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A IMPLEMENTAÇÃO E OS EFEITOS DO NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA LATINA

CAPÍTULO 2 NEOLIBERALISMO: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO PARA O

2.4 A IMPLEMENTAÇÃO E OS EFEITOS DO NEOLIBERALISMO NA AMÉRICA LATINA

Na América Latina, o Chile foi o país que, na década de 1970, sob o regime ditatorial do general Augusto Pinochet, serviu de campo experimental para a implementação

do neoliberalismo. De modo mais preciso, isso ocorreu no ano de 1975, quando Pinochet confiou a condução da política econômica do país a um grupo de jovens economistas da Escola de Economia da Universidade Católica Chilena, sob a liderança de Sérgio de Castro, que haviam sido formados em Chicago. Este grupo elaborou um programa econômico que foi implementado no decorrer da ditadura imposta pelo general Pinochet. Estavam assim, abertas as portas para a aplicação no continente latino-americano de um chamado programa de ajuste estrutural que, entre outras medidas, consistia na diminuição do déficit fiscal em vista da redução do gasto público, na aplicação de uma política monetária restritiva para assim serem combatidos os altos índices inflacionários que envolviam quase todas as economias dos países desta região e, ainda, na liberalização comercial e financeira.

Depois do Chile, o neoliberalismo também foi implementado na Bolívia a partir de um programa econômico preparado por Jeffrey Sachs, em 1985. Posteriormente, seguiu-se o México, em 1988, na presidência de Carlos Salinas de Gortari; a Argentina, em 1989, a partir da presidência de Carlos Menem; neste mesmo ano, a Venezuela quando Carlos Andrés Perez iniciou um segundo mandato presidencial e o Peru, no ano de 1990, com a ascenção de Alberto Fujimori à presidência da República.

Analisando o entusiasmo dos governos da América Latina ao implementarem o Estado neoliberal em seus países, Comblin (2001, p. 52 et seq.), diz que tal euforia deve ser compreendida à luz das características peculiares da história latino-americana, da sua cultura e da sua estrutura social. Estas características podem ser sintetizadas na existência de uma cultura de dependência, largamente fomentada pelas elites deste Continente. Ainda para este autor, diante da defasagem entre os desejos pelo consumo de bens e serviços que atendessem às suas necessidades e a capacidade da produção regional, as elites latino-americanas adotaram o caminho do apelo às multinacionais para importarem bens e tecnologias e, assim, facilitaram a transposição da ideologia neoliberal que, na década de 1980, estava sendo exitosa na Inglaterra e nos Estados Unidos. Desta maneira,

a ideologia neoliberal (...) foi recebida como o mais novo dos produtos culturais, a última moda do Primeiro Mundo. Não receber esta última ideologia seria como vestir-se na moda do ano passado. Antes de ser objeto de estudo e reflexão, o neoliberalismo foi acolhido como a novidade do Primeiro Mundo, aquilo que não se pode perder, a última receita da felicidade. Quiseram aplicá-la tal qual muito mais perfeitamente do que nos países de origem (...). Aplicaram-na sem discernimento, tomando literalmente todos os seus preceitos. Queriam ser os alunos perfeitos que aprenderam integralmente a lição dos mestres (COMBLIN, 2001, p. 54).

É evidente que essa análise não esgota toda a compreensão sobre a adoção do ideário neoliberal no sub-continente latino-americano. Há, também, o assentimento que as massas populares deram às propostas neoliberais em virtude do desencanto que elas tiveram em relação ao Estado de bem-estar praticamente inexistente no Continente, bem como pelo temor gerado pela fragilidade das economias nacionais. Não devemos esquecer que, para o acolhimento das propostas neoliberais, também em muito contribuiu o poder de persuasão da mídia, tão bem explorado para fazer valer a idéia de que o neoliberalismo se constituía na alternativa que viria a resultar em benefícios para todos, inclusive para a classe trabalhadora.

Um decisivo passo na consolidação do projeto neoliberal, na América Latina, ocorreu em novembro de 1989, quando em Washington, o Institute for International Economics24 promoveu um encontro do qual resultou um relatório intitulado “Latin American Adjustment: How Much has Happened? (Ajuste latino-americano. Quanto foi realizado?). À convocação feita por este Instituto compareceram diversos economistas latino-americanos de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), bem como do governo norte-americano para avaliarem as reformas econômicas em curso na América Latina.

Naquele evento foi constatado que, enquanto quase todas as nações centrais do capitalismo já haviam aderido ao modelo neoliberal, havia países da periferia do sistema que, mesmo detendo um certo peso econômico, ainda estavam de fora da roda neoliberal. De passagem, seja dito que o peso econômico da periferia do sistema capitalista consistia apenas em ser vista como um potencial mercado consumidor, bem como por possuir matéria-prima e mão-de-obra a serem compradas a baixo custo. Para possibilitar uma convergência mundial às novas idéias e programas econômicos, foi elaborado um plano de medidas de ajuste das economias periféricas a ser implantado em mais de 60 países. Este plano, sob a chancela do governo dos Estados Unidos, juntamente com o FMI, o Banco Mundial e o BID, passou a ser conhecido pelo nome de “Consenso de Washington”. A pauta do programa de reajuste e estabilização do Consenso de Washington constava de dez tipos de reformas específicas, a saber: disciplina fiscal; redefinição das prioridades do gasto público; reforma tributária; liberalização do setor financeiro; manutenção de taxas de câmbio competitivas; liberalização comercial; atração das aplicações de capital estrangeiro; privatização de empresas estatais;

24 O Institute for International Economics foi fundado no ano de 1981 pelo German Marshall Fund of the United

States, um dos vários fundos e comissões norte-americanas, de natureza privada, que estimulam e investem em estudos, discussões e pesquisas sobre análise econômica e economia internacional e, em especial sobre a América Latina (MELO, 2004, p. 111).

desregulação da economia; proteção de direitos autorais”25. Em todo caso, com Imen (2005, p. 40), convém assinalar que

de todos estos mandatos, assistimos a cumplimientos parciales, cumplimientos que ocurren en favor del capital y en detrimentos de los sectores mayoritarios. Este recetario, cabe agregar, fue diseñado y propuesto para los paises subordinados, no para los paises desarrollados.

Especificamente para o setor educacional, a redefinição das prioridades do gasto público dizia respeito à estimulação de “políticas de educação (...) seletivas para as massas, para os que estão em desvantagem” (MELO, 2004, p. 117).

Ainda que as medidas de caráter econômico tenham tido prevalência no Consenso de Washington, não podemos perder de vista a existência de um viés também político na formulação deste consenso uma vez que a sua execução necessitou de aliança com as forças políticas e os governos dos países (notadamente, os governos de caráter conservador) nos quais as medidas de ajuste foram aplicadas.

Com o Consenso de Washington, as idéias neoliberais foram fortalecidas de forma globalizada ao contemplar a reestruturação produtiva, promover a privatização em níveis cada vez mais acelerados, enxugar o Estado, estabelecer políticas fiscais e monetárias sintonizadas com os organismos mundiais de hegemonia do capital como o Fundo Monetário Internacional (ANTUNES, 2002, p. 40).

Refletindo sobre a especificidade do neoliberalismo na América Latina e compartilhando da opinião de Sader (1999, p. 22), lembramos que sua adoção foi acompanhada de um concentrado combate à inflação (por sinal, um fenômeno de longa data neste sub-continente) em decorrência do entendimento (aliado às prescrições do FMI e do Banco Mundial) de que os gastos estatais seriam a principal causa da inflação, vista como impedimento à retomada do crescimento e à modernização. Diante deste diagnóstico, os governos nacionais da América Latina associaram o combate à inflação com a diminuição dos gastos estatais, sobretudo no setor social. Endossando a análise de Fiori (1977, p. 217 et seq.), também seja recordado que, por ocasião da negociação da dívida externa dos países latino- americanos, os governos destas nações eram obrigados a adotar as políticas e reformas econômicas de corte neoliberal solidificando-se, assim, os caminhos econômicos e políticos

25 Mesmo reconhecendo que o Consenso de Washington originariamente diz respeito às políticas de ajuste

econômico, Gentili (1998, p. 16) identifica a existência de um “Consenso de Washington na educação latino- americana” “que poderia ser definido como a forma neoliberal de pensar e delinear a reforma educacional na América Latina dos anos noventa”.

através dos quais foi feito o processo de implementação do neoliberalismo nesta porção continental.

Considerando que a América Latina, a começar pelo Chile, foi o primeiro continente no mundo a adotar o neoliberalismo, é importante destacar que a sua implementação veio marcada pelo signo da contradição uma vez que, enquanto por um lado induzia os diferentes países a adotarem a liberalização comercial, como um remédio salutar para a saída rumo ao crescimento econômico, por outro lado, os países centrais utilizaram um forte esquema protecionista do qual resultou uma distribuição desigual dos frutos do progresso técnico e dos custos sociais das políticas de ajuste e reestruturação. Desta maneira, os custos sociais gerados pela implementação do neoliberalismo foram e têm sido pagos, primordialmente, pela classe laboral dos países periféricos reproduzindo-se, assim, a dinâmica da exploração capitalista que é feita sobre os que, para terem garantida a sobrevivência, são obrigados a vender sua força de trabalho.

Reafirmando a contradição acima apontada, relembramos que a política neoliberal não produz efeitos idênticos em todos os países ou regiões. Se, por um lado, o neoliberalismo tentou restringir ou suprimir os direitos sociais tanto nos países centrais como nos países que integram a periferia do capitalismo, por outro lado, há uma diferença: por conta da existência de um sistema de proteção social menos desenvolvido, as diretrizes políticas fundadas no neoliberalismo puderam avançar muito mais nos países que compõem a periferia do capitalismo do que nos países que fazem parte do núcleo central deste modo produtivo.

Na América Latina, que do ponto de vista produtivo, historicamente, foi uma região assentada num projeto de desenvolvimento dependente, concentrador e excludente, a implantação do neoliberalismo serviu para enquadrar as economias nacionais subdesenvolvidas ou em vias de desenvolvimento às novas exigências do capitalismo e, conseqüentemente, serviu para ampliar a exploração financeira nesta região, o que estava em conformidade com a condição periférica que ocupa no sistema capitalista. O propalado discurso da inserção das economias dos países periféricos no sistema capitalista global serviu para, na verdade, escamotear a exploração capitalista. Em outras palavras, podemos analisar a dinâmica da inserção capitalista como sendo algo que os países periféricos nada podem apresentar de próprio a não ser a sujeição às normas e determinações oriundas do poder central capitalista e, ainda, deixar que o capital privado internacional, por meio das suas empresas, tenha livre trânsito nas economias destes mesmos países periféricos.

Integrando um panorama mais amplo – o da nova divisão internacional do trabalho a partir da qual cabe a esta região a função de fornecer matérias-primas para as economias do centro do capitalismo e ser mercado de desaguamento dos produtos manufaturados nos países economicamente avançados – a implementação do neoliberalismo na América Latina resultou de um “agravamento do movimento geral de concentração de riqueza e da propriedade” (BOITO JR., 1999, p. 41) que já vinha ocorrendo desde períodos anteriores e, por outro lado, “inaugurou um amplo processo de transferência de renda e de propriedade do setor público para o setor privado” (ibid., 42)26.

Fazendo uma breve incursão sobre a educação na América Latina no contexto neoliberal constatamos o desencadeamento de uma série de reformas nos sistemas educacionais nacionais que, de acordo com a análise de Casassus (2001, p. 13), tiveram os seguintes objetivos: (i) situar a educação e o conhecimento no centro da estratégia de desenvolvimento por sua contribuição tanto no aspecto econômico como no social, (ii) iniciar uma nova etapa de desenvolvimento educacional mediante mudanças na gestão e (iii) buscar a melhora dos níveis de qualidade de aprendizado por meio de ações no nível macro e micro. Neste segundo nível a escola passou a ser vista como tendo um lugar de centralidade no sistema e, conseqüentemente, foi dada ênfase à gestão escolar e a implantação de graus de autonomia para a escola. Todavia, considerando-se a análise feita por Gentili et all, a implementação dessas reformas causaram fortes impactos nos sistemas educacionais dos países latino-americanos quase sempre desestruturando estes mesmos sistemas. Como afirmam estes autores:

en casí todos los paises de la región, se llevaron adelantes intensos programas de reformas de los sistemas escolares, a la vez que se redefinían las incumbências políticas, fiscales y administrativas del Estado en matéria educativa. La desvinculación del Estado nacional de las responsabilidades de financiamiento y gestión de los estabelecimientos escolares, avalada por los principios de la “calidad, equidad y eficiência”, introdujeron modificaciones radicales que interpelaron directamente a las instituciones educativas y a los distintos atores involucrados (GENTILI et al., 2005, p. 121).

As reformas educacionais pensadas para a América Latinas nestas duas últimas décadas, utilizaram como princípio a descentralização, vista como uma solução para serem resolvidos os problemas de qualidade do ensino, existentes em quase todos os sistemas educacionais subnacionais. Este mecanismo, de acordo com a análise de Souza (2003, p. 19), tornou-se uma espécie de padrão que uniformizou as reformas educacionais que ocorreram ao

26 Ilustrando a ocorrência desse processo no setor industrial latino-americano, Boito Júnior. (1999, p. 41)

longo destas últimas décadas nos países latino-americanos e caribenhos. Todavia, em consonância com a perspectiva neoliberal, tal descentralização quase sempre configurou-se, na verdade, em desconcentração, algo que vemos como muito parecido com a centralização uma vez que, em ambos processos ocorre apenas a delegação de tarefas e, por outro lado, o poder (no sentido de efetivamente serem tomadas decisões) não é repartido entre as unidades do subsistema. No contexto destas reformas, calcadas na descentralização, a autonomia da escola foi apontada como uma estratégia a ser implementada, também em vista da otimização dos sistemas educacionais para que estes apresentassem melhores resultados, em termos de eficiência e produtividade para, em última análise, a educação escolar ser adequada às exigências postas pelo novo contexto produtivo.

Sobre os efeitos causados pelo direcionamento neoliberal aos sistemas educacionais dos países latino-americanos e caribenhos, a análise da Reunião Paralela da Sociedade Civil no encontro do Grupo de Alto Nível da Educação Para todos (GAN/EPT)27, contida em seu documento final é bastante preocupante quando aponta a educação neste continente como sendo um direito que se encontra em risco uma vez que

os sistemas educativos enfrentam inúmeras dificuldades para dar respostas efetivas às demandas de uma sociedade cada vez mais complexa e desigual, não garantindo o acesso devido às diferentes etapas e modalidades da educação nem a permanência e o direito à aprendizagem para a gigantesca maioria de alunos e alunas, sejam crianças, adolescentes, jovens ou adultos. Apesar dos avanços em relação à educação primária nas últimas décadas, na América Latina persistem graves problemas de acesso ao conjunto da educação pública, especialmente na educação infantil, nos ensinos médio e superior, bem como na educação de jovens e adultos. Além disso, a baixa qualidade da educação reproduz as inequidades e aprofunda a exclusão social, política, econômica e cultural no Continente, afetando de forma perversa as populações mais marginalizadas. Além do mais, os indicadores hoje assumidos pelos organismos internacionais não aferem os graves problemas da educação no Continente, limitando-se às questões de acesso e não captando permanência nem sucesso (REUNIÃO... 2006, p. 6).

Tomando-se por base os estudos do CONADU (1994), de Fuentes (1994), Feijóo (1997), Arellano (1997), Cohn (1997), Tetelboin (1997), Toledo (1997) e outros autores a respeito dos impactos provocados pela implementação do projeto neoliberal em diferentes países latino-americanos e, de modo especial, sobre os setores econômico,

para um gradativo controle do capital estrangeiro sobre PIB industrial da região.

27 O CAN (em inglês, HLG, High Level Grioup) é uma instância internacional destinada ao monitoramento das

metas internacionais pactuadas nas conferências mundiais de educação de Jomtien e Dakar. Por sua vez, a Reunião Paralela está inserida no amplo movimento internacional pelo direito à educação e foi coordenada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Além de procurar influenciar a reunião do CAN/EPT, sua realização também objetivou a discussão de diferenças e pontos comuns nos vários caminhos que estão sendo percorridos, no mundo inteiro, pelo direito à educação.

educacional, saúde, trabalhista e previdenciário, podemos identificar que tal processo foi danoso para as já empobrecidas populações deste continente agravando-se, assim, o já histórico fenômeno da desigualdade social latino-americano. Neste sentido, Soares (2000, p 49) afirma que

a maioria dos países latino-americanos sofreu retrocesso muito pronunciado em matéria de equidade durante a chamada crise dos anos 80 e os posteriores processos de ajuste estrutural, de modo que no início dos anos 90 sua distribuição de renda era ainda mais concentrada que no final dos anos 70 (....). O aumento da desigualdade torna-se mais disruptivo do nosso ponto de vista social quando, ao mesmo tempo, se expande a capacidade de consumo dos estratos mais altos da população e se reduz a dos mais baixos, especialmente quando os recursos destes últimos já eram insuficientes para adquirir bens de consumo básicos.

Tomando-se como exemplo uma das unidades nacionais – a mexicana – que mais seguiram à risca as orientações políticas e econômicas do neoliberalismo, a ponto de poder ser considerado como um caso paradigmático, tanto por conta do sucesso das políticas econômicas ali realizadas como, por outro lado, devido ao fracasso dessas mesmas políticas (DRUCK, 1999, p. 20 et seq.), podemos ver que, neste específico caso, este país

cortou gastos públicos, promoveu um profundo processo de privatização, abriu sua economia às importações e ao capital estrangeiro, tendo como resultado um fluxo intenso de recursos externos e o retorno de taxas de crescimento positivas que pareciam confirmar o sucesso das políticas, apesar da intensificação da pobreza. Mas a vulnerabilidade do modelo se mostrou rapidamente com o crescimento acelerado dos déficits comerciais, a redução das reservas e a brusca fuga de capitais do país no final de 1994 (SOARES, 1996, p. 25).

Utilizando-nos de dados mais recentes (Dupas, 2005, p. 65 et seq.), estes apontam que, no período de 1994 a 2004, praticamente todos os indicadores sociais pioraram no México. Se por um lado, houve um acréscimo de 500 mil postos de trabalho no setor manufatureiro, por outro lado, na agropecuária (setor no qual trabalha quase um quinto da população mexicana), houve perda de 1.300.000 empregos. Ainda: tem aumentado a imigração clandestina de mexicanos para os Estados Unidos a ponto de o número de 700.000 imigrantes, em 1994, ter aumentado para 1.300.000 no ano de 2001. Há uma estimativa de quase 5 milhões de mexicanos vivendo na ilegalidade na terra do “Tio Sam”28.

28 Comentando o desastre ocorrido na economia mexicana, em dezembro de 1994, no qual a Bolsa de Valores

deste país teve uma perda estimada de 70 bilhões de dólares no valor das ações das corporações mexicanas, Gray (1999, p. 35), analisa que, mais do que um colapso na moeda e na economia daquela nação, a crise foi, na verdade, de todo um modelo de desenvolvimento econômico, pois, antes da desvalorização, a experiência mexicana era apontada como um modelo a ser copiado pelos demais países em desenvolvimento.

Fazendo uma avaliação a respeito dos efeitos do neoliberalismo na América Latina, o sociólogo chileno Jaques Chonokol, observa que

el crescímiento econômico no se ve por ningún lado. Entre 1990 y 1999 la tasa promedio de crescimento de la economía fue para la región de 3,2%, inferior aun a la tasa histórica de crescímiento de los anos 1945-80 que fue de 5,5%. En el ano 2000 se observa una cierta recuperación de esta tasa alcanzando a 4,1% y en 2001 cae a apenas un 0,5%. Para el 2002 los pronósticos de CEPAL señalan una tasa de crescímiento del 1,1%, tasa muy poco alentadora. Durante los anos 2001-2002, América Latina experimenta la tercera desaceleración fuerte de su actividad productiva en menos de una década, gracias a su mayor integración a la economía capitalista globalizada (CHONOKOL, 2002, p. 4).

Complementando esse sombrio quadro da realidade latino-americana desenhado a partir da condução neoliberal das suas economias e das suas políticas, observe-se que este subcontinente herdou, da década de 1990, o record de ser a região mais desigual do mundo e assim chegou ao segundo ano do século XXI com os seguintes dados (LEFCOVIC, 2002, p. A 14): 21% da população Argentina, em meio a uma caótica crise política e social, estava desempregada e o PIB deste país decresceu 11%; na Bolívia, seis em cada dez pessoas