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Inequações úteis aos processos licitatórios e ao sistema de custos propostos

No documento Revista da Procuradoria-Geral do Banco Central (páginas 179-182)

Licitatórios para Aquisição de Bens e Contratação de Obras e Serviços

3 Controle do fator gasto total nos processos licitatórios para aquisição de bens e contratação de serviços e obras

3.3 Inequações úteis aos processos licitatórios e ao sistema de custos propostos

Além das inequações supramencionadas, existem duas outras que são úteis ao controle do processo licitatório e ao próprio sistema de custeio por atividades a ser implementado, conforme será visto agora.

A inequação [4], apresentada a seguir, deve ser aplicada exclusivamente quando, após a desclassifi cação de todos os proponentes por preço excessivo, o órgão ou a entidade responsável pelo processo licitatório for avaliar a possibilidade de solicitar novas propostas (§ 3o do art. 48 da Lei no 8.666, de 1993):

Plic – Ppp ≥ Δ CLic [4] onde:

Plic = melhor preço obtido na fase de julgamento do processo licitatório; Ppp = preço projetado para novas propostas;

Δ CLic = custo para analisar as novas propostas.

Tanto o valor de Ppp quanto de Δ CLic devem ser estimados. O primeiro deve ser calculado com base nos preços constantes de registros de preços, tais como o comprasnet, ou os preços oriundos de certames licitatórios. Nota-se que essa estimativa se torna mais adequada se forem utilizados os preços cotados em outros certames pelos próprios licitantes que serão responsáveis por novas propostas, mesmo que eles não tenham vencido esses processos. Além disso, quanto mais próxima for da quantidade, da qualidade e do prazo do certame, melhor será a estimativa. Por outro lado, se não for possível utilizar algum dado de um registro de preço, poder-se-á aplicar percentual redutor sobre o valor oriundo da pesquisa de preços de mercado anteriormente realizada. Por fi m, o Δ CLic deve ser estimado com o histórico anteriormente registrado pelo sistema de custeio da própria licitação.

A observância da inequação [4] fortalece as decisões relacionadas à solicitação de novas propostas, pois, provavelmente, será alcançada posição mais vantajosa para o órgão ou a entidade responsável pelo processo licitatório, pois os gastos irão se reduzir. Por outro lado, se a inequação em tela não for observada, duas constatações importantes devem ser feitas: não valeria a pena solicitar novas propostas, e existiria considerável possibilidade de o processo de análise das propostas ser inefi ciente (fases de habilitação e julgamento), particularmente, haver excesso da mão de obra utilizada ou lentidão na realização dos trabalhos de avaliação.

Já a inequação [5], expressa a seguir, é um instrumento útil para, após o recebimento das derradeiras propostas dos licitantes, auxiliar a decisão conclusiva sobre o processo licitatório, a ser tomada pelo órgão ou entidade da Administração Pública responsável por ele.

Clic + Plic ≤ Pm + Pnl + Pna [5] onde:

Clic = custos associados ao processo licitatório, tanto os diretos quanto os indiretos;

Plic = melhor preço obtido na fase de julgamento de um processo licitatório; Pm = preço do mercado do bem objeto do certame licitatório;

Pnl = previsão do prejuízo oriundo da realização de nova licitação;

Pna = previsão de outros prejuízos oriundos da ausência do objeto desejado pela Administração Pública devido à licitação frustrada, a ocorrer durante o período entre as duas licitações.

Deve-se esclarecer que o valor de Clic é, provavelmente, bem próximo ao valor Pnl, tendo vista que, se alguns custos não foram computados no primeiro, também não seriam no segundo21; e o prejuízo oriundo da não realização do processo licitatório é, em regra, muito baixo. Portanto, a inequação [5] poderia ser simplifi cada, em várias situações, para Plic ≤ Pm.

A interpretação da inequação [5] é clara. Ela estabelece situações em que valeria a pena manter o processo licitatório vigente, tendo em vista que o somatório 21 Entre esses custos, encontra-se uma pesquisa ampla no mercado para especifi cá-lo adequadamente, ou seja, para defi nir o

de Plic com Clic, embora seja superior ao Pm, descumprindo a inequação [1], não ultrapassaria o valor do somatório desse preço com prejuízos oriundos da licitação frustrada, ou seja, o valor excedente dos gastos do órgão ou da entidade da Administração Pública licitante que violaria a inequação [1] seria inferior aos prejuízos oriundos da licitação frustrada. Por outro lado, o descumprimento da inequação [5] não signifi ca, necessariamente, que deverá ser obrigatório realizar novo certame, pois nem sempre se pode garantir que novo Plic compense os prejuízos de uma licitação anteriormente frustrada, e a lei só obriga a desclassifi car todos os licitantes, quando os seus preços apresentados forem excessivos.

Em síntese, considerando as propostas fi nais de um processo licitatório, em consonância com as equações [1] e [5], pode ser observado o gráfi co a seguir:

Gráfi co 1: Regiões de localização do Plic que defi nem atitudes a serem tomadas

Na região 1, o Plic corresponde a uma proposta vantajosa, pois a inequação [1] é observada. Na região 2, o Plic da licitação original deve ser aceito, porque o valor do somatório de Plic com Clic que ultrapassa o valor de Pm é inferior aos prejuízos oriundos da licitação frustrada. Na região 3, o órgão ou a entidade da Administração Pública deve manter a licitação original, consoante dispõe a lei de licitações, dado que o preço não é excessivo (é inferior ao preço de mercado com um excesso, ou seja, inferior a Pm + ΔP). Na região 4, o preço seria excessivo. Assim, para a modalidade pregão, deve-se realizar nova licitação; para as demais modalidades licitatórias, deve-se realizar contratação direta por dispensa de valor ou novo certame, nos termos do inc. VII do art. 24 da Lei no 8.666, de 1993, desde que sejam observados os três requisitos necessários nele expressos, consoante já explanado, ou, caso contrário, realizado novo processo licitatório.

Nota-se que, nas regiões 1, 2 e 4, a atuação administrativa se encontra em conformidade com os princípios da legalidade e da efi ciência, e com o aspecto da fi scalização fi nanceira e orçamentária da economicidade. Na região 3, a atuação administrativa se encontra em consonância com o primeiro princípio, em que

Princípios aplicáveis

Efi ciência e Legalidade Legalidade Efi ciência e Legalidade

Região 1 Região 2 Região 3 Região 4

pese existir possibilidade razoável de ser contrariado o princípio da efi ciência, ou seja, de haver confronto entre os dois princípios, e de o primeiro prevalecer. Essa prevalência se dá, consoante as lições de Alexy (apud. BENAVIDES: 2007, p. 280), porque, no confronto entre dois grupos de princípios, prevalece aquele que tiver maior valor para o caso concreto, afastando o outro grupo.

4 Controle dos custos relacionados ao processo licitatório

No documento Revista da Procuradoria-Geral do Banco Central (páginas 179-182)

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