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Recuperada a capacidade funcional, ainda de acordo com a Lei n° 8213/91, após liberação do médico perito do INSS cessa a concessão do beneficio, o trabalhador retorna as suas atividades laborativas e retoma o pleno exercício no seu vinculo empregatício. O retorno ao trabalho não envolve apenas questões de ordem previdenciária, mas um conjunto de implicações que podem dificultar este processo, o que tem sido objeto, de preocupação e de interesse de pesquisadores que se dedicam a estudar o tema. Os dados encontrados na literatura em geral, demonstram a vasta gama de problemáticas constatadas em procedimentos previdenciários e dificuldades de ordem pessoal apresentadas pelos trabalhadores, ambas envolvidas no processo de retorno ao trabalho. As problemáticas encontradas nos procedimentos adotados, pela Previdência, vão desde a dificuldade de agendamento da perícia médica no INSS, recebimento do beneficio, ate ao acesso aos programas de reabilitação. Já nas dificuldades apresentadas pelo trabalhador destacam-se as de ordem individual relacionadas ao contexto social, à condição de saúde física e mental, aos sentimentos vivenciados pelo trabalhador que podem afetar a capacidade e funcionalidade ao retornar as atividades laborativas e a própria reinserção no ambiente de trabalho.

No que se refere à temática do retorno ao trabalho e aos aspectos decorrentes deste processo, é possível identificar na literatura três perspectivas distintas. Alguns autores consideram os prejuízos causados

pelo afastamento do trabalho e partem do pressuposto da centralidade e importância do trabalho na vida pessoal e social das pessoas. Uma outra perspectiva (Dejours,1992; Seligman, 2011) parte do olhar da psicodinâmica do trabalho e, parte do pressuposto que a dinâmica psicológica em interação com o ambiente podem constituir um fator de risco para saúde do trabalhador. Outro entendimento baseado na psicodinâmica do trabalho é apresentado por Borsonello e Santos (2002), que consideram o afastamento como um mecanismo de defesa que busca evitar o ambiente hostil e ameaçador do trabalho, sendo este mecanismo de defesa responsável pela prorrogação ou reincidência de afastamentos, o que impossibilitaria o retorno ao trabalho.

Dalton (2010) realizou um estudo no qual buscou identificar os facilitadores e barreiras para o retorno ao trabalho em trabalhadores com longo período de afastamento do trabalho que frequentavam serviços de saúde. O autor utilizou a Classificação Internacional de Funcionalidade como instrumento de avaliação da condição de saúde dos trabalhadores afastados e verificou que alterações nas funções e nas estruturas do corpo levaram a incapacidades nas atividades de mobilidade, cuidado pessoal, vida doméstica e nas áreas principais de vida, aspectos como educação, trabalho, vida econômica, vida comunitária, social e cívica, se mostraram afetadas devido ao afastamento prolongado dos trabalhadores. Estes elementos são apontados pelo autor, como impeditivos para o retorno ao trabalho uma vez que, contribuem para o agravamento das condições de saúde, interferem na capacidade para o trabalho, e colocam o trabalhador em uma situação de falta de acesso a programas de melhoria, treinamento e capacitação profissional. Estes fatores que interferem na condição de saúde repercutem negativamente na participação do trabalhador, pois afeta a capacidade de manter o emprego atual ou de inserir-se novamente no mercado de trabalho.

No plano individual, o trabalho tem sido, entre outros aspectos, um importante fator de identificação social e bem estar psicológico, fonte de realização e de oportunidade para o individuo criar, produzir e contribuir socialmente (Borges, 2006). Considerando a relevância do trabalho, o afastamento, por si só, acarreta em prejuízos, como perda de laços sociais, alteração no reconhecimento e desgaste social provocado pela perda da produtividade, perda da independência econômica, alteração na relação com a família, prejuízos emocionais e, psicológicos (Souza & Koizumi, 2001; Campbell, 1992, Bravo, 2010). O afastamento, segundo Bravo (2010), expõe o trabalhador a três tipos de constrangimentos: Pessoais, dadas as limitações físicas; Psicológicas, decorrentes do trauma sofrido; e Sociais relativas a exclusão. O autor

pontua que estas questões, requerem uma reflexão prática, que possibilite ao trabalhador, compreender os processos psíquicos e sociais estabelecidos nestas relações, de modo a minimizar o dano e o sofrimento. Neste mesmo sentido, Souza (2010) ao fazer referência ao retorno ao trabalho, afirma que este contribui de forma decisiva para a integração social e deveria ser objetivo básico das ações de recuperação, particularmente quando se considera o ônus individual e social causado pelo afastamento.

Os aspectos psicológicos identificados por trabalhadores afastados, em pesquisa realizada por Dalton (2010), foram: Descrédito em si mesmo e na empresa na qual trabalhavam, vivência de desejos contraditórios entre ter saúde para viver sem limitações e o medo de retornar às situações de trabalho que provocaram a doença. Os dados da investigação demonstram a existência de sofrimento físico e psíquico gerados pelas condições e relações de trabalho, pela incapacidade para trabalhar, pela presença de doenças e sequelas. Estas condições podem resultar em aumento da ansiedade, incerteza e dificuldades quanto ao quadro de saúde futuro e a perspectiva de vida.

Ao tratar de fatores impeditivos do retorno ao trabalho, Souza & Koizumi (2006); ressaltam que fatores de personalidade, qualidade da reabilitação profissional e a falta de incentivo financeiro advindos do trabalho podem estimular o prolongamento do período de afastamento, uma vez que, este implica no recebimento de benefícios devido à incapacidade. Segundo estes autores, o recebimento de benefícios, a título de auxilio doença ou acidente, estimula a própria condição de incapacidade. Sob a perspectiva da psicodinâmica do trabalho, Borsonello e Santos (2002) afirmam que ao perceber o ambiente de trabalho desfavorável, o trabalhador tende a desencadear sintomas orgânicos como um mecanismo de defesa, estes sintomas geram o afastamento que reflete os problemas presentes na organização de trabalho. Assim, o trabalhador afastado, ao perceber os riscos inerentes ao seu trabalho, ou em seu ambiente de trabalho enfrentaria o medo e a impotência, e continuaria a desenvolver sintomas, que levaria a um novo afastamento ou o manteriam afastado.

Os gastos com problemas de saúde gerados no próprio ambiente de trabalho; nos anos de 2010, 2011 e 2012, cresceu acima das despesas com afastamentos previdenciários gerais. O pagamento de benefícios previdenciários, pagos pelo INSS; com doenças adquiridas e acidentes relacionados ao ambiente de trabalho, registrou aumento de R$ 7,5% na média anual entre 2008 e 2011, cujos gastos passaram de R$ 13,47 bilhões para R$ 13,69 bilhões de janeiro a novembro de 2012. Os gastos

com benefícios pagos a título de auxilio doença e acidentário, passaram de R$ 1,51 bilhão em 2011 para R$ 2,11 bilhões em 2011, representando um crescimento médio anual de 12%; já os valores contabilizados de janeiro a novembro de 2012 eram de R$ 2,02 bilhões (RENAST, 2013). Considerando apenas o mês de dezembro de 2012, a quantidade de benefícios emitidos para pagamento chegou a 30,1 milhões, o que representa aumento de 3,5%, mais de 1,0 milhão de benefícios concedidos, quando comparado a dezembro de 2011 (INSS, 2013). Os casos de aposentadoria por invalidez, destinados a profissionais que não poderão voltar a exercer atividades laborativas e que foram pagos, pelo INSS, de janeiro a novembro de 2012, foi de R$ 30,86 bilhões (RENAST, 2013). Ao relacionar a capacidade com invalidez, Martinez et al (2010) afirma que a capacidade para o trabalho representa um valor preditivo para aposentadoria por invalidez.

Embora os gastos com problemas de saúde gerados no próprio ambiente de trabalho tenham apresentado crescimento a cima das despesas com afastamentos previdenciários gerais, conforme citado anteriormente, alguns autores discordam do posicionamento de Borsonello e Santos (2002) apresentados anteriormente, no que se refere a contribuição do ambiente de trabalho em afastamentos. Dados divergentes foram identificados por Gravina e Rocha (2006), Dalton (2010) e Seligman-Silva (2011) que mostram fatores impeditivos para que o trabalhador afaste-se do trabalho ainda que com condições de adoecimento. Gravina e Rocha (2006) ressaltam que embora, tenha se identificado presença de dor em trabalhadores que retornaram às atividades laborais, os mesmos não expressam o sentimento de dor, embora apresentem sofrimento emocional e psicológico por não estarem em condições de saúde para retornar ao trabalho. Os autores atribuem este evento a falta de reconhecimento social em relação ao trabalhador adoecido, uma vez que a dor é sentida e vivenciada apenas por ele e não implica em uma aparência física que caracterize um quadro de adoecimento.

Um dos dados encontrados no estudo de Dalton (2010) foi que devido ao medo de perder o emprego ou pela dificuldade de acesso a tratamento adequado, trabalhadores adoecidos procuram tratamento tardiamente, o que conduz ao agravamento, cronificação e afastamento do trabalho. Sob o mesmo aspecto, Seligman-Silva (2011) ressalta que pessoas ainda que adoecidas, continuam trabalhando sem manifestar queixas e sem procurar tratamento; ao passo que o quadro clínico se cronifica o desgaste físico e psicológico atinge o desempenho do trabalhador. Este quadro é analisado, por Seligman-Silva (2011) sob a

perspectiva da psicodinâmica do trabalho; a autora compreende que os desgastes psicológicos oriundos da condição de saúde do trabalhador, são fatores de risco para ocorrência de acidentes e afastamento do trabalho. Os fatores de risco, por seu lado, desencadeiam repercussões psicológicas negativas, geram sofrimento e, ocasionam transtornos mentais, dada a vulnerabilidade psicológica.

Chamam a atenção também, as informações à concessão de benefícios acidentários, o elevado número de registros de transtornos mentais associados ao trabalho e, consequentemente, o aumento das despesas de benefícios acidentários (Dataprev, 2007). Os benefícios concedidos a trabalhadores por depressão ou transtornos depressivos recorrentes cresceram em média 5% nos últimos cinco anos, superando 82 mil ocorrências anuais. Segundo dados apresentados pelo Dataprev (2007) que buscou caracterizar a representatividade das doenças que resultaram em sequelas com limitações funcionais. Dentre 653.090 casos distribuídos por 50 CIDs destaca-se como primeira causa de afastamento do trabalho as sequelas de acidentes de trabalho, dos grupos S e T da Classificação Internacional de Doenças CID-10. O Grupo S refere-se a lesões, envenenamento e outras consequências de causas externas e o grupo T abrange lesões, envenenamento e outras

consequências de causa externas. Como segundo lugar, aparecem

os grupos G com as doenças do sistema nervoso e do grupo M doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, que estão relacionadas as LER/DORT. Os transtornos psíquicos relacionados ao trabalho aparecem de forma significativa, bem como outras patologias do grupo F que abrange os transtornos mentais e comportamentais da CID-10 (Takahashi, Leite & Göeldi, 2010).

O término do período de afastamento, segundo Souza e Faiman (2007), gera dúvidas relacionadas ao processo de retorno ao trabalho, ao restabelecimento no trabalho e capacidade de realizar as atividades pertinentes a sua função e, pode gerar ansiedade e agravamento das condições de saúde. Os autores destacam ainda que o retorno ao trabalho é uma experiência rica de significados pessoais, uma vez que novas questões se conjugam à vivência do afastamento, do adoecimento e das atividades laborativas, conferindo-lhes novos sentidos. O sentido atribuído à capacidade de retorno ao trabalho será, então, abordado na sequência.