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A INCIDÊNCIA DO SUICÍDIO NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2015 Entre os anos de 2006 e 2015 o Brasil apresentou um considerável

ESTADO DO PARANÁ E NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA/PARANÁ “Qual é, portanto, esse sentimento incalculável que

5.1 A INCIDÊNCIA DO SUICÍDIO NO BRASIL ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2015 Entre os anos de 2006 e 2015 o Brasil apresentou um considerável

número de suicídios, aproximando-se da marca de cem mil casos, conforme apresentam os dados coletados junto ao Sistema Único de Saúde – SUS.

Segundo Botega (2015, p. 52), o coeficiente de mortalidade por suicídio no Brasil “pode ser considerado relativamente baixo, se comparado ao de outros países. A despeito disso, por sermos um país populoso, ocupamos o oitavo lugar entre os que registram os maiores números de mortes por suicídios”.

Estima-se que, nesse lapso temporal de dez anos, 98.194 pessoas tiraram a própria vida no país, sendo que desse total 77.410 correspondem ao sexo masculino e 20.773 referem-se ao sexo feminino, havendo 11 casos de sexo ignorado na construção dos dados primários coletados, conforme construção números absolutos apresentados na tabela abaixo:

Tabela 1 – Número de suicídios no Brasil entre os anos de 2006 e 2015, em razão do sexo da vítima.

Ano Número de ocorrências Homens Mulheres Ignorado

2006 8.639 6.834 1.805 - 2007 8.868 6.995 1.872 01 2008 9.328 7.375 1.953 - 2009 9.374 7.500 1.872 02 2010 9.448 7.375 2.073 - 2011 9.852 7.762 2.089 01 2012 10.321 8.061 2.257 03 2013 10.533 8.309 2.223 01 2014 10.653 8.419 2.233 01 2015 11.178 8.780 2.396 02 Total no período 98.194 77.410 20.773 11

Fonte: Sistema de Informação Sobre Mortalidade – SIM. Departamento de Informática do SUS – DATASUS.

Para que fosse possível a construção de dados consolidados para cada uma das categorias indicadas, foi necessária a mensuração da população brasileira em razão do sexo no período de tempo analisado, o que foi possível de ser realizado por meio de pesquisa junto à base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o qual elabora de modo atualizado as projeções populacionais em razão do sexo e grupos de idade. A tabela indicativa abaixo indica a dinâmica populacional do Brasil entre os anos de 2006 e 2015, em razão do sexo:

Tabela 2 – População brasileira entre os anos de 2006 e 2015, em razão do sexo.

Ano Estimativa geral Homens Mulheres

2006 187.335.137 92.813.167 94.521.970 2007 189.462.755 93.829.262 95.633.493 2008 191.532.439 94.816.963 96.715.476 2009 193.543.969 95.776.055 97.767.914 2010 195.497.797 96.706.703 98.791.094 2011 197.397.018 97.610.297 99.786.721 2012 199.242.462 98.487.258 100.755.204 2013 201.032.714 99.336.858 101.695.856 2014 202.768.562 100.159.507 102.609.055 2015 204.450.649 100.955.522 103.495.127

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Projeção da população por sexo e grupos de idade

A partir dos dados apresentados, confrontaram-se os números de suicídios praticados no país em razão do sexo das vítimas e da dinâmica populacional, possibilitando-se a criação de taxas referentes aos óbitos causados intencionalmente pela própria vítima em razão de um grupo populacional de 100.000 pessoas17, conforme dados indicados:

Tabela 3 – Coeficiente de mortalidade por suicídio no Brasil para cada 100 mil habitantes, entre os anos de 2006 e 2015, em razão do sexo.

Ano Coeficiente geral do país Coeficiente entre homens Coeficiente entre mulheres 2006 4,61 7,36 1,90 2007 4,68 7,45 1,95 2008 4,87 7,77 2,01 2009 4,84 7,83 1,91 2010 4,83 7,62 2,09 2011 4,99 7,95 2,09

17 Os coeficientes de incidência e de mortalidade constituem, no âmbito dos serviços de saúde, as

ferramentas mais importantes para a avaliação do estado de saúde da população com propósitos de monitoramento e vigilância epidemiológica. Para alguns desses indicadores, encontra-se consolidado o cálculo da ocorrência para cada 1.000 habitantes (como no coeficiente de mortalidade geral) ou, como no presente estudo, para cada 100.000 (coeficiente utilizado para casos de mortalidade por causa específica ou para determinadas faixas etárias) (MERCHAN-HAMANN; TAUIL; COSTA, 2000, p. 278).

2012 5,18 8,18 2,24 2013 5,23 8,36 2,18 2014 5,25 8,40 2,17 2015 5,46 8,69 2,31 Média do período 4,99 7,96 2,08 Fonte: Autor.

De acordo com a distribuição de óbitos em razão do sexo, foi possível constatar uma prevalência acentuada de óbitos provocados intencionalmente entre o grupo do sexo masculino (7,96/100.000), quando confrontado com os dados relativos ao grupo do sexo feminino (2,08/100.00). O grupo de homens também se mostrou mais vulnerável às práticas suicidas quando os dados do grupo foram confrontados com os números absolutos do Brasil (4,99/100.000).

Ainda sob esse recorte, é de se considerar que ambos os sexos, seguindo o cenário nacional, apresentaram uma tendência de crescimento de óbitos por suicídio, em especial a partir do ano de 2012, quando o coeficiente do ano no Brasil superou de modo consolidado o índice de 05 óbitos para cada 100.000 habitantes e o índice do sexo masculino superou 8/100.000, mantendo-se de maneira levemente crescente o índice do grupo feminino, o qual acabou por se consolidar em uma proporção de 2/100.000.

Em que pese os dados no Brasil não tragam qualquer indicativo à respeito, o que desde logo representa uma falha no sistema de notificações, deve-se apontar que, de modo geral, os estudos mostram maior prevalência de comportamento suicida em indivíduos homossexuais e bissexuais, principalmente entre adolescentes e adultos jovens. Como fatores combinados para essa prevalência pode-se mencionar o estigma e discriminação sociais, estresse ao revelar a condição a amigos e familiares, agressão pessoais sofridas, dentre outros. Entre indivíduos homossexuais, mais homens tentam o suicídio (BOTEGA, 2015).

Saliente-se que coeficientes nacionais de mortalidade por suicídio escondem importantes variações regionais, em especial no Brasil, que apresenta ao longo do seu processo de construção socioeconômico elementos pluriculturais profundos e complexos e que devem ser considerados para a compressão das lesões autoprovocadas.

No âmbito das ciências sociais, o estudo de Durkheim considera que o suicídio está associado a fatos sociais que transcendem a esfera pessoal,

estabelecendo a compreensão de que um evento que parecia depender unicamente de fatores individuais e psicológicos poderia expressar dissoluções na solidariedade social. A questão imposta, portanto, é que relações podem ser estabelecidas entre as formas de vida social e os atos individuais voltados para abandoná-la (PINTO et

al, 2017). Nesse sentido, mostra-se imperiosa a compreensão da incidência de

óbitos por suicídios a partir da configuração regional dos dados coletados, considerando-se que tal fenômeno pode ser concebido como uma construção social atrelada aos mais variados aspectos da sociedade e de sua dinâmica cultural. Sob esse aspecto, os dados absolutos sobre óbitos por suicídio apresentados em cada uma das regiões do país foram tabulados entre os anos de 2006 e 2015:

Tabela 4 – Número de suicídios no Brasil entre os anos de 2006 e 2015, em razão da região do país.

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2006 478 1.961 3.305 2.131 764 2007 542 2.168 3.226 2.185 747 2008 620 2.202 3.404 2.245 857 2009 593 2.101 3.570 2.279 831 2010 624 2.123 3.735 2.154 812 2011 692 2.297 3.900 2.156 807 2012 694 2.336 4.002 2.357 932 2013 759 2.494 3.959 2.365 956 2014 708 2.393 4.283 2.319 950 2015 881 2.540 4.323 2.494 940 Total do período 6.591 22.615 37.707 22.685 8.596

Fonte: Sistema de Informação Sobre Mortalidade – SIM. Departamento de Informática do SUS – DATASUS.

A construção dos dados consolidados mostrou-se viável a partir de levantamento populacional regional, realizado por meio de pesquisa junto à base de dados do IBGE, utilizando-se das projeções populacionais em razão das regiões geográficas brasileiras no período compreendido entre os anos de 2006 e 2015:

Tabela 5 – População brasileira entre os anos de 2006 e 2015, em razão da região do país.

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2006 15.022.060 51.609.027 79.561.095 27.308.863 13.269.517 2007 14.623.317 51.535.782 77.873.342 26.733.877 13.223.393 2008 15.142.684 53.088.499 80.187.717 27.497.970 13.695.944 2009 15.359.608 53.591.197 80.915.332 27.719.118 13.895.375 2010 15.880.839 53.078.137 80.353.724 27.384.815 14.050.340 2011 16.095.187 53.501.859 80.975.616 27.562.433 14.244.192 2012 16.318.163 53.907.144 81.565.983 27.731.644 14.423.952 2013 16.983.484 55.794.707 84.465.570 28.795.762 14.993.191 2014 17.231.027 56.186.190 85.115.623 29.016.114 15.219.608 2015 17.472.636 56.560.081 85.745.520 29.230.180 15.442.232 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Com a obtenção do número absoluto de óbitos por suicídio e da população em cada uma das cinco regiões do país, foram confrontadas estatisticamente tais categorias, possibilitando-se a criação de coeficientes referentes aos óbitos causados intencionalmente pela própria vítima em razão de um grupo populacional de 100.000 habitantes, conforme dados indicados na tabela que segue:

Tabela 6 – Coeficiente de mortalidade por suicídio no Brasil para cada 100 mil habitantes, entre os anos de 2006 e 2015, em razão da região do país.

Ano Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2006 4,61 3,18 3,79 4,15 7,80 5,75 2007 4,68 3,70 4,20 4,14 8,17 5,64 2008 4,87 4,09 4,14 4,24 8,16 6,25 2009 4,84 3,86 3,92 4,41 8,22 5,98 2010 4,83 3,92 3,99 4,64 7,86 5,77 2011 4,99 4,29 4,29 4,81 7,82 5,66 2012 5,18 4,25 4,35 4,90 8,49 6,46 2013 5,23 4,46 4,46 4,68 8,21 6,37 2014 5,25 4,10 4,25 4,79 7,99 6,24 2015 5,46 5,04 4,49 5,04 8,53 6,08 Média no período 4,99 4,08 4,18 4,57 8,12 6,02 Fonte: Autor.

Como afirmado, o coeficiente nacional de mortalidade por suicídio deixa de revelar consideráveis variações geográficas e por grupos populacionais. O detalhamento dos dados tem significativa importância para o raciocínio clínico e para a organização de estratégias de prevenção (BOTEGA, 2015).

A partir dos dados consolidados foi possível verificar uma notória aproximação entre os índices das regiões norte (4,08/100.000) e nordeste (4,18/100.000), figurando as mesmas com as menores taxas de suicídio do país, seguida pela região sudeste (4,57/100.000), a qual se aproximou de maneira mais sólida da média nacional (4,99/100.000).

A região centro-oeste posicionou-se em um polo intermediário (6,02/100.000), embora com um coeficiente consideravelmente superior ao nacional. O destaque sob um aspecto epidemiológico deve ser dado à região sul do Brasil, a qual apresentou uma taxa de 8,12 óbitos por suicídio para uma população de 100.000 habitantes.

Neury José Botega (2015, p. 54) apresenta uma análise dos dados quantitativos sobre o suicídio nas regiões do país:

Parece haver um gradiente crescente, do Norte para o Sul, nos coeficientes de mortalidade por suicídio. Repare que o índice do Rio Grande do Sul é o dobro da média nacional. O Mato Grosso do Sul também tem uma taxa elevada, devido, principalmente, ao suicídio indígena. Ainda que algumas capitais estaduais tenham taxas de suicídio consideravelmente elevadas, como é o caso de Boa Vista, Porto Velho e Teresina, a maioria apresenta índices inferiores ao coeficiente nacional médio, o que também se observa nas maiores metrópoles do país.

Como ilustração, verifica-se que o coeficiente observado na região sul corresponde ao dobro da média registrada, por exemplo, na região norte (4,08/100.000). Ressalte-se, ainda, que o índice do sul mostra-se exponencialmente superior à média do país, a qual registra uma média de 4,99 óbitos para o mesmo grupo indicado. Sobre essa incidência na região sul, analisam Pinto et al (2017, p. 207):

As regiões compostas por imigrantes europeus merecem destaque porque apresentam maior número de suicídios, se comparados a outras regiões. Historicamente, a região Sul do Brasil vem apresentando os maiores coeficientes de suicídio do país. [...] Esses valores ainda podem estar relacionados com a composição social, historicamente composta por agricultores, tendo sido uma das primeiras fronteiras agrícolas fechadas do país. Quando o suicídio acontece preponderantemente em um grupo etário, étnico, profissional ou isolado geograficamente, pode-se indagar se esse evento funcionasse como barômetro indicador de pressão na sociedade. A mortalidade elevada de suicídio em agricultores estaria refletindo as precárias condições de sobrevivência desse estrato populacional, endividamento, concentração da terra, êxodo e anomia; ou exposição profissional intensa aos agrotóxicos, que pode acarretar quadros depressivos desencadeados por mecanismos neurológicos ou endócrinos, podendo causar quadros de intoxicação aguda ou crônica.

Dessa forma, a região sul emergiu como uma particularidade no tocante ao aspecto quantitativo que merece o devido aprofundamento em estudos epidemiológicos, visto que tais índices deverão ser amplamente considerados com vistas à elaboração de políticas públicas de prevenção ao suicídio e de promoção de saúde mental.

Finalmente, a partir dos dados apresentados, foi possível observar, ainda que de modo menos prevalente em algumas regiões, um crescimento nos índices de mortalidade por suicídio em todo o território nacional, com uma consolidação desses dados a partir do ano de 2012, em especial se considerada o coeficiente médio global do país. Essa aferição se tornou mais evidente se considerados os dados iniciais da pesquisa, em 2006, e os dados finais, no ano de 2015, confrontando-se os valores absolutos de cada ano.

Outra variável que se mostrou relevante acerca dos dados de suicídio no Brasil foi a tendente a avaliar a faixa etária da vítima. Nesse aspecto, a tabela abaixo indica os números absolutos de suicídios no país considerando-se a faixa etária da vítima:

Tabela 7 – Número de suicídios no Brasil entre os anos de 2006 e 2015, em razão da faixa etária da vítima. Faixa Etária 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 05-09 08 02 07 08 03 05 03 03 04 03 10-14 117 116 96 110 101 105 117 119 142 132 15-19 631 598 632 566 605 628 675 666 672 722 20-29 2.037 2.139 2.233 2.209 2.210 2.326 2.225 2.206 2.226 2.214 30-39 1.776 1.813 1.904 1.977 1.996 2.076 2.248 2.288 2.377 2.388 40-49 1.674 1.696 1.804 1.854 1.842 1.820 1.899 2.024 1.956 2.027 50-59 1.171 1.180 1.247 1.243 1.240 1.356 1.453 1.512 1.570 1.726 60-69 674 709 760 768 719 787 916 904 907 1.049 70-79 354 412 431 411 461 495 492 528 512 616 +80 172 187 185 199 246 220 262 258 259 278 Idade ignorada 25 16 29 33 25 34 31 25 28 23 Total 8.639 8.868 9.328 9.374 9.448 9.852 10.321 10.533 10.653 11.178

Fonte: Sistema de Informação Sobre Mortalidade – SIM. Departamento de Informática do SUS – DATASUS.

Com a obtenção do número absoluto de suicídios e da projeção populacional para cada uma das faixas etárias indicadas18, foram confrontadas estatisticamente tais categorias, possibilitando-se a criação de percentuais em razão de um grupo populacional de 100.000 pessoas, conforme dados indicados:

Tabela 8 – Coeficiente de mortalidade por suicídio no Brasil para cada 100 mil habitantes, entre os anos de 2006 e 2015, em razão da faixa etária da vítima.

Faixa etária 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 05-09 0,05 0,01 0,04 0,04 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02 0,02 10-14 0,67 0,67 0,55 0,64 0,59 0,61 0,68 0,69 0,83 0,78 15-19 3,64 3,46 3,69 3,29 3,52 3,66 3,94 3,88 3,92 4,20 20-29 5,89 6,13 6,37 6,29 6,29 6,64 6,38 6,37 6,47 6,47 30-39 4,20 6,37 6,57 6,69 6,61 6,73 7,12 7,08 7,21 7,13 40-49 7,17 7,12 7,43 7,51 7,35 7,16 7,38 7,77 7,42 7,58 50-59 7,32 7,11 7,25 6,97 6,72 7,11 7,37 7,43 7,50 8,03 60-69 7,14 7,26 7,50 7,29 6,55 6,87 7,65 7,22 6,93 7,69 70-79 6,71 7,58 7,69 7,11 7,74 8,06 7,78 8,09 7,59 8,81 +80 7,77 8,05 7,58 7,77 9,18 7,86 8,98 8,49 8,17 8,40 Fonte: Autor

Cumpre esclarecer, de modo inicial, que os dados disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde referem-se aos óbitos autoprovocados, não contemplando, por óbvio, a vontade declarada da vítima em acabar com a própria

18 Por uma questão metodológica e de formatação do trabalho, optou-se pela não inclusão em tabelas

da projeção populacional de algumas categorias, limitando-se à indicação dos dados absolutos e dos índices para cada 100.000 habitantes.

vida. Dessa forma, justifica-se a presença, ainda que de forma tímida, de dados referentes à prática suicida de crianças entre 0 e 09 anos. Tais números podem referir-se a fatalidades em que não houve uma vontade deliberada de morrer, em que pese tenha resultado em situações de óbitos que chegaram até o sistema de saúde.

Sobre os coeficientes construídos, deve-se iniciar pelo destaque a faixa etária compreendida entre os 15 e 19 anos, sendo que, em que pese apresente um percentual historicamente inferior ao coeficiente médio nacional (4,99/1000.000), deve ser amplamente considerada no processo de construção de políticas públicas, por se tratar de um grupo potencialmente vulnerável.

Sobre as taxas de suicídios nessa faixa etária apresentam Pinto et al (2017, p. 208):

Em relação à tendência crescente das lesões autoprovocadas no grupo etário de 10 a 19 anos, esta pode ser explicada pela intensa fase de conflito pela qual o jovem passa. Em outros estudos, resultados denotam a adolescência como a etapa com maior índice de comportamento suicida, com médias etárias variando entre 12 e 15 anos, uma vez que as manifestações do crescimento do adolescente assemelham-se à formação de sintomas neuróticos, psicóticos ou de personalidade antissocial, sendo normal nessa fase a ocorrência de comportamento inconsistente e imprevisível por algum tempo. Esse contexto contribui para o aparecimento de modos destrutivos de lidar com a realidade e, inclusive, de distúrbios psiquiátricos diversos no jovem.

Assim, foi possível confirmar os dados coletados junto ao Sistema de Saúde a partir da produção científica disponível a respeito da temática , onde a população de crianças e jovens emergem como uma categoria de sujeitos vulneráveis à prática do suicídio diante das particularidades de sua formação física e mental, o que deve ser amplamente considerado com vistas à elaboração de políticas públicas focalizadas.

Em contrapartida a esse grupo de sujeitos, destacam-se de forma considerável os índices que contemplam os brasileiros com idade superior aos 70 anos, cujos óbitos por vezes ultrapassam a média de 08 pessoas para cada 100.000 habitantes, superando-se de forma consistente a média nacional e as médias dos demais estratos etários. Sobre o suicídio de idosos, Sousa et al (2014, p. 06) trazem como possíveis causas:

Os idosos no contexto social e cultural, em determinadas fases de vida – como aposentadoria, impossibilidade de exercer a profissão por dependências físicas e psicológicas e surgimento de doenças crônicas – se

deparam com mudanças negativas e perdas que, frequentemente, lhes causam uma espécie de morte social e subjetiva. Esse sentimento se traduz em isolamento, angústia e dificuldades no relacionamento com seu grupo social.

Verifica-se, assim, que tal como apresentado na análise da incidência regional de óbitos por suicídio, o fenômeno deve ser compreendido em sua totalidade enquanto construção social. A variabilidade dos dados consolidados para os grupos de jovens e idosos permitem afirmar que a situação de vulnerabilidade face ao suicídio encontra suas origens nas próprias dificuldades no processo de integração social e de obtenção de níveis mínimos de liberdade e autodeterminação.

Sobre esse processo de sociabilidade, Sousa et al (2014, p. 06) ampliam a explicação sobre o contexto de prevalência de suicídios entre pessoas idosas no Brasil:

Essa perda de identidade e de sentido da vida, frequentemente passa despercebida das famílias. E ela está ligada a questões relativamente simples do cotidiano: privação de objetos individuais e particulares, troca de casa para morar com os filhos, abrindo mão do seu jeito de levar a vida em favor de outros adultos que passam a dominar a cena familiar, mudança de quartos confortáveis para outros menores e mais restritos (às vezes na própria casa), dando lugar à ocupação de seu antigo espaço pelos filhos casados, ou seja, com perda da autonomia relativa aos seus bens e pouco espaço no ambiente familiar para expressão de suas necessidades.

Assim, é possível constatar que as ideações suicidas podem encontrar seus fundamentos em processos de rompimentos diários vividos pelo agrupamento de idosos, os quais deixam de possuir um domínio absoluto dos meios em que vivem, cumulando com situações de perdas constantes, sejam elas pessoais ou materiais, os quais acabam por criar um cenário de aniquilamento dos projetos de vida e de percepções para o futuro.

De modo complementar, acerca da faixa etária considerada pelo IBGE como adulta, que vai dos 25 aos 59 anos, foi possível verificar certa estabilidade nos índices construídos, mantendo-se uma média de 07 óbitos para cada 100.000 habitantes, índice superior ao coeficiente médio nacional que contempla todas as faixas etárias (4,99/100.000). Acerca das variáveis etárias no tocante aos óbitos por suicídio, apresentam Rosa et al (2017, p. 79):

Exaustivamente, a literatura aponta que os principais fatores de risco para o suicídio, em especial entre os adultos mais velhos, são decorrentes de doença física, enfermidades terminais, isolamento social, problemas

familiares ou sociais (aposentadoria ou a inatividade compulsória), uso de drogas de abuso ou substâncias psicoativas. Entretanto, o histórico de tentativas de suicídio anteriores e transtornos mentais (essencialmente a depressão) denota maior vulnerabilidade para o suicídio nesse estrato etário. Desse modo, a depressão é, sem dúvida, o transtorno mental mais impactante e, acima de tudo, o maior responsável pelo elevado número de mortes prematuras entre adultos e idosos.

De forma global, em que pese tenham sido sensíveis os aumentos entre os anos cujos dados foram coletados, deve-se indicar que os dados finais no ano de 2015 mostraram-se superiores aos dados iniciais do ano de 2006 em todas as faixas etárias consideradas, o que pode indicar um aumento percentual nos índices nacionais de óbitos por suicídio.

Outra variável indicada pelo Sistema de Informação Sobre Mortalidade diz respeito ao local de óbito da vítima de suicídio no Brasil, conforme dados apresentados na tabela que segue:

Tabela 9 – Número de suicídios no Brasil entre os anos de 2006 e 2015, em razão do local de óbito da vítima.

Local do óbito

Hospital Outro órgão de saúde Domicílio Via pública Outros Ignorado 2006 1.843 89 4.749 537 1.303 118 2007 1.810 98 4.942 606 1.314 98 2008 1.867 96 5.252 592 1.434 87 2009 1.745 116 5.341 587 1.499 86 2010 1.879 140 5.368 641 1.353 66 2011 1.809 134 5.714 658 1.474 63 2012 1.820 147 6.088 632 1.578 56 2013 1.672 128 6.413 671 1.603 46 2014 1.698 166 6.495 675 1.574 45 2015 1.710 159 6.806 709 1.751 44 Total do período 17.853 (18,19%) 1.273 (1,30%) 57.168 (58,22%) 6.308 (6,42%) 14.883 (15,15%) 709 (0,72%)

Fonte: Sistema de Informação Sobre Mortalidade – SIM. Departamento de Informática do SUS – DATASUS.

Os dados apresentados indicam predominância acentuada da prática suicida em ambiente domiciliar (58,22%), seguida pela predominância em hospitais (18,19%). Os óbitos em hospitais e outros estabelecimentos de saúde (1,30%) devem ser analisadas de modo contextual, ou seja, a imensa maioria, se não quase a totalidade dos óbitos integrantes de tais índices, em verdade foram praticados com grau de letalidade menos gravoso, de modo que o óbito não se concretizou verdadeiramente no local do fato.

Outro índice que merece destaque são os óbitos ocorridos em locais não identificados pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (15,15%), os quais

poderão ter ocorrido em ambientes de trabalho, estabelecimentos de ensino, dentre outros.

A omissão de tais dados merece observação em futuras pesquisas, considerando-se inúmeras variáveis presentes na sociedade contemporânea, como a crise econômica e de emprego e as informações de práticas de bullyng que acometem diariamente crianças e adolescentes.

Sobre o local de óbitos por suicídio, Flávia Regina Marquetti e Fernanda Cristina Marquetti (2017) explicam que, no tocante às cenas/cenários dos suicídios masculinos, os mesmos são de visibilidade maior, seja em locais públicos ou privados. Devido a maior visibilidade das cenas suicidas masculinas, algumas vezes, os espectadores desses eventos são sujeitos de fora do núcleo familiar.

As autoras apresentam uma diferenciação que não aparece nos dados inicialmente coletados, a qual diferencia o nível de publicidade do óbito por suicídio praticado entre homens e mulheres, sendo que o primeiro grupo apresentaria uma tendência de maior publicidade do ato, ao passo que o grupo de

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