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2.9.1 Fundamentos do Policiamento Comunitário

Entre as diversas formas de policiamento existentes, e visando fortalecer a segurança, entre as décadas de 1970 a 1980, surgiram em vários países novas estratégias para o combate à criminalidade. Entre essas estratégias e com características distintas das demais, começaram a introdução e o fortalecimento ao combate à criminalidade, a partir da participação da comunidade.

O significado desse novo tipo de policiamento passou a incluir pessoas de uma área determinada, o que significava a participação nas discussões, estabelecimento de prioridades e estratégias e ação, como também, compartilhar a responsabilidade junto à polícia da segurança da região. Como objetivos desse novo tipo de policiamento, passaram a ajudar na melhora das respostas aos problemas de segurança pública, tornando-a mais eficaz, reconhecida, ativa e participativa.

No Brasil, a Constituição de 1988 atribui, a todos os cidadãos o direito e dever de garantir a segurança pública: “[...] Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...]”. (BRASIL, 1988). Isso sugere o reconhecimento de que a gestão da segurança não é encargo exclusivo do Estado, mas da coletividade como um todo.

Nesse novo cenário social, nasce, no campo dos institutos policiais, a doutrina de polícia comunitária como um dos meios de fomentar a reformulação institucional, adaptando- se às novas reivindicações democráticas.

Portanto, a importância da polícia comunitária busca, em seus embasamentos, o modo preventivo das polícias e a ideia dos policiais como promotores da tranquilidade social

e de mantimento da ordem, mais do que meramente profissionais habilitados para reagir a chamadas de emergência, fazendo cumprir a lei penal.

Assim, Skolnic e Bayle (2002) referem-se

A premissa central do policiamento comunitário é que o público deve exercer seu papel mais ativo e coordenado na obtenção de segurança. A polícia não consegue arcar sozinha com a responsabilidade, e, sozinho, nem mesmo o sistema de justiça criminal pode fazer isso. Numa expressão bastante adequada, o público deve ser visto como “coprodutor” da segurança e da ordem, juntamente com a polícia. Desse modo, o policiamento comunitário impõe uma responsabilidade nova para a polícia, ou seja, criar maneiras apropriadas de associar o público ao policiamento e à ordem. (p. 18).

Dessa forma, o policiamento comunitário exprime uma reunião de ideias na concepção operacional norteando a divisão de responsabilidades entre os cidadãos e a polícia, quanto ao planejamento e a implementação das políticas públicas de segurança.

Existe uma variedade conceitos emitidos sobre o policiamento comunitário e que ao longo do tempo foram alteradas de acordo com estudos realizados por diversos autores como Wadman (1994), Sherman (1995), Trojanowicz e Bucqueroux (1999), Bayley e Skolnick (2001) e Mendonça (2009).

Segundo Wadman (1994) o policiamento comunitário é “uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a repetidas chamadas por auxílio local.”

Sherman (1995) citado no “Manual de Policiamento Comunitário: Polícia e Comunidade na Construção da Segurança” (2009) ao referir-se sobre o policiamento comunitário diz que este é uma resposta à crise de legalidade pela qual a polícia norte- americana sofreu durante as fases de conflito com grupos minoritários e raciais. Enfaticamente, é a reaproximação e o instalação de um novo protótipo de relacionamento com a comunidade. O policiamento norteado para dificuldades, nasce como uma estratégia para suplantar outro conflito na polícia, que referia aos seus resultados.

Para Trojanowicz e Bucqueroux (1999) em seu livro “Community policing: how to get started”, apresentam conceitos e definições de forma conceitual e operacional a respeito do policiamento comunitário.

De forma conceitual, policiamento comunitário é definido como “filosofia e estratégia organizacional que proporcionam uma nova parceria entre a população e a polícia, baseada na premissa de que ambos devem trabalhar, conjuntamente, na construção da segurança pública.”

Operacionalmente, definem o policiamento comunitário como “a filosofia de policiamento adaptado às exigências do público que é atendido, em que o policial presta um serviço completo.” Isto é, significa que o mesmo policial realiza patrulhas

e trabalha em uma mesma área, em uma base permanente, atuando em parceria com a população desse entorno.

Na visão de Bayley e Skolnick (2001) após vários estudos deram maior ênfase aos seguintes enfoques: 1) trabalho voltado para a prevenção do crime com base na comunidade; 2) reorientação das atividades do trabalho policial para ênfase aos serviços não emergenciais; 3) responsabilização da polícia em relação à comunidade; 4) descentralização do comando.

Mendonça (2009) ao referir-se a polícia comunitária traz como um dos principais enfoques a proposta filosófica de humanizar sempre que possível o trabalho de seus profissionais e a possibilidade de aproximar estes aos moradores da comunidade onde atuam.

Assim, o policiamento comunitário deve ser apreendido como uma nova filosofia e estratégia organizacional ou estilo de policiamento que ao fornecer flexibilização é capaz de acolher as mais variadas necessidades, programas e tipos de gestão além das prioridades locais, conforme o contexto em que é implementado.

Não obstante, o policiamento comunitário apresenta características intrínsecas ao seu desempenho.

Souza (2001, p. 8) relata que as características que sustentam a Polícia Comunitária estão baseadas em:

[...]

A polícia se dedica a manter ou a restabelecer a segurança, sendo que suas ações são norteadas visando ao respeito a garantias fundamentais, alicerce do Estado Democrático de Direito, implantado com a Constituição Federal de 1988;

A polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles membros integrantes da comunidade que recebem uma remuneração para destinar maior atenção às obrigações dos cidadãos;

Na relação com as demais instituições de serviço público, a polícia é apenas uma das instituições governamentais responsáveis pela qualidade de vida da comunidade. Não há supremacia das instituições policiais sobre as demais instituições;

O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo, visando à resolução de problemas, principalmente, por meio da prevenção;

A eficácia da polícia é medida pela sensação de segurança entre os membros de uma comunidade e não pelo maior número de prisões efetuadas;

O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a cooperação do público;

O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a comunidade;

O policial trabalha voltado para a população de sua área, que são pessoas de bem e trabalhadoras;

O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na solução dos problemas com a marginalidade em sua área;

O Manual de Policiamento Comunitário: Polícia e Comunidade na Construção da Segurança” (2009) apresenta quatro características básicas para este tipo de policiamento:

1. relação de confiança: está relacionado com a confiança depositada entre a

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