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Impedimento e incompetência absoluta

A primeira observação que se impõe refere-se à nomenclatura adotada pelo Código, haja vista que adota o termo juiz para referir-se tanto ao impedimento quanto à incompetência absoluta, quando, na realidade, a primeira está ligada ao juiz e o segundo, ao juízo.

Tanto é assim que Sérgio Rizzi, na classificação que propõe, segrega o impedimento da incompetência absoluta167 e Manoel Antonio Teixeira Filho pondera que o impedimento é “um vício subjetivo que a lei atribui ao julgador”.168

Acompanhando, portanto, a classificação proposta pelo autor, estamos, ainda, estudando os fundamentos da ação rescisória no que tange ao juiz.

Como forma de evitar controvérsias de ordem prática, doutrinária e jurisprudencial, o legislador relacionou as hipóteses de impedimento no art. 134 do CPC, as quais não se confundem com os casos de suspeição que, por sua vez, não são arroladas como hipóteses de fundamento

166 “Art. 110. Se o conhecimento da lide depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, pode o juiz mandar sobrestar no andamento do processo até se pronuncie a justiça criminal.”

167 Ibidem, p. 47.

para a rescisória. Isso porque o juiz impedido, explica Vicente Greco Filho, está proibido de exercer a jurisdição, ao passo que na suspeição existe apenas uma dúvida quanto à imparcialidade do juiz.169

Sérgio Rizzi assinala que o impedimento de que trata o art. 134 do CPC atinge a capacidade do juiz, mas sua repercussão é limitada somente à relação jurídica em que funcionou o juiz impedido, e cita como exemplo a hipótese de um juiz que profere sentença em 1.ª instância e que está impedido de analisar novamente o processo em grau de recurso.170

O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento de que o juiz que proferiu a decisão rescindenda pode apreciar a rescisória, haja vista a autonomia desta ação em relação ao processo no qual foi prolatada a decisão rescindenda, editando a Súmula 252: “Na ação rescisória, não estão impedidos os juízes que participaram do julgamento rescindendo”.

Para viabilizar a rescisória, a doutrina não exige que a parte tenha suscitado o impedimento, por meio da respectiva exceção, no processo originário. O fato de não tê-lo feito não impede que, transitada em julgada a decisão, a parte interessada ingresse com a rescisória com fundamento no inciso II do art. 485 do CPC.

7.2.1 A questão da participação de juiz impedido em julgamento colegiado

Questão que merece uma rápida análise é a da participação de juiz impedido em julgamento em órgão colegiado.

169 Ibidem, p. 385. 170 Ibidem, p. 59.

Ao longo deste trabalho já tivemos a oportunidade de assinalar que tanto a doutrina quanto a jurisprudência já fixaram entendimento de que o termo “sentença” utilizado pelo legislador no caput do art. 485 não limita as hipóteses de cabimento da ação rescisória apenas às decisões de primeiro grau, mas estende-se também aos acórdãos prolatados pelos Tribunais.

A partir dessa premissa surgem algumas questões quanto à participação de juiz impedido em julgamento colegiado, tais como: a simples participação de juiz impedido, por si só, é suficiente para que o acórdão fique viciado? Caberá rescisória se o juiz impedido for voto vencido? Há nexo de causalidade entre a participação do juiz e o resultado do julgamento?

Manoel Antonio Teixeira Filho sustenta que, ainda que a decisão colegiada seja unânime, o fato de o voto de um juiz impedido ter composto a corrente vitoriosa já é motivo suficiente para a desconstituição de acórdão, na medida em que o seu voto pode ter influenciado os demais juízes, viciando a decisão proferida.171

A opinião é compartilhada por Sérgio Rizzi para quem

o argumento, para admitir que qualquer voto vencedor contamine o julgado, é que a imparcialidade do agente jurisdicional é de ordem pública, garantia para os litigantes e dever para o Estado. Justifica-se, assim, que, mesmo não tendo sido o voto decisivo para a formação da maioria, dê causa à rescisória.172

Por outro lado, caso o juiz impedido tenha sido vencido no julgamento, não há que falar em rescisória, já que nenhuma influência teve no resultado final.

171 Ação rescisória no processo do trabalho, p. 207. 172 Ibidem, p. 60-61.

7.2.2 Sobre a incompetência absoluta

O inciso II do art. 485 menciona, ainda, como hipótese de cabimento da rescisória a decisão ter sido proferida por juiz absolutamente incompetente.

Como já dissemos linhas acima, a questão da incompetência está ligada ao juízo, e não ao juiz.

Exige-se que a incompetência seja absoluta e não apenas relativa, haja vista que esta admite a supressão mediante prorrogação (ou “deslocamento da competência”, como prefere Manoel Antonio Teixeira Filho).173

Mais feliz a redação inserida no Código atual, em relação ao Diploma anterior, na medida em que este, ao tratar da hipótese de cabimento de ação rescisória, referia-se, apenas, à incompetência em razão da matéria, omitindo-se quanto às demais formas de incompetência absoluta. Não obstante, a doutrina supriu a omissão admitindo a rescisória fundada na incompetência absoluta do juízo em razão da pessoa e/ou da hierarquia.

Segundo José Carlos Barbosa Moreira, o Código de Processo de 1973 corrigiu a impropriedade terminológica estabelecendo que, “seja qual for o critério determinante, sendo absoluta a incompetência, a sentença é

173 “Com efeito, quando um juízo que, a princípio, era incompetente se torna competente, o que houve foi um deslocamento da competência daquele para este, e não uma ‘prorrogação’ da competência deste, a avançar sobre aquele.” Ação rescisória no processo do trabalho, p. 208.

nula até o trânsito em julgado (cf. o art. 113, § 2.º) e, depois deste, rescindível”.174

Necessário assinalar, como fez Manoel Antonio Teixeira Filho175, que, na hipótese de desconstituir a sentença prolatada por juiz absolutamente incompetente, o tribunal não deve ir além do juízo rescindente, na medida em que ingressar no juízo rescisório importaria suprimir um grau de jurisdição. Tampouco, acrescenta o autor, deverá o tribunal encaminhar os autos ao juízo competente, haja vista que a regra prevista no § 2.º do art. 113 do CPC é aplicável apenas aos pronunciamentos dos tribunais em grau de recurso.

Flavio Luiz Yarshell concorda que, acolhida a rescisória com fundamento na incompetência absoluta do juízo de primeiro grau, não pode o tribunal prosseguir no novo julgamento, nem mesmo a pretexto de ser competente em razão da matéria e pela aplicação analógica do § 3.º do art. 515 do CPC.

Discorda, no entanto, da posição sustentada por Manoel Antonio Teixeira Filho, na medida em que entende que, uma vez acolhido o pedido de desconstituição da decisão rescindenda pelo fundamento da incompetência absoluta, o modo pelo qual se opera a rescisão deve, a princípio, obedecer ao disposto no art. 113, § 2.º, do CPC, de tal sorte que, “reconhecida a incompetência, a conseqüência lógica e natural é a remessa dos autos ao órgão competente, a quem competirá proferir novo julgamento”.

Prossegue Flavio Yarshell afirmando que:

174

Ibidem, p. 122.

se a alegação é de incompetência (para a causa original) do tribunal que agora julga a rescisória (e que antes decidiu em grau de recursal), então, a procedência do pedido significa a necessária remessa a outro tribunal, a quem competirá o novo julgamento.176

E ainda, se a alegação é de incompetência de órgão de primeira instância, então a procedência do pedido importará a remessa dos autos ao órgão inferior competente, para a prolação de nova decisão, contrariando o entendimento exposto por Manoel Antonio Teixeira Filho.