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A IMPORTÂNCIA DO JOVEM NA FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Pedro de Toledo Piza É advogado ambientalista, atuando na área de Direito Ambiental em São Paulo, - participou do Comitê de Meio Ambiente da Câmara Americana de Comércio (AMCHAM). Foi membro da Câmara Ambiental da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). É membro da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP). Atualmente, está cursando “MBA em Gestão e Auditoria Ambiental” na POLI/USP.” ptpiza@yahoo.com.br Andréia Cassilha Andrigueto É bióloga, idealista, atuante em projetos sócioambientais com jovens e comunidades em Brasília e São Luís do Maranhão pelo Instituto Projeto Pegadas Brasil, em Brasília. Atualmente está cursando o “MBA em Gestão e Auditoria Ambiental” na POLI/USP. aandrigueto@yahoo.com.br

Este artigo tem por finalidade despertar a atenção dos jovens quanto ao seu papel mobilizador e apresentar mecanismos do Direito que podem ser usados para assegurar o direito à participação e à informação asseguradas tanto por leis ambientais (Política Nacional de meio Ambiente), como pela Constituição Federal. E traz para exemplificar seus conceitos, as chamadas ilhas de conservação “Hot Spots”, como exemplos de metáfora para o deslumbramento de suas possibilidades. Ë sabido pela ciência que o conceito de ilhas isoladas não carrega a denotação de isolamento ou inércia. Ilhas isoladas, como a Ilha das Cobras, no litoral de São Paulo, se tornaram áreas endêmicas, visto que o território limitado pelo contexto geográfico, possibilita a reprodução em massa da espécie (ou espécies) que mais se adapta e possui vantagem competitiva. Trazendo o termo de ilhas para o contexto da conservação pela ação do homem, Hot Spots do amor,

brinca com a possibilidade dos jovens tornarem-se essas ilhas. Recursos não faltam; mas, faltam informação e espaço para tornar a possibilidade de participação dos mesmos real e concreta.

Para capacitar os jovens a realizar mudanças no panorama ambiental, e explicar melhor o conceito de ilhas, usaremos a Lei de Lavoisier, “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, para desenvolver, inicialmente, a idéia central do texto, tecendo, igualmente, considerações acerca da atuação jovem na implementação de políticas públicas.

A princípio, o potencial jovem não pode ser entendido apenas como uma ilha sensível, intocável e ausente de memória mobilizadora, mas como uma potencialidade a ser explorada, um mecanismo catalisador e enzimático na formulação das políticas públicas. É preciso transformar toda a energia dos hormônios e enzimas de crescimento em ciência aplicada segundo ditames legais e a proteção ambiental. Neste caso, a juventude é a enzima para alcançar importantes transformações, responsável por catalisar e acelerar o processo de resolução de conflitos ambientais.

Desenvolvendo essa linha de pensamento, temos que para a implementação da legislação ambiental são aplicados princípios próprios que regem sua aplicação. O Direito, como ciência, pode ser entendido como um objeto cultural reflexo de experiências humanas durante a história; uma sedimentação de costumes ao longo dos períodos históricos. Com o Direito Ambiental o resultado é o mesmo, podendo ser considerado uma ciência autônoma, com seus princípios próprios, tais como: Princípio do Desenvolvimento Sustentável, da Prevenção/ Precaução, da Participação ou Cooperação, do Poluidor-Pagador, da Informação, entre outros. Os princípios nada mais são que pedras basilares da ciência, em estudo, conduzindo à interpretação dos seus dogmas e premissas. Pari passu, os princípios do Direito Ambiental devem ser utilizados na formulação de legislação específica e na implantação de projetos, planos, programas e políticas públicas ambientais, assim como na interpretação de textos normativos por parte dos operadores do Direito. Ressalte-se, que todos os princípios são igualmente importantes, mas, muitas vezes, alguns assumem maior relevância diante de outros, dependendo da ótica que se trata.

Neste breve artigo, não se pretende esgotar o tema. O enfoque será dado aos princípios da participação e informação, tocante à questão ambiental e atuação da juventude na implementação das políticas públicas.

No século atual da informação, a diversidade de meios de comunicação compete com a compilação dos dados corretos e necessários à resolução dos desafios que se quer responder. Ferramentas tão usuais como os telejornais, a internet, comunicadores e bibliotecas digitais já conseguem trazer em tempo quase real, acontecimentos que abalam pilares do outro lado de seu raio inicial

de abrangência. A informação é cada vez maior, mas, por outro lado, é necessária uma habilidade ímpar para selecionar tais informações, segundo critérios objetivos e concretos para atingir a proteção ambiental.

Quanto a essa a informação, é relevante mencionar, especificamente, a Lei de Acesso à Informação Ambiental, Lei nº. 10.650/03, que trata do acesso público à informações e a documentos ambientais do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), assegurada pela Lei 6.938/81 da Política Nacional de Meio Ambiente. Esta lei consolida um importante avanço para a conscientização do aspecto difuso dos bens ambientais, além de concretizar o princípio da publicidade dos atos públicos, já assentado no artigo trinta e sete, caput, da Constituição Federal. É importante também frisar que se tendo em mente o caráter difuso dos bens ambientais, cuja titularidade é de toda coletividade, bem como é dever do Estado e sociedade preservá-lo, esta lei consagra uma democracia ambiental. Raquel Biderman Furriela, entendendo sua enorme importância coloca outras fontes da lei, dentre elas a Agenda 21, documento da Rio 92, tendo como princípio o desenvolvimento sustentável baseado em informações consistentes e confiáveis. Segundo a autora, “o cidadão deve ter acesso às informações relativas ao meio ambiente” e deve ainda: o conhecimento ser disponibilizado como meta “para que o povo gerencie o meio ambiente de forma sustentável”.64

O princípio da participação/cooperação é por sua vez, de extrema importância, uma vez que se traduz no dever-poder do Estado e da coletividade (Estado e sociedade) na formulação e execução de políticas públicas, principalmente as ambientais. Aqui entram em cena os diferentes atores envolvidos na questão ambiental. Insere-se aí o jovem como um dos atores principais e mais enérgicos.

Do ponto de vista político, princípio da participação/cooperação molda os instrumentos de implementação da sustentabilidade ambiental, pois, tratando- se de meio ambiente (direitos difusos) não é possível que a máquina administrativa pública queira tutelá-lo sem considerar a sistemática e obrigatória participação da comunidade em todas as circunstâncias de decisão. Por isso, é que falamos em gestão participativa e em Estado sustentável.

Com efeito, seja nas estruturas públicas de gestão ambiental, seja nos sistemas privados, a participação pró-ativa da sociedade civil organizada acarreta mudanças sensíveis no resultado de projetos de relevante impacto ambiental e social. Não mais pode o administrador decidir sozinho, e a solidão pode significar a rejeição do empreendimento ou da política proposta.

64 FURRIELA, Raquel Biderman. “Aprovada a lei brasileira da democracia ambiental: a lei de

acesso à informação ambiental.“, p.2. in “Direito Ambiental – Enfoques Variados”, Ed. Lemos & Cruz, 2004.

A Declaração do Rio consagra o Princípio da Participação no seu Princípio 10, que diz in verbis: “O melhor modo de tratar as questões do meio ambiente é assegurando a participação de todos os cidadãos interessados, no nível pertinente”.

No Brasil, o princípio da participação (ou cooperação, como é chamado por alguns) vem implementando mecanismo de gestão cooperada com a comunidade, em todas esferas de administração dos entes federados, envolvendo o dever-poder conjunto do Poder Público e da Coletividade (Estado e Sociedade) incentivando a participação dos diferentes grupos sociais na formulação e execução da política do ambiente.

Podemos verificar a implementação do mecanismo de gestão cooperada, com a devida participação da comunidade, no direito de petição ao Poder Público; na possibilidade de realização de audiências públicas; na formação de órgãos colegiados (Conselhos); na conquista e na manutenção da soberania popular, através do sufrágio universal, plebiscito, referendum, e no direito constitucionalmente consagrado de acesso à justiça.

Não podemos, por via de conseqüência, olvidar que o princípio da participação pressupõe o direito da informação65, pois com o acesso às

informações necessárias, a comunidade tem condição mais eficaz de atuar sobre a sociedade, de formar uma melhor mobilização para atender a seus anseios e ideais. Além, é claro, de já ter-se feito parte ativa das decisões de assuntos que lhes interessem e que lhes afetem diretamente.

É necessário lembrar que, quando trabalhamos com Desenvolvimento Sustentável, a luta não é fácil, todavia, pode ser compensatória quando se dispõe dos mecanismos e das pessoas certas. Por isso, é que se requer transversalidade dos setores e interdisciplinaridade de seu quadro de atuantes. Há de carregar a bandeira e não o fardo, pois com esses instrumentos, otimismo e perseverança, acreditar que desenvolver-se economicamente com proteção ambiental seja possível. Por fim, de posse das reflexões aqui expostas, somadas ao juízo de valor do leitor, será possível imaginar um interessante cenário ambiental de uma sociedade cada vez mais pró-ativa, em que a juventude, fundada em valores ambientais, seja capaz de realizar sensíveis e concretas mudanças. A sociedade democrática de hoje é fruto de uma luta da juventude das décadas de 60 e 70, que não se resignaram em apenas ver e ouvir, mas, sim, que foram enzimas e catalisadores de uma Terra em Transe.

65 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina – prática – jurisprudência – glossário. São