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2.4 Intervenções estruturais em rodovias como medidas mitigadoras à

2.4.2 Passagens superiores à rodovia

Como maiores passagens superiores em dimensão há os ecodutos, pontes

através de estudos na Europa há décadas, constituindo uma ótima alternativa de fluxo biológico quando se avalia a continuidade de habitats fisicamente, abrigando uma gama enorme de taxas animais terrestres ou semiaquáticos (ARROYAVE et al., 2006). No entanto, estas são estruturas que dispendem muito dinheiro, tornando suas implantações um obstáculo.

Para o seu sucesso, é imprescindível a instalação de barreiras visuais nas laterais da ponte para o animal não ter receios quanto à altura ou mesmo confiabilidade de degradação do habitat. Essas barreiras podem ser plantadas, através de reflorestamento de espécies nativas de arbustos e arvoretas ou, podem- se instalar cercas de madeira, isolando os animais dos ruídos das rodovias, igualmente (ARROYAVE et al., 2006, p. 53). Também podem abrigar canais ou canaletas artificiais que facilitem sua utilização por anfíbios (BANK et al., 2002, p. 19). Apresentam como obstáculo à sua implantação o alto custo associado.

Figura 9 - Ecodutos com diferentes estruturas em diferentes países. Legenda: 1) Ecoduto alemão com passagem recoberta por gramíneas, sem cercamento ou alguma barreira visual, diminuindo sua efetividade e gerando um perigo até de morte por queda de animais; 2) Ecoduto francês com barreira

visual de cerca de madeira direcionadora e antirruído, com 15 m de largura no meio e 30 m nas extremidades; 3) Ecoduto ligando algumas florestas nativas e artificiais com barreira visual. Fonte: Adaptado de: 1) Bank et al. (2002, p. 14); 2) Bank et al. (2002, p. 20); 3) Damarad e Bekker (2003).

Em geral, as passagens verdes possuem mais de 70 m e, preferencialmente, devem ter 100 m ou mais de largura, possibilitando a restauração de habitats, priorizando a continuidade deste de um lado a outro. Sua própria estrutura recria um

ambiente atrativo à fauna, sem confinamento e com a possibilidade de uma cópia das condições ambientais do entorno, servindo inclusive como um hábitat de passagem para pequenos animais. Pelas suas dimensões, atendem todos os grupos da fauna terrestre, de mamíferos grandes a répteis e até mesmo invertebrados. Devem combinar diferentes tipos e portes de vegetação, como arbórea, arbustiva, herbácea, semiaquática e outras para estimular a utilização por uma maior variedade de animais, como aves e morcegos (BECKMANN et al., 2010, CLEVENGER, A. P.; HUIJSER M. P., 2011).

Parecidas com os ecodutos, as passagens superiores estreitas possuem menor dimensão em largura (Fig. 10), sendo de 40 a 70 m, algumas podendo chegar de 40 a 50 m nas suas extremidades, sendo que seu principal objetivo também é a utilização por mamíferos de grande porte (BECKMANN et al., 2010, p. 38). Segundo Bissonette e Cramer (2008), existe um número muito reduzido de passagens superiores comparadas às inferiores nos Estados Unidos e Canadá, sendo 4 e 3 superiores nos dois países respectivamente e 559 e 118 inferiores. Em compensação, na Europa, as passagens superiores são mais frequentemente utilizadas como prioridade para instalação, tendo 125 na França, 30 na Alemanha, 20 na Suíça, quatro na Holanda (CORLATTI et al., 2009 apud LAUXEN, M. S.; KINDEL, A., 2012), além dos países não listados aqui.

Figura 10 - Vista aérea através de imagem por satélite da passagem superior estreita australiana na Campton Road, Brisbaine.

Nos países desenvolvidos, definitivamente, o problema não é financeiro com relação à construção de passagens superiores, e sim na prioridade para instalação. Deve-se assumir que essas construções realmente possuem um alto custo de instalação quando comparadas a algumas passagens inferiores como bueiros modificados, porém o custo-benefício das superiores são maiores nos quesitos de conservação da biodiversidade e fluxo gênico, assim como beleza cênica.

Como nos ecodutos, a passagem superior após o término de sua instalação, deve ser fechada ao público ou qualquer outra atividade que não seja a de monitoramento (preferencialmente por câmeras), sendo um dos requisitos principais para um maior grau de eficiência e sua efetividade. O rol de espécies é tão grande quanto o das pontes verdes (BECKMANN et al., 2010, p. 38), porém não servirão de habitat para pequenos mamíferos, podendo servir para alguns invertebrados.

Como a passagem inclui espécies de grande porte, a densidade de arbustos não pode ser tão alta, pois dificultaria a movimentação (ou mesmo o encorajamento) destes ao atravessá-la. Porém, outros grupos animais utilizarão essa estrutura e, portanto, a vegetação presente nesta deve se mostrar uma continuidade com representantes de espécies vegetais do ecossistema dos dois extremos da passagem. Portanto, no estudo de implantação da estrutura, deve-se prever o tipo e a altura da camada de solo a ser colocado para o suporte das espécies dos habitats do entorno que serão plantadas ali.

Como alternativa mais antropizadas às passagens superiores estreitas, há as

passagens superiores multiuso, voltadas para a fauna silvestre (principalmente de

mamíferos, tanto de grande quanto de médio ou pequeno porte generalistas), doméstica e uso humano (Fig. 11). A dimensão destas é de 15 a 25 m de largura, algumas podendo ser mais estreitas, com apenas 10 m de largura (ibidem).

Figura 11 - Uso humano em uma pista e faixa vegetada ao lado para passagem da fauna. Recomenda-se uma faixa maior de vegetação e apenas uma trilha estreita para passagem humana e

de animais domésticos. Fonte: Clevenger e Huijser (2011, p. 110).

Toda a estrutura das passagens superiores multiuso devem ser adaptadas, igualmente aos ecodutos e as passagens superiores estreitas. A estrutura vegetacional a ser replantada na passagem superior multiuso deve ser adaptada a espécies terrestres, semiarborícolas, sendo que anfíbios e animais semiaquáticos só poderão utilizar a estrutura se esta passar dentre o seu habitat natural (ibid., p. 39).

Ao invés de serem construídas passagens ecológicas acima das rodovias, crê-se que a melhor escolha a se tomar quando o ecossistema, normalmente, montanhoso, ainda é preservado e está prevista a instalação de uma rodovia no local, é a instalação de túneis rodoviários (Fig. 12). Segundo Carr et al. (2002), estes túneis separam fisicamente de maneira eficaz o tráfego da fauna silvestre, preservando a conectividade biológica sem necessidades de reflorestamento. Apesar de estes terem um alto custo, suas instalações são ambientalmente preferíveis às demais alternativas de intervenções conectivas citadas anteriormente. Contudo, raramente essas estruturas são construídas pensando na questão ambiental. Normalmente o incentivo a estas se dá no encurtamento de caminhos em trechos rodoviários onde motoristas reclamam por estarem andando quilômetros a mais contornando os morros, podendo diminuir a quilometragem através do tunelamento, ou por muitos riscos de quedas de barreira.

Felizmente, há alguns casos no Brasil que escolheram realizar a construção de túneis para a conservação da biodiversidade do entorno. Como exemplo, cita-se o túnel sob o Morro Alto, na BR 101/RS, com 1.900 m de extensão (LAUXEN, M. S.; KINDEL, A., 2012). Também se deve lembrar que o cercamento no entorno da rodovia é indispensável, de maneira que não estimule animais a escalarem as cercas.

Figura 12 - Túnel rodoviário sob o Morro Alto na BR 101/RS, em Osório. Legenda: 1) Demonstração da dimensão desta estrutura e demonstração de como a conectividade florestal mantém seu sucesso,

via imagem de satélite do Google Earth. 2) Emboque Norte do mesmo túnel. Fonte: Adaptado de Lauxen e Kindel (2012).

Pode-se considerar como passagem superior, mas as passagens no estrato

arbóreo não são estruturas tão complexas quanto às citadas anteriormente. É

exatamente por sua simplicidade que são especiais, gerando facilidade na instalação e mesmo aceitação dos governos, pois o custo de implantação é baixo. Porém, abrangem uma gama menor de grupos faunísticos que as utilizam.

As passagens no estrato arbóreo são geralmente constituídas por cabos de aço ou estruturas de madeira que ligam as copas do estrato arbóreo superior de fragmentos florestais (Fig. 13), nos quais espécies semiarborícolas e arborícolas utilizam em ambientes florestais (BECKMANN et al., p. 39) ou mesmo urbanos. No caso dos urbanos, deve-se haver um encapamento de toda fiação elétrica urbana onde os animais se encontrarem e as estruturas podem ser montadas como pontes de cordas, como o Projeto Macaco Urbano realiza em Porto Alegre desde 1993.

Figura 13 - Passagens pelo estrato arbóreo no Brasil e no exterior. Legenda: 1) Esta passagem aproveita a estrutura para a sinalização da rodovia; 2) Cordas estendidas de uma passagem superior

de madeira para a floresta, notando-se que é uma distância curta para a chega às árvores; 3) Ponte de corda instalada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul pelo projeto Macacos Urbanos; 4) Bugios- ruivos (Alouatta guariba) utilizando as passagens aéreas como o modo mais seguro de passagem

pela rodovia.

Fonte: Adaptado de: 1 e 2) Clevenger e Huijser (2011, p. 116); 3) Prefeitura de Porto Alegre (c2014); 4) Lauxen e Kindel (2012).

No caso das rodovias de pequena largura, em vez de serem ancoradas nas árvores, preferencialmente, as estruturas devem ser fixadas em outras estruturas permanentes e imóveis, erguidas para essa finalidade. Em geral, as cordas têm no mínimo oito centímetros de diâmetro e, assim como os cabos de aço, devem ser dispostas bem estendidas dispostas paralelas uma à outra, separadas por 20 a 30 cm de redes de nylon entre as cordas ou cabos. As plataformas de madeira devem possuir largura mínima de 30 centímetros de largura para sucesso de travessia para o animal. (CLEVENGER, A. P.; HUIJSER, M. P., 2011, p. 115).

Essas pontes de corda, aço ou madeira são alternativas para conservação de espécies como o bugio-ruivo (Alouatta guariba), gambás, cuícas e ouriços, que, já não bastando estarem em ambientes com alto efeito de borda, gerando mais dificuldades na captura de alimento, outros fatores ameaçam sua sobrevivência. Em vez de os animais descerem das árvores para atravessar as rodovias, os indivíduos

simplesmente atravessam de um fragmento a outro por cima dessas passagens, correndo menos riscos de captura ilegal por pessoas, injúrias seguidas de doenças ou morte por ataques de animais domésticos ou atropelamentos (PREFEITURA DE PORTO ALEGRE, c2014).