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Microrregião Brejo Pernambucano

ARRECADAÇÃO DAS COLETORIAS FEDERAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO (1932-1936)

4.3. A Influência da Economia na Cultura

Decisivamente, a economia tem uma forte influência sobre a cultura dos povos... Com Pesqueira não seria diferente. Ali, mais do que tudo, essa influência era evidente, pois se tratando de uma pequena comunidade interiorana, a presença do poder econômico na vida da população marcava muito acentuadamente essa ascendência.

Ao analisar essas questões, buscou-se informações na transmissão oral, nas experiências vividas por antigos moradores da localidade e ex-funcionários das fábricas, que ofereceram subsídios mais eficientes e verídicos do que a literatura poderia ofertar.

Observe-se, logo, que já no início do século XX era intensa a atividade cultural da comuna, que caminhava ativa ao lado do vigoroso comércio e do pioneirismo da agroindustrialização, cujos empreendimentos faziam com que Pesqueira polarizasse todo o Agreste e Sertão pernambucano, tornando-se um intenso centro de convergência religiosa e educacional.

O primeiro cardeal da América Latina, D. Joaquim Arcoverde, nascido em Pesqueira, a cognominou de “A Atenas do Sertão”, em virtude de sua pujança educativo- cultural, numa época em que o interior era desprovido de qualquer apoio e incentivo à cultura, de vez que tudo que se relacionasse ao desenvolvimento era concentrado nos centros maiores.

É preciso, no entanto, ressaltar que, se a potencialidade econômica favorecia - a reboque - o desenvolvimento cultural, em suas várias acepções, não se pode deixar de se assinalar que não havia, por parte dos representantes do setor industrial, a preocupação específica de promover diretamente esse desenvolvimento.

A influência da economia sobre a cultura era, portanto, uma conseqüência. Ela se dera, conforme se pode constatar, pela condição natural de absorção de uma civilização que nasceu tendo como paradigmas: a família, a fé e a educação. Essas foram as três edificações (uma casa residencial, uma igrejinha e uma sala/escola) construídas pelo fundador de

Pesqueira, no início do século XIX, formando, assim, um tripé que seria vivenciado, posterior e continuamente, pela comunidade.

Há que se reconhecer que um dos maiores alavancadores culturais, afora a conseqüente contribuição da economia, fora à criação, por transferência, da Diocese de Pesqueira, em 1919, que trouxe para a cidade um expressivo número de padres, que passaram a exercer, naturalmente, uma enorme influência cultural no meio da sociedade local.

Numa época em que o catolicismo exercia uma quase absoluta influência no meio social e que conduzia o ensino médio (particular) no país, sua autoridade natural era indiscutível. Toda essa atuação, contudo, era benéfica à sociedade e contribuía significativamente para o seu desenvolvimento educacional.

Igualmente, não se pode obscurecer o desempenho de figuras individuais que cooperaram expressivamente para esse estágio de progresso cultural da comunidade. Desde os mais simples e anônimos habitantes (os artesãos, as rendeiras, industriários, os mais diferentes profissionais liberais), como os intelectuais, os políticos e os abastados, que deram sua parcela de contribuição para o aprimoramento cultural.

Pesqueira, a partir do início do século XX, nunca deixou de ter um jornal semanal. O primeiro semanário foi o Serrano, surgido em 1900, sob a direção dos irmãos Anísio e Alípio Galvão. Ele era todo manuscrito. Mas o mais importante jornal daquele início de século fora Gazeta de Pesqueira, fundado por Sebastião Bezerra Cavalcante, em 1902, onde se destacaria o talento de Zeferino Galvão que, posteriormente, passou a ser o seu proprietário.

Esse ilustre jornalista e escritor fora, sem dúvida, a figura proeminente das letras em Pesqueira. Nascido em um desconhecido recanto rural das redondezas, de família humilde, foi um autodidata que falava e escrevia em francês e latim, um enérgico produtor literário, que teve seu trabalho publicado em várias partes do país. Militou por muitos anos na imprensa, questionando e lutando pelas coisas da região.

Só para citar uma dessas importantes atuações de Zeferino Galvão, pode-se mencionar sua defesa, feita através de seu jornal Gazeta de Pesqueira, da mudança do trajeto projetado para a ferrovia, que saindo de Recife teria como destino final o Estado da Paraíba, argumentando que os trilhos deviam de Pesqueira, que era a última estação ferroviária do Estado, seguir rumo ao Sertão, em direção à Povoação de Olho-D’água-dos-Bredos, depois denominada Rio Branco e, posteriormente, Arcoverde, pois acreditava o jornalista que o trajeto beneficiaria o município de Pesqueira e as ligações geográficas do interior pernambucano.

O percurso original planejado pela linha férrea inglesa seguia da estação de Sanharó, anterior à estação de Pesqueira, para municípios da Paraíba, ou seja, impossibilitando a ligação férrea entre o Agreste e o Sertão. Depois de uma longa contenda, através da publicação de vários artigos que defendiam a continuação do trajeto pelo interior de Pernambuco e com o apóio de vários jornais do interior, de Recife e até de outros estados (Ceará, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná), a solicitação do obstinado jornalista foi atendida pela Great Western, antiga concessionária das linhas de ferro do Nordeste e, em 1910, ouviu-se o primeiro apito do trem chegando à Ipanema, Distrito de Pesqueira e, depois, rumo ao Sertão 121.

Para relatar esses fervorosos artigos publicados por Zeferino em seu Jornal, na campanha que fez em favor da continuidade dos trilhos, foram separados dois trechos da Gazeta de Pesqueira, um da edição de 07 de junho de 1908 e o outro da edição de 02 de agosto do mesmo ano, respectivamente:

“Corre fama e tem razão de ser que o prometido prolongamento de nossa estrada de ferro com destino a Triunfo será autorizado, porém com flagrante violação aos interesses deste município e, sobretudo, à sede desta comarca, donde soltamos o grito de protesto em nome do direito e de uma população superior a 50.000 almas. Asseveram que está deliberado o prolongamento, não de Pesqueira que é o ponto terminal da linha, e sim da estação de Sanharó que fica a 16kms e é um ________________________

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povoado de algumas dezenas de casas. Assim feito, deixará de beneficiar o centro de Pernambuco, pois bifurcando-se para o norte, atravessará necessariamente uma faixa da Paraíba e um território improdutivo” 122.

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“Seria um verdadeiro descalabro o prolongamento da estrada de ferro pelo povoado de Sanharó, deixando Pesqueira mergulhada no maior dos ostracismos, gemendo ao peso do desrespeito e vendo cair na ignomínia o talento de seus filhos, a riqueza de seu solo, o seu alto comércio e indústria, e a marcha da cidade que principia a ser vista pelo mundo civilizado” 123.

Naquela época um simples jornalista do interior distante não seria nem notado, mas em face do seu talento literário, Zeferino Galvão conseguiu ser chamado a fazer parte do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, bem como se tornar membro da Academia Pernambucana de Letras. Isso, sem sombra de dúvida, era um fato notável naquele tempo.

Depois da Gazeta de Pesqueira vieram muitos outros periódicos, destacando-se o Era Nova, mantido pela Diocese e que circulou por cinco décadas, sendo dirigido sempre por padres da Paróquia de Pesqueira, a Voz de Pesqueira, dirigido por Eugênio Maciel Chacon, a Folha de Pesqueira, dirigido por Paulo Oliveira, entre tantos outros de vidas mais curtas, mas não menos influentes na sociedade pesqueirense e eficazes colaboradores de sua cultura. Pesqueira, em 1927, dispunha de catorze periódicos publicados, o mesmo número de publicações de Recife no mesmo ano 124, o que caracteriza a importância que os munícipes

conferiam às letras e como o crescimento econômico do município indiretamente influía nesse avanço literário.

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122 Ibidem, p. 60. 123 Ibidem, p. 61.

Na tabela XXV foi feito um apanhado dos principais jornais de Pesqueira em cada década, de 1900 a 1950.

TABELA XXV