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2.2 Corredores: ecológicos ou não

2.2.2 Tipologia de corredores

Os corredores se configuram em diversas tipagens: estruturais internas e externas, largura, grau de perturbação ou modo de gênese. Assim, há diversas

classificações destes, sendo que estas são dependentes da origem do corredor, do uso humano e do tipo de paisagem ou vegetação existente.

Quanto à classificação do estado de perturbação e modo de gênese, o Natural Resources Conservation Service (NRCS) tipifica os corredores em linha ou em faixa em cinco categorias usadas comumente: Corredores Ambientais (Environmental Corridors), Remanescentes (Remnant Corridors), Introduzidos (Introduced Corridors), Perturbados (Disturbance Corridors) e Regenerados (Regenerated Corridors) (NRCS, c2014, p. 1).

Os Corredores Ambientais são o resultado natural da resposta da vegetação a um recurso como um rio, o tipo de solo ou à formação geológica. São, normalmente, curvilíneos e a configuração das larguras são altamente variáveis e, estes corredores são os habitats mais importantes em uma bacia hidrográfica (ibid. p. 2).

Os Corredores Remanescentes são os produtos óbvios da perturbação adjacente a matriz. Faixas de vegetação em locais muito íngremes, rochosos ou de irrigação são deixados como remanescentes depois da terra ser limpa para a agricultura e outros usos. Alguns remanescentes são corredores em linhas, deixados somente para a delimitação de propriedades. Estes, frequentemente, contêm as últimas assembléias de flora e fauna nativas em uma bacia hidrográfica.

Os Corredores Introduzidos (ou plantados) existem desde cerca de 5000 a.C. Estes foram mais plantados entre o século XIV e XIX na Inglaterra do que em qualquer outro lugar ou época no mundo. De acordo com o Estatuto de Merton (assinado em 1925 por Henry III) da Inglaterra, os proprietários de terras obtiveram o direito de incluir porções de floresta e pastagem. Nos próximos 500 anos, milhares de quilômetros de cercas-vivas foram plantadas, sendo que algumas destas persistem até hoje e são valorizadas como tesouros de paisagem nacionais. Nos Estados Unidos, o Projeto Shelterbelt (década de 1930) plantou mais de 200 milhões de mudas em quebra-ventos e muitos foram mantidos por equipes da Corporação para Conservação Civilizada (CCC). Em paisagens onde predomina a agricultura, corredores introduzidos se tornam habitats essenciais para muitas espécies silvestres.

Outro tipo de corredor são os Corredores Perturbados, que são resultado do manejo de atividades da terra que perturbam uma linha ou faixa de vegetação. Perturbações contínuas de faixas vegetais são frequentemente impostas para a

manutenção de um determinado estágio sucessional desejado pelo proprietário ou órgão gestor. A largura dos corredores de perturbação varia, mas eles tendem a ser mais estreitos, como corredores em faixa, mas a configuração é tipicamente em linha reta. Podem ser suficientemente largos para constituir uma barreira de espécies silvestres, dividindo uma população em duas metapopulações. Estes corredores são habitat importantes para espécies nativas que exigem estabelecimento nos primeiros estágios sucessionais.

A tipologia de Corredores Regenerados, segundo o NRCS (c2014, p. 2), é resultante da restauração e reestabelecimento de espécimes que ocorre em uma linha ou faixa de vegetação perturbada. A regeneração pode ser dada, também, como o produto natural da sucessão vegetacional via plantação. O restabelecimento em rodovias abandonadas, trilhas e ferrovias são exemplos, sendo que a largura e a configuração dos corredores são dependentes da natureza da perturbação que foi realizada.

Corredores Regenerados de vegetação são, frequentemente, dominados por espécies daninhas agressivas durante os estágios iniciais de sucessão. No leste do Rio Mississipi, corredores regenerados ocorrem como uma cerca ao longo de das linhas de cercas e canais ou valas na estrada. Em paisagens fortemente fragmentadas, os corredores regenerados são, frequentemente, habitats importantes para pequenos mamíferos e pássaros canoros.

Outras tipificações são realizadas de acordo com diferentes autores e de acordo com características a serem consideradas. Segundo Forman e Godron (1986), os corredores se identificam de acordo com sua origem em: perturbados, remanescentes, ambientais, de plantação e os de regeneração.

Os corredores perturbados são decorrentes da perturbação de uma linha, como estradas, linhas de tensão elétrica ou ferrovias, enquanto os remanescentes são o que restou de alguma perturbação na matriz paisagística, como uma linha de árvores remanescentes de uma floresta cortada, uma linha de floresta nativa, enquanto vias de trem passam pelos seus dois lados. Os corredores ambientais resultam da distribuição heterogênea linear dos recursos ambientais no espaço, como corredores ripários e rotas faunísticas. Há também as ditas plantações, que são greenways ou os corredores verdes das zonas urbanas, como, por exemplo, pequenas árvores plantadas em fileira. Por fim, os corredores de regeneração são resultantes da regeneração de uma linha de vegetação dentro de uma área que

sofreu perturbação ou degradação, como exemplo de árvores que crescem ao longo de cercas em algumas áreas verdes, que são produtos da regeneração espontânea. Já, quanto ao formato, Forman e Godron (1986) classificam em: corredores em linha (line corridors), em faixa (strip corridors) ou de habitat (BENNET, 2003) e ripários (stream corridors). Já na classificação de Forman (1995), o autor acrescenta os corredores de estrada (road corridors), as trilhas (trails) e as linhas de energia (powerlines) e dentro de cada uma dessas classificações se engendram outras divisões, mas somente uma breve explicação de cada classificação acima será tratada para um entendimento maior da conformação dos corredores dentro da Ecologia da Paisagem.

Os corredores em linha são bandas estreitas completamente dominadas por espécies de borda, como a maioria dos fragmentos, estradas, valas de drenagem e canais de irrigação. Os corredores em faixa são bandas mais largas, com um ambiente interior central que contém uma abundância de organismos. Os corredores ripários margeiam cursos d‟água e variam em largura de acordo com o tamanho do córrego, arroio ou riacho. Estes controlam a água e o escoamento de nutrientes minerais, que reduzem a perda de fertilidade do solo, o assoreamento e inundações. Deve-se salientar que espécies de borda podem ser encontradas nestes três tipos de corredor, sendo que corredores ripários podem exercer funções como um corredor em faixa para o movimento de espécies de interior de fragmentos. Todos esses tipos de corredores podem se interconectar e, quando isso ocorre, são chamados de redes (networks) (FORMAN, R. T. T.; GODRON, M., 1986, p. 131).

Segundo Bennett (2003, p. 54), os Corredores de Habitat (“em faixa” e “ripários”) teriam prioridade de instalação:

a) onde grande parte da paisagem foi modificada e é inóspita para espécies nativas;

b) para espécies exclusivistas em determinados habitats ou que tem uma dependência obrigatória de habitats não perturbados;

c) para espécies que tem uma escala limitada de movimentação em relação à distância a ser atravessada;

d) quando o objetivo é manter a continuidade de populações entre habitats, em vez de simplesmente ser um caminho para deslocamentos migratórios;

f) quando a manutenção dos processos do ecossistema requer um habitat contínuo.

Os corredores de estrada, ou reservas de estrada, chamados no Brasil de “Estradas Parque” (DUTRA et al., 2008; OLIVEIRA et al, 2012), se referem a estradas, como as para veículos, associadas, usualmente, a uma vegetação de faixas paralelas a esta. As beiras das estradas são, geralmente, abertas, regularmente mantidas ou, no caso destas reservas, faixas perturbadas que incluem o corredor contíguo à estrada (FORMAN, 1995, p. 159).

As trilhas têm uma “faixa central de perturbação repetida” para a locomoção a pé, por animais, por motocicletas, esqui e carros de neve (não é o caso do Brasil) e a margem desta é afetada por essa perturbação, pois sofre manutenção permanente para a trilha não ser fechada. Parecidas com os corredores de estrada, as trilhas, geralmente são mais curvilíneas, silenciosas, menos poluídas e mais propensas a mudarem de local. Todos os tipos de trilhas resultam de humanos, exceto aquelas causadas por pisoteio de animais em rotas repetitivas e todas as trilhas tendem à compactação do solo, exceto as de esqui e carros de neve, gerando problemas como erosão por água e pelo vento (ibid., p. 172 et seq.).

Os corredores de linhas de energia tendem a serem compridos, relativamente retos, constantes em largura, abruptos em seus limites e perturbados ou mantidos relativamente uniformes durante toda sua largura. Como exemplos, há os corredores de transmissão de energia elétrica, linha de gás, óleo e corredores de diques. Espécies de borda e generalistas cobrem quase todos os corredores de linhas de energia.

Com exceção das pessoas e veículos, as evidências de que estes corredores de linhas de energia e os de dique sejam eficientes é limitada. Ainda assim, parece que algumas espécies se movimentam dentro ou paralelamente a esses corredores. A principal causa desta falta de eficiência seria o barulho emanado pelas linhas de energia, principalmente quando o tempo está úmido, pois é comprovado por estudos que muitos pássaros e espécies de mamíferos, como também anfíbios, artrópodes, mesmo minhocas e lesmas são inibidos ao passar pelos corredores devido aos sons muito altos, causando até mesmo vibração na terra.

Outras causas são campos eletromagnéticos, onde mamíferos pequenos e insetos são mais afetados do que humanos e pássaros, por causa de suas sensibilidades a determinados comprimentos de onda do campo magnético. Além

destas, há outra causa da perda da efetividade deste tipo de corredor, que admitem torres e linhas de energia, onde pássaros batem quando se entrelaçam grandes redes (ibid., p. 174 et seq.).

Assim, quanto à classificação por formato dos corredores, consideram-se estes três últimos de menor eficiência ecológica que os três primeiros descritos acima. Isso se deve à largura e grau de conservação dos primeiros e à interferência antrópica gerada nos segundos sendo gerados: ruídos, material particulado, aquecimento, riscos maior de atropelamentos nas estradas, barulho e poluição com resíduos ou rejeitos nas trilhas e interferência magnética e riscos de acidentes nas linhas de energia entre outros riscos que a biodiversidade corre nestes locais.