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4. CONFORTO AMBIENTAL NAS DIFERENTES ESCALAS E SUAS RELAÇÕES

5.1 A IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE CONFORTO TÉRMICO E OS ESTUDOS QUE OS REVELAM

5.1.1 A INFLUÊNCIA DOS VENTOS

Além da grande influência sobre o conforto térmico, o vento é uma variável meteorológica fundamental para se pensar em uma variada gama de fenômenos. No domínio da agricultura, por exemplo, ele influencia, positivamente, na aplicação de defensivos quando necessário e na polinização das flores. Diversos outros estudos ainda, apresentam o vento como sendo uma variável indutora na propagação de doenças e em práticas relacionadas com a elaboração de quebra-ventos (CAMELO et al., 2018; SANTOS; SANCHES, 2013; ALVES; SILVA, 2011; DALLACORT et al., 2010). Deve-se destacar, também, a utilização do vento como uma fonte de energia renovável (energia eólica).

Em termos de conforto térmico, deve-se considerar que a direção predominante do vento é aquela que ocorre com maior frequência e é decorrente da posição do local em relação aos centros de pressão atmosférica, podendo variar em termos de tempo e espaço, devido a influência da geografia e de obstáculos naturais e artificiais junto ao solo.

Segundo Alves e Silva (2011), o relevo, por sua vez, possui um efeito prolongado, o que pode definir a direção predominante do vento. Os autores apontam que devido a convergência ou divergência de ventos em uma determinada faixa de latitude, essa definição ocorre com configurações impostas pelos sistemas meteorológicos de grande escala ou até mesmo de escala sinótica às massas de ar (ALVES; SILVA, 2011). Percebe-se que, no Brasil, além dos atlas eólicos em macroescala utilizados principalmente para a questão da geração de energia, são poucos os estudos sobre a direção e a velocidade dos ventos, e que eles, também, não retratam a distribuição espacial e temporal dos ventos nas regiões brasileiras, sobretudo naquelas em que há um grande interesse socioambiental, como nas florestas, principalmente a Amazônica. Nesse contexto, Alves e Silva (2011) apontam alguns estudos expressivos.

Silva et al. (1997), pensando na direção e velocidade dos ventos em Pelotas – RS, concluíram que a direção predominante dos ventos varia, sempre, de acordo com a estação do ano. Apontam que na primavera e no verão, por exemplo, a direção

predominante é leste (E), enquanto que no outono a direção é sudeste (SE) e, por fim, no inverno, o que prevalece é o nordeste (NE). Os pesquisadores frisam, ainda, que em todas as estações do ano há uma expressiva incidência de ventos de direção nordeste (NE). Outro estudo (GALVANI et al., 1999) sobre a região de Maringá, no Paraná, detectou que a direção predominante dos ventos no período diurno foi nordeste enquanto que no noturno foi sudeste (de janeiro a maio e de outubro a dezembro) e a leste (de julho a setembro). Moreno (1961), por sua vez, constatou que a direção normal predominante para Santa Maria (RS) é leste (E).

Nesse contexto, identificar estudos que se ocupam em estudar a direção e velocidade do vento é muito importante para a utilização nas mais diversas áreas.

Existe a necessidade da elaboração de novas pesquisas que busquem um maior detalhamento dos mapas eólicos de forma a aproximar os dados a efetivas recomendações construtivas, considerando a rugosidade do terreno e as edificações existentes. Na construção civil, por exemplo, são relevantes pois influenciam tanto em projetos arquitetônicos como estruturais. Em sua influência no espaço construído, a ventilação natural pode atuar como uma importante aliada na busca por condições ambientais favoráveis, tanto com relação ao conforto térmico quanto à higiene dos ambientes (CAMELO et al., 2018; SANTOS; SANCHES, 2013; ALVES; SILVA, 2011;

DALLACORT et al.; 2010). Cabe destacar, porém, que muito estudos ainda devem ser realizados, sobretudo, em regiões que há períodos secos e quentes ao longo do ano, pois o vento tende a ser aquecido, bem como, quando existe a presença de partículas em suspensão.

Santos e Sanches (2013) em seus estudos no Município de Sinop, apontam que várias cidades do Mato Grosso do Sul, não possuem estudos sobre as características dos ventos, sobretudo aqueles relacionados com a direção e à velocidade, o que impossibilita a realização de projetos adequados às condições climáticas da região, sendo por este motivo que os autores se debruçaram nesta região. Apontam, ainda, que os dados históricos mais antigos e que deram suporte aos estudos anteriores referem-se à estação meteorológica convencional do INMET localizada a cerca de 70 km do centro da cidade (no município de Vera). Os pesquisadores acreditam que essa estação, no entanto, fornece dados pouco representativos bem como poucos registros diários.

Apresentam que no ano de 2006, a situação começou a se reverter aos poucos, isso porque, de acordo os autores, começou a operar a estação automática do INMET (a cerca de 20 km do centro da cidade). Nesse período, já era possível contar com dados horários relacionados com as variáveis climatológicas que eram tomados numa posição mais favorável e representativa.

A observação destes estudos para o presente trabalho é de fundamental importância, pois demonstra a carência e as dificuldades encontradas pelos pesquisadores em realizar uma melhor caracterização do vento para uma determinada cidade, e a adoção de tais estudos para a elaboração dos indicadores.

Os espaços construídos poderão ser desenvolvidos com um maior conforto e um menor consumo energético, a partir da adoção de parâmetros urbanísticos possuidores de estratégias bioclimáticas mais específicas para a cidade em questão.

Nesse sentido, é necessário fazer uso de valores de velocidade e direção dos ventos mais precisos, contendo cálculos direcionados à ventilação natural e o dimensionamento de aberturas.

A partir da identificação do surgimento e do aumento das edificações do tipo

“caixas de vidro” nas cidades, é importante considerar, que estratégias bioclimáticas de ventilação natural precisam ser incorporadas em projetos arquitetônicos. Para tanto, estudos apontam que é necessário fornecer corretamente os valores de direção e velocidade do vento tanto em estações chuvosas quanto secas, em diferentes períodos do dia, além de que é necessário apontar as diferenças nesses períodos relacionadas com o aproveitamento da ventilação natural nas edificações. Assim, segundo o estudo de Santos e Sanches (2013), a partir da obtenção dos dados de direção e velocidade do vento, devem ser destacadas as principais estratégias para que haja um melhor aproveitamento da ventilação natural, de forma geral, visto a importância desta para a renovação do ar e o controle da temperatura e umidade nos ambientes.

Assim, durante estações chuvosas, ou seja, quando há excesso de umidade, torna-se fundamental que todo e qualquer ambiente seja ventilado para que o conforto e o bem-estar não sejam perdidos, de modo a possibilitar, sempre, o conforto térmico

dos ocupantes bem como para se evitar a proliferação de bactérias nocivas à saúde humana.

Para se ter uma ideia da especificidade dos estudos, Santos e Sanches (2013), pensando em Sinop, concluíram que é necessário que as aberturas de entrada de ar estejam voltadas para as direções Norte ou Noroeste e recomendam, para o Município, a utilização de proteções solares, como pergolados, beirais ou brises.

Entretanto, apontam que para o período de estiagem, a ventilação natural deve ser utilizada com cautela pois o ar se encontra aquecido e carregado de partículas em suspensão.

A escolha deste trabalho em Sinop demonstra claramente que estudos podem apontar indicadores diferentes para determinadas regiões, e com níveis de influência diversos que servirão como base para a definição dos parâmetros urbanísticos.