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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 CASO ESTUDADO

4.2.1 Características das Interações

4.2.1.3 Incidência de redes de feedback

Mereceu ainda destaque no processo de Formulação do Projeto a importância significativa das interações entre os membros envolvidos. Isto foi possível por meio das constantes trocas de informações entre os componentes da Comissão de Trabalho e outros

atores governamentais selecionados – é o que Weick (1976) denominou de laços de feedback e para Stacey (1996a) representam redes de feedback. Vale dizer que a SESP exerceu forte influência neste processo devido à formação, liderança e monitoramento da rede de atores, protagonizando a estruturação e articulação das interações entre eles.

Nesta etapa, o modelo de interações do grupo de atores foi, predominantemente, a comunicação formal, ou seja, por meio de reuniões formais entre os componentes da Comissão de Trabalho e demais atores envolvidos no processo. Outra manifestação deste modelo de interações pôde ser observada na comunicação entre os Comandantes de Companhia (Polícia Militar) e Delegados de Polícia (Polícia Civil) das regiões escolhidas como projetos-piloto. Ressalte-se que os atores policiais, além de focarem a interlocução entre si, por meio de reuniões (rede de feedback), buscavam também o estreitamento das relações com as comunidades, adotando o mesmo mecanismo. Conforme relato do policial militar a seguir, o feedback entre os membros do grupo dos projetos-piloto era fundamental, pois representava o momento de compartilhar as experiências desenvolvidas nos distintos locais e o consequente aprendizado – aspecto manifesto em contextos organizacionais complexos, consoante com a abordagem de Campbell Hunt (2007) e elemento de destaque em Sistemas Adaptativos Complexos, conforme McDaniel (2007).

E aí tivemos inclusive reuniões com todo o grupo, Comunidade, Delegacia de São Torquato, Companhia de Santa Rita. Policiais militares e policiais civis se reuniam lá na região de Santo Antônio para discutirem e até mesmo compartilharem percepções. Nós estávamos trabalhando juntos, são projetos-piloto, se der certo a gente vai expandir. A gente estava fazendo intercâmbio e isso era muito positivo para as experiências (grifo nosso, E1).

Ocorre, também, que a rede de feedback, descrita por Stacey (1996), evidenciada pelos laços estreitos ou justapostos (WEICK, 1976) entre os policiais civis e militares envolvidos nos projetos-piloto, e destes com a comunidade local, teve como propósito, nas palavras de Daft e Weick (1984), proporcionar novos insights para o Projeto. Neste caso, os insights representavam os procedimentos adotados em cada projeto-piloto a partir das trocas das experiências, bem como ajustes às regras formais estabelecidas para a integração do trabalho das Polícias.

Cabe evidenciar ainda que a incidência das redes de feedback compostas no processo de Elaboração pretendia aperfeiçoar o objetivo principal do projeto: a integração entre as Polícias. Com isso, a forte articulação e dependência dos atores envolvidos no processo – embora detentores de autonomia profissional –, influenciou, sobremaneira, a interação entre

os membros e o compartilhamento de informações, fato típico aos Sistemas Justapostos nos termos de Weick (1976) e Firestone (1984). E, justamente, em razão da forte articulação e das redes de interações formais promovidas pelos atores, as informações produzidas durante o processo de Formulação eram compartilhadas, e na sequência, realimentavam as demais ações a serem desenvolvidas (STACEY, 1996a).

Com referência à Reformulação, foi previsto no MAGISP que o feedback entre os policiais civis e militares se daria por meio da comunicação entre os atores durante as reuniões de monitoramento e avaliação do cumprimento de metas estratégicas, supondo, assim, igualmente à Elaboração, interações de cunho formal. Observa-se, neste ponto, que a previsão de reuniões formais entre os policiais reforça a indicação de que os grupos de atores (redes) sob fortes interações conduziriam à implementação do Projeto. A interlocução entre os policiais nas reuniões teria como assunto-chave os indicadores e metas estabelecidas para alcance de resultados na redução dos índices de homicídios no Estado.

Portanto, após análise da Formulação e Reformulação do Projeto pode-se inferir que os elementos que nortearam estas etapas guardam similitude com as características de Sistemas Justapostos, elencadas por Weick (1982), quais sejam: regras consensuais, intenso monitoramento e redes de feedback, bem como há evidências de características de Sistemas Adaptativos Complexos, indicadas por McDaniel (2007), durante o desenvolvimento destes processos analisados. Os dados apresentados no Quadro 1 demonstram que estas características fizeram-se presentes e cada elemento manifestou-se nas evidências até aqui explicitadas.

Características Evidências no Processo de Formulação Evidências no Processo de Reformulação

(i) Regras consensuais

▪ Grupo de atores coeso composto estrategicamente (rede de interação

formal); ▪ Definição normativa de regras para a

atuação conjunta das instituições (Decreto). ▪ Equipe de trabalho específica de uma Secretaria de Estado (rede de interação

formal); ▪ Elaboração de documento contendo

medidas a serem implementadas pelas

instituições (Manual).

(ii) Intenso monitoramento

▪ Coordenação do trabalho pelo órgão

central; ▪ Reuniões periódicas de acompanhamento

do processo de elaboração do Projeto; ▪ Fiscalização do desenvolvimento dos projetos-piloto pela Comissão de Trabalho como forma de controle da implantação das atividades compartilhadas entre as

instituições e do cumprimento das regras formais;

▪ Necessidade de manutenção das fortes interações e da relação formal e intencional entre os atores.

▪ Previsão no Manual de reuniões periódicas nos diversos níveis de atuação policial para acompanhamento do

cumprimento de metas e estabelecimento de ações corretivas.

▪ Controle das medidas de integração das instituições (Relatórios e Planos de Ação) pelo órgão central.

(iii) Redes de

feedback

▪ Comunicação formal entre os atores envolvidos na elaboração do Projeto; ▪ Estreitamento de laços entre as instituições e a comunidade e entre os atores envolvidos nos projetos-piloto; ▪ Compartilhamento de experiências entre os atores envolvidos no processo

(aprendizado).

▪ Previsão de comunicação formal entre os atores durante as reuniões periódicas de monitoramento e avaliação de metas.

Quadro 1 – Características das interações nos processos de Formulação e Reformulação do Projeto Fonte: Pesquisa

Com efeito, após apresentação e exposição das características da Formulação e Reformulação do Projeto, os resultados evidenciam que estes processos se basearam em um cenário racional, linear e previsível, onde atores (policiais civis e militares) em cumprimento de regras formais, sob intenso monitoramento e com facilidade de comunicação, seriam capazes de implementar as ações relativas ao Projeto (WEICK, 1976; 1982; ORTON; WIECK, 1990). Tais elementos constatam a existência de um Sistema Justaposto, nos termos de Weick (1976), durante as etapas de Formulação e Reformulação do Projeto.

Entretanto, conforme se entenderá na seção própria ao assunto, as “intenções” tendem a se transformar em “ações” em um contexto diferente daquele em que o Projeto foi construído ou reformulado, onde as interações, formais e informais, têm potencial influência para conduzir aos resultados almejados. Antes, porém, é preciso ainda mencionar que a junção dos elementos: forte dependência entre os atores, coesão do grupo, regras consensuais, monitoramento constante e facilidade de comunicação foram características catalizadoras das interações promovidas pelos atores, em um contexto de Sistema Adaptativo Complexo,

conforme McDaniel (2007), Campbell-Hunt (2007) e Stacey (1996a), mas, não contundentes para a implementação do Projeto, como se entenderá a partir da exposição da subseção seguinte, especialmente dedicada às limitações das interações.