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O INATISMO ENFRENTA SUAS ALTERNATIVAS

A hipótese inatista sobre a faculdade da linguagem

O INATISMO ENFRENTA SUAS ALTERNATIVAS

Figura 4.4: Para o conexionismo, o aprendizado humano é tão somente o resultado da formação de padrões de comportamento neuronal.

Adaptado de: http://www.prokop.co.uk/Research/LAYMAN/1-brain-intro.html

O INATISMO ENFRENTA SUAS ALTERNATIVAS

A hipótese de Tomasello e a hipótese conexionista representam importantes abordagens alternativas ao inatismo linguístico assumido na linguística gerativa. No entanto, devemos chamar a sua atenção para o fato de que nenhuma das duas abordagens pode ser considerada radicalmente anti-inatista. Como vimos, Tomasello propõe que a “teoria da mente”

seja um traço distintivo dos seres humanos, provavelmente ausente nos outros animais. Para ele, é a posse desse traço que torna pos-sível às crianças, mas não a um chimpanzé, adquirir uma língua natural. Ora, a proposta de Tomasello também deve ser submetida ao problema de Platão. Afinal, de onde viria a capacidade humana de adquirir uma “teoria da mente”? Muito provavelmente, a disposição humana para a “teoria da mente” seja uma dotação natural de nossa espécie.

Não seria isso um tipo diferente de inatismo?

Também o conexionismo não pode ser considerado uma teoria anti-inatista de fato. Se você notou bem o caso da rede neural artifi cial que aprendeu a reconhecer ambientes, talvez tenha percebido que ela possuía muitas informações prévias, isto é, havia nessa rede uma gran-de quantidagran-de gran-de programação “inata”. Uma regran-de conexionista é, na

Sinapses Estímulos

Circuitos neuronais

Percepção do estímulo

AULA

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que a rede precisar ter para ser capaz de aprender com sua experiência.

Por exemplo, a rede que aprendeu a reconhecer ambientes não criou essa capacidade a partir do nada, do absoluto vazio de uma tabula rasa.

Pelo contrário, tal rede foi pré-capacitada com noções fundamentais de geometria, sem as quais o aprendizado não teria sido possível. Ora, com isso estamos dizendo que as redes conexionistas nunca são inatas.

É verdade que todas elas aprendem novos comportamentos a partir da experiência, mas esse aprendizado pressupõe um “programa de aprender”

– justamente como a hipótese inatista propõe. Diante disso, podemo-nos perguntar: se as próprias redes conexionistas nunca podem ser “inatas”, como o cérebro humano o seria?

Por outro lado, a “teoria da mente” de Tomasello e o conexionis-mo são hipóteses radicalmente opostas à conexionis-modularidade da mente. Ambos defendem a ideia de que a linguagem humana emerge da conjugação de diferentes domínios cognitivos não especifi camente linguísticos. Isto é muito diferente das hipóteses do gerativismo, que, como você já sabe, assume que a linguagem é um módulo cognitivo específi co e altamente especializado na informação linguística. Portanto, a principal diferença entre o gerativismo e as suas alternativas apresentadas nesta seção da aula não parece ser o inatismo em si mesmo, mas, sim, a modularidade da mente. Em outras palavras, o inatismo que Tomasello e o conexionismo rejeitam é o inatismo da disposição natural específi ca para a linguagem, mas não qualquer tipo de inatismo.

Você deve estar se perguntando qual hipótese sobre as origens da linguagem humana é a mais adequada. O gerativismo assume que a hipótese inatista esteja na pista correta, sobretudo em sua versão fraca.

Somente a pesquisa genética do futuro poderá confi rmar ou refutar defi nitivamente o nativismo linguístico ou qualquer uma de suas alter-nativas críticas.

Atendem ao Objetivo 2

4. Em que medida a hipótese da “teoria da mente” de Tomasello pode ser considerada contrária ao nativismo linguístico?

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5. Identifi que e descreva as principais semelhanças e diferenças entre a hipótese inatista fraca e o conexionismo.

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RESPOSTAS COMENTADAS 4. A hipótese de Tomasello deve ser considerada oposta ao inatismo de Chomsky porque, segundo ela, não existe nos humanos nenhu-ma predisposição específi ca para a linguagem. As línguas naturais seriam, na verdade, derivadas de outras faculdades cognitivas, como a “teoria da mente”. Assim, você já sabe que a verdadeira crítica de Tomasello se dirige à modularidade do conhecimento linguístico, e não a qualquer tipo de inatismo.

5. Você aprendeu que tanto a hipótese inatista fraca quanto o cone-xionismo afi rmam que o conhecimento linguístico humano emerge no curso da experiência do indivíduo em seu ambiente linguístico.

Ambos afi rmam que, a partir dos estímulos da língua-E, sinapses são estabelecidas no cérebro da criança e, ao cabo de alguns anos, tais conexões darão à luz uma língua-I. A diferença fundamental é que a hipótese inatista fraca assume que existam neurônios espe-cializados em sinapses linguísticas – eles seriam a nossa dotação genética, nossa faculdade da linguagem. Já para o conexionis-mo, não existe tal faculdade da linguagem. Segundo o conexio-nismo, não existem neurônios pré-especializados em nenhum domínio da cognição. Todas as sinapses são criadas exclusivamente em função dos estímulos do ambiente.

ATIVIDADES

AULA

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CONCLUSÃO

Aprendemos, nesta aula, que a hipótese inatista é a resposta for-mulada pela linguística gerativa para dar conta do problema de Platão.

Como vimos, o inatismo linguístico assume que a faculdade da linguagem seja uma dotação biológica exclusiva da espécie humana. Você apreendeu que é com base nessa hipótese que podemos explicar porque apenas os seres humanos são capazes de adquirir e usar normalmente um sistema linguístico regido por regras que combinam diversos símbolos, como fonemas, morfemas, palavras, sintagmas, frases e discursos.

Vimos que o inatismo linguístico é ainda hoje apenas uma hipótese porque cabe à pesquisa genética do futuro descobrir se realmente há, na constituição biológica de nossa espécie, algo especialmente responsável pela nossa notável capacidade linguística.

ATIVIDADE FINAL