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Indicador de acesso a serviços urbanos e ambiente construído

Capítulo III – Explorando empiricamente as dimensões que interferem no acesso à infra-estrutura urbana

4. Indicador de acesso a serviços urbanos e ambiente construído

Como apontado no início desse capítulo, esses serviços urbanos analisados serviram como base para a construção de um indicador sintético de acesso a serviços urbanos e ambiente construído. Essa agregação de serviços tão diversos – abastecimento de água, freqüência do abastecimento, esgotamento sanitário, coleta de lixo, energia elétrica, calçamento, iluminação pública, áreas verdes e de lazer, e condições de transporte público – foi possível porque todas essas dimensões mostraram-se fortemente correlacionadas em testes estatísticos. Além disso, optou-se pela agregação dessas dimensões de modo a verificar situações de déficit de acesso encobertas pela alta cobertura de alguns serviços urbanos – nesse sentido, foi construído um indicador mais “exigente” de acesso que permitisse captar situações de déficit de acesso no caso de serviços específicos.

Para cada uma dessas variáveis que compõem o indicador de acesso a serviços urbanos foram consideradas duas situações: adequada – que corresponde, na maioria dos casos, a simples provisão de cada um dos serviços – ou não adequada (que corresponde a não provisão dos serviços), sendo a provisão adequada classificada com o valor um e a provisão não adequada com o valor zero. O indicador final corresponde a uma média dessas variáveis, variando em uma escala de zero (0) a um (1), onde zero representa a pior situação e um a melhor. Os componentes desse indicador são apresentados na Tabela 15 abaixo.

investimento viário, pois pode haver áreas sem nenhum investimento próximo.

Tabela 15

Componentes do Indicador de Acesso a Serviços Urbanos. Município de São Paulo, 2004.

Situação Componente

Adequada Não Adequada

1. Domicílio ligado à rede pública de água com canalização interna

1 = Sim 0 = Não

2. Freqüência com que a água chega ao domicílio (apenas domicílios ligados à rede pública de abastecimento de água)

1 = Todo dia 0 = Outras situações

3. Domicílio ligado à rede pública de esgoto 1 = Sim 0 = Não

4. Domicílio ligado à rede pública de energia elétrica 1 = Sim 0 = Não

5. Coleta de lixo no domicílio 1 = Sim 0 = Não

6. Existência de calçamento na rua do domicílio 1 = Sim 0 = Não 7. Existência de iluminação pública na rua do domicílio 1 = Sim 0 = Não 8. Existência de transporte público próximo ao domicílio 1 = Sim 0 = Não 9. Existência de parque ou praça próxima ao domicilio 1 = Sim 0 = Não

Fonte: CEM-Cebrap/Ibope. Survey de acesso da população mais pobre de São Paulo a

Serviços Públicos. Novembro de 2004.

É importante notar que a maioria dos domicílios possui elevada cobertura desses serviços – a maioria dos casos analisados está classificada entre as situações mais adequadas (estão próximos de 1) –, conforme pode ser observado na Figura 1, abaixo, que apresenta a distribuição desse indicador. Ou seja, de maneira geral é possível dizer que mesmo os domicílios mais pobres do município de São Paulo contam com níveis bastante adequados de acesso a serviços urbanos. Os domicílios pior classificados nesse indicador provavelmente não contam com parques e praças próximas, podem enfrentar situações de intermitência no abastecimento de água, têm problemas com a rede de esgoto e com a iluminação pública, porém contam com rede de água, energia elétrica e coleta de lixo.

Figura 1

Distribuição do indicador de acesso a serviços urbanos e ambiente construído. Município de São Paulo, 2004.

Fonte: CEM-Cebrap/Ibope. Survey de acesso da população mais pobre de São Paulo a

Serviços Públicos. Novembro de 2004.

Além disso, esse indicador foi agregado em três grupos, de modo a especificar os níveis de acesso auferidos pela população mais pobre do município: serviços inadequados (0 a 0,88); serviços deficientes (0,88 a 0,89) serviços adequados (de 0,89 a 1). Analisando a distribuição desse indicador categorizado segundo as macro-regiões definidas pelo survey (Tabela 16), é possível observar que há diferenciais significativos de acordo com o tipo de área: enquanto na área periférica 45,9% dos domicílios têm serviços inadequados, nas áreas centrais somente 22,1% os têm. Esses resultados indicam que o acesso a serviços de infra-estrutura urbana ainda apresenta problemas nas áreas mais segregadas do município.

Tabela 16

Indicador sintético de acesso a serviços urbanos e ambiente construído, segundo macro-regiões. Município de São Paulo, 2004.

Macro-região Indicador

Periférica Intermediária Central

Total

Serviços Inadequados 45,9% 27,1% 22,1% 38,9% Serviços Deficientes 33,7% 33,9% 27,6% 33,3% Serviços Adequados 20,4% 39,1% 50,3% 27,8% Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: CEM-Cebrap/Ibope. Survey de acesso da população mais pobre de São Paulo a

Serviços Públicos. Novembro de 2004.

Analisando esse indicador segundo as variáveis territoriais apresentadas, verifica-se que todas elas geram diferenciais significativos no sentido esperado de acordo com a hipótese da segregação, ou seja, domicílios localizados próximos a córregos, em áreas de favela ou loteamentos clandestinos, em ambientes locais pobres e em áreas segregadas de acordo com o Moran Local tendem a ter serviços mais inadequados de infra-estrutura urbana. A Tabela 17 apresenta os dados relativos a áreas de favelas. As demais se encontram no Anexo IV.

Tabela 17

Indicador sintético de acesso a serviços urbanos e ambiente construído, segundo domicílios em área de favelas e loteamentos clandestinos.

Município de São Paulo, 2004.

Favelas e loteamentos Indicador não sim Total Serviços Inadequados 30,7% 44,7% 38,4% Serviços Deficientes 34,4% 32,0% 33,1% Serviços Adequados 34,9% 23,3% 28,5% Total 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: CEM-Cebrap/Ibope. Survey de acesso da população mais pobre de São Paulo a

Serviços Públicos. Novembro de 2004.

Contudo, os resultados apresentados não são suficientes para comprovar totalmente a hipótese de que existe relação entre segregação residencial e pior

acesso a serviços urbanos. Em algumas interpretações, o pior acesso a serviços urbanos tem sido pensado não necessariamente enquanto fruto do padrão de segregação residencial, mas como conseqüência das condições de ilegalidade do acesso à terra (World Bank, 1999; Maricato, 1996). Nas ocupações irregulares, como loteamentos clandestinos e favelas, há barreiras institucionais à expansão dos investimentos públicos, uma vez que as empresas privadas ou estatais de serviços urbanos não encontram condições jurídicas adequadas para sua operação.

Nesse sentido, de modo a avaliar mais profundamente os principais fatores que condicionam os níveis de acesso à infra-estrutura urbana, é necessário desenvolver análises mais complexas, que consigam captar a influência de diferentes dimensões ao mesmo tempo. Algumas dessas análises são apresentadas no próximo capítulo.

Capítulo IV – Analisando o impacto da segregação sobre o acesso à