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5.1 INDEPENDÊNCIACAPÍTULO

No documento Inteligencia_Volitiva (páginas 132-141)

Inteligência volitiva e empreendedorismo puro

acúmulo de “sabedoria”, mesmo na iminência de perdas, sejam elas de ordem financeira, afetiva ou de qualquer outra natureza.

Percebo que o ato de empreender, assumindo a responsabilidade máxima pela realização, é uma demonstração de completo desprendimento material. Quando se trata de um empreendimento, o risco de que todo o dinheiro acumulado possa subitamente evaporar- se é real. Esse exercício de desprendimento material é consumado por um indivíduo bastante incomum, que exibe uma substancial intimidade em relacionar-se com o novo, com a resistência social a um paradigma diferente, com o risco, e que também comprova, de maneira incontestável, sentir uma tremenda indiferença pelo fracasso. Nem o risco nem a noção de que o fracasso é um acontecimento com potencialidade real oferecem resistência à habilidade de agir e transformar do empreendedor puro. Nele, a inteligência volitiva se evidencia de forma absolutamente transcendental. A ação em busca da evolução é o que mais importa.

O verdadeiro empreendedor se consuma como tal ao não enxergar a organização simplesmente como um meio para que um fim unicamente financeiro seja atingido. Ele sabe que a jornada para consumar a missão é longa.

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Os que são simplesmente donos de negócios não veem a hora de chegar ao ponto final dessa viagem. Embarcam no navio com o objetivo único de abandoná-lo em algum momento. O retorno sobre o capital investido é o propósito primário quando deveria ser o resultado de um trabalho missionário bem executado. Os atos desses pseudoempreendedores não se alinham com o desejo dos clientes em potencial, por isso, a maioria “quebra” e nunca chega ao almejado sucesso. Para eles, as decisões se pautam em retorno financeiro antes da solução dos problemas dos clientes e, ao inverterem a ordem do raciocínio, o mercado, como autoridade suprema, não hesita em expulsá-los.

A mente do pseudoempreendedor nunca se decide por decodificar a missão organizacional, que permitiria a programação do melhor modelo de relações a ser estabelecido na companhia e do melhor padrão de execução dos processos que consumam a execução da missão.

Sob a ótica do empreendedor por necessidade, o empreendimento se torna uma viagem sem fim, mais árdua do que parecia ser, demasiadamente perigosa, dolorida, capaz de causar temor e, por isso, praticamente impossível de ser realizada. Empreendedores por necessidade entram no mundo dos negócios pensando somente nos frutos, em vez de fazerem do cultivo o alvo de suas mais ricas

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reflexões. Eles desejam os frutos, mas não sentem vontade de realizar. Não estão preparados para vigiar a saúde da árvore diariamente a fim de protegê-la, garantindo o seu crescimento por meio de intensa dedicação que mais parece um exercício espiritual. O pseudoempreendedor não entende a importância dos atos de adubar, irrigar, retirar as folhas doentes e as pragas que insistem em impedir a germinação da árvore. Embora o sonho da colheita dos frutos exista, os pseudoempreendedores tendem a gerar árvores estéreis e não chegam a compreender que a grande sabedoria está em deleitar-se com os cuidados que o cultivo da árvore exige.

É fato que as estradas do empreendedorismo nos levam a lugares nunca antes habitados ou, no mínimo, muito desconhecidos. Mais eis, então, que o fundamento do verdadeiro empreendedorismo se encontra na inteligência volitiva do empreendedor que, antes de qualquer objetivo financeiro, move-se pelo inconformismo sentido, ao ver uma situação problemática ainda não equacionada, pela paixão sentida pela dedicação diária ao que faz e pela capacidade ímpar de iniciar a ação, visto que o insucesso no cumprimento da missão se torna, de fato, o seu maior medo.

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A inteligência volitiva do empreendedor o faz ver a vida como sendo boa quando ele se joga no desafio missionário. É claro que esse desafio pode trazer à tona sentimentos carregados de dor, como a raiva, a tristeza e o medo, entretanto, ao mesmo tempo, o processo de empreender exalta sentimentos extremamente enriquecedores e significativos para o autodesenvolvimento, como a alegria e o amor. Portanto, para o verdadeiro empreendedor, o fim organizacional de gerar lucro significa muito mais a mola propulsora que intensifica a realização da missão, mediante o reinvestimento, do que um propósito unicamente financeiro. O empreendedor é apaixonado pelo processo de transformação e não consegue viver sem a liberdade interior de desenvolver ao máximo suas potencialidades e de sentir o que Carl R. Rogers, o precursor da psicologia humanista, chamava de “a riqueza da vida”: o processo de viver a “vida boa”. Vejamos um trecho do livro “Tornar-se pessoa”, em que o autor relata suas conclusões tiradas de sua experiência, como terapeuta, sobre o processo de viver a “vida boa”:

“Uma última implicação que gostaria de mencionar é que esse processo de viver a “vida boa” implica um campo mais vasto, uma riqueza maior do que a vida restrita em que grande parte de nós se encontra. Participar nesse processo significa que se está mergulhado em experiências, muitas vezes temíveis e muitas vezes satisfatórias, de uma vida

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mais sensível, com uma amplitude maior, maior variedade e maior riqueza. Parece-me que os clientes que fizeram progressos significativos na terapia vivem de um modo mais íntimo com os seus sentimentos dolorosos, mas vivem também mais intensamente os seus sentimentos de felicidade; a raiva é mais claramente sentida, mas o amor também; o medo é uma experiência feita mais profundamente, mas também a coragem. E a razão pela qual eles podem viver de uma maneira tão plena num campo tão vasto é que têm em si mesmos uma confiança subjacente de serem instrumentos dignos de confiança para enfrentar a vida. Estou convencido de que esse processo da “vida boa” não é gênero de vida que convenha aos que desanimam facilmente. Esse processo implica coragem de ser. Significa que se mergulha em cheio na corrente da vida. E, no entanto, o que há de mais profundamente apaixonante em relação aos seres humanos é que, quando o indivíduo se torna livre interiormente, escolhe essa “vida boa” como processo de transformação”.

Além da liberdade material, a liberdade mental consuma a capacidade de inovar, prerrogativa de qualquer empreendedor. Por meio do exercício da liberdade mental, o empreendedor promove as inovações. No entanto a inovação só cumpre o seu papel quando é empregada na sociedade e, para tanto, o empreendedor tem de se libertar

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as inovações à mostra, as críticas são disparadas como se fossem armas de grande calibre. Se não fosse por um comportamento de independência das carícias sociais, o espírito empreendedor seria aniquilado. O verdadeiro empreendedor tem sua autoestima no nível certo, que permite a ele viver, por um bom tempo, em meio a olhares de desconfiança e como alvo de mensagens um tanto desconfortáveis. É o preço pago pelo pioneirismo.

Apresentar o Método Park aos que trabalhavam na área de ensino de línguas era uma atividade um tanto extenuante. As “flechas” atiradas contra mim eram definitiva e psicologicamente letais. Mesmo assim, nunca me furtei em colocar abertamente meus pensamentos e ideias à prova. A desconfiança era naturalmente grande. Como um economista e um engenheiro poderiam ter desenvolvido o melhor método de ensino de línguas já criado? Para alguns, era difícil aceitar a realidade de alguém que não fazia parte do âmago do mundo do ensino de línguas, pudesse ser precursor de tanta mudança.

Para o meu próprio bem, aprendi a ignorar esse comportamento, ou, pelo menos, de forma completamente pragmática, desenvolvi o poder de agir com independência das necessidades naturais por reconhecimento, comuns em qualquer ser humano. Consegui, com isso, assimilar

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o lado positivo das duras críticas e rejeições por parte dos que compunham a parte central do segmento de idiomas. Essa habilidade de paralisar minha fome por reconhecimento foi vital para o meu desenvolvimento como empreendedor. Pude consumar a inovação, porque aprendi a não me importar em colocar minha reputação em risco. Entendi ser essa a única forma de empregar a novidade na sociedade, fazendo dela um sucesso, e isso era muito mais importante. Ao ver que mesmo os que se beneficiariam diretamente com o sucesso do projeto se afastavam quando uma oportunidade de rejeição sobressaltava aos olhos, percebi o quanto essa faceta do empreendedorismo era rara. O desconforto em ser alvo de críticas é comum aos que ainda não se satisfizeram com o que simplesmente são.

Para a minha felicidade, compreendi a importância dessa faceta do empreendedorismo logo no início de minha carreira, quando ainda era muito jovem, por isso, nunca desisti e absorvi com naturalidade cada golpe que sofri. Hoje, após ter sido testado como empreendedor por várias vezes e de diferentes formas, vejo com lucidez que os acontecimentos paradoxais tendem a reger os acontecimentos no mundo. O que, aparentemente, parecia ser a minha grande desvantagem também me colocou na vanguarda de um mercado altamente competitivo. Eu

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construir algo completamente inovador. Feliz daqueles que, mesmo fazendo parte do centro, conseguem manter um olhar positivo em direção ao futuro, pois esta é a fórmula da perenidade.

A expressão da liberdade permeia a vida do empreendedor. Ninguém mais do que os verdadeiros empreendedores consegue viver a vida de forma tão livre, tão criativa e com sentimento de confiança para inovar e transformar o mundo no ambiente em que deseja viver. Em relação à minha experiência como empreendedor, descobri que o que mais me faz mergulhar na fascinante aparente loucura de empreender é a liberdade que sinto para experimentar mais sabedoria, valorizando-me como ser humano e me tornando cada vez mais competente no que quer que eu faça. Sinto-me motivado a me jogar no mundo dos que empreendem simplesmente porque me vejo tornando-me mais quem eu desejo ser. Quando vejo que, por meio de minhas realizações, me aproximo do homem que eu desejo ser, uma sensação incrível de liberdade se apodera de mim, qualquer tipo de medo se esvanece, e os únicos sentimentos que prevalecem são a alegria e o amor pelo que faço.

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Sigmund Freud afirmava que “as ilusões nos servem porque nos salvam da dor e nos permitem sentir prazer em seu lugar. No entanto, devemos aceitar, sem reclamar, quando, às vezes, elas colidem com um pouco de realidade e, então, são completamente dilaceradas”. As ilusões parecem confortar o homem, disfarçando o seu sofrimento e causando uma sensação de aparente felicidade. Não me parece sábio viver uma vida assim; pelo contrário, essa é uma existência que se afigura um tanto insipiente e espiritualmente pobre. Assim, os pseudoempreendedores vivem suas vidas, criando um mundo imaginário como

“Encare a realidade da forma que ela é, não como já foi ou como você gostaria que ela fosse.”

Jack Welch

5.2 - A ACEITAÇÀO DOS FATOS

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