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O indutivismo e o hipotético-dedutivismo no uso do computador

seções imóveis = movimento como seções imóveis movimento mudança qualitativa

MI 6. Multimídia Interativa e 'Registro' da Arquitetura

6.2. Multimídia interativa

6.2.1. O indutivismo e o hipotético-dedutivismo no uso do computador

A filosofia da ciência pode ser considerada inaugurada no século XVII, com a proposição de Francis Bacon de que a ciência tinha a meta de melhorar a vida do homem na terra, e para isso deveriam ser coletados fatos a partir de observações e então derivadas teorias. Tal proposição constitui a base do indutivismo, que hoje é exaustivamente combatido, seja pelas teorias do falsificacionismo, hipotético dedutivismo, relativismo ou objetivismo. O indutivismo propõe, equivocadamente, a universalização de uma teoria a

236 "Yet although the users are free to choose to watch a particular video sequence, or to read a

particular text, they can only choose from the options that are provided by the designers of such packages." Ibdem.

237 LÉVY, Pierre. As Tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática.

partir da observação particular. Um exemplo clássico nos dá Bertrand Russel, contando do peru indutivista:238

"Esse peru descobrira que em sua primeira manhã na fazenda de perus, ele fora alimentado às 9 da manhã. Contudo, sendo um bom indutivista, ele não tirou conclusões apressadas. Esperou até recolher um grande número de observações do fato de que era alimentado às 9 da manhã, e fez essas observações sob uma ampla variedade de circunstâncias, às quartas e quintas-feiras, em dias quentes e dias frios, em dias chuvosos e dias secos. A cada dia acrescentava uma outra proposição de observação à sua lista. Finalmente, sua consciência indutivista ficou satisfeita e ele levou a cabo uma inferência indutiva para concluir: Eu sou alimentado sempre às 9 da manhã. Mas, essa conclusão demonstrou ser falsa, de modo inequívoco, quando, na véspera do Natal, ao invés de ser alimentado, ele foi degolado. Uma inferência indutiva com premissas verdadeiras levaram a uma conclusão falsa."

No caso da indução a dedução não é lógica por generalizar uma observação particular, o que nega o indutivismo como método científico.

Parece-nos correto afirmar que o método científico aceita a formulação de hipótese e posteriores deduções lógicas a fim de refutar tais hipóteses. Para reconhecer se uma hipótese é refutável, e portanto científica, devemos recorrer a deduções sobre a possibilidade do acaso e sua possível refutação. Caso não seja refutável, não pode ser aceita como ciência. Se dissermos que choverá ou não choverá, nenhum acaso que imaginemos altera essa 'verdade', portanto essa formulação não acrescenta nada para o mundo, e não é aceita como hipótese. Não queremos dizer que a hipótese deve ser refutada, mas tem que ser potencialmente refutável.

O processo de aquisição de conhecimento (a interação entre observador e a informação) através do computador pode ser considerado uma das realizações do potencial do computador contemporaneamente. O computador passa a ter função indispensável, por ser capaz de guardar todo o

238 CHALMERS, Alan. F. What is this thing called science? : an assessment of the nature and

conteúdo e permitir que seu acesso seja feito de acordo com a necessidade do usuário. O processo de aquisição de informação usando o computador pode ser considerado como indutivo. Qual a vantagem de usar o computador se sabemos das limitações do método indutivo? Para o conhecimento por interação, talvez o indutivismo seja um grande passo. Peter Lyman239 argumenta que crianças

aprendem jogos no computador de maneira muito mais prazerosa quando utilizam a indução, ou seja, quando descobrem que a combinação do control com alguma letra é capaz de executar uma função, são induzidas a investigar todas as demais opções empiricamente. A diferença deste tipo de indução para a indução da ciência, é que nesse caso o computador fornece uma gama limitada para observação. O peru indutivista jamais estaria enganado se a fazenda de perus fosse reduzida à interface de comandos entre o teclado e a máquina. Na maioria dos casos de uso do computador os comandos são predeterminados, o que faz com que o conhecimento das partes leve à generalização assegurada, ao contrário da ciência, onde o procedimento indutivista torna- se perigoso pelo fato de não existir essa predeterminação do conhecimento geral que pretende-se atingir. Ainda assim, existem possibilidades no uso do computador, que não podem ser garantidas à priori, como o caso dos 'objetos autônomos'240. Estes, apresentam em si a imprevisibilidade,

como na simulação. Como na natureza, não há como prever todas as possibilidades de interação entre 'objetos autônomos'. Graças à possibilidade da existência de 'objetos autônomos' no ambiente computadorizado, podemos especular sobre o hipotético/dedutivismo como potencialidade para a multimídia interativa.

As pessoas lembram-se de cerca 10% do que lêem, 20% do que ouvem, 30% do que vêem, 40% do que vêem e ouvem,

239 LYMAN, Peter. Computing as performance art. [publicado eletronicamente em

http://www.educom.edu/web/pubs/review/reviewArticles/30428.htm], 1995.

240 Consideramos como objetos autônomos aqueles elementos que, num ambiente

computadorizado, são programados para executar uma série de funções independentemente de sua interação com outros elementos; ou seja, não programa-se as possibilidades de interação entre os objetos, mas a potencialidade de cada objeto em si.

80% do que falam, e 90% do que falam e fazem ao mesmo tempo.241, o que nos permite avaliar que o processo de

aquisição do conhecimento deve ser interativo, exigindo dos usuários respostas sonoras e atividades. Discutiremos a seguir duas possibilidades da disponibilização de conteúdo no computador, ambas multimidiais interativas. A primeira refere-se à manipulação do conteúdo de maneira indutiva, onde todas as possibilidades estão programadas. Neste caso bastam observações sucessivas para a dedução da 'estrutura de navegação' e assim chega-se ao conteúdo de forma óbvia e desestimulante. A segunda, levantada pelas investigações desse trabalho, refere-se às possibilidades da interação real entre o usuário e os objetos autônomos, numa espécie de simulação hipotético/dedutivista. Nesse caso o conteúdo é alcançado de forma inusitada, permitindo o acaso, aumentando as expectativas do usuário e colaborando para melhor apreensão do conteúdo.