• Nenhum resultado encontrado

3. CARACTERIZAÇÃO DA OCUPAÇÃO URBANA E EVOLUÇÃO NA

4.5 Indicador do rendimento do chefe da família

A renda per capita é um indicador que ajuda na análise do grau de desenvolvimento de um país ou região, consistindo na divisão da soma dos salários de toda a população dividido pelo número de habitantes. Embora esse indicador seja útil na análise do desenvolvimento, pode mascarar os resultados como a concentração de renda e a desigualdade social. Para amenizar esse problema em uma análise local de cidade foi considerada a renda per capita do chefe da família, consistindo na soma do salário dos chefes de família dividido pelo número dos chefes ativos e não pelo número de habitantes.

Na renda per capita do chefe da família, inicialmente foi feita uma análise das Leis do município de Vitória da Conquista nos aspectos relacionados à temática em questão, como indicativo das políticas públicas expresso nas Leis, para a cidade como um todo. Foi verificado que o Plano não trata especificamente dessa questão, embora faça referência em aspectos relacionados ao trabalho, circulação de mercadoria, vetores comerciais, etc.

No PDU-1976, embora não tenha sido tratada especificamente da renda do chefe da família per capita, no Art. 2º fez referência ao trabalho quando afirmou que “a presente Lei disciplina o uso de terra, estabelece normas para as construções, visando assegurar condições adequadas de habitação, circulação, trabalho e recreação [...]”. Aqui o trabalho se refere às normas das construções comerciais e de serviços que devem ser dotadas de instalações destinadas à administração, dependências de trabalho, locais de trabalho, instalações sanitárias independentes, com as especificações técnicas do edifício (Art. 240° e 245°).

Outra referência com uma breve ligação com a renda no PDU-1976 diz respeito a localização das atividades da população na malha urbana, no Art. 15° quando classifica o setor urbano em Zonas, obedecendo ao critério de predominância de uso, sendo denominadas entre elas a Zona do Comércio e Serviço (ZCS), Zona Industrial (ZI) e Zona de Transição Residencial/Comércio (ZT). Nos Arts. 16°, 17° e 23° especifica os tipos de estabelecimento, natureza e a tendência de uso nas Zonas, sem, contudo, entrar em mais detalhe quanto a geração de emprego e renda, nem os benefícios que o comércio, serviço e indústria porventura poderiam trazer para a população como um todo.

No parágrafo único da Lei Nº 517/90 e no Anexo do zoneamento urbano da referida Lei ficaram definidos os graus de uso para as Zonas, podendo ser enquadrados em adequados (A), tolerados com restrições (T), e inadequados, ficando também estabelecidos os coeficientes de utilização (U) e taxas de ocupação (TO).

O PDU-2007, também tratou sobre o comércio, serviços e indústria, na organização do uso do solo no Art. 30°, definindo cinco nucleações de uso, com as tipologias denominadas de Centro Tradicional, Sub-centro, Centros de Bairro, Corredores de Usos Diversificados e Área Industrial. Essas nucleações de uso foram delimitadas em base cartográfica, contudo, foi possível identificar que a expansão das áreas comerciais, de serviços e industriais vem ocorrendo além dos limites definido no PDU-2007. A expansão comercial além dos limites definido no PDU-2007 foi discutida no indicador de densidade populacional.

A expansão do comércio, serviços e indústria além do que estava definido no PDU-2007 demonstra a dinâmica do crescimento urbano, sendo um indicativo atual do desenvolvimento econômico no município, trazendo como conseqüência a geração de emprego e renda, e o incremento na renda familiar per capita, podendo refletir nesse indicador e na densidade demográfica. As áreas comerciais e de serviços e os corredores de uso diversificado foram definidas na Figura 4.19 do PDU-2007.

Figura 4.19 - Vitória da Conquista - BA: Comércio, serviço e os corredores de uso diversificado – PDU - 2007

As áreas comerciais e de serviços tratadas no PDU-2007 estão concentradas na zona de Ocupação Consolidada, sendo que nos Incisos III e VII do Art. 23°, procura “estimular a intensificação do uso institucional, da atividade imobiliária residencial e de comércio e serviços nessas áreas”, assim como, o “fortalecimento do Centro Tradicional de Comércio e Serviços, promovendo sua requalificação e melhoria e na implantação de empreendimentos privados”. A expansão do comércio, serviços e indústria contribuem para a geração de empregos e renda, redução da pobreza e desigualdades sociais, através do incremento da renda para os chefes de família e o reflexo na renda per capita.

A dinâmica territorial demanda informações atualizadas para o planejamento urbano, para atender esse requisito o PDU-2007 cria o Sistema Municipal de Informações no Art.10°, como instrumento de apoio e suporte ao planejamento. No Art. 11°, parágrafo único, ao listar os itens que deve conter no acervo do Sistema, destaca em seu Inciso X “as informações socioeconômicas sobre o Município, em especial, sobre a demografia, emprego e renda”. Observa-se aqui uma preocupação no desenvolvimento econômico do município e na geração de emprego e renda, através de um sistema de informações catalogadas, para sistematizar as informações necessárias ao planejamento urbano, apesar de não concretizado na prática.

Já no Código de obra de 2007, no Art. 1° ao instituir o licenciamento de parcelamento, urbanização, edificação e de atividades, destaca entre os seus objetivos, o do Inciso IV, para “evitar a segregação de usos, promovendo a diversificação e mixagem de usos compatíveis, de modo a reduzir os deslocamentos da população e equilibrar a distribuição da oferta de emprego e trabalho” e o Inciso VI, “garantir a redução da segregação e exclusão sociais”. Nesses Incisos percebe-se o direcionamento para as questões ligadas ao emprego e trabalho, mesmo tratando-se de parcelamento de uso do solo.

Na expansão urbana, com abertura de novas áreas através dos loteamentos, o Código de Obras de 2007 no Art. 9º parágrafo 3º, considera que “todo loteamento residencial deverá destinar área específica para uso de pequeno comércio de conveniência e de serviços de apoio aos moradores [...]”, acrescenta ainda no Art. 40° parágrafo 4º que as vias nos lotes deverão incluir entre os vários itens discriminados na Lei, a previsão de instalações móveis e pontos para comércio ambulante. No escopo da Lei de 2007 observa-se um estímulo ao comércio tanto formal quanto informal, como oportunidade de acesso a renda em diferentes níveis.

A distribuição da renda do chefe de família, com dados dos setores censitários do IBGE para os anos de 1991 e 2000 foram espacializados nas Figuras 4.20 e 4.21.

Figura 4.20 - Vitória da Conquista - BA: Renda do chefe de família - 1991

Analisando o mapa de renda do chefe da família observa-se que existe distribuição espacial da renda no ano de 1991, com exceção das rendas um pouco mais baixas (1 a 3 salários mínimos) no bairro Bateias por ser uma área em expansão, com espaços vazios (lagoa e aeroporto), e ocupações irregulares. Existem também pequenas áreas nessa faixa de baixa renda, nos bairros Ibirapuera, Patagônia, Candeias e Alto Maron. As maiores rendas estão situadas em bairros centrais, mais antigos tais como o Centro, Jurema, Recreio, Alto Maron, Guarani e Brasil, com exceção dos bairros Distrito Industrial e Lagoa das Flores por situarem em áreas de influência industrial e agrícola, respectivamente. Os bairros periféricos Zabelê, Jatobá, Airton Senna e Nossa Senhora Aparecida, embora atualmente (2010) sejam considerados como bairros de baixa renda, no ano de 1991 eram constituídos de novas áreas de expansão urbana e os chefes das famílias possuíam uma renda na faixa de 3-6 salários mínimos. Provavelmente isso se deve a influência da agricultura que tinha uma demanda significativa por mão de obra, sobretudo na atividade cafeeira. No ano de 1991 a renda dos chefes de família no município era bem distribuída espacialmente, inclusive na zona rural, e isso se refletiu nos resultados dos bairros periféricos de Vitória da Conquista (FIGURA 4.20).

No ano de 2000 observou-se um processo inverso (FIGURA 4.21). A renda dos chefes de família, sobretudo nas áreas de interseção com a zona rural, reduziu bastante, enquanto que nas áreas centrais houve uma concentração de renda nos bairros nobres como: Recreio, Candeias e parte do Centro. A renda na faixa de 3-6 salários mínimos está concentrada em bairros também nobres como Felícia e Boa Vista. Outra área onde ocorreu a elevação de renda nessa faixa, situa-se em parte dos bairros Brasil e Ibirapuera, influenciadas pelo vetor do Corredor de Comércio e Uso Diversificado da Avenida Brumado, assim como do Sub-centro do bairro Brasil, com concentração de renda no seu entorno. No bairro Zabelê houve uma redução significativa da renda dos chefes de família em relação ao ano de 1991, assim como nos bairros periféricos,com renda abaixo de 2 salários mínimos. O ano de 2000 se caracterizou como um período marcante de concentração de renda e segregação espacial, enquanto o ano de 1991 apresentou maiores rendas.

O índice de sustentabilidade relacionado à renda do chefe de família foi espacializado nas Figuras 4.22 e 4.23. Os dados foram compilados dos Censos do IBGE para os anos de 1991 e de 2000.

Figura 4.22 – Vitória da Conquista - BA: Sustentabilidade relacionada a renda do chefe de família - 1991

A média da renda de todos os chefes de família espacializada por setor censitário, reflete a segregação espacial que ocorre na cidade. A comparação do indicador de renda dos chefes da família de 1991 e de 2000 permitiu inferir que em 1991 havia uma melhor distribuição espacial, ainda que a concentração de renda fosse uma das mais elevadas dos municípios baianos. As famílias com rendas diferenciadas coabitavam no mesmo bairro fazendo com que a classificação fosse Sustentável e Quase Sustentável.

O mesmo indicador de renda para o ano de 2000 apresenta uma configuração espacial diferenciada de 1991. Na periferia aparece uma grande área onde os rendimentos são de até 02 salários mínimos, correspondente às classes Insustentável e Quase Insustentável. As áreas nas proximidades do Centro da cidade apresentaram um aumento considerável na média das rendas dos chefes de família, equivalendo a classificação de Sustentável, com renda superior a 06 salários mínimos. Desse fato infere-se que muitas famílias com maior renda tenham mudado para bairros considerados nobres como Recreio e Candeias. Em contrapartida, essa concentração de renda gerou em Vitória da Conquista uma segregação espacial, com a população de baixa renda passando a residir na periferia.

No ano de 2000, os dados apontam para uma ocorrência do nível Insustentável, seguido do nível Quase Insustentável. Desse fato é possível assinalar que se torna necessária uma ação emergencial de políticas públicas visando reduzir as discrepâncias entre os bairros onde existem melhores condições financeiras, considerados de classe média a alta e que concentram comércio e serviços, e aqueles que possuem ou necessitam de infra-estrutura para elevarem sua condição de insustentável para um patamar mais sustentável. A compartimentação do espaço urbano pela segregação espacial é facilmente percebida, com divisão entre os bairros pobres e ricos, sobretudo nos bairros localizados na periferia e fora do limite do anel rodoviário, com lotes menores de baixo poder aquisitivo. As áreas privilegiadas, localizadas no quadrante sudeste da cidade, possuem uma predominância com lotes maiores e habitações com padrão construtivo de médio a alto padrão.

Para a cidade de Vitória da Conquista o índice de Gini calculado pelo IBGE, em 2003, foi de 0,47, sendo um dos mais altos entre os municípios da Bahia. Esse índice está um pouco abaixo da média brasileira (0,53) relativo ao ano de 2005, que representa uma alta concentração de renda.

O resultado da renda sob o método do barômetro de Sustentabilidade apontou para 1991 e 2000 o índice de Quase Insustentável, estando numa situação distante de uma cidade sustentável. Cabe ressaltar que “o plano deve também fornecer os meios para proteger os pobres urbanos do aumento dos custos da terra e da especulação, que são susceptíveis de resultar em prestações de novas infra-estruturas” (ONU, 2009, p.31. Tradução nossa).