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Renan de Almeida Gonçalves Membro do Coletivo Jovem do Meio Ambiente de Roraima Coordenador do Voluntariado do Lar Fabiano de Cristo em Roraima renan_dealmeida@hotmail.com

Muito se fala sobre a criação de políticas públicas para a juventude, com a valorização de espaços democráticos, que possibilitem a inclusão social dessa parcela da sociedade, que cada vez mais surpreende por suas iniciativas e senso crítico.

Os jovens, hoje, não acreditam mais naquela velha estória de que são “o futuro do país”, essa expressão é vista por nós como uma forma cômoda de as pessoas jogarem as suas responsabilidades nas nossas costas. O que acreditamos de verdade e na prática é que somos o presente, que o tempo é feito de momentos; que são convencionalmente chamados de presente, passado e futuro. Portanto a linha de ação que seguimos e acreditamos é a de que a sobrevivência e a qualidade de vida das futuras gerações dependerão do que estivermos fazendo aqui e agora.

Seria uma utopia achar que toda a juventude pensa assim, mas uma utopia é sempre um desafio; podemos não alcançá-la nunca, mas na tentativa de chegar a ela, nós caminhamos para frente, vivenciando novas experiências e oportunidades que nos engrandecem como seres humanos.

Quando eu comecei a me interessar pela temática ambiental, logo a abracei e me apaixonei pela causa. Não foi amor à primeira vista, por que depois que se mergulha no conhecimento, no sentido holístico da questão ambiental, percebe- se que desde que nascemos somos responsáveis pelo ambiente em que vivemos. Mas foi no 1° ano do ensino médio, quando eu estudava no Centro Federal de Educação Tecnológica de Roraima (CEFET-RR), que descobri que a minha responsabilidade ultrapassava as barreiras e amarras do teórico, não podia se limitar a discursos bonitos e bem ditos. Primeiramente, acreditar que eu poderia

fazer a diferença era o meu primeiro desafio, pois o compromisso de mobilizar os demais dependia da minha atuação.

E nesse início, digamos de “militância”, uma instituição teve um papel fundamental: a escola. Foi na escola, na companhia de professores e alunos, num ambiente propício ao debate, a explicitação de problemas e pactuação de soluções, que eu encontrei meus referenciais.

A escola foi onde encontrei apoio e incentivo para a elaboração de projetos e campanhas, foi onde arrumei boas brigas, brigas que me propiciaram crescimento intelectual, por que não eram físicas, eram ideológicas.

Nesse turbilhão de idéias, onde se fazia necessária à criação de mecanismos que facilitassem a captação do capital financeiro, algo despontava como indispensável, o capital social. Era necessário que outros jovens abrissem a mente, ao invés do bolso, para a realidade gritante que assombrava e assombra ainda nosso planeta.

Durante esse processo de sensibilização de outros jovens, foi possível perceber que eu não era o único e nem a exceção, que a juventude está por dentro do que acontece no mundo, e sabe muito bem o que quer, e sua responsabilidade perante a situação e as falhas do sistema vigente.

A questão ambiental para o jovem de hoje, um jovem que sofre com o desemprego, com o preconceito, com a violência, com a falta de perspectivas, vai muito mais além do que a proteção das florestas. Vai ao encontro do desenvolvimento sustentável, a geração de emprego e renda, ao combate às disparidades regionais, ao respeito à diversidade étnica e racial e principalmente à elaboração de políticas públicas, sérias e responsáveis para a juventude.

E não precisa ser doutor para saber que não há outro meio de se alcançar tudo isso senão a educação. Enquanto a educação não for vista e reconhecida como instrumento de transformação social, nossos jovens continuarão mergulhados nas drogas e se matando por questões banais.

Desde os anos 50 que investimos na economia para conseguir a educação e a justiça social. Enquanto outros países, que estavam na mesma situação que o Brasil, investiram em educação e já conseguiram o desenvolvimento econômico e a justiça social. Acredito que a primeira fase, do “cair em si”, já passou faz tempo.

A cobrança deve ser feita às autoridades, mas isso não diminui nem um pouco a nossa responsabilidade como sociedade civil. O momento não é de identificação dos culpados, por que esses já sabem quem são: Somos todos nós. O momento é de unir forças, governo e sociedade, enxergando o jovem como agente de transformação social.

A realização da I Conferência Nacional do Meio Ambiente foi um marco. Segundo o ministério da educação, cerca de seis milhões de pessoas em todo o país fizeram das escolas, espaços de debates, de críticas e de empenho na luta não só por um Brasil, mas por um mundo melhor.

A melhoria da qualidade de vida no meio urbano e rural, o acesso ao saneamento básico, o uso responsável dos recursos hídricos, a criação de uma infra-estrutura capaz de conciliar interesses diversos e a preservação da nossa fauna e flora estavam na pauta de crianças, jovens e adultos que pararam para refletir sobre seu comportamento e conduta frente à problemática ambiental que enche de dúvidas e incertezas a continuidade do ciclo da vida no planeta Terra. E o resultado de toda essa mobilização pode ser visto em todos os Estados brasileiros, nós jovens que participamos e contribuímos para a construção desta rede de ações, demos continuidade à transversalidade da educação ambiental, uma educação que é mais prática que teórica, que começa de dentro pra fora, porque a educação da alma é a alma da educação.

Depois de tanto ver jovens como eu, de diferentes etnias, posições sociais, escolaridades e experiências de vida, olho para expoentes como Chico Mendes, e imagino o que teria ele feito, se em plena juventude lhe fossem oferecidas maiores oportunidades.

O Brasil não pode permitir que a sua juventude seja dragada pela incoerência e desesperança, e essa mola impulsora do poder local não pode ser corroída.

A juventude está aí por esse país continental, dando exemplo de responsabilidade sócioambiental e de ética pública e política. São milhares as iniciativas de jovens que juntos trabalham por um futuro mais digno, que lutam por seus direitos, cumprem seus deveres e dão verdadeiras lições de vida, mostrando que o futuro começa agora e a mudança é já.

Não podemos mais esperar que as coisas aconteçam a nosso favor, sem que nos mexamos e corramos atrás daquilo que é bom para mim e para meu próximo. Se não compreendermos que vivemos em um coletivo, passaremos o resto da vida cobrando no outro o que falta em nós.

Por isso a necessidade de políticas públicas para a juventude, num conjunto sistêmico capaz de diagnosticar a problemática com ênfase na realidade local de cada um. O passado nos mostra um grande número de programas e projetos que tentaram impor soluções generalizadas sobre contextos específicos, que não tiveram a participação dos mais interessados na questão que são os próprios jovens.

Uma política de inclusão, que não contemple a participação do jovem em sua elaboração é no mínimo fantasiosa e ineficaz.

Nós jovens precisamos ser encarados como cidadãos ativos. Cobramos uma gestão participativa de ambas as esferas de poder, porque quem conhece a realidade de nossa escola, de nosso bairro e de nossa rua somos nós que moramos lá e convivemos com a realidade local, seja ela qual for.

O consumo está aumentado. Nossos rios, plantas e animais estão sendo destruídos, e junto com eles a vida. Será que isso não é importante? Será que o jovem não tem idade pra debater essas questões? Ou será que a preocupação

e o engajamento de jovens nas ações em defesa da vida incomodam aqueles que esperam o Messias surgir com um cargo e um milagre institucional?

É hora de pensar em como aproveitar essa massa social que se organiza para o enfrentamento da dura realidade do nosso país e nosso mundo.

O acesso à informação é cada vez mais facilitado, as novas tecnologias que nos mostram com eficácia os riscos de nossa conduta e manejo com os recursos naturais, não são capazes de reparar completamente os danos causados, podem maquiar, mas recriar a obra divina, isso o homem jamais poderá fazer.

E mesmo com todo esse conhecimento, e a certeza que é indiscutivelmente mais barato evitar e educar do que remediar, nossa sociedade ainda espera para ver o que vem por aí.

A situação atual do Brasil é preocupante, e da juventude brasileira mais ainda. A urgência de uma política pública para a juventude, que contemple suas necessidades e seus potencias de engajamento é fato, e o povo brasileiro começa a despertar para essa sensibilização.

Não há mais tempo para politicagem, precisamos do envolvimento de todos em torno de uma política socioambiental que contemple a diversidade do povo brasileiro.

A juventude clama por mudanças, e se mostra comprometida com o trabalho e a ação voluntária, que se espalha pelo país numa corrente de solidariedade, que contagia cada vez mais jovens, tornando-os verdadeiros cidadãos, conscientes de sua condição humana.

O Brasil é um país com um potencial natural fantástico, com perspectivas de futuro que não se comparam a outras regiões do planeta. O que falta é o povo brasileiro perceber que voluntariado não é perda de tempo, nem falta de ter o que fazer. É exercício pleno de cidadania e amor pelo Brasil.

Nosso país vem acompanhando, de várias formas, o processo de mudanças ocorridas no mundo, sobretudo, instituindo mecanismos legais que possibilitam a implantação de políticas públicas básicas descentralizadas, com a participação, o controle e a gestão da comunidade.

A juventude clama por educação, saúde, cultura, emprego e renda, respeito e direito à vida, não é nada que a constituição federal já não nos assegure, porém, o essencial nesse momento é darmos continuidade a essa marcha sensibilizadora, que alerta para a construção de um futuro que já começou.

NEM À ESQUERDA, NEM À DIREITA, PARA FRENTE.