• Nenhum resultado encontrado

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 CASO ESTUDADO

4.2.1 Características das Interações

4.2.1.2 Incidência de monitoramento

Outra característica significativa identificada na Formulação do Projeto foi o intenso monitoramento não só do processo de Elaboração do Projeto por parte do órgão central – a SESP –, como também da implementação dos projetos-piloto por parte da Comissão de Trabalho responsável pela concepção do Projeto.

A primeira manifestação do monitoramento na Elaboração ocorreu por meio do controle da SESP sobre as ações dos atores envolvidos no processo durante as reuniões realizadas pela Comissão de Trabalho.

Como relatado na subseção antecedente, o grupo de trabalho se reunia com o intuito de elaborar o modelo de gestão e criar medidas para a atuação conjunta das Polícias, que seriam, posteriormente, instrumentalizadas no Decreto. Conforme mencionado pelo policial militar que compôs a Comissão: “[...] por causa do Decreto da compatibilização, nós tivemos várias reuniões dentro da Secretaria de Segurança” (E1), o que demonstra o controle do órgão central (SESP) sobre a condução da elaboração do Projeto.

Os dados permitem inferir que a necessidade da SESP de dirigir a Formulação encontrou respaldo na conservação da relação formal e intencional estabelecida pela própria Secretaria – outro indicativo da presença da rede formal em SAC (STACEY, 1996a) –, com a finalidade de obter êxito na criação do Projeto. Ademais, sob a presidência da SESP, o conteúdo do Projeto e as regras formuladas para o Decreto demonstrou corresponder à linha de pensamento do Governo sobre a iniciativa de cooperação das atividades entre policiais civis e militares.

Após a publicação do Decreto que, nas palavras de Stacey (1996a) significa a cultura compartilhada ou ideologia aceita pela rede formal em SAC, a SESP implantou dois projetos-piloto: um no bairro Santo Antônio, município de Vitória e, o outro, no bairro Santa Rita, Vila Velha. O objetivo dos projetos-piloto era avaliar a eficácia das medidas por meio da implementação do Projeto. O relato do gerente do Projeto a seguir reforça tal constatação:

E a gente se reunia na SESP para trabalhar esse Decreto. [...] Antes de aplicar em todo o território, a gente ia provar, a gente ia testar para depois ir crescendo até chegar às 23 Companhias na Região Metropolitana, que pega os 4 Batalhões, mais o Batalhão de Guarapari. Então havia um teste, que era o projeto- piloto para ir crescendo e quando consolidado a gente teria toda a estrutura pronta para lidar com a comunidade (grifo nosso, E5).

Os dados também permitiram constatar que, no que concerne ao monitoramento, a Comissão de elaboração do Projeto promoveu a fiscalização dos projetos-pilotos por meio do acompanhamento das medidas de integração das Polícias executadas nos bairros, realizado por servidores componentes da Gerência de Integração Comunitária da SESP, que relatavam suas constatações ao grupo de trabalho. In loco os projetos-piloto eram conduzidos pelos Comandantes de Companhia (Polícia Militar) e Delegados de Polícia (Polícia Civil), também integrantes da rede formal (STACEY, 1996a) – grupo de trabalho responsável pela

Formulação –, que interagiam e mobilizavam reuniões com atores locais e comunidade residentes nos territórios escolhidos como forma de executar as diretrizes do Decreto.

O monitoramento das regiões contempladas pelos projetos-piloto justificou-se pela necessidade de fiscalizar a implantação das atividades compartilhadas entre as Polícias Civil e Militar, bem como o cumprimento das regras formais (WEICK, 1982) formuladas pela equipe de Elaboração do Projeto. Verificou-se, ainda, que a avaliação do desenvolvimento dos projetos-piloto buscava também identificar necessidades de ajustes e adaptações ao Projeto, vislumbrando especificidades e mudanças ambientais – característico de contextos organizacionais complexos, segundo Cilliers (2002) e McDaniel (2007). O relato da presidência da Comissão confirma este entendimento, como pode ser observado a seguir:

[...] porque era gradativo, à medida que a gente ia implantando, a gente ia fazendo avaliações e ia implantando nos outros lugares e fazendo uma reavaliação. Porque pode ser que a gente chegasse lá na frente e falasse assim: Não, mas essa compatibilização dessa região aqui não está muito de acordo, então o modelo precisa ser ajustado para esse bairro (grifo nosso, E2).

Entende-se assim que as reuniões lideradas pela SESP com foco na avaliação do andamento da Elaboração do Projeto e o monitoramento da Comissão sobre a implementação do Projeto nas regiões atendidas pelos projetos-piloto foram importantes nesta etapa de Formulação, não somente para controlar o processo, mas também para subsidiar a manutenção das fortes interações necessárias entre os atores envolvidos, aspecto típico do comportamento linear e padronizado dos elementos em Sistemas Justapostos (ORTON; WEICK, 1990).

Com relação à etapa de Reformulação, em termos de monitoramento, também de maneira idêntica à Elaboração, o MAGISP indicou como atribuição da SESP a responsabilidade pelo controle e supervisão da execução das medidas previstas para a integração entre os policiais civis e militares. Além de indicar esta responsabilidade ao órgão central da segurança pública estadual, o MAGISP estabeleceu uma série de reuniões formais que deveriam acontecer quinzenalmente e mensalmente nos diversos níveis de atuação policial: operacional, tático e estratégico. A finalidade das reuniões era a identificação e análise dos problemas nas regiões do Estado, elaboração de planos de ação, compartilhamento de informações, monitoramento do cumprimento das metas e estabelecimento de ações corretivas (ESPÍRITO SANTO, 2011).

Os dados demonstraram que o MAGISP inovou ao apresentar modelos de Plano de Ação Integrado para as Polícias e de Relatório a ser confeccionado após as reuniões de monitoramento e avaliação realizadas nos distintos níveis de atuação. O Manual direcionava que os Planos de Ação e os Relatórios deveriam ser encaminhados para os níveis gerenciais e para a SESP, o que enaltece a incidência de previsão do monitoramento do órgão superior (SESP) sob os policiais civis e militares, operacionalmente, agentes executores do Projeto. Percebe-se, pois, que os Planos e Relatórios elaborados na Reformulação foram mecanismos criados para aperfeiçoar a fiscalização da implementação do Projeto, reforçando, deste modo, a reflexão de que a etapa de Reformulação baseou-se em uma ótica de linearidade e previsibilidade do contexto, típico de Sistema Justaposto, conforme Weick (1982). É possível ainda mencionar que tais mecanismos de controle, usualmente presentes em modelos de gestão tradicionais, desconsideram a imprevisibilidade, não linearidade e interdependência de elementos em Sistemas Adaptativos Complexos (McDANIEL, 2007).

Na Reformulação, então, embora não tenha tido a aplicação de projetos-piloto, houve a perspectiva de utilização de mecanismos de monitoramento das medidas de integração entre as Polícias por meio de reuniões periódicas a serem realizadas entre os atores sob a supervisão direta do órgão central.

Em suma, as evidências demonstraram que os processos de Formulação e Reformulação do Projeto desenvolveram-se em um contexto determinístico, linear e calcado na justaposição das interações entre os membros. Logo, o intenso monitoramento, nas palavras de Weick (1982), fundamenta-se no fato de que o êxito das ações em sistemas que operam sob esta ótica está diretamente relacionado às interações de natureza forte entre os atores. Quer dizer, tanto na Formulação, quanto da Reformulação, o monitoramento das ações estratégicas influenciou o controle e manutenção das interações justapostas estabelecidas pelos atores, o que, sob a perspectiva dos policy-makers poderia significar no sucesso da implementação do Projeto.