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O NEOLIBERALISMO: UM PROJETO IDEOLÓGICO EM RESPOSTA À

CAPÍTULO 2 NEOLIBERALISMO: UMA NOVA CONFIGURAÇÃO PARA O

2.2 O NEOLIBERALISMO: UM PROJETO IDEOLÓGICO EM RESPOSTA À

Retomando o antigo discurso econômico do liberalismo do início do capitalismo, e agora em novas condições históricas, os primeiros passos de elaboração do neoliberalismo foram dados na década de 1920, após o desfecho da Primeira Guerra Mundial, quando Friedrich August von Hayek (1899 – 1992) começou a propor a renovação do liberalismo e do livre mercado em vista do combate ao socialismo. Após isso, em Londres, nos ano de 1930, ensinando na Lond School of Economics, aquele economista deu continuidade ao seu pensamento contra o avanço do socialismo e contra o intervencionismo do Estado e, de forma mais sistematizada, expôs suas idéias na obra “O caminho da servidão”, publicada em 1944. Neste trabalho, Hayeck, identificou a intervenção estatal na economia como sendo uma ação coercitiva que fatalmente conduziria à servidão e a restrição da liberdade humana, e defendia que “o Estado deveria limitar-se a estabelecer regras que se aplicassem a tipos gerais de situações e deixassem os indivíduos livres em tudo que depende das circunstâncias de tempo e de lugar” (HAYECK, 1977, p. 72).

Por um bom tempo, devido ao sucesso do Estado de bem-estar, de inspiração keynesiana, as idéias de Hayek foram consideradas como extravagantes, sobretudo pela afirmativa de que “o novo igualitarismo, promovido pelo Estado de bem-estar, destruía a liberdade dos cidadãos e a atividade da concorrência, da qual dependia a prosperidade de todos” (ANDERSON, 1998, p. 10). Endossando a análise de Melo (2004, p. 46), podemos encontrar em Hayek a defesa da livre concorrência como sendo a dinâmica decisiva para o desenvolvimento e o fortalecimento da sociedade humana e, para que esta dinâmica aconteça, a liberdade individual é vista como sendo um valor a ser defendido e preservado, acima dos interesses e das necessidades coletivas. Na análise de Imen (2005, p. 22), “el individuo es

resaltado como juez supremo de sus fines e el lugar de la libertad – libertad definida desde el punto de vista do consumidor – es puesta en el punto culminante de la escala de valores neoliberais”.

Nessa direção corroboram as palavras do próprio Hayek (1977, p. 35) quando, para realçar a supremacia da concorrência, afirma que

é necessário primeiramente que haja liberdade de vender e comprar no

mercado a qualquer preço que possa encontrar um interessado na transação, e que todos sejam livres de produzir, vender e comprar qualquer coisa que possa ser produzida ou vendida (...). Qualquer tentativa de controlar os preços ou as quantidades desta ou daquela mercadoria priva a concorrência da sua capacidade de proporcionar uma efetiva coordenação dos esforços individuais.

Ao nome de Hayek, que costuma ser apresentado como um dos principais representantes da chamada Escola Austríaca, deve ser associado o de Milton Friedman, representando a “Escola de Chicago”13, como sendo os principais mentores do neoliberalismo. Friedman, partindo da idéia do mercado como sendo a arena na qual os indivíduos podem agir livremente, também considerava como nefasta a ação ou intervenção do Estado na economia. Para este economista (1985, p. 12), o Estado teria como função principal a manutenção da ordem contra toda violência, a preservação da lei e da ordem, o reforço dos contratos privados (cuja centralidade estava na propriedade privada) e a promoção de mercados competitivos. Porém, mesmo nestes casos, Friedman considerava a ação estatal como sendo algo de muito perigoso e contra ela o setor privado deveria representar um limite para que a liberdade dos indivíduos estivesse protegida. Mais ainda: somente o mercado garantiria liberdade econômica uma vez que nele

o consumidor é protegido da coerção do vendedor devido a presença de outras vendedores com quem pode negociar. O vendedor é protegido da coerção do consumidor devido à existência de outros consumidores a quem pode vender. O empregado é protegido da coerção do empregador devido aos outros empregadores para quem pode trabalhar, e assim por diante. (FRIEDMAN, 1985, p. 23).

Diante desta compreensão chama-nos a atenção o ofuscamento feito à realidade uma vez que, numa economia de mercado, compradores e empregados não se encontram em

13 Diferenciando as correntes da Escola de Austríaca da Escola de Chicago, Negrão (1998, p. 32) caracteriza a

primeira como sendo “um neoliberalismo mais sofisticado, dedutivo – a partir de princípios gerais sobre o homem, conclui pelo caráter indesejável da sociedade planejada -, empírico e algo irracional, já que não considera cognoscíveis as leis que movimentam a sociedade, restando ao mercado premiar, a posteriori, as ações eficientes e punir as ineficientes” e a segunda como “positivista, menos sofisticada intelectualmente e, no entanto, mais influente em políticas econômicas concretas”.

igual nível de poder com os vendedores e os empregadores e, ainda, possuem interesses e necessidades divergentes.

Mesmo possuindo acentuações particulares em suas teorias, Hayek e Friedman aliaram-se no combate ao modelo do Estado Benfeitor que, inspirado na teoria econômica de Keynes, possui como um dos seus pilares básicos a idéia de que o Estado deve intervir na economia de mercado com o fim de diminuir o desemprego involuntário e aumentar a produção e, ainda, implementar políticas sociais para compensar as desigualdades geradas pelo sistema capitalista. Entretanto, devemos ver nessa intervenção a efetivação de um pacto entre o capital e o trabalho que redundou em prejuízo para a classe trabalhadora uma vez que, endossando a análise de Antunes (2002, p. 38), em troca dos ganhos sociais e da seguridade oferecidos pelo “welfare state” esta classe deveria abandonar o seu projeto histórico social e relegar a utopia do socialismo para um futuro a perder de vista. Como é sabido, esta protelação também encontrava justificação na sensação de que a classe trabalhadora estava exercendo um atuante papel democrático na medida em que ela era reconhecida como portadora de um poder de força que lhe possibilitava participar do jogo de negociações com a classe empresarial.

De acordo com a perspectiva de Hayek e Friedman, o intervencionismo estatal foi visto como anti-econômico e anti-produtivo por, conforme analisa Laurell (1997, p. 162), provocar uma crise fiscal do Estado e, mais ainda, porque estaria desestimulando o capital a investir e, por outro lado, os trabalhadores a trabalhar. Com o intervencionismo, o Estado teria sido ineficaz e ineficiente, ou seja, por tender ao monopólio econômico estatal e depender dos interesses particulares dos grupos de produtores organizados ao invés de responder às demandas dos consumidores espalhados no mercado (aspecto da ineficácia). Além de não conseguir eliminar a pobreza, o Estado estaria provocando o aumento deste tipo de contingente populacional ao substituir as formas tradicionais de proteção social que, outrora, eram exercidas pela família e pela comunidade. Desta forma, os pobres estariam sendo dependente do paternalismo estatal. Tudo isso, como também analisa Laurell (Id.), se constituiria numa violação à liberdade econômica, moral e política que só poderia ser proporcionada e garantida pelo capitalismo.

Tendo presente a realidade norte-americana, Apple (2003, p. 222) aponta que as forças políticas dos movimentos conservadores utilizaram a chamada crise do Estado de “forma cínica e manipuladora” (Id.) ao considerarem que o Estado estaria negando aos consumidores a oportunidade de fazerem escolhas e, ainda, estaria logrando os cidadãos (isto é, os contribuintes que pagavam impostos) ao desvirtuar o dinheiro público para gente (os

pobres) que não assumia a responsabilidade pelos seus atos. Desta maneira, os que, na verdade, eram vítimas da exploração capitalista passaram a ser vistos como os vilões da história.

Com o processo de reconstrução do mundo após a Segunda Guerra Mundial, o comércio internacional conheceu um notável surto de desenvolvimento. Porém, em 1973, com o início da grande crise econômica do pós-Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista avançado caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação (ANDERSON, 1998, p. 10), resultando num processo de estagnação que refletiu a existência de problemas estruturais no padrão de acumulação e de crescimento capitalista.

Diante da chamada crise do Estado – na verdade, do Estado do Bem-estar – o que propuseram os neoliberais? A reconstituição do mercado, a competição e o individualismo para, desta forma, ser redimensionada a intervenção do Estado na economia e, ainda, serem reduzidas, para o mínimo possível, as funções por ele desempenhadas em relação à promoção do bem-estar social. Em relação à atuação do Estado, é defendido que

o Estado deveria limitar-se a estabelecer regras que se aplicassem a tipos gerais de situações e deixassem os indivíduos livres em tudo que depende das circunstâncias de tempo e lugar, porque só os indivíduos interessados em cada caso podem conhecer plenamente essas circunstâncias e a elas adaptar suas ações (HAYEK, 1977, p. 72).

Com a instalação desse novo cenário, as lideranças políticas e econômicas do mundo capitalista dirigiram-se à Sociedade “Mont-Pèlerin”14, na Suíça, para debaterem sobre a situação então reinante e, ali, foi repetida a velha acusação de que os responsáveis pela crise tinham sido os movimentos operários que, com o poder de força conquistado pelas suas organizações sindicais, além de terem conseguido substanciosos aumentos salariais, haviam feito crescer os encargos sociais do Estado. Cumpre salientar que tal atribuição de culpa à classe trabalhadora é um dado que perpassa toda a ideologia neoliberal e, assim, em última análise, esta classe se constitui o alvo central de ataque dos neoliberais. Como analisa Fiori (1997, p. 215), é como se fosse uma espécie de vingança selvagem do capital contra a classe trabalhadora pelas suas conquistas e avanços obtidos no “welfare-state”.

Com o desencadeamento da crise do sistema capitalista e em vista da reorganização deste modo produtivo, o neoliberalismo ganhou terreno e passou a ser adotado por países que detêm forte liderança no cenário capitalista, de modo especial: a Inglaterra, os

Estados Unidos e a Alemanha nos governos, respectivamente, de Margaret Tatcher (eleita em 1979), Ronald Reagan (eleito em 1980) e Helmut Khol (eleito em 1992). Em seguida, o neoliberalismo foi adotado em outros países do norte europeu15.

Tendo os Estados Unidos assumido um papel de destaque na disseminação neoliberal, esta ideologia passou a ser revestida de um caráter conservador a partir do qual, entre aspectos, o neoliberalismo caracterizou-se por fazer valer a idéia de uma íntima conexão entre capitalismo e democracia o que, de certa forma, contribuiu para a expansão mundial do projeto neoliberal. Com este destaque também queremos realçar que, ao longo da sua trajetória de gestação, implementação e consolidação, o neoliberalismo tem assumido variadas matizes na qual, por um lado, ainda que tenha mantido os pilares que estiveram na base da sua gestação, por outro lado, ele tem procurado ajustar-se às novas contingências em função de salvaguarda do capital. Esta é uma dinamicidade que não podemos perder de vista no processo de entendimento e de análise do neoliberalismo na atualidade.

Avançando o neoliberalismo, graças às novas configurações políticas que foram sendo desenhadas, ele próprio se transformou num projeto político a ponto de, com o passar do tempo, ter tido um alcance planetário e, ainda, ter definido uma clara agenda de diretrizes políticas e econômicas a serem implementadas nos países que o adotaram. Desta forma, o neoliberalismo apresentava-se como sendo um caminho inevitável, o que parecia confirmar a visão de Hayeck quando afirmava que

a menos que queiramos matar grande parte da população, não temos alternativa senão aderir àqueles princípios morais básicos que tornaram possível a economia de mercado, ou seja, os princípios da propriedade privada, do mercado competitivo, da concorrência e tudo mais (HAYECK apud MORAES, 2001, p. 87).

As novas configurações políticas também contribuíram para que fossem postas as condições políticas necessárias para a implementação do neoliberalismo de modo que, de acordo com a análise feita por Vale (2002, p. 127), levando em conta o que havia de específico nas políticas empreendidas por cada um dos novos adeptos do neoliberalismo, ao mesmo tempo estes cuidaram que fosse preservado aquilo que os unia como um amálgama,

14 Nome da sociedade fundada em abril de 1947, a partir de um encontro convocado por Frederich v. Hayek, um

dos principais ideólogos do neoliberalismo.

15 Na análise de Fiori (1997, p. 216), esse novo momento representou uma terceira etapa da evolução do

neoliberalismo a qual se caracteriza como uma passagem do campo da teoria para o campo da política. Ainda para este autor, após as experiências realizadas na Inglaterra, sob o governo de Margaret Tatcher, baseadas na desregulação, na privatização e na abertura comercial, “estas mesmas idéias foram consagradas por várias organizações multilaterais que se transformaram, na prática, no núcleo duro de formulação do pensamento e das

ou seja, a defesa, a propagação e a implementação do projeto neoliberal como sendo a alternativa que garantiria a manutenção do poder. Como analisa Gentili em sua tese de doutorado (1998, p. 17), o neoliberalismo afirmou-se como um projeto hegemônico na medida em que se constituiu em uma alternativa de poder por uma série de estratégias políticas, econômicas e jurídicas apresentadas como saída dominante para a então crise do capitalismo. Por outra parte, a hegemonia neoliberal assentou-se na construção e difusão de um novo sentido comum o qual, como uma espécie de amálgama, conferiu sentido, coerência e legitimidade para as propostas de reformas de cunho neoliberal. Em conseqüência,

el neoliberalismo se ha transformado en um verdadero proyecto hegemónico ya que ha conseguido imponer uma intensa dinámica de cambio material y, al mismo tiempo, una no menos intensa dinámica de reconstruccion discursiva ideológica de nuestras sociedades; processo este último derivado de la enorme fuerza persuasiva que han tenido los discursos, los diagnósticos y las estratégias argumentativas elaboradas y difundidas por sus principales exponentes intelectuales (en un sentido gramsciano, por sus intelectuales orgânicos). El neoliberalismo debe ser comprendido em la dialectica existente entre tales esferas, las cuales se articulan cobrando mutua coherencia (Ibid.).

A aplicação das idéias neoliberais na economia e na política dos países centrais do capitalismo deu início a uma conquista hegemônica deste sistema e, ainda, se transformou num arcabouço ideológico capaz de consolidar a reestruturação produtiva capitalista no contexto de globalização. Disto resultou uma combinação sobre a qual Santos (2002b, p. 30) considera que correspondia a um novo regime para garantir a acumulação do capital; porém, um regime mais intensamente globalizado do que aqueles que anteriormente haviam acontecido e, ainda, com duas novas feições: ou seja, por um lado, liberar o capital de todos os vínculos sociais e políticos que, no passado, haviam garantido alguma distribuição social – a dessocialização do capital. Por outra parte, neste novo regime, um novo intento seria o de submeter à sociedade no seu todo a lei do valor, sob o pressuposto de que toda a atividade social estaria bem mais organizada e, conseqüentemente, teria mais eficácia se regida e moldada pelo mercado.

Prosseguindo em sua análise, Santos também acrescenta os efeitos do enlace entre o neoliberalismo e o modelo de globalização que está sendo posto, ou seja:

a conseqüência principal desta dupla transformação é a distribuição extremamente desigual dos custos e das oportunidades produzidos pela globalização neoliberal no interior do sistema mundial, residindo aí a razão do aumento exponencial das desigualdades sociais entre países ricos e países

políticas neoliberais voltadas para ‘ajustamento econômico’ da periferia capitalista e também, é obvio, da América Latina”.

pobres e entre ricos e pobres no interior do mesmo país (SANTOS, 2002b, p. 30).

O modelo de globalização ao qual o neoliberalismo se associou, também podemos considerá-lo como um empecilho para a proposta de um mundo integrado por nações interdependentes e solidárias entre si na medida em que os países centrais, em conjunção com os organismos multilaterais a serviço do capital, impõem aos países periféricos um direcionamento das suas políticas econômicas (como também em outras esferas) fazendo, assim, com que estes tenham diminuído a soberania necessária para serem considerados como nações-membro da comunidade mundial com iguais direitos para participarem da tomada de decisões que dizem respeito aos destinos da humanidade. De acordo com várias análises já realizadas a respeito da globalização (IANNI, 2001; DRUCK, 1999, dentre outras) devemos entender este fenômeno como sendo um processo que abrange variados aspectos ou dimensões nas quais estão incluídas a economia, a política, a cultura etc.

Desmistificando a mensagem salvacionista apregoada pelos arautos da economia neoliberal, os dados citados por Dupas (2001, p. 432) mostram que, de 1980 a 1998, houve um crescimento médio do desemprego nos 13 países que integram a União Européia, passando de 7,5 para 11,0%.

Gray, que inicialmente havia demonstrado entusiasmado com as idéias neoliberais, após um processo de revisão da sua postura, ao se referir ao principal centro do projeto neoliberal, apresenta um depoimento que nos leva a pensar quando diz que

nos Estados Unidos, os mercados livres contribuíram para problemas sociais numa escalada desconhecida em qualquer outro país desenvolvido. As famílias estão mais frágeis na América do que em qualquer outro país. Ao mesmo tempo, a ordem social sustenta-se com uma política de prisões em massa. Nenhum outro país industrializado avançado, à parte a Rússia pós- comunista, utiliza o encarceramento como meio de controle social na mesma proporção dos Estados Unidos. Os mercados livres, a devastação de famílias e comunidades inteiras e o uso das sanções das leis criminais como último recurso contra o colapso social caminham juntos (GRAY, 1999, p. 10).

Contribuindo para um melhor entendimento da análise feita por esse autor, podemos nos valer, aqui, dos dados apresentados por Martinez (2006), por ocasião da IV Conferencia Latino-americana y Caribena de Ciencias Sociales, realizada no período de 20 a 25 de agosto de 2006, os quais atestam a deteriorização social ocorrida nos Estados Unidos: no ano de 2004, o número de pobres foi elevado para 36 milhões ocorrendo, então, um acréscimo de 1,3 milhões a mais que o ano anterior; cerca de 45 milhões de norte-americanos, correspondendo a 15,6% da população, não possuem seguro médico; em 2005 a perda de

emprego foi quase o dobro do ocorrido em 2001; atualmente, cerca de 9 milhões de pessoas estão buscando emprego por durante 20 semanas enquanto outras estão fazendo essa mesma atividade há mais de 6 meses; calcula-se em 12 milhões o número de pessoas que padecem de fome crônica e desnutrição; sendo o 5º. maior país do mundo em termos de população, entretanto, os Estados Unidos detém 25% da população mundial na condição de encarcerados. Por estes e outros dados, Martinez (2006, p. 13) conclui que

es evidente que bajo el esplendor de la especulación financiera y el vértigo de fortunas faciles em la Bolsa, la socied norte-americana muestra profundas fallas sociales que han crecido em los años de magia del mercado.

Levando-se em conta que a gestação do neoliberalismo encontra-se entre os países que compõem o núcleo central do sistema capitalista, como então explicar sua presença expressiva na porção periférica desse mesmo sistema? A este respeito, aventamos que, com o desenvolvimento da mundialização financeira, criando um único mercado de dinheiro, o sistema capitalista transnacionalizou-se provocando uma redução da autonomia e soberania dos Estados nacionais no que diz respeito à formulação das suas políticas econômicas e sociais.16 Entretanto, convém salientar que esta redução foi e tem sido mais considerável para

os Estados nacionais que integram a porção periférica do capitalismo uma vez que os Estados nacionais que integram o núcleo central deste modo produtivo assumiram uma posição de comando sobre o conjunto do sistema capitalista. Desta forma, dependendo do poder de força, centrado na capacidade produtiva, os países capitalistas conheceram diferentes tipos de inserções na nova ordem que foi sendo posta. Dito de outro modo, dependendo das realidades nacionais para onde foi ocorrendo a expansão e a consolidação do neoliberalismo, houve países nos quais as condições políticas e sociais facilitaram tais processos bem como, por outro lado, houve países onde a expansão e a consolidação neoliberal se deparam com dificuldades, inclusive, o retardamento da sua adoção. Para o caso brasileiro, vale atentarmos para a observação de Barreto (2000, p. 184) quando afirma que a nossa forma de inserção no cenário internacional, quer no plano financeiro quer no plano tecnológico, continua sendo condicionada pelo signo da assimetria que, historicamente, tem marcado as relações entre os países desenvolvidos e os países do terceiro mundo.

16 A respeito do declínio da soberania dos Estados nacionais Ianni (2001, p. 15) adverte que “parece reduzir-se o

significado da soberania nacional, já que o estado-nação começa a ser obrigado a compartilhar ou aceitar