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Inexigibilidade de apresentação de certidão negativa: Limitação ao direito de tributar135

CAPÍTULO 4 – A FUNÇÃO SOCIAL DA EMPESA COMO INSTRUMENTO DE

4.3 Comentários aos julgados atinentes ao tema

4.3.6 Inexigibilidade de apresentação de certidão negativa: Limitação ao direito de tributar135

Conforme dispõe Coelho (2011, p. 369):

Nem toda empresa merece ou deve ser recuperada. A reorganização de atividades econômicas é custosa. Alguém há de pagar pela recuperação, seja

na forma de investimentos no negócio em crise, seja na de perdas parciais ou totais de crédito. [...] Como é a sociedade como um todo que arca, em última instância, com os custos da recuperação judicial das empresas, é necessário que o judiciário seja criterioso ao definir quais merecem ser recuperadas.

Conforme se observa, existe sim um crivo que deve ser observado acerca da avaliação sobre a necessidade ou não de uma empresa passar pelo processo de recuperação, inclusive, é importante que cada vez mais se possa objetivar as características inerentes àquelas empresas que necessitam da recuperação, de modo que seja fácil e rápida a detecção da possibilidade de impedir uma falência. Contudo, conjugando a hipótese de estarmos tratando de uma empresa que cumpre os pressupostos necessários a recuperação, mister ressaltar que é necessário ponderar novas possibilidades como estas que, evidentemente consubstanciadas no princípio da preservação e da função social da empresa, impedem que uma empresa que não produz a coletividade tenha o mesmo tipo de tratamento daquela que traz benesse e que muitas vezes está atrelada a qualidade de vida de determinadas parcelas da sociedade.

Sobre estes aspectos, um dos muito requisitos legais que foram criados para delinear as empresas passíveis de falência ou recuperação é o da exigência da certidão negativa de débito, contudo, esse requisito tem sido alvo de críticas doutrinárias e jurisprudenciais. A exigibilidade das certidões negativas de débitos fiscais (art. 57, Lei nº 11.101/05 e que também é preceituado no Código Tributário Nacional em seu art. 191-A), como pressuposto de admissibilidade para o processamento da recuperação judicial acaba saindo da perspectiva anteriormente abordada. Quando há concordância dos credores, quando é considerada viável a elaboração de um plano de recuperação judicial, a exigência dessas certidões, se torna mínima em relação aos benefícios que a consecução da recuperação pode vir a trazer para a coletividade, portanto, nossos tribunais vêm decidindo que não é necessário o cumprimento desse requisito, vejamos:

Recuperação Judicial. Certidões negativas de débitos. Exigência para homologação do plano aprovado pelos credores. Descabimento em face da omissão do Poder Executivo que não cuidou de propiciar instrumento normativo que permitisse parcelamento adequado dos débitos fiscais.

Dispensa. Recurso provido para esse fim (SÃO PAULO, 2012d).

Ainda:

Alvará Judicial para extinção de sociedade. Sócio falecido. Exigência de apresentação de certidões negativas de débito. Agravo de instrumento.

Empresa de pequeno porte. Regramento diferenciado. Apresentação de certidões desnecessárias. Recurso provido (SÃO PAULO, 2011b).

De fato, é cediço que existe uma nova visão que paira sob as decisões atinentes a falência e recuperação no Brasil, visão essa que tem como norte a função social e o princípio da recuperação de empresas para decidir esses casos de forma diferenciada.

4.4 Da importância social da saúde empresarial, econômica e jurídica

É interessante pontuar que a perspectiva de atenção a função social e de preservação da empresa, além das novidades trazidas à esfera de direitos do empresário brasileiro, tem-se demonstrado uma tendência em todo mundo. Cada vez mais é embutido no comportamento empresarial características que em tempos mais remotos não eram nem pensadas, isso porque o espírito do tempo a algumas décadas atrás possuía um cunho muito individualista, ainda hoje possui, mas cada vez mais esse pensamento vem dando lugar para algo um tanto mais pretensioso.

Não é difícil encontrar mudanças paradigmáticas entre o pensamento posto, vigente, e àquele que pertence ao passado, um bom exemplo disso é o nosso código civil, isto é, o espírito da lei que inspirou o código de 1916 foi claramente diferente daquele que inspirou o código civil de 2002, sendo que, neste último, percebe-se um quê muito menos individualista e principalmente, solidário.

O próprio instituto da função social veio fortemente demonstrar essa diferença, a despeito disso, cumpre salientar que essa mudança de pensamento veio, em conjunto com mudanças ocorridas na consciência coletiva – fazendo alusão aos ensinamentos de Durkheim - mais precisamente e atinente ao assunto, se antes o comportamento empresarial era visto de forma mais restrita, puramente individual e capitalista, agora o pensamento se desenvolveu no sentido de apontar que não basta o mero desenvolver de uma atividade sem que está se demonstre útil à coletividade, além disso, as pessoas passaram a quantificar o preço que custa ter a disposição este ou àquele serviço, este ou àquele produto, isto é, alguma variáveis como sustentabilidade, segurança, ativismo, e consciência social tem diferenciado o meio empresarial, sendo que àquelas empresas que atendem esses novos reclames sociais, tem tido uma aceitação muito maior e consequentemente um sucesso muito maior.

Esse tipo de empresa tem se classificado como àqueles que cumprem o triple bottom line, que reúne algumas críticas:

A sustentabilidade, em termos de documentos da ONU (Organização das Nações Unidas) e rascunhos para a Rio+20, gerou uma visão de base para sustentabilidade que tem o seguinte tripé:

Ser economicamente viável;

Ser socialmente justo;

Ser ambientalmente correto.

Também conhecido como “Triple Botton Line” , linha de três pilastras, foi criado em 1990, por John Elkington, inglês, fundador da ONG SustainAbility. Essa concepção de tripé de sustentabilidade tem recebido críticas de diversas correntes.

No quesito de “economicamente viável” há um paradoxo, pois a economia atual, ainda preenchida de conceitos e ações do século XX em pleno início do século XXI, ainda é estimulada pela concorrência, pela contratação de mão-de-obra mais barata e busca do lucro pelos estímulos do consumismo que mantém o faturamento das empresas e do ritmo de geração de empregos.

O quesito socialmente justo falha na concepção de uma sociedade que se mantém no ciclo lucrativo da competição que deixa à margem cerca de 2 bilhões de pessoas na miséria no mundo e, principalmente, nos países mais pobres do mundo alheios a uma política social e institucional séria.

O terceiro item, o “ambientalmente correto” também é considerado utópico pelo ritmo desenfreado de ações extrativistas e destruidoras nos ecossistemas do planeta em prol da produção de serviços e produtos nãos-sustentáveis, ou sustentáveis em nível simbólico e marketista em algumas ações de comunicação empresarial. A humanidade e o seu ritmo produtivo pós-industrial ainda não conseguiu mitigar o avanço das poluições e do excesso de consumo de energia no planeta, havendo somente ações e projetos pontuais de relevância contra o aquecimento global e na defesa de biomas e espécies (REBOUÇAS, 2012).

Mas revela que, como anteriormente dito, as variáveis que compõe o que é dito como uma boa empresa já estão se formando e são objeto de ampla discussão, mais do que isso, diante desta proposição, resta demonstrada a grande importância que a empresa tem para a coletividade, uma empresa funcionando de forma inteligente e saudável dá muitos frutos a coletividade, sem dúvidas que é interessante garantir sua preservação.

Olhando pela ótica do Direito, vê-se a importância de garantir que as empresas que se encaixam no grupo daquelas que proporcionam desenvolvimento e benesses para a coletividade tenham garantias e possibilidades de se reerguer, o que é exatamente o pressuposto da lei de falências e de recuperação judicial assim como é o pressuposto do princípio da preservação da empresa que vem uniformizando a jurisprudência de nossos tribunais e endossando o pensamento vanguardista do cumprimento da função social.

4.5 Da função social ao princípio da recuperação da empresa, os