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POLICIAMENTO COMUNITÁRIO NO MUNDO E NO BRASIL

4. ação integrada entre diferentes órgãos e atores: as ações não são realizadas apenas pela comunidade e pelo policial, é preciso que busquem a colaboração de

2.11 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO NO MUNDO E NO BRASIL

A linhagem histórica da polícia comunitária pode ser localizada desde a antiguidade na China e no Japão. Na época contemporânea, seu modelo foi adotado pelos Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Austrália e Argentina. No Brasil, a comunitarização policial ocorre a partir de 1980 (CHAGAS, 2009).

Segundo Marcineiro (2009) afirma que suas manifestações primeiras no Japão datam de 1879, cujo modelo é baseado em uma ampla rede de postos policiais denominados “kobans” e “chuzaishos”.

Em 1829, o Primeiro Ministro Inglês Sir Robert Peel, tendo por base a polícia francesa, criou a Real Polícia Metropolitana de Londres, tida por vários autores como a primeira organização policial moderna, estabelecendo nove princípios, primados na filosofia de Polícia Comunitária (MARCENEIRO E PACHECO, 2005).

Segundo Skolnick e Bayley (2006) o sistema de policiamento comunitário mais antigo e estabelecido de melhor forma é o japonês, adotado após a II Guerra Mundial, antes mesmo de se tornar popular.

O modelo surgiu com a cultura japonesa e em sua reestruturação depois da Segunda Grande Guerra Mundial. A polícia usada no policiamento, verdadeiramente preventivo, enfrentar a criminalidade em seu nascedouro, em vez de políticas paliativas de segurança após os delitos cometidos.

Ainda comentando acerca do modelo implantado nos Estados Unidos pode-se falar a respeito de dois expoentes destas inovações Bayley e Skolnick, a partir destes dois escritores que estudaram o policiamento comunitário e sua implantação apontando inovações e dificuldades do programa.

Estes autores influenciaram vários outros que se propuseram a relatar os avanços desta considerada filosofia de policiamento onde a relação entre a polícia e a comunidade que atuam em parceria para a resolução dos conflitos antes que se tornem crimes propriamente ditos.

Outro enfoque importante evidencia que a polícia deve se esforçar para manter constantemente com a comunidade um relacionamento que dê realidade “à tradição de que a polícia é o povo e o povo é a polícia” (MARCINEIRO E PACHECO, 2005 apud AMORIN, 2009, p. 32).

No período de 1914 a 1919, Arthur Woods, Comissário de Polícia de Nova Iorque - EUA, começou a incutir na base da Polícia e da comunidade, através de uma série de conferências na Universidade de Yale, a percepção da importância social, da dignidade e do valor público do trabalho do policial. Inovou ao criar o policial júnior e iniciou visitas as escolas podendo, suas ações, serem consideradas uma primeira versão do policiamento comunitário nos Estados Unidos (AMORIM, 2009).

O problema do aumento da violência e da criminalidade ocorreu paralelamente em países da Europa e Ásia, surgindo novas experiências do Policiamento Comunitário na

Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Inglaterra, bem como na Austrália, no Canadá e em Cingapura, entre as décadas de 70 e 80.

Na América Latina, as polícias vêm passando por uma crise de identidade, fruto da transição do período ditatorial, quando estavam muito ligadas às Forças Armadas, para a redemocratização, que exigiu uma mudança significativa de seu papel. Com isso, as organizações policiais, latino-americanas, têm sido vistas frequentemente como ineficientes no combate ao crime e violentas no trato com a população (AMORIM, 2009).

Portanto, as experiências internacionais aqui relatadas e expressas por Rosenbaum (2002 apud BRODEUR, 2002, p. 27) “[...] uma tentativa de se repensar e reestruturar o papel da polícia na sociedade [...]” assim como de se resgatar a confiança e legitimidade junto à comunidade, sendo que esse processo acumulou algumas dificuldades.

Ressalta-se que o policiamento comunitário é uma filosofia de policiamento que ganhou força nas décadas de 70 e 80, quando as organizações policiais em diversos países da América do Norte e da Europa Ocidental começaram a promover uma série de inovações na sua estrutura e funcionamento e na forma de lidar com o problema da criminalidade.

É importante destacar as quatro normas básicas, denominadas de “alicerce” do policiamento comunitário. Ao refletir um pouco, é possível observar que em outros países, os departamentos de polícia, levaram a sério, tornaram-nas em ações, onde as regras foram seguidas. Nesse sentido, o policiamento comunitário ao redor do mundo cresceu rapidamente. Ao verificar a experiência nos continentes, foram encontradas quatro áreas de mudança pragmática no policiamento, isto é, quando os departamentos de polícia atuam seguem quatro normas: 1. Organizar a prevenção do crime tendo como base a comunidade; 2. Reorientar as atividades de patrulhamento para enfatizar os serviços não-emergenciais; 3. Aumentar a responsabilização das comunidades locais; 4. Descentralizar o comando (BAYLEY e SKOLNICK, 2006).

O PNUD tem desenvolvido em parceria com o Brasil, Colômbia, Chile, Uruguai, Argentina, Paraguai, República Dominicana estes países, o Projeto Segurança Cidadã, que visa modificar o velho paradigma de gestão da segurança pública baseado na “Defesa do Estado” e na “Segurança Nacional”, para um modelo mais voltado para o cidadão.

No Brasil, o policiamento comunitário começou a ser implantado após a reabertura política e democratização do país, antes administrada pelos militares nos anos dos governos militares.

Neste momento surgiram muitas pesquisas e estudos direcionados para encontrar uma alternativa para as organizações policiais se transformarem sua estrutura e

funcionamento, inspirados em modelos que estavam dando certo na América do Norte e Europa na década anterior.

No Brasil as primeiras unidades policiais que adotaram este policiamento ante aos demais tipos já aplicados, em que havia maior importância as atividades em detrimento de outras, designando menos tempo, recurso e profissionais qualificados foi o estado de São Paulo.

As lideranças dentro da polícia possuem papel importante para dar o início e sustentar estas inovações visando introduzir o policiamento comunitário. Frequentemente dificuldades para a implantação são apresentadas, existindo casos que tais explicações mascaram a falta de visão, capacidade ou vontade de agir de lideranças policiais. Após o período dos governos militares e com a reabertura democrática do país estas transformações nas organizações policiais pelo mundo chegaram ao Brasil, após a primeira eleição direta para governadores em 1982.

Seguindo exemplo local e de outros estados brasileiros, a experiência em países como: Estados Unidos, Canadá e Japão que serviram para os oficiais da PM e para os membros da comissão implmantarem o policiamento já em 1997.

Em São Paulo as iniciativas locais de mudar a estrutura organizacional iniciaram depois de citadas experiências de Ribeirão Preto e Bauru, que utilizaram um conselho comunitário e o comando da Polícia Militar.

Depois do escândalo da Favela Naval em Diadema, região metropolitana de São Paulo com um caso de violência e corrupção policial e greves de policiais civis e militares em diversos estados, situação que provocou o Coronel PMESP Carlos Alberto de Camargo a adotar o policiamento comunitário como filosofia e estratégia organizacional (CHAGAS, 2009).

Em São Paulo, em 1985 no governo de Franco Montoro, o governo estadual criou os primeiros Conselhos de Segurança Comunitária, contam com a participação do delegado responsável pela Polícia Civil, oficial responsável pela Polícia Militar e representantes comunitários. Foi criada a Comissão de Assessoramento para Implantação do Policiamento Comunitário dirigida por coronéis da PM e entidades civis. Em 2000 a comissão foi reestruturada e adotou novo nome: Comissão Estadual de Polícia Comunitária e criou o Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, vinculados ao comandante geral da PM com o objetivo de aperfeiçoar e intensificar o processo de implantação do policiamento.

Fotografia 1 - Policiamento Comunitário - São Paulo

Fonte: http://portalsocialdobrasil.org.br/boas-praticas/seguranca-cidada/policia-

comunitaria/

No Rio de Janeiro, o coronel PMERJ Carlos Magno Nazareth Cerqueira, comandante geral em 1983-84 e 1991-94 foi que implantou o policiamento comunitário no governo de Leonel Brizola. Período em que PMERJ publicou o caderno sobre o policiamento comunitário, traduzido para o português do livro Policiamento Comunitário: como começar, de Trojanowicz e Bucqueroux de 1994. Em 1993-94, a Polícia Militar do Rio de Janeiro em parceria com a sociedade civil, através da ONG Viva Rio, implantou em Copacabana o policiamento comunitário (CHAGAS, 2009).

Fotografia 2 - Posto policiamento comunitário - Rio de Janeiro em 24/08/2011

O módulo ganhou até o apelido de "cabine fantasma" na vizinhança. Não é o único caso na cidade. Das oito unidades existentes num trajeto de 51km percorrido apenas três tinham policiais. A ausência de policiamento provoca uma sensação de insegurança na população, que, embora elogie o projeto das UPPs e haja uma redução do número de crimes no estado, incluindo assaltos a transeuntes, reclama do número reduzido de PMs nas ruas.

Em Porto Alegre, a Brigada Militar apresentou uma nova ofensiva para tentar enfrentar a criminalidade na Região Metropolitana. Chamada de Bases Móveis Comunitárias, a iniciativa consiste em ampliar o policiamento com a presença de ônibus em áreas conflagradas de Porto Alegre, Canoas e Novo Hamburgo para aproximar o policiamento da população. São quatro bases com 10 policiais em cada uma delas, que terão à disposição uma viatura, podendo ser agregada mais uma motocicleta ou bicicleta. Serão duas bases, nos bairros Rubem Berta e Santa Tereza, regiões que figuram no topo do ranking das regiões mais violentas da cidade.

Fotografia 3 - Bases Móveis Comunitárias Porto Alegre 07/07/2016

Fonte: http://policiamentocomunitario.blogspot.com.br/

Em Curitiba, o Policiamento Modular, como ficou conhecido, foi inspirado nos postos Koban da polícia japonesa, e sua correta designação era Posto Policial de Socorro Familiar. O objetivo desse serviço era manter o policial próximo à comunidade, prestando diversificadas formas de atendimento; do aconselhamento familiar, ao socorro aos pequenos acidentes domésticos. Os postos seriam criados em pontos estratégicos da cidade, e deveriam funcionar vinte e quatro horas por dia. O policiamento modular teve uma excelente aceitação da comunidade. As associações de bairro patrocinavam e faziam pressão para a criação de novos postos. Porém, o sistema de revezamento exigia a manutenção diversos policiais, e a estrutura da Polícia Militar não comportava o elevado número de módulos. A degeneração do serviço se iniciou no momento em que a PM passou a fornecer apenas o policial para cuidar do posto, repassando os pedidos de socorro para os postos mais próximos. Isso desmoralizou o policiamento, e na década de noventa o sistema passou a ser

desativado. O designativo permaneceu na memória da população, e os postos policiais são chamados de Módulos até hoje.

Fotografia 4 - Policiamento Modular - Curitiba

Fonte: Por Guilmann - Obra do próprio, Domínio público

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5746651

Em Fortaleza, a parceria entre Governo, Prefeitura de Fortaleza e ABIH dispôs 30 câmeras pela orla, e foram inaugurados outros dois postos de policiamento na Beira Mar, localizados na antiga Casa do Turista e em frente ao Náutico. O sistema de monitoramento conta com 30 câmeras. Quatorze (14) delas são "speed dome" – que possuem função giratória –, com alcance de até 300 metros e um giro de 360 graus. Os equipamentos estão distribuídos entre a orla da Praia de Iracema até a Beira Mar, no Mucuripe, e uma no Centro Cultural Dragão no Mar, compreendendo 6 km. As imagens serão acompanhadas 24 horas, em tempo real, e retransmitidas para a Ciops, na sede da SSPDS.

Fonte:

http://www.sspds.ce.gov.br/noticiaDetalhada.do?tipoPortal=1&codNoticia=6147&titulo=Reportagens&a ction=detail

No Distrito Federal, o Programa Segurança Comunitária foi implantado pelo decreto nº 24.316, de 23 de dezembro de 2003, publicado no Diário Oficial do Distrito Federal nº 249, de 24 de dezembro de 2003, que também dispôs sobre a criação do Conselho Deliberativo de Segurança Comunitária, dos Grupos Gestores Regionais de Segurança Comunitária e dos Núcleos de Segurança Comunitária, constituídos por representantes dos segmentos vinculados ao sistema de segurança pública e defesa social e outros setores públicos do Distrito Federal (GDF, 2003).

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