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2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA

2.2 INTERAÇÕES E SUAS IMPLICAÇÕES NA GESTÃO DAS

2.2.1 Interações, Redes de Interações e Redes Sociais

As relações estabelecidas entre agentes organizacionais, entre agentes e outras organizações e entre organizações, têm sido amplamente abordadas na Teoria das Organizações (AGOSTINHO, 2003; ROSSONI, 2006; MEYER, 2007; McDANIEL, 2007; ALCADIPANI; TURETA, 2008; PASCUCI, 2011). As denominações frequentemente utilizadas para tratar destas relações, nas mais diferentes abordagens, tem sido: interações, redes de interações e redes sociais.

Para fins deste trabalho, é importante definir que interações ou rede de interações referem-se às relações estabelecidas pelos indivíduos no contexto social e/ou organizacional, como asseguram Marin e Wellman (2011). Por isso que as nomenclaturas “interações” e “relações” se confundem e, muitas vezes, são usadas como sinônimos textuais.

A abordagem teórica e metodológica de Redes Sociais – considerada em ascensão em se tratando de estudo da estrutura social, segundo Rossoni, Silva e Ferreira Júnior (2008) –, cujo caráter é interdisciplinar, tem origem na Biologia, Matemática, Tecnologia da Informação e Estatística. Suas contribuições têm se disseminado em estudos desenvolvidos na Sociologia, Psicologia Social e Antropologia, por exemplo, de acordo com os autores.

Lazega e Higgins (2014, p. 7-8) definem “rede social” como “um conjunto de relações específicas (por exemplo, colaboração, apoio, aconselhamento, controle ou ainda influência) entre um conjunto finito de atores”. De forma semelhante, Marin e Wellman (2011, p. 11, tradução nossa) afirmam que a “rede social” é “um conjunto de nós socialmente relevantes ligados por uma ou mais relações”. Rossoni (2006), por sua vez, reforça que “redes sociais” são constituídas de um conjunto finito de atores e suas relações.

Para melhor compreensão da perspectiva de redes sociais e redes de interações, alguns dos principais conceitos usualmente adotados em estudos desta área são apresentados a seguir, conforme descrições de Rossoni (2006), Marin e Wellman (2011) e Lazega e Higgins (2014). São eles:

(i) Atores, agentes ou nós: são unidades (indivíduos, organizações) que estão ligados por relações. Constituem foco da análise de redes, cujo objetivo é ter entendimento sobre as ligações e implicações das ligações realizadas por estes;

(ii) Laço relacional ou fluxos: são ligações realizadas pelos atores, baseadas em trocas ou transferências, podendo assumir algumas formas, como o envio de um e-mail, informações, transferência de recursos entre organizações, indicação de um amigo, relação formal e outros tipos;

(iii) Grupo: é a reunião de todos atores e os laços realizados entre estes; (iv) Subgrupo: é um conjunto de atores e os laços realizados entre estes.

A técnica da sociometria, utilizada, nomeadamente, na Sociologia e Psicologia, auxilia o entendimento dos conceitos apresentados. Conforme Granovetter (1973), por meio de

gráfico ou representação visual de redes sociais – denominado de sociograma –, a sociometria busca investigar como os elementos psicológicos (escolhas interpessoais, a exemplo da atração, repulsão, amizade e outros) dos indivíduos relacionam-se com as configurações sociais. É por meio do sociograma que pode-se observar as configurações sociais, definidas e visíveis, e o próprio mapeamento destas estruturas, o que auxilia a compreensão dos fluxos de informações entre atores, as influências, assimetria, reciprocidade e conexões entre atores (ROSSONI, 2006). No sociograma, os indivíduos são visualmente representados por pontos ou nós e os laços, por linhas, arestas ou arcos (PRELL, 2012). Na Figura 1, para exemplificar, o agente A é receptor dos agentes B e D; e, por sua vez, A escolhe relacionar-se com C e D.

Figura 1 - Exemplo de Sociograma Fonte: Prell (2012, p. 22)

Em se tratando de interações ou relações, é preciso existir, no mínimo, uma variável relacional ou estrutural que envolve todos os atores da rede social. Lazega e Higgins (2014) citam três tipos de dados necessários para a elaboração de uma rede social: dados sobre relações, dados sobre atributos dos atores e dados sobre os comportamentos dos atores que podem ser influenciados pela posição destes na estrutura. São três também os níveis de análise da rede, conforme os autores mencionados: individual (foco no indivíduo e seus atributos), relacional (foco nos subgrupos e suas relações) e estrutural (foco nos conjuntos sociais).

Com a evolução do conhecimento da sociometria para a análise de redes sociais (Social Network Analysis), o método de contextualização relacional passou a subsidiar algumas abordagens qualitativas, segundo Marin e Wellman (2011). Os autores relatam que a perspectiva da análise de redes tem como premissa que a vida social é concebida por relações e padrões.

Com destaque para o âmbito dos Estudos Organizacionais, o método de análise de redes sociais, enquanto enfoque metodológico, pode ser utilizado para analisar as interações

entre estruturas formais e informais das organizações, conforme Nelson (1984), autor de um dos primeiros estudos desenvolvidos nesta área no Brasil. Destaca Rossoni (2006, p. 67) que uma das principais contribuições desta abordagem para a Teoria das Organizações é a análise sobre os “relacionamentos e suas implicações” no contexto organizacional. Cabe dizer ainda que os recentes estudos produzidos no país tendo como foco as redes sociais podem ser divididos em dois grupos de interesse (ZANCAN; SANTOS; CAMPOS, 2012): (i) o primeiro entende que as interações entre organizações são alternativas estratégicas à manutenção das organizações e (ii) o segundo compreende estudos sobre as estruturas das relações entre atores e entre redes de atores em âmbito organizacional.

Vê-se assim, pela exposição inicialmente apresentada na seção, que a importância das interações e redes de interações para os Estudos Organizacionais está na compreensão das relações promovidas entre atores e redes de atores (redes de feedback) organizacionais. Particularmente para o presente estudo torna-se relevante destacar as interações na perspectiva dos Sistemas Adaptativos Complexos, pois é justamente por meio das redes de feedback (interações) que os atores componentes em SAC conseguem influenciar a manutenção do sistema (capacidade de auto-organização) e conduzir à evolução do contexto (STACEY, 1996a; PASCUCI, 2011). São, portanto, as interações entre agentes que sustentam as organizações como SAC.