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Importância da conexão estrutural/funcional da paisagem

O Serviço de Conservação de Recursos Naturais dos Estados Unidos (NRCS, c2014) cita cinco funções dos corredores, que operam simultaneamente e flutuam com as mudanças nas estações e clima ao longo do tempo, que são: de habitat, condução, filtro/barreira, de absorção (sink) e fonte. Essas interações são complexas e em muitos casos não são bem compreendidas por responsáveis pela gestão de áreas verdes urbanas ou rurais.

Os corredores funcionam como habitat ou um componente do habitat (micro- habitat) para as espécies que ocupam uma pequena amplitude (range) geográfica e tem mobilidade limitada, como, por exemplo, o tetraz-de-colar (Bonasa umbellus), ave silvestre galiforme, de distribuição ao norte da América do Norte. Para algumas espécies, como grandes mamíferos, um corredor pode servir de habitat momentâneo durante migrações sazonais entre fragmentos (ibid., p. 3).

A funcionalidade de condução destes não serve somente para o deslocamento dos animais entre fragmentos, mas sim, de condutividade de fluxos de matéria e energia, como água, nutrientes, genes, sementes, organismos, dentre outros elementos. Vetores, como o trajeto ou caminho desta, e variáveis, como a disponibilidade de comida, são diretamente associados aos corredores de migração (MALHEIROS, 1998). Assim, o biólogo Michael Soule identificou três categorias gerais de necessidades animais para o desempenho desta função:

a) de migração periódica para locais de forrageio ou de nascimento;

b) de movimento entre fragmentos dentro do range geográfico de vida para o acesso de comida, proteção ou outros recursos;

c) algumas populações que estão a persistir em fragmentos isolados devem receber imigrantes (NRCS, c2014).

Também podem atuar como filtros ou barreiras quando interceptam o vento, partículas, água superficial ou subsuperficial, nutrientes, genes e animais. Devem filtrar sedimentos e substâncias químicas agrícolas oriundas do escoamento originado na matriz adjacente. Eles também podem atuar como barreiras que reduzem a velocidade do vento, diminuindo a erosão eólica. Alguns corredores artificiais, como estradas e canais, são barreiras para a movimentação da vida silvestre, podendo isolar populações, além de espacialmente, geneticamente (ibidem).

Um corredor atua como função de absorção (ou fossa) quando recebe e retém (temporariamente ou não) objetos e substâncias originadas na matriz, como solo, água, agrotóxicos, sementes e animais. Estes podem se tornar cemitérios silvestres, quando a taxa de mortalidade por predação ou outras causas criam uma perda na população de espécies migrantes ou residentes.

Outra funcionalidade para um corredor seria a de fonte. Isto ocorre quando, além de abrigar recursos dentro de seu interior, libera ou lança objetos e substâncias na matriz adjacente. Também pode ser fonte de ervas-daninha, espécies vegetais praga, de insetos predadores e pássaros insetívoros que podem ser pragas a culturas adjacentes (ibidem), portanto o cuidado com uma zona de amortecimento e de transição entre o corredor e a lavoura, por exemplo, deve ser bem minucioso. Os corredores de alta qualidade são, muitas vezes, uma fonte de vida selvagem, onde a reprodução excede a mortalidade e os indivíduos são incluídos à população (ibidem). Por isso, o cuidado com um regime de plantação de somente espécies nativas ou a espera da regeneração da mata é muito importante, além do cuidado com invasão de espécies animais exóticas à mata atlântica, como espécies do pampa, que ficariam em áreas de transição, e não em zona núcleo da Mata Atlântica.

Morera et al. (2007) trazem a importância da conservação da cobertura arbórea, não especificamente para corredores, mas que também se pode aplicar a estes, por serem formações florestais. Os autores citam que, com a redução das paisagens naturais, é produzido um maior escoamento superficial, um decréscimo na recarga dos aquíferos, uma diminuição da qualidade da água e uma maior frequência de inundações. A ausência ou a redução de áreas naturais também implicam em uma redução da capacidade de renovação de oxigênio do ar, bem como em uma redução na fixação temporal do dióxido de carbono e uma diminuição

da umidade, devido à redução da transpiração das plantas (MORERA et al., 2007, p.12).

Sob uma perspectiva ecológica, as consequências da transformação da paisagem se concentram na redução ou desaparecimento dos habitats naturais. Paisagens florestais ou agroflorestais antigas de extensão e continuidade notáveis são fragmentadas em manchas de tamanho reduzido, devido à ocupação progressiva e desorganizada do território. Uma diminuição das extensões de áreas naturais, em oposição aos espaços artificiais, significa uma menor quantia e diversidade de habitats e, como resultado, os espaços naturais, progressivamente, tornam-se ilhados, longe de outros fragmentos e rodeados por usos do solo incapazes de sustentar um índice maior de biodiversidade. Os refúgios, onde muitas espécies acabaram confinadas, dificultam sua dispersão e em casos extremos, as populações acabam por ficar definitivamente isoladas, expondo-se tanto a risco de degeneração genética, que envolve o insulamento de populações reduzidas, como a extinção (MORERA et al., 2007, p.12). Assim, a dispersão de espécies animais e vegetais, a conservação do fluxo gênico pela polinização feita por animais e pelo vento são vantagens que os corredores ecológicos proporcionam à conservação da biodiversidade.

Dobson et al. (1999) e Crooks e Sanjayan (2006), citados por Caro et al. (2009, p. 2087), também trazem em número de cinco as razões para as quais os corredores ecológicos podem ser importantes, porém, estas são diferentes da considerada pelo NRCS (c2014), sendo as seguintes:

a) recolonização ou repovoamento: se uma população animal ou vegetal diminui a um nível muito baixo, ou é extinta em uma área ou mancha de habitat, indivíduos de outros fragmentos podem imigrar e salvar a população da extinção local;

b) manutenção da variabilidade genética: se uma pequena população é isolada, pode perder sua diversidade genética ao longo do tempo e sofrer de consanguinidade, gerando muitos locos deletérios em comum quando ocorrem os cruzamentos entre parentes. Um corredor permite que imigrantes importem materiais genéticos novos em populações isoladas;

c) aumento da heterogeneidade na paisagem: um corredor enriquece a área e a diversidade de habitats dos dois fragmentos de habitats conectados;

d) abrigo: se o habitat de uma área se torna insustentável - por mudanças climáticas, por exemplo -, organismos vegetais ou animais podem se deslocar ao longo do corredor, abrigando-se, estabelecendo-se neste habitat que seria mais seguro, no sentido de „estar a salvo‟;

e) caminho alternativo de migração: Algumas áreas protegidas não abrangem o alcance geográfico que um ecossistema requer para o suprimento das necessidades de certas espécies. Espécies migratórias, por exemplo, se movem foi de ou entre áreas protegidas e podem usar os corredores para esta proposta, garantindo uma maior segurança na migração destas.

Segundo Forman e Godron (1986), em se tratando do funcionamento dos ecossistemas florestais os corredores funcionam como habitat de espécies animais e vegetais, condutores de espécies de plantas (pela polinização) e animais (pela dispersão), filtro/barreira, fonte de recursos naturais e refúgio tanto de espécies, como de material orgânico circulante dos fluxos tróficos, também totalizando cinco funções segundo os autores.

Morera et al. (2007, p. 28) acrescentam algumas funções de „seleção‟ e elucidam que os Corredores Ecológicos são importantes dentro da matriz paisagística, por suas características ambientais, seu tamanho e sua composição, muitas vezes funcionando, somente, como um habitat temporário, indiferente às espécies ou à atuação como barreira ou refúgio, “por abrigar elementos hostis para certas espécies”, principalmente de animais, especialmente para mamíferos de grande porte. Estes também atuam como filtros, no sentido de que permitem a dispersão de certas espécies, assim como barram ou obstaculizam a dispersão de outras, como é o caso de áreas que apresentam alterações, de algum nível, dos processos ecológicos e das espécies naturais que criam habitats adequados para outras espécies, como pastagens arborizadas. Outros sítios de corredores se tornam um barreira ao fluxo de espécies, produto principal de sua modificação, onde a perturbação chegou a tal ponto que as paisagens apresentam habitats adequados a numerosas espécies, assim, “sabotando-se”, dificultando o fluxo das mesmas (MORERA et al., 2007, p.28).

Sob o ponto de vista da gestão ambiental, a recuperação e o melhoramento da qualidade ecológica destas paisagens devem ser prioridade, levando em conta o humano “ser parte” das redes ecológicas, especialmente quando se trata de recuperação e restauração de ecossistemas ribeirinhos urbanos ou rurais (ibidem).

Para o melhoramento desta qualidade, não faltam dados para o esclarecimento de como são importantes conexões de fragmentos da matriz através de Corredores Ecológicos, sob a perspectiva da Ecologia de Paisagens, ou seja, visando à conservação da biodiversidade.

3 O MEIO AMBIENTE E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA SUA

CONSERVAÇÃO A NÍVEL FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL

3.1 Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e Projeto Corredores Ecológicos