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A IMPORTÂNCIA DE VARIAR AS ESTRATÉGIAS

CAPÍTULO 2 ESTRATÉGIAS DE ENSINO DE LEITURA NAS AULAS DE

2.4 A IMPORTÂNCIA DE VARIAR AS ESTRATÉGIAS

Um bom diálogo entre educador e educandos pode fazer brotar, em um profissional consciente, a necessidade de repensar as estratégias utilizadas em sala de aula.

Além disso, não há, hoje, como um professor ministrar suas aulas sem levar em consideração que seu aluno, provavelmente, terá, em um dos bolsos, um celular cheio de jogos e, no outro, um MP3 player. Uns com variedades mais sofisticadas e outros, os alunos mais carentes, com versões mais simples e até mesmo piratas.

A tarefa é fazer com que o aluno assista à aula e tenha prazer na mesma, tendo a forte concorrência de equipamentos que, de tempos em tempos, ficam cada vez menores e melhores.

Muitos docentes afirmam ser a concorrência injusta, porém o problema é outro. O professor não pode se comparar a um equipamento eletrônico. Ao longo do processo ensino-aprendizagem, o educador é um elemento fundamental, principalmente na Educação Básica na qual a formação não envolve apenas os conhecimentos científicos e acadêmicos. É claro que existem alunos autodidatas, mas esse não é o perfil geral dos alunos.

O que um educador sábio faz é alterar as suas estratégias para que a aula não caia na monotonia, que faz tantos alunos não se interessarem por ela. Inúmeros professores reclamam que seus discentes utilizam o celular durante a aula. Porém, isso, normalmente, acontece quando estão sendo propostas atividades enfadonhas e repetitivas. As aulas somente expositivas, por exemplo, podem ser um desestímulo completo para uma criança e para um adolescente.

Poucas pessoas gostam de fazer sempre as mesmas coisas, de ter uma rotina que não se altera e de realizar tarefas por obrigação, sabendo, às vezes, que elas pouco farão diferença na vida prática de cada um.

O mesmo acontece no ambiente escolar. Talvez por uma questão de comodidade ou costume, certos docentes ministram as aulas de uma única forma

dia após dia, sem propor atividades que suscitem a curiosidade ou que desafiem os alunos.

Não há pior quadro do que esse. A esterilidade do universo escolar pode prejudicar todo o período letivo de um aluno, fazer com que o mesmo perca o gosto pelo estudo, afaste-se da leitura e deixe de perceber a importância de uma sólida formação acadêmica.

Muitos discentes tornam-se desmotivados porque têm aula com professores desmotivados. Encontra-se nesse ponto a importância de se variar as estratégias usadas ao longo das aulas.

Também é interessante comentar que, em um primeiro momento, é muito comum culpar os cursos de formação por essa lamentável realidade. Não são poucos os professores que dizem não propor atividades diferentes a seus alunos porque não aprenderam nada de inovador enquanto eram alunos dos cursos de licenciatura.

Entretanto, habitualmente, o que se vê na prática é que as mudanças que ocorrem na dinâmica da aula de muitos professores não são fruto de uma apropriação direta de informações transmitidas por meio de cursos, livros ou revistas.

Marc Weisser, citado por Albuquerque (2006, p. 15), explica essa realidade dizendo que

os saberes não são o fruto de uma transmissão, mas de uma apropriação e de uma produção; eles são ligados ao autor profissional e à sua pessoa. A formação do professor tomará não o aspecto de uma transferência de conhecimentos descontextualizados, mas uma reinterpretação de um discurso pedagógico próprio a cada um dos formados.

Isso significa que cada um reinterpreta, ou pelos menos deveria reinterpretar, o discurso pedagógico que recebe nos cursos de formação para encontrar a própria e mais adequada forma de ministrar a sua aula, levando em consideração a realidade escolar na qual se está inserido. Observa-se, por exemplo, a infraestrutura

escolar, as possibilidades de cada aluno, a realidade da região que circunda a escola e a proposta pedagógica utilizada.

Todos esses fatores influenciam na montagem das atividades a serem desenvolvidas ao longo do ano letivo. Todavia, a postura do docente tem um papel de destaque nesse processo na medida em que o professor não deve se conformar com situações difíceis presentes no ambiente escolar. É muito fácil culpar os cursos de licenciatura. É mais simples, mais cômodo e menos trabalhoso.

Aliás, às vezes, o contexto é precário porque, justamente, ano após ano, os professores deixaram de se importar com o cotidiano da escola, não solicitaram mudanças, manutenção ou compra de equipamentos, afastando-se, assim, dos alunos. São esses mesmos profissionais que desvalorizam e até mesmo ironizam a importância da formação continuada.

A utilização de variadas estratégias de ensino conduz a uma aprendizagem integrada, capaz de estabelecer novos significados sobre o mundo ao mesmo tempo em que desenvolve habilidades, valores e competências.

O educador consciente da sua tarefa não deve esperar por estratégias milagrosas. Deve, sim, refletir, discutir com os colegas, criar propostas, desenvolver projetos e avaliar os resultados.

No caso das aulas de leitura, foco desta pesquisa, o docente não pode, por exemplo, solicitar uma leitura sempre da mesma maneira. Diversos professores escolhem um livro, às vezes, até mesmo sem lê-lo, colocam o nome da obra na lousa e pedem para que os alunos o adquiram o mais rápido possível porque haverá uma avaliação escrita, frequentemente, com perguntas e respostas rápidas, sobre a narrativa em questão.

Cansados do mesmo instrumento de avaliação que é usado desde os primeiros anos da vida escolar quando o objetivo é verificar a leitura de um livro paradidático, os discentes optam por burlar a proposta, procurando um resumo ou uma análise da obra na internet. O questionamento que fica, então, é o seguinte: quem agiu de forma insatisfatória? O professor que aplica sempre a mesma proposta ou o aluno que não aguenta mais o mesmo tipo de atividade e que não consegue enxergar outros objetivos com a leitura obrigatória?

Ao utilizar tal proposta de trabalho, tão exaustivamente usada pelos professores, a leitura perde o seu valor. O prazer pelo ato de ler não existe e o aluno sequer gasta seu tempo folheando algumas páginas:

Os professores, na qualidade de profissionais da educação, poderiam apelar para o verso de Drummond: “Teus ombros suportam o mundo.”12 No entanto, seguidamente, se questionam sobre a natureza de seu ofício, ao interrogarem a si e a seus colegas sobre o que deve a escola oferecer. Relativamente à leitura, que ocupa a base do ensino e da qual se espera tanto, a pergunta talvez seja: que tipo de leitura caberia à escola estimular? (ZILBERMAN & RÖSING, 2009, p.13)

Para maior resultado formativo, recomenda-se ao docente flexibilidade para mudar o rumo da ação, já que estratégias, por si, têm o caráter de incerteza e imprevisibilidade, próprios dos processos humanos presentes no cotidiano escolar e extraescolar.

Foi a partir dessa preocupação com a repetição dos instrumentos de avaliação que verificam a leitura de um livro paradidático que nasceu a proposta de trabalho geradora desta pesquisa.

Surgiu, então, a ideia de averiguar a leitura de um livro por meio da reescrita virtual da obra em questão. Além da mudança de ambiente educacional na medida em que a proposta ocorrera no laboratório de informática, as mídias digitais foram usadas a favor no processo de busca pelo prazer durante o ato de ler.

É essa proposta de trabalho que será descrita, passo a passo, no próximo capítulo.

12

ANDRADE, Carlos Drummond de. Os ombros suportam o mundo. In: _________. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 80.

CAPÍTULO 3 - REESCRITA DE OBRAS POR MEIO DE MÍDIAS DIGITAIS: