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Impactos do adoecimento mental na vida e no trabalho dos servidores Conforme analisado neste capítulo, o processo saúde/adoecimento mental

CAPÍTULO III: A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA SAÚDE MENTAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS: particularidades dos Tribunais

3.2. Impactos do adoecimento mental na vida e no trabalho dos servidores Conforme analisado neste capítulo, o processo saúde/adoecimento mental

dos servidores públicos dos Tribunais Regionais Eleitorais é determinado por inúmeros fatores que se singularizam na vida dos mesmos, atingindo a essência do processo de valorização do capital, ou seja, o potencial de trabalho humano e a integridade física e emocional do trabalhador, responsáveis diretos pela acumulação de riquezas. É sob este entendimento que se procurou também analisar os impactos do adoecimento mental para os servidores e para a instituição, objetivando compreender a intervenção profissional do assistente social na saúde mental dos mesmos. O adoecimento mental desses servidores impactou nas relações familiares dos mesmos, sob várias formas: conflitos conjugais que culminaram com o divórcio e alteração da dinâmica familiar; problemas financeiros; e no trabalho: desmotivação, preconceito dos colegas e isolamento social. Os relatos abaixo evidenciam tal situação:

Teve na família (…) depois disso eu fui morar com minha mãe, e a minha mãe ficava lá tipo superprotetora (Servidor 4; TRE A).

Bem, no meu trabalho a gente começa a se desmotivar, (...) porque por mais que tu faças a tua parte não é reconhecido, ai tu começa a adoecer,

começa a não ter motivação pra nada, principalmente pro trabalho,

porque um dos focos do adoecimento é o trabalho, e a minha vida

praticamente era isso, porque eu ia do hotel pro trabalho e do trabalho

pro hotel (...). Eu acabei me separando (…) então o que mais me

impactou nessa história toda foi no meu casamento (Servidora 7; TRE C).

Na família o meu casamento praticamente acabou. (…) Financeiramente

eu tive um abalo, como eu estava fazendo muito uso de drogas, e jogo, e

álcool, eu estava gastando muito, me endividei muito (Servidor 2; TRE B).

Perdi empresas bêbado (Servidor 3; TRE B).

Todas as oportunidades possíveis imagináveis foram desperdiçadas, qual é

o dirigente que vai confiar dar um cargo de confiança pra uma pessoa

que tá alcoolizada? (…) então você perde a confiança das pessoas,

perdas financeiras (…) Então o impacto pra mim foi desastroso (Servidor

1; TRE B).

É, profissionalmente, eu fui ficando mais isolado (Servidor 2; TRE B).

Os depoimentos reafirmam que o trabalho que os servidores pesquisados exercem nos Tribunais Eleitorais se constitui um dos principais desencadeadores do adoecimento metal dos mesmos, que se inicia com o estresse, a desmotivação pelo trabalho devido a falta de reconhecimento, o que leva ao isolamento, ao alcoolismo com repercussão negativa tanto no trabalho (desconfiança das chefias) quanto na família (conflitos conjugais e divórcio) e a perdas financeiras não somente com os gastos com drogas, mas também pela separação conjugal. No que se refere aos impactos do mencionado adoecimento mental para os Tribunais Eleitorais, segundo os profissionais de saúde, estão relacionados ao aspecto financeiro uma vez que esse tipo de adoecimento gera afastamentos prolongados do trabalho, perda da produtividade, problemas de relacionamento nas equipes de trabalho, estendendo- se até mesmo a exoneração e a aposentadorias precoce; além dos impactos na qualidade de vida do servidor e suas implicações para a família. Os relatos abaixo são elucidativos neste sentido:

A doença mental tem um impacto importante (…). Tem servidor que fica

afastado ou não até um ano e meio, isso acontece até aposentar, inclusive a gente tem um aposentado por motivo de doença mental (Médica

Ah, são vários! Do ponto de vista institucional: desde questões reais de

impactos financeiros, que a pessoa deixa de produzir (…) mesmo que ela

não esteja afastada, se a produtividade dela não está ocorrendo, se o relacionamento também, isso vai impactar as equipes, de forma que você

pode ter problemas ali de relacionamento (…). Tem uns casos [que vão]

chegar a gerar uma aposentadoria (…) a gente tem um caso de usuário

de crack, caso grave, e já foi tentado tudo (...) e ele vai se aposentar, (...)

é triste! (Psicóloga; TRE A).

Eu acho que o mais negativo possível, inclusive econômico (…) O custo

social - como que essa pessoa vai ficar? Como é que tá a auto-estima

dela? Qual o impacto disso nas relações? Como é que essa imagem dessa

equipe vai ficar também? Do gestor que fica também onerado, porque não vai produzir?! (Assistente Social; TRE A).

A pessoa começa a ter dificuldade em desenvolver o seu trabalho, e a

dificuldade inclusive de vir ao trabalho (…) você não vê alegria ali (…) só

vi um servidor que ele, lúcido ou não, simplesmente (...) pediu a exoneração

e foi embora; ele falou: “eu vou ganhar mil reais sendo professor, mas eu

quero ser feliz, eu não quero mais isso!” (…) esse é meu momento de

lucidez (...) eu quero ser feliz!”. É uma atitude! Muitos tem essa vontade,

mas não tem coragem, porque é uma perda muito grande, é um dinheiro

difícil de se ganhar! (Assistente Social 2; TRE B).

O impacto é grande, porque ele não atinge só a pessoa, atinge a família, atinge o trabalho. No trabalho tem a questão do afastamento, das faltas

e tem o fato da pessoa estar presente e não está contribuindo (…) não é porque a pessoa não quer, é porque realmente é difícil se concentrar, se envolver, pelo impacto das relações interpessoais: (...) uma pessoa que não tá bem emocionalmente, psicologicamente, não vai se relacionar bem com os outros; então surge a ação de conflitos e até mesmo de

isolamento, (...) e isso pra um clima de ambiente de trabalho é bem ruim

(Psicóloga; TRE C).

As repercussões do adoecimento mental dos servidores dos Tribunais Eleitorais, segundo os gestores pesquisados, impacta também o gerenciamento das equipes e do trabalho, sobretudo, devido aos afastamentos prolongados de tais servidores; a falta de conhecimento e preparação da equipe para lidar com questões dessa natureza e a dificuldade de ser gestor de pessoal, portanto, representante da Administração Pública, em ter que conciliar as exigências inerentes a este papel (imparcialidade e frieza na condução dos processos) com o envolvimento emocional implicado em muitas situações. Importa ressaltar que esta gestora se referia a uma situação de adoecimento de 03 (três) servidores, em uma mesma Zona Eleitoral, em decorrência de conflitos nas relações de trabalho. Os relatos dos pesquisados são esclarecedores neste aspecto:

Muito complicado porque desestabiliza toda a equipe (…) Essa servidora foi pra nossa seção, sem nenhum conhecimento da gente do que se tratava (…) então não houve preparação da equipe nem da gestora (Gestora; TRE A).

(...) Mas no trabalho isso é muito impactante porque as pessoas que tem

esse tipo de doença, (...) tem um tratamento que às vezes é longo, (...) é

uma pessoa com quem a gente não conta, (...) com isso (...) os gestores

tendem a não dar trabalho mais longos prazos; (...) é demais complexo,

(...) por isso que a gente observa que elas são bem mais impactantes do

que as outras doenças (Secretária de Gestão de Pessoas; TRE B).

Pra vida do servidor é indiscutível; (...) o servidor sai de um estado de animação, porque eram servidores recém-passados, estão com uma

perspectiva muito boa em relação ao órgão, em relação ao trabalho, (…) chegaram na hora encontraram uma situação que reverteu totalmente esse

sentimento de animação pra um sentimento até de depressão. (…) Um

deles, uma dessas pessoas chegou a dizer que ia pedir a sua exoneração, então é a desanimação, a desmotivação da situação (…). Às vezes, a

gente tenta ser um pouco imparcial, porque a gente precisa ser da administração pública, mas também a gente acaba se colocando no lugar do servidor, pra tentar ver, pra tentar ajudar o que ele passa. Pra administração é um pouquinho complicado gerenciar isso porque você

acaba sendo tachado como querendo tomar as dores do servidor, eu vivi muito isso, as pessoas diziam: tu tens que ser mais fria, tem que analisar isso com mais frieza (…). Mas a administração é assim, é preciso ajudar,

não dá pra ser negligente, não pode ver o que tá acontecendo e não fazer nada, a gente é humana a gente acaba se envolvente emocionalmente (Secretária de Gestão de Pessoas; TRE C).

Como visto, os impactos das situações de adoecimento mental afetam sobremaneira a vida dos servidores, suas famílias, bem como a missão institucional, constituindo-se em verdadeiros desafios à intervenção profissional do assistente social que precisa mediar às contradições existentes nas relações institucionais e oferecer respostas para as demandas na área da saúde mental, nos referidos órgãos.

3.3. As respostas do Serviço Social às situações de saúde/adoecimento mental