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A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESCOLAR NO ENSINO DE ARTE

CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA

2.4 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO ESCOLAR NO ENSINO DE ARTE

Concluindo esta revisão de literatura, cabem algumas considerações sobre o papel da gestão escolar relacionada ao ensino de Arte. Serão abordadas algumas características da gestão que propiciem o ensino de qualidade para, num segundo momento, analisar o caso específico da gestão com respeito ao ensino de Arte, na visão de coordenadores e alguns professores das escolas pesquisadas.

Desde o século passado, os sistemas e políticas educacionais do mundo inteiro passaram por mudanças significativas, decorrentes dos compromissos assumidos na Conferência de Jomtien, em 1990. Denominada Conferência Mundial sobre Educação

para Todos, teve como objetivo estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, condição para qualquer sociedade vir a ser mais humana e mais justa. A UNESCO e a UNICEF, com apoio do Banco Mundial e de várias outras organizações intergovernamentais, regionais e organizações não-governamentais (ONG) participaram das discussões e, como resultado, foi elaborado um dos documentos mais significativos para a educação mundial. O documento inclui abordagens que definem as necessidades básicas de aprendizagem, as metas a serem atingidas durante a Educação Básica. Define, ainda, os compromissos dos Governos e das entidades participantes, e incentivou os países a elaborar Planos Decenais de Educação Para Todos. Foi assim que, no Brasil, em decorrência do compromisso assumido na Conferência de Jomtien, foi elaborado o Plano Decenal de Educação para Todos, assegurando que, em dez anos (1993 a 2003), as crianças, jovens e adultos, teriam direito aos conteúdos mínimos em matéria de aprendizagem. Na sequência, veio a público a “Declaração de Nova Delhi”, que resultou de encontro de países em desenvolvimento, após estudos de questões relativas às políticas educacionais, quando esses países assumiram o compromisso de traçar metas para universalizar a oferta de educação fundamental, ampliando as oportunidades de aprendizagem, tanto para crianças, quanto para jovens e adultos (BRASIL, 1997, p. 14).

Segundo Gadotti (1994), essa mudança nas políticas educacionais mundiais, quando foi assumida a necessidade da universalização da oferta de educação fundamental, começou em um período em que o individualismo liberal, com a concentração de decisões nas mãos de poucos, tão presente há alguns séculos, veio a tornar-se obsoleto e ineficaz, na era da globalização da informação e da cooperação, que os processos de produção da economia começaram a exigir.

Atualmente, os sistemas educacionais encontram-se, no mundo inteiro, num contexto de explosão descentralizadora, cujo pluralismo político torna-se um valor universal e a autonomia ganha nova força, apoiado ao poder local democrático (GADOTTI, 1994).

No Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, a gestão escolar iniciou um processo de mudança, passando de uma gestão burocrática e centralizadora, para uma gestão democrática e participativa.

A Constituição Federal, em seu artigo 206, estabelece como princípios: a “[...] gestão democrática do ensino público [...]”; “[...] a liberdade de aprender, ensinar,

pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber [...]”; e a “[...] garantia do padrão de qualidade [...]” (BRASIL, 2001, p. 128). Tais princípios devem ser considerados fundamentos constitucionais, norteando a autonomia da escola e da gestão democrática, pois a gestão democrática traz em sua essência a qualidade da educação.

Ressaltar os conceitos de democratização, descentralização, qualidade, liberdade, solidariedade e participação, para esse modo de gestão escolar, torna-se essencial. Por isso, no processo de construção da gestão democrática, aspectos como autonomia, a representatividade social e a formação da cidadania são imprescindíveis.

A gestão democrática escolar exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar, no que diz respeito: ao velho conceito de que escola pública é do Estado e não da comunidade; ao papel do gestor; à inclusão social e escolar; e à disponibilidade de recursos materiais e humanos como a garantia da qualidade do ensino. O Documento Referência da Conferência Nacional de Educação – (CONAE) para o ano de 2010 (BRASIL, 2010), que tem como tema central: “Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: O Plano Nacional de Educação, suas Diretrizes e Estratégias de Ação” e que servirá de parâmetro inicial para as discussões nas conferências municipais e estaduais, destaca que:

A fundamentação da gestão democrática está, portanto, na constituição de um espaço público de direito, que deve promover condições de igualdade, garantir estrutura material para a oferta de educação de qualidade, contribuir para a superação do sistema educacional seletivo e excludente e, ao mesmo tempo, possibilitar a inter- relação desse sistema com o modo de produção e distribuição de riquezas, com a organização da sociedade, com a organização política, com a definição de papéis do poder público, com as teorias de conhecimento, as ciências, as artes e as culturas (BRASIL, 2010, p. 27).

Em meio a este cenário, para que haja uma gestão democrática de qualidade, é necessário que a escola tenha as estruturas e os recursos para tal. O papel do gestor frente à gestão democrática é importante. Em palestra sobre “Gestão e Democracia na Escola”, Paro (2002, p. 2) ressalta: “Ser gestor significa ser mediador para os fins, e os meios não podem ir contra os fins.”

O gestor ou o diretor, tanto da escola pública quanto da particular, é o principal responsável pela escola. É quem tem a visão de conjunto, visando a educação que possibilite uma integração democrática e participativa de todos. Ele deve exercer uma

liderança que incentive a autoconstrução, o compromisso, a responsabilidade e a qualidade, de forma criativa no processo educacional.

Ao gestor, ou à equipe responsável pela gestão, cabe coordenar as relações entre todos os profissionais, alunos e a comunidade escolar, articulando e integrando os vários setores: administrativo, pedagógico, secretaria, serviços gerais, relacionamento com a comunidade, entre outros. Cabe igualmente, administrar e organizar os recursos, de modo a fornecer as estruturas necessárias para garantir um ensino de qualidade aos seus alunos.

A escola deve garantir os recursos, materiais e humanos, para o processo de ensino/aprendizagem em todas as disciplinas. Para tanto, é também dever do gestor não apenas garantir não faltar tais recursos, mas, sobretudo, ter conhecimento das demandas de cada disciplina em termos de recursos, para o desenvolvimento do educando.

O gestor é o líder da escola, é quem exerce influência e motivação perante os funcionários, profissionais de educação e comunidade escolar; articula e cria ações que mobilizam a escola. É quem deve dar suporte a todas as disciplinas, mas, principalmente, àquelas que nem sempre têm a sua importância reconhecida, ou são popularmente conhecidas como prazerosas e recreativas, como é o caso das disciplinas de Educação Física e Arte.

No caso da disciplina Arte e suas expressões, vale ressaltar que ela é mais dependente, em relação a recursos materiais, do apoio da gestão da escola que as outras disciplinas, pois, além da demanda por materiais específicos, necessita de sala de aula apropriada e equipamentos. A este respeito, vale transcrever dois depoimentos que enfatizam a importância da gestão no ensino de Arte. O primeiro, extraído do estudo de Gondim (2005), refere-se ao caso das escolas que adotam a Pedagogia Waldorf, mas que é significativo para todo contexto do ensino de Arte. A autora acredita

[...] que seja possível ensinar Artes, conforme a Pedagogia Waldorf, em outras escolas. Para que isso aconteça, porém, não depende apenas da sensibilidade e formação do arte- educador, mas sobretudo da importância e conscientização que o diretor e coordenadores têm e conferem a esta disciplina (GONDIM, 2005, p.57).

E acrescenta que é preciso uma mobilização da escola, pois “[...] se os diretores e coordenadores possibilitassem e os professores de Artes realizassem projetos

frequentes na área, certamente haveria alguma mudança real no ensino brasileiro de Artes” (GONDIM, 2005, p.57).

O segundo depoimento é de Vianna e Strazzacappa (2006, p 119) e enfoca o caso das demandas do ensino de Artes Cênicas:

Sendo o teatro uma arte do espetáculo vivo, em que o que vemos em cena nos é transmitido pelo corpo do ator, o teatro deve ser compreendido como um trabalho físico. Portanto ele necessita de um espaço adequado para a sua realização. Isso significa que esse espaço não pode ser a sala de aula,cheia de cadeiras e mesas, como geralmente acontece. Isso não quer dizer, no entanto, que ele precise de um edifício teatral com palco e coxias. É necessário simplesmente um local onde o aluno possa praticar atividades físicas como correr, pular, exercitar a imaginação na construção espacial por meio de jogos teatrais. Por ser um trabalho que envolve a subjetividade, são necessárias igualmente a distribuição e a ocupação de tempos diferenciadas das demais áreas de conhecimento presentes na escola. O teatro é um aprendizado prático, que será experimentado pelo aluno até que ele desenvolva suas capacidades de realização da expressão artística sob a orientação do professor. O período de uma hora/aula não é suficiente para tal intento, são necessários períodos mais longos para que o aluno possa vivenciar as dinâmicas e apropriar-se desse conhecimento artístico (VIANNA & STRAZZACAPPA, 2006, P. 119).

Cabe ao gestor, portanto, ter uma visão global sobre a importância e contribuição de cada disciplina na formação do educando para que, acreditando e agindo. possa conscientizar e incitar os demais membros da comunidade escolar a compartilhar essa visão, permitindo que a escola seja espaço de apoderamento de saberes e valores.

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