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Implementação do Policiamento Comunitário

4. ação integrada entre diferentes órgãos e atores: as ações não são realizadas apenas pela comunidade e pelo policial, é preciso que busquem a colaboração de

2.9.2 Implementação do Policiamento Comunitário

Em diversos países, as organizações policiais promoveram experiências e inovações com características diferentes. Mas, algumas destas experiências e inovações são reconhecidas como a base de um novo modelo de polícia, orientada para um novo tipo de policiamento, mais voltado para a comunidade, que ficou conhecido como Policiamento Comunitário (BAYLEY; SKOLNICK, 2001; SKOLNICK; BAYLEY, 2002).

O Programa Nacional de Segurança com Cidadania - Pronasci, desenvolvido pelo Ministério da Justiça (BRASIL, 2010) pode ser considerado uma iniciativa inédita no enfrentamento à criminalidade no país. O projeto articula políticas de segurança com ações sociais; prioriza a prevenção e busca atingir as causas que levam à violência, sem abrir mão das estratégias de ordenamento social e segurança pública.

Segundo o Pronasci, um conceito de segurança pública que se baseia na interação constante entre a corporação policial e a população. Cujo trabalho será realizado através de rondas na mesma região e os policiais serão capacitados em temas como direitos humanos, ética e cidadania construindo, assim, uma relação de confiança com a população.

Segundo Bayley e Skolnick que através de estudos apontam em diversos países quatro fatores cruciais para a implantação e consolidação do policiamento (BAYLEY; SKOLNICK, 2001). Entre elas:

Quatro inovações são consideradas essenciais para o desenvolvimento do policiamento comunitário (Bayley; Skolnick, 2001, p. 224-232; Skolnick; Bayley, 2002, p.15- 39):

 organização da prevenção do crime tendo como base a comunidade;

 reorientação das atividades de policiamento para enfatizar os serviços não emergenciais e para organizar e mobilizar a comunidade para participar da prevenção do crime;

 participação de pessoas civis, não-policiais, no planejamento, execução, monitoramento e/ou avaliação das atividades de policiamento. Estudos de processos de implantação do policiamento comunitário em diversos países apontam quatro fatores cruciais para a implantação e consolidação deste tipo de policiamento (Bayley; Skolnick, 2001:233-236):

 envolvimento enérgico e permanente do chefe com os valores e implicações de uma polícia voltada para a prevenção do crime; - motivação dos profissionais de polícia por parte do chefe de polícia; - defesa e consolidação das inovações realizadas;

 apoio público, da sociedade, do governo e da mídia.

De acordo com Neto (2003) para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios, praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:

a) Filosofia e Estratégia Organizacional - A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, ao invés de buscar ideias pré-concebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança;

b) Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade - Dentro da comunidade, os cidadão devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na identificação, priorização e solução dos problemas;

c) Policiamento Descentralizado e Personalizado - É necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;

d) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo - A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas do COPOM deve diminuir;

e) Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança - O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir;

f) Extensão do Mandato Policial - Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de parâmetros rígidos

de responsabilidade. O propósito, para que o Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se:

 Isto está correto para a comunidade?

 Isto está correto para a segurança da minha região?  Isto é ético e legal?

 Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?  Isto é condizente com os valores da Corporação?

 Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o g) Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas - Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso inalienável do Policial Comunitário;

h) Criatividade e apoio básico - Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria, experiência e, sobretudo, na formação que recebeu. Isso propiciará abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade;

i) Mudança interna - O Policiamento Comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos;

j) Construção do Futuro - Deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver problemas atuais de sua comunidade.

Além dos princípios que devem ser observados para a implementação do policiamento comunitário são necessários cinco passos básicos a saber: identificar o problema; analisar; planejar as ações a serem tomadas; a implementação das ações a serem tomadas e, por último, avaliá-las.

A identificação de um problema não é só tarefa dos agentes públicos de segurança, mas da responsabilidade de todos. Na visão do policiamento comunitário todos os participantes podem contribuir para solucionar os problemas locais. Os problemas identificados passam a ser registrados para, posteriormente, serem rediscutidos e analisados. Isso porque as pessoas, no dia a dia, têm experiências, percepções e conhecimentos sobre as

condições locais de segurança que podem auxiliar a ação da polícia a ser mais eficiente. Por isso, a identificação do problema deve ser um processo coletivo.

Após levantar o problema, passa-se a análise do mesmo, pois se torna um problema de segurança pública e significa conhecê-lo de modo caracterizado para que as ações sejam esboçadas de modo a serem eficientes: dirigidas às raízes do problema local. Isso atribui maior grau de confiança nas tomadas de decisão, diminui o custo das ações, aumenta a credibilidade e a legitimidade dos envolvidos, em particular, da polícia. Nesse processo, é também essencial ter um bom conhecimento da região para tentar identificar com clareza os possíveis obstáculos a serem enfrentados. Para isso, pode-se buscar conhecer outras ações que tenham sido testadas. Informações como essas ajudam a encontrar soluções mais eficientes.

No terceiro passo, o planejamento estabelece as principais linhas de ação para a solução do problema identificado e, para isso, deve estar baseado no diagnóstico realizado. É nesse ponto que se passa da observação para o estágio de ação. Pode-se dizer que grande parte do sucesso da iniciativa está associada ao planejamento e focada na obtenção de resultados.

No quarto passo, tem-se a implementação do projeto que além de pôr em prática o que foi planejado, deve-se ficar atento às dificuldades que poderão surgir durante o processo do projeto e estar aberto a procura de alternativas para solucionar essas dificuldades. Nesse estágio, o problema já foi discutido e analisado e as ideias para sua solução devem estar planejadas. Entretanto, nada sairá do papel sem a vontade e o compromisso das pessoas que participam do projeto, sejam elas da comunidade, da polícia ou do poder público.

Como último passo, a avaliação do programa que consiste em verificar qual o impacto de sua implementação na resolução do problema. A partir da avaliação é possível observar se os objetivos estabelecidos inicialmente foram ou não alcançados. A continuidade do programa também pode ser estabelecida a partir da avaliação. A importância da avaliação de um programa auxilia no monitoramento de sua execução e no planejamento de futuras ações. Para isso, considera as estratégias, atividades, métodos, técnicas e procedimentos utilizados na execução do programa. Para ser utilizada como uma ferramenta para a implementação do projeto, a avaliação deve ocorrer antes, durante e depois da implantação do programa, analisar a eficácia do planejamento para certificar-se se os objetivos foram alcançados.

A avaliação é uma parte fundamental da filosofia do policiamento comunitário, pois o processo avaliativo é um momento de participação da comunidade, observado em sua totalidade, considerando as falhas que podem ter ocorrido, e a equipe mais uma vez, deverá

participar de forma efetiva, ouvindo todos os envolvidos direta ou indiretamente atingidos pelas ações do programa.

Portanto, o policiamento comunitário, é uma filosofia de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma área numa base permanente a partir de um posto descentralizado, agindo numa parceria preventiva com os cidadãos, para identificar, analisar; planejar, implementar e resolver problemas.

2.10 POLÍTICAS DE GOVERNO

Verifica-se que a premissa central do policiamento comunitário é que o público deve exercer seu papel mais ativo e coordenado na obtenção de segurança. A polícia não consegue arcar sozinha com a responsabilidade, e, sozinho, nem mesmo o sistema de justiça criminal pode fazer isso. Numa expressão bastante adequada, o público deve ser visto como “co-produtor” da segurança e da ordem, juntamente com a polícia. Desse modo, o policiamento comunitário impõe uma responsabilidade nova para a polícia, ou seja, criar maneiras apropriadas de associar o público ao policiamento e à ordem (SKOLNICK e BAYLE, 2002).

No Decreto nº 24.316, de 23 de dezembro de 2003, em seu art. 2º, Parágrafo único e art. 3º do Governo do Distrito Federal:

[...]

Art. 2º O Programa de Segurança Comunitária terá como diretriz integrar e engajar, na implantação de uma nova forma de gestão de segurança comunitária, os órgãos do Sistema de Segurança Pública no Distrito Federal, demais órgãos governamentais, representantes da sociedade civil e as autoridades locais dos Poderes Legislativo, Judiciário e do Ministério Público.

Parágrafo único. As entidades envolvidas no Programa de Segurança Comunitária participarão da formulação, desenvolvimento e avaliação das medidas operacionais que objetivem a redução da criminalidade, violência, sinistros, desastres e acidentes, priorizando ações preventivas tendentes à obtenção de uma melhor qualidade de vida, maior percepção de risco da sociedade e aumento da sensação de segurança. (p. 3)

Art. 3º O Programa de Segurança Comunitária buscará desenvolver uma estratégia de trabalho priorizando as seguintes ações:

I – contribuir para a resolução dos problemas sociais com reflexos na área de segurança pública a curto, médio e longo prazo;

II – envolver a comunidade na gestão da política de segurança pública e defesa social;

III – realizar o policiamento e as atividades preventivas de acidentes, desastres e sinistros, de forma descentralizada e personalizada;

IV – pautar a conduta dos participantes das atividades de segurança comunitária em preceitos éticos, legais, responsáveis e calcados na confiança mútua;

V – promover o atendimento ao público, especialmente idosos, crianças, adolescentes e portadores de necessidades especiais, dentre outros;

VI – estabelecer parcerias com instituições de ensino superior e organismos de fomento à pesquisa;

VII – implementar mudanças nos procedimentos operacionais necessárias à adequação da nova filosofia;

VIII – promover a capacitação e o satisfatório acompanhamento psicossocial dos profissionais de segurança pública envolvidos no programa;

IX – ampliar o papel social dos órgãos integrantes do sistema;

X – realizar campanhas educativas com a participação efetiva de todos os organismos envolvidos no processo e, em especial, a mídia e as instituições de ensino;

XI – fomentar a responsabilidade e a participação dos cidadãos na política de prevenção e contenção da criminalidade.

[...]

Para Bayley e Skolnick (2006) o policiamento comunitário não deve se limitar apenas a ouvir a comunidade com simpatia. Ele deve criar novas oportunidades para esse contato, o que pode gerar fortes críticas parte da comunidade, fato que faz com que as polícias fiquem “temerosas de abrir as comportas da crítica injusta”. Perece ser um desafio quebrar o paradigma de que os profissionais de segurança pública sabem mais que os outros, principalmente no que deve ser feito para proteger a comunidade e proteger a sociedade. O policial e as instituições policiais devem estar preparados para ouvir o que a população tem a dizer, mesmo que isso não seja algo agradável de ouvir.

Para Bayley & Skolnick (2005) o policiamento comunitário adota o aumento da participação civil no policiamento. A reciprocidade na comunicação não só é aceita como também encorajada. Sob o policiamento comunitário, o público pode falar sobre prioridades estratégicas, enfoques táticos, e mesmo sobre o comportamento dos policiais enquanto indivíduos, e também ser informado sobre tudo isso.

Neste prisma, com a participação direta da comunidade, será mais fácil detectar e exterminar as causas da violência, rumo à restauração da tão almejada paz social. Apenas através dessa conjugação de esforços que se visualiza uma segurança pública eficaz. Porque diante da absurda onda de violência que perpassa a nação brasileira, a sociedade clama por segurança. E qualquer aperfeiçoamento na política de segurança pública é relevante e válido.

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