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TRAJETÓRIA METODOLÓGICA: delineando a pesquisa empírica

3.1 A importância da pesquisa em Educação

Este estudo está inserido no âmbito da pesquisa em Educação, por isso, antes de delineá-la é importante situá-la nesse universo. De acordo com André (2001), nos últimos 20 anos, ao mesmo tempo em que se observa um aumento das pesquisas na área de Educação no Brasil, devido principalmente à expansão da pós-graduação, observam-se muitas mudanças, seja nas temáticas e problemas, seja nos referenciais teóricos, seja nas abordagens metodológicas e nos contextos de produção dos trabalhos científicos.

Os temas ampliaram-se e se diversificaram, assim como também os enfoques dado às pesquisas também sofreram alterações consideráveis, principalmente nos anos 1980 e 1990. As abordagens metodológicas também tomaram novos rumos.

Ganham forças os estudos chamados de qualitativos, que englobam um conjunto heterogêneo de perspectivas, de métodos, de técnicas e de análises, compreendendo desde estudos do tipo etnográfico, pesquisa participante, estudos de caso, pesquisa-ação até análises de discurso e de narrativas, estudos de memória, histórias de vida e história oral (ANDRE, 2001, p. 54).

De acordo com a pesquisadora, até as décadas de 1960 e 1970, o interesse das pesquisas em Educação era focado em situações controladas de experimentação, do tipo laboratório. A partir das décadas de 1980 e 1990, dá-se maior atenção a situações reais do cotidiano da escola e da sala de aula.

Surge a rica controvérsia sobre os limites do positivismo devido a seu reducionismo quantitativo e à exclusão da subjetividade na sua pretensão de rigor matemático e de objetividade, contido na receita de tratar os fenômenos sociais e humanos como se fossem objetos físicos. Daí a necessidade de alternativas metodológicas e essa pretendida física social de “matematizar” os atos humanos e sociais (GAMBOA, 2003, p. 394).

Até então, o pesquisador era um sujeito de fora, nos últimos dez anos percebe-se uma inversão no modo de investigar. Há uma grande valorização do olhar de dentro, fazendo surgir muitos trabalhos em que se analisa a própria experiência do pesquisador. É o que se aplicou nesta pesquisa, que tinha como foco verificar a prática docente no ensino superior do curso de graduação em Jornalismo, que partiu da experiência da própria pesquisadora, que atua e vivência de perto os conflitos e problemas que foram discutidos nesta pesquisa.

De acordo com André (2001), para que uma pesquisa em Educação obtenha o sucesso desejado é preciso que o trabalho seja devidamente planejado, que os dados sejam coletados mediante procedimentos rigorosos, que a análise seja densa e fundamentada e que o relatório descreva claramente o processo seguido e os resultados alcançados. É de fundamental importância que as pesquisas em Educação apresentem relevância científica e social, ou seja, “que estejam inseridas num quadro teórico em que fique evidente sua contribuição ao conhecimento já disponível e a opção por temas engajados na prática social” (ANDRÉ, 2001, p. 59).

É o que se pretendeu com esta pesquisa sobre a prática docente no curso de Jornalismo. Por meio de um trabalho científico, se quer influenciar a prática social daqueles professores considerados sujeitos dela. Depois da discussão sobre a Docência Universitária de uma maneira em geral, o objetivo é conhecer o perfil dos professores que atuam no curso de Jornalismo de todas as universidades federais e estaduais que ofertam tais cursos.

Assim, foi preciso que a análise dos dados levantados tenha sido densa e fundamentada, trazendo evidências ou provas das afirmações e conclusões. “Consideramos que deve ficar evidente o avanço do conhecimento, ou seja, o que cada estudo acrescentou ao já conhecido e sabido” (ANDRÉ, 2001, p. 59). Por isso, esta pesquisa se atentou a um trabalho minucioso, para que se pudesse contribuir consideravelmente para o conhecimento da área da Docência Universitária, apresentando novos dados sobre a prática docente do professor jornalista no curso de graduação em Jornalismo no panorama de todas as universidades estaduais e federais brasileiras.

É importante considerar a produção do conhecimento científico como um processo de construção coletiva. De acordo com Alves-Mazzotti (2001), há uma despreocupação cada vez

maior, por parte dos pesquisadores, em situar o problema proposto no contexto mais amplo da discussão acadêmica sobre o tema focalizado.

Nesses casos, a impressão que se tem é a de que o conhecimento sobre o problema começou e terminou com aquela investigação, configurando uma espécie de narcisismo investigativo. Ao não situar o problema na discussão mais ampla sobre o tema focalizado, o pesquisador reduz a questão estudada ao recorte de seu próprio estudo, restringindo, assim, o número de interessados em seus resultados, o que contribui decisivamente para dificultar sua divulgação (ALVES-MAZZOTTI, 2001, p. 42).

Por isso, esta pesquisa teve a preocupação em contribuir não apenas para a área da Educação, mas também para os estudos em Comunicação. Pesquisas sobre a prática docente nos cursos de Comunicação Social ainda são muito tímidas e pouco se discute sobre a importância das competências pedagógicas para o ensino comunicacional.

A preocupação deste trabalho é de não apenas avançar nos estudos sobre as Concepções de Docência Universitária e o ensino superior no Brasil, mas também para situar professores de Jornalismo sobre o problema em questão, já que, na área da Comunicação, as pesquisas centram-se mais no processo que envolve os limites comunicacionais.

Sabe-se que na pesquisa em Educação, muitos paradigmas diferem entre si quanto à utilização de teorias. Os argumentos usados para defender cada uma das posições são coerentes com as raízes epistemológicas que as propõem. A que se usou nesta pesquisa diz respeito às concepções pós-positivistas e teórico-críticas, em que valorizam a utilização da teoria para a formulação de hipóteses e para a identificação de categorias de análise. Tais concepções argumentam que:

Dificilmente um pesquisador inicia sua coleta de dados sem que alguma teoria esteja orientando seus passos, mesmo que implicitamente, e, nesse caso, é preferível torná-la pública. Alertam ainda que, a ausência de focalização e de critérios na coleta de dados frequentemente resulta em perda de tempo, excesso de dados e dificuldade de interpretação (ALVES- MAZZOTTI, 2001, p. 43).

Para a construção, o instrumento de pesquisa, as categorias desejadas e abordar um estudo mais aprofundado foram necessários conhecimentos teóricos acerca do tema, no caso, a Docência Universitária. Com esse conhecimento prévio, foi mais fácil situar o problema de pesquisa e delinear os caminhos seguidos por ela.

É o que Alves-Mazzotti (2001) complementa ao afirmar que se o pesquisador está lidando com um fenômeno social sobre o qual já existe um conhecimento acumulado por outras pesquisas realizadas em contextos parecidos, a utilização desse referencial teórico

ajuda a focalizar hipóteses e questões a serem investigadas e até mesmo ajuda na análise dos dados, evitando que o pesquisador se perca em muitas informações das quais não conseguirá extrair significado algum.

Não podemos abrir mão do compromisso com a produção de conhecimentos confiáveis, pois só assim estaremos contribuindo, tanto para desenvolver o instrumento teórico no campo da educação como favorecer tomadas de decisão mais eficazes, substituindo as improvisações e os modismos que têm guiado as ações em nossa área. Nesse sentido, a busca da relevância e do rigor nas pesquisas também é uma meta política (ALVES-MAZZOTTI, 2001, p. 49).

Assim, este trabalho procurou construir uma ideia de cientificidade, preocupado com o rigor e o método científico, levando-se em consideração todos os critérios já discutidos anteriormente sobre a seriedade da pesquisa em Educação. O intuito foi o de proporcionar uma aplicabilidade dos conhecimentos na área da Educação por meio de desenvolvimento de teorias acerca do tema, seleção adequada de procedimentos e instrumentos, da análise interpretativa dos dados, de sua organização em padrões significativos, da comunicação precisa dos resultados e conclusões e da sua validação pela análise crítica da comunidade científica.