceder ao aluguer de viaturas. Além das companhias aéreas, também os operadores turísticos, os hotéis e as companhias de rent-a-car integraram estes sistemas, nomeadamente o Galileo e o Amadeus, forçando os agentes de viagens a adaptarem-se rapidamente a estes novos processos.

Nesse sentido, os Global Distribution Sistems converteram-se em “supermercados“ turísticos, ao comercializar, para além dos omnipresentes bilhetes de avião, outros produtos turísticos (Tamayo, 1998: 62)

A interdependência existente entre fornecedores, agências de viagens, operadores turísticos e sistemas de distribuição global é patente.

Segundo Rita et al. (2001:111) o canal de distribuição turística prevendo a utilização dos sistemas de distribuição global, inclui três participantes fundamentais:

ƒ O fornecedor (uma companhia aérea, rent-a-car ou hotel) que disponibiliza o seu produto para reserva;

ƒ O sistema de distribuição global que permite o acesso à informação do fornecedor do serviço turístico, processa a reserva e distribui a informação;

ƒ A agência de viagens, que faz a gestão da transacção da viagem em nome da sua base de clientes.

Nesse sentido, e de acordo com Vellas & Bécherel (1999: 240), a escolha, por parte de uma agência de viagens, do GDS a utilizar, revela-se extremamente importante. Os critérios mais relevantes para essa escolha são:

ƒ Informação correcta e fidedigna; ƒ Facilidade de uso;

ƒ Rapidez nas respostas; ƒ Apoio telefónico; ƒ Cursos de formação; ƒ Preços de utilização.

Por outro lado, dada a sua elevada importância, os sistemas de distribuição global exercem alguns impactos sobre as companhias aéreas, agências de viagens e operadores turísticos. Relativamente às companhias aéreas:

ƒ Os GDS converteram-se num elemento chave nas suas estratégias de distribuição, ou seja, nenhuma companhia aérea regular pode ficar à margem destes sistemas; ƒ Os GDS representam, no presente, uma fonte de vantagem competitiva para as suas

companhias proprietárias, apesar do dever da neutralidade na apresentação dos planos de voos;

ƒ Através do uso dos GDS, as companhias aéreas estão a tomar o controlo da comercialização de uma parte maior do total dos componentes da viagem, não somente do voo.

Relativamente às agências de viagens:

ƒ Incrementam o nível de automatização das agências;

ƒ Alargam a amplitude e profundidade da carteira de produtos oferecida pelas agências, permitindo aumentar substancialmente a qualidade e atenção ao cliente. Relativamente aos operadores turísticos:

ƒ Possibilitam às agências de viagens a elaboração de pacotes à medida, nomeadamente os que utilizam voos regulares, criando uma concorrência importante para os operadores turísticos;

ƒ Levam a uma maior diversificação do sector dos operadores turísticos.

Os sistemas de distribuição global acusaram o impacto da Internet, que conseguiu normalizar formatos e critérios de acesso à informação, em contraposição à falta de uniformidade de acesso aos sistemas de distribuição global, para além de reduzir notavelmente os custos da intermediação.

Para além deste factor, segundo Miranda (2002), os custos de conexão/ligação e de utilização dos sistemas de distribuição global representam o seu principal cavalo de batalha, sendo superiores aos mesmos custos da intermediação feita pela Internet, constituindo este mais um dos problemas que devem ser resolvidos pelos sistemas de distribuição global.