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Prazo prescricional ou decadencial

6.2 T RÂNSITO EM J ULGADO

6.2.2 Prazo prescricional ou decadencial

No tocante ao prazo para propositura da ação rescisória, o art. 495 do CPC foi preciso a ponto de não oferecer dúvidas ao intérprete: “O direito de propor ação rescisória se extingue em dois (2) anos, contados do trânsito em julgado da decisão”.

Não restam dúvidas, portanto, que o prazo é decadencial, haja vista que o que se encerra é o “direito de propor a ação rescisória”, e que se estende por dois anos a contar do trânsito em julgado da decisão.

É o que dispõe a Súmula 100 do TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO:

Súmula 100 – Ação rescisória – Decadência (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais 13, 16, 79, 102, 104, 122 e 145 da SDI-II, Res. 137/2005, DJ 22.08.2005)

I – O prazo de decadência, na ação rescisória, conta-se do dia imediatamente subseqüente ao trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, seja de mérito ou não (ex-Súmula 100, Res. 109/2001, DJ 18.04.2001).

II – Havendo recurso parcial no processo principal, o trânsito em julgado dá-se em momentos e em tribunais diferentes, contando-se o prazo decadencial para a ação rescisória do trânsito em julgado de cada decisão, salvo se o recurso tratar de preliminar ou prejudicial que possa tornar insubsistente a decisão recorrida, hipótese em que flui a decadência a partir do trânsito em julgado da decisão que julgar o recurso parcial (ex-Súmula 100, Res. 109/2001, DJ 18.04.2001).

III Salvo se houve r dúvida razoável, a interposição de recurso intempestivo ou a interposição de recurso incabível não protrai o termo inicial do prazo decadencial (ex-Súmula 100, Res. 109/2001, DJ 18.04.2001).

IV – O juízo rescindente não está adstrito à certidão de trânsito em julgado juntada com a ação rescisória, podendo formar sua convicção através de outros elementos dos autos quanto à antecipação ou postergação do dies a quo do prazo decadencial (ex-OJ 102, DJ 29.04.2003).

V – O acordo homologado judicialmente tem força de decisão irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT. Assim sendo, o termo conciliatório transita em julgado na data da sua homologação judicial (ex-OJ 104, DJ 29.04.2003).

VI – Na hipótese de colusão das partes, o prazo decadencial da ação rescisória somente começa a fluir para o Ministério Público, que não interveio no processo principal, a partir do momento em que tem ciência da fraude (ex-OJ 122, DJ 11.08.2003).

VII – Não ofende o princípio do duplo grau de jurisdição a decisão do TST que, após afastar a decadência em sede de recurso ordinário, aprecia desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento (ex-OJ 79, inserida em 13.03.2002). VIII – A exceção de incompetência, ainda que oposta no prazo recursal, sem ter sido aviado o recurso próprio, não tem o condão de afastar a consumação da coisa julgada e, assim,

postergar o termo inicial do prazo decadencial para a ação rescisória (ex-OJ 16, inserida em 20.09.2000).

IX – Prorroga-se até o primeiro dia útil, imediatamente subseqüente, o prazo decadencial para ajuizamento de ação rescisória quando expira em férias forenses, feriados, finais de semana ou em dia em que não houver expediente forense. Aplicação do art. 775 da CLT (ex-OJ 13, inserida em 20.09.2000).

X – Conta-se o prazo decadencial da ação rescisória, após o decurso do prazo legal previsto para a interposição do recurso extraordinário, apenas quando esgotadas todas as vias recursais ordinárias (ex-OJ 145, DJ 10.11.2004).

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HIPÓTESES DE CABIMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA

Este capítulo não possui o objetivo de examinar de forma exaustiva as hipóteses de cabimento da ação rescisória mencionadas nos incisos I a IX do art. 485 do CPC. Tentaremos, sim, ao longo desta exposição traçar as linhas mestras para entendermos quando esta ação é cabível.

A doutrina já pacificou o entendimento de que é taxativo, e não exemplificativo, o rol do art. 485 do CPC, na medida em que o que se pretende mediante uma ação rescisória, explica Márcia Conceição Alves Dinamarco,

é a desconstituição de uma sentença, sobre a qual pesa a autoridade da coisa julgada, uma garantia para as partes e assecuratória da estabilidade social. Não pode, por isso, ser usada indiscriminadamente, nem ser cabível em qualquer hipótese, a não ser naqueles casos expressamente autorizados por lei.157

Na mesma linha, Vicente Greco Filho afirma que “o rol do art. 485 é taxativo, não admitindo ampliação analógica, porque são hipóteses excepcionais de desfazimento da coisa julgada”158. José Carlos Barbosa Moreira acompanha a doutrina de Vicente Greco Filho afirmando que “os fundamentos discriminados no art. 485 são, por outro lado, taxativos. A enumeração do texto exaure as hipóteses de rescindibilidade. Não é possível cogitar-se de outras quaisquer, nem mediante recurso à analogia.” Mas, pondera, por outro lado, ser

157 Ibidem, p. 136. 158 Ibidem, p. 384.

lícita, porém, a interpretação extensiva, que se limita a revelar o verdadeiro alcance da norma, quando a lei minus dixit quam

voluit: assim, por exemplo, no comentário n. 82, ao inciso

VIII, mostrando que a referência à “confissão” abrange também o reconhecimento do pedido.159

José Carlos Barbosa Moreira discorre, ainda, sobre a autonomia de cada um dos possíveis fundamentos da ação rescisória, explicando que cada uma das hipóteses é suficiente por si só, não sendo necessário conjugá-las entre si e, tampouco, conjugá-las com qualquer outra circunstância. “Aos vários fundamentos possíveis correspondem outras tantas

causae petendi, diversas e autônomas” e “a invocação de uma não exclui a de

qualquer das restantes”.

É importante que se esclareça, contudo, que a ação rescisória fundamentada em mais de uma das hipóteses arroladas no art. 485 do CPC não impõe ao autor a obrigação de demonstrar o seu cabimento à luz de cada uma delas a fim de obter um provimento jurisdicional favorável; basta que se prove um dos fundamentos – dentre aqueles invocados – para que a ação seja julgada procedente.

Seguindo, ainda, as lições de José Carlos Barbosa Moreira, fundamento não invocado não autoriza que se acolha a ação rescisória baseada, ainda que o juiz esteja convencido da sua procedência. A indicação errônea de um por outro dos incisos do art. 485, por sua vez, não vincula o órgão julgador que “pode examinar o pedido, e eventualmente acolhê-lo, à luz do dispositivo adequado, desde que a narração do fato consta da inicial”.160

159

Ibidem, p. 153.

Por fim, o fato de a ação ter sido proposta por um ou mais fundamentos e julgada improcedente não impede que o autor a renove desde que sob fundamentos diversos, haja vista que – neste caso – a causa de pedir é distinta.

Há várias classificações adotadas para o estudo das hipóteses de cabimento da ação rescisória. Citamos, apenas para ilustrar, a classificação quadripartida para os fundamentos da ação rescisória, elaborada por Sérgio Rizzi: juiz, partes, sentença e provas.

Segundo o autor:

A escolha dos critérios classificatórios acima mencionados, explica-se, evidentemente, pela circunstância, às vezes bem manifesta, dos fundamentos da rescisória se vincularem prevalecentemente ao juiz (ou ao Juízo), aos atos (atitudes), das partes, aos meios de prova ou à sentença.

Dos critérios classificatórios escolhidos, três – juiz, partes e provas – foram, originariamente, engendrados por Carnelutti, e, se aceitamos tais critérios, foi porque nos convencemos de que são cientificamente, para o direito brasileiro, os mais adequados. Todavia, em função do dado jurídico por excelência: à norma (arts. 485, I a IX, e 352, II), tivemos que introduzir um novo termo na classificação: a sentença, e, redistribuir dois dos fundamentos comuns à coisa rescisória e à revocazione161 (erro de fato e ofensa à coisa julgada), afora, é óbvio, alocar os fundamentos da rescisória inexistentes na

revocazione.162

Adotando-se, portanto, o critério desenvolvido por Sérgio Rizzi, teremos:

161 Segundo o autor, revocazione (revogação) é o recurso previsto no Código de Processo Civil italiano que mais se aproxima da ação rescisória, e apresenta em comum os seguintes fundamentos: dolo, prova falsa, documento novo (documento decisivo), erro de fato e ofensa à coisa julgada. Menciona, ainda, o autor outro recurso que guarda semelhança à ação rescisória: o chamado ricorso per cassazione, pois é cabível, dentre outros casos, para a impugnação baseada em violação direta à disposição de lei.

Agente prevaricação, concussão, corrupção e impedimento Juiz Juízo incompetência absoluta dolo da parte vencedora

invalidade do reconhecimento jurídico do pedido, da renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação e da transação (ato bilateral)

Partes

colusão entre as partes a fim de fraudar a lei violação de literal

disposição de lei intrínsecos

erro de fato Sentença

extrínseco ofensa à coisa julgada

prova falsa

meios de prova (configurando vícios)

invalidade da confissão (erro, dolo e coação) invalidade da confissão

(motivos diversos do art. 352, II) Provas

meio de prova (não

configurando vício) documento novo