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MARINHO I. P Sistemas e Métodos da Educação Física: recreação e jogos 4 ed São Paulo: Cia Brasil, 1958.

INÍCIO DO TÓPICO 1: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA GINÁSTICA ARTÍSTICA

Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a)! Falaremos neste tópico sobre a Ginástica Artística (GA). Para que você compreenda como esta modalidade se estruturou, trataremos sobre a sua história e evolução, trazendo o contexto e os nomes que contribuíram com suas ideias e resultaram em uma prática gímnica com características próprias. Em seguida abordaremos as características da GA, falando sobre seus aparelhos e elementos corporais presentes na modalidade.

1.1 Considerações históricas e evolução da Ginástica Artística

A Ginástica Artística (GA) é conhecida pela presença de força, agilidade, movimentos de rotação no ar e realização de diferentes exercícios em aparelhos de grande porte. Essas características se dão pela forma com que essa modalidade surgiu, mediante a situação de conflito entre nações e a necessidade de reerguer um país derrotado.

Segundo Publio (2005), a Batalha de Jena foi o principal acontecimento para o surgimento dessa modalidade, já que, depois de muito evitar um confronto entre França e Prússia, o rei Frederico Guilherme III percebeu que a guerra seria inevitável e enviou um ultimatum a Paris em 26 de setembro de 1806. Neste comunicado ele exigia a imediata retirada das tropas francesas do território da Prússia, no entanto esse recado só foi recebido por Napoleão em 7 de outubro, já em Bamberg, na Prússia. O que foi tarde demais, porém mesmo assim os oficiais prussianos não acreditavam que os franceses tivessem condições de enfrentá-los em campo aberto e tinham a certeza de vitória. Como o planejamento prussiano foi inadequado e a desorganização foi grande, quando perceberam a Prússia já havia sido derrotada e, para agravar ainda mais a

situação, a Corte de Berlim não tinha tomado nenhuma precaução para prevenir as consequências de um fracasso. Nas palavras de Publio, “o que deveria ser uma ofensiva prussiana transformou-se em uma derrota vergonhosa.” (PUBLIO, 2005, p. 15).

Com essa derrota, Johann Friedrich Ludwig Cristoph Jahn, conhecido como o “Pai da Ginástica”, buscou incitar a mocidade prussiana a se preparar fisicamente a fim de expulsar o exército invasor. Segundo Publio, “o trabalho de Jahn foi sem dúvida a ‘célula mater’ da Ginástica Olímpica (gymnastique artistique), também denominada Ginástica Artística, Ginástica Desportiva ou Ginástica de solo e de aparelhos.” (PUBLIO, 2005, p. 16).

Publio (2005) destaca que Jahn lecionava num instituto e era o responsável pelas saídas bissemanais dos alunos para uma área sem cultivo e arborizada chamada Hasenheide (Paradeiro das Lebres), local em que ocorriam batalhas simuladas. Para Jahn, o caminhar, o saltar, lançar, sustentar-se são exercícios gratuitos como o ar e podem ser praticados em qualquer lugar, além do que, isso o Estado pode oferecer a todos - pobres, ricos, classe média, - tendo cada um sua necessidade.

Com essa proposta, Jahn inaugura em julho de 1811 o primeiro local de prática ginástica ao ar livre, o hoje denominado Volkspark Hasenheide (Parque do Povo). Nesse local eram praticados movimentos de preparação do corpo utilizando galhos de árvores, troncos para suspensões, volteios e movimentos que naquela época já indicavam o que seria a Ginástica Artística de hoje. O movimento criado por Jahn era tão forte e buscava tanto um caráter nacional que a palavra gimnasia foi substituída por turnkunst, por considerá-la de origem alemã. Publio (2005) afirma que palavras como: turnen = praticar ginástica; turnplatz = local de Ginástica; turner = ginasta; voltigieren = balançar, voltear; torner = lutar, brigar; turntag = dia da ginástica; e turnkunst = arte ginástica, foram inventadas por Jahn e tornaram-se verdadeiros termos técnicos da ginástica em aparelhos na Alemanha.

O turnen era pautado por um objetivo moral: como alcançar a autoconfiança, autodisciplina, independência, lealdade e obediência. Metas essas que deveriam ser atingidas por meio de atividades completas e informais.

Era indiscutível o perfil de liderança de Jahn e as qualidades de um bom professor. Para Publio, “a finalidade de sua obra era incentivar a união desmembrada Alemanha e despertar o sentimento patriótico do homem alemão, preparando-o para a revanche.” (PUBLIO, 2005, p. 17).

O movimento criado por Jahn cresceu muito, e em 1815 a Prússia é reerguida e a prática do Turnen amplia-se, abrangendo cada vez mais jovens e adultos. Os alunos foram divididos em idade, categoria e capacidade, estabelecendo-se uma hierarquia.

Jahn introduziu inúmeros aparelhos, alguns já conhecidos e outros de sua própria invenção e adaptação. Segundo Publio (2005), a barra horizontal (embora já conhecida) foi introduzida e tornou-se popular no playground de Jahn. As paralelas surgiram lá, mas não se sabe quem as inventou. O que se sabe é que foram criadas para desenvolver a força dos braços e do corpo em exercícios de volteio (giros no cavalo).

Publio (2005) salienta que, após as guerras napoleônicas, Jahn mantinha- se fiel à sua raça, desenvolvendo as sociedades de ginastica alemãs. A Alemanha inovava e tomava gosto pelas demonstrações de massa (destacou- se a presença de seis mil ginastas no primeiro festival, organizado em Berlim, em 1861).

No entanto, todo esse sucesso sofreu um grande abalo visto que, como nos sinaliza Publio: (2005, p. 19)

Os grandes mestres firmavam-se muitas vezes na oposição. O exemplo de Jahn e dos acontecimentos considerados como revolucionários tiveram influência muito grande em vários países da Europa. Aplicando, de início, os princípios de Pestalozzi, ele convence a juventude a praticar a Ginástica; fortalecendo-lhes um ideal heroico, o gosto pelo esforço e pelo risco, o hábito da obediência voluntária e o senso das antigas tradições da nação. Com a guerra ganha, passa a ser malvisto. Todavia, o impulso que ele havia imprimido a sua organização foi tal que nenhum obstáculo conseguiu diminuir-lhe o ímpeto. Seu dinamismo era tão extraordinário que não se esgotou, mesmo com a queda do Império napoleônico, mas seu trabalho em favor da unidade alemã o leva a situações delicadas. As ligas políticas foram interditadas e a censura, na Imprensa, orientada para que não agitasse a questão (1816). Em 1818, o Turnen foi considerado revolucionário e demagógico: tratava-se do ‘abcesso’ maligno que era preciso extirpar. Outubro de 1818 foi o último mês em que foi permitido

praticar Ginástica, tendo seu reinício, em 1819, sido proibido pelo governo prussiano (bloqueio ginástico) (PUBLIO, 2005, p. 19).

Como toda essa situação, muitos ginastas e instrutores foram perseguidos, e Jahn foi vítima de ‘perseguição pedagógica’, sendo detido em 1819 por cinco anos pela acusação de conspirar como revolucionário de direita e de fazer propaganda subversiva à nação.

Porém, a presença do bloqueio ginástico, ao invés de fazer esquecer a Ginástica, fez com que a ela fosse ainda mais divulgada no mundo todo, pois a proibição da prática ginástica na Alemanha levou à emigração de diversos ginastas alemães, que difundiram a Ginástica em todo o mundo.

Em 1842, quando terminou o bloqueio ginástico na Alemanha, a Educação Física passou a ser realizada em recintos fechados, cujo hábito é mantido até os dias de hoje. A partir desse momento, a Ginástica Turnen de Jahn propagou-se rapidamente por toda a Alemanha, acontecendo na escola e sociedade, animada por uma nova e crescente vida.

Jahn faleceu em 1852, mas não demorou para ser reconhecido e, atualmente, para alguns alemães, Jahn permanece como um herói confiável e legendário do passado. Publio, baseando-se nas palavras de Barney (1979), destaca que “a memória de Jahn sobrevive até hoje, por mais de dois séculos, e como o tal, qualifica-o como ‘Pai da Ginástica’ para ser admirado em proporções realmente heroicas.” (PUBLIO, 2005, p. 21).

A influência de Guts Muths, pai da ginástica pedagógica alemã, foi importante para a estruturação dos exercícios propostos por Jahn, uma vez que ele se baseou na obra de Muths, Gimnastik fur die Jugend (Ginástica para a Juventude), de 1973. Segundo Publio (2005), é incontestável a glória de Guts Muths em ser o introdutor da ginástica pedagógico-didática, constituindo-a como a base sistemática que serve de fundamento à ginástica educativa. Todavia, cabe a Jahn o mérito da propagação da Ginástica em aparelhos pelo mundo inteiro.

Com relação ao reconhecimento da modalidade mundialmente, esse momento deu-se em 1952, ano no qual, por ocasião dos Jogos Olímpicos daquele ano, a Ginástica Olímpica passou a ser valorizada como modalidade esportiva. Segundo Publio (2005), foi nesse momento que a ginástica foi reconhecida como esporte, no conceito atual de fenômeno social, com regras previamente definidas quanto ao julgamento, aparelhagem, avaliação dos resultados, número de ginastas por equipes e a Federação Internacional de Ginástica trabalhando lado a lado com o Comitê Olímpico Internacional.

No Brasil, a Ginástica Artística chegou por meio da colonização alemã no Rio Grande do Sul em 1824, lembrando que no período de 1820-1842 ocorreu o “Bloqueio Ginástico” e o Brasil também foi um dos países que recebeu alemães e, consequentemente, a Ginástica.

Entre 1895 e 1942 são criadas sociedades, fundações e federações de ginástica no Rio Grande do Sul, e em 1948 iniciam-se as práticas ginásticas em São Paulo, por meio da Federação Paulista de Ginástica e Halterofilismo. No Rio de Janeiro foi em 1950, na Federação Metropolitana de Ginástica (atual Federação de Ginástica do Rio de Janeiro).

Em 1951 iniciaram-se os campeonatos oficiais de Ginástica, organizados e dirigidos pelo Conselho de Assessores de Ginástica da Confederação Brasileira de Desportos (CAG-CBD), e em 1978 o Estatuto da Confederação Brasileira de Ginástica é aprovado e a Ginástica Artística passa a receber orientações desse órgão, o que ocorre até os dias de hoje.