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Período Áureo da Industrialização Pesqueirense (1910-1950)

Microrregião Brejo Pernambucano

INDÚSTRIAS DE DOCES EM PERNAMBUCO (1909)

4. A INDUSTRIALIZAÇÃO DE VENTO EM POLPA

4.1. Período Áureo da Industrialização Pesqueirense (1910-1950)

Ingressando na fase industrial propriamente dita a partir da década de 1910, cujo crescimento seria progressivo até a década de 1950, Pesqueira viveu o período dourado de sua economia, carreada pela agroindústria da goiaba e, posteriormente, do tomate.

Em decorrência do capital acumulado com a atividade mercantil, o município teve condições de iniciar seu processo industrial, em grande parte, com seus próprios recursos, o que evidenciou o aspecto endógeno de seu desenvolvimento. A partir do capital derivado das relações de produção do setor agrário direcionadas à atividade comercial e de uma mão-de-obra composta por pessoas que se mudaram da zona rural para a cidade, Pesqueira teve os meios necessários para transferir sua base econômica, passando de cidade mercantil para pólo agroindustrial.

O processo de industrialização endógena tem como principal característica a produção de bens, geralmente produtos industriais, que são transformados pela organização flexível da produção e pela utilização intensiva do trabalho. Pode-se dizer também que a industrialização endógena está enraizada no território, pois é uma industrialização que surge em cidades de pequeno e médio porte, invariavelmente pelo empenho de empresários locais. O desenvolvimento endógeno tem seu ponto de partida na utilização de recursos do próprio território (econômicos, humanos, institucionais e culturais) 83.

Em 1910 a produção de doces é diversificada com o início da fabricação de compotas de calda de goiaba, ampliando-se também a variedade de frutas regionais que fariam parte da nova produção fabril do município (banana, abacaxi, caju, figo, etc.).

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Nesse mesmo ano os produtos industriais pesqueirenses passaram a ganhar espaço nos mercados consumidores do Sudeste, em função do maior conhecimento de suas marcas, que se firmavam em decorrência da qualidade de seus produtos e também pelo inteligente marketing adotado pelos dirigentes da Fábrica Peixe, que constantemente convidavam empresários e pessoas do Sul do país para conhecerem a cidade e as instalações da fábrica. Os visitantes sempre ficavam impressionados ao descobrirem que em pleno torrão do Semi-Árido nordestino havia uma cidade com ares européus, com acomodações sofisticadas e confortáveis e um povo civilizado. Essas visitas propagavam o crescimento industrial de Pesqueira e colaboravam para desmistificar a imagem melancólica e agonizante do Nordeste brasileiro 84.

Por conta dessa rápida difusão, as indústrias alimentícias do município receberam alguns prêmios internacionais, ultrapassando os limites da nação, como o da Exposição de Bruxelas, em 1910 e das Exposições da Argentina e de Turim, em 1911 85.

Vale ressaltar que, em 1910, o fundador das Indústrias Peixe, Cel. Carlos de Britto, assumia o cargo de prefeito do município de Pesqueira, estreitando a ligação entre os poderes político e econômico. Essa hegemonia política se prolongaria até o fim dos anos de 1950, pois o cargo de prefeito de Pesqueira era sempre ocupado por pessoas da família Britto ou por seus indicados, embora através de eleições legais, facilmente decididas em favor daquele grupo em razão de sua poderosa influência local.

Contudo, essa estreita relação entre a política e o setor industrial era alvo de duras críticas. Há várias acusações de favorecimento político ao grupo da Peixe, uma delas é a denúncia de que a Fábrica Peixe usava toda a água da cidade em sua atividade fabril, causando sérios problemas de abastecimento à população e de que era a prefeitura que arcava mensalmente com a conta de água da referida fábrica.

Outro fato delatado foi a incompatibilidade de funções exercidas por Carlos de Britto, que por ser prefeito e ao mesmo tempo proprietário da firma que detinha a concessão ________________________

84 A Região, Pesqueira, 26 out. 1941, p. 03. 85 LLOYD, Reginald. Op. Cit., p. 940.

do serviço de bonde da cidade, sentiu-se pressionado a se afastar da prefeitura, transferindo o cargo para o vice-prefeito, pois como perspicaz empreendedor preferiu que sua empresa continuasse com a concessão do serviço de bonde, que transportava diariamente passageiros e mercadorias, a ter que romper o contrato para se manter no cargo de prefeito. Seu mandato, por conseguinte, foi curto (1910-1913).

Pelo mesmo motivo o seu filho Joaquim de Britto, em 1937, teve seu diploma de deputado estadual cassado, pois a concessão do serviço de bonde de Pesqueira sempre era renovada com a firma Carlos de Britto & Cia., dona das Indústrias Peixe, da qual era sócio- proprietário Joaquim de Britto. Na época, o PSD, através do Jornal O Democrático, relatou o fato com grande fervor, propagando que a cassação política do poderoso industrial serviria para resgatar no povo a crença na lei e na justiça 86.

No entanto, não se pode contestar que pela influência política do grupo Peixe, a partir da década de 1910 a cidade de Pesqueira começaria a sentir os benefícios de uma comunidade em desenvolvimento como, por exemplo, a instalação da energia elétrica (1913), fornecida por um motor a gás, importado da Inglaterra pelo prefeito Carlos de Britto, o que muito contribuiria na vida dos citadinos.

Embora com todo o sucesso das fábricas doceiras, com a utilização da goiaba como seu principal produto, um novo fruto iria aumentar a prosperidade econômica das indústrias do município: o tomate. A cultura do tomate, apesar de ter-se tornado uma novidade agroindustrial no país apenas em meados do século XX, foi introduzida em Pesqueira, segundo estudos da EMBRAPA, já no final do século XIX, mais precisamente na década de 1890 e, conforme o referido instituto, Pesqueira foi o primeiro município brasileiro a cultivar o “tomate rasteiro”, ou seja, o tomate propício para industrialização e o fruto se adaptou perfeitamente ao clima e solo da região 87.

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86

O Democrático, Pesqueira, 31 jan. 1937, p. 01.

87 A cultura do tomate teve um grande impulso nacional apenas a partir da década de 1950, principalmente no Estado de São

Paulo, viabilizando a implantação de diversas agroindústrias. Até 1950 Pesqueira dominava o mercado nacional de produção industrial de tomate. EMBRAPA. Cultivo de Tomate para Industrialização. Disponível em: < http://www.cnph.embrapa. br/sistprod/tomate/index.htm >. Acesso em: 21 mar. 2007.

Se a industrialização do doce, conforme já conhecida sua história, deu-se quase que fortuitamente, a utilização do tomate para fins industriais, a partir de 1914, por sua vez, senão resultado de um planejamento estratégico, foi fruto de uma decisão correta e ousada dos gestores da firma Carlos de Britto & Cia., proprietários da Fábrica Peixe, pois no país ainda não se desenvolvia o plantio de tomate e, muito menos, industrializava-se sua polpa, que só era adquirida através de importação, sendo a Itália o principal fornecedor.

De início, o tomate era cultivado apenas para a fabricação de massa, cuja polpa era vendida sem um processamento mais aprimorado, sendo utilizada basicamente na conservação de sardinhas. Porém, perceberam os empresários locais que agregariam mais valor ao produto com a venda do extrato de tomate, já enlatado e pronto para o consumo, o que ocorreu a partir da década de 1920, principalmente pelo espírito empreendedor de Manuel de Britto, conhecido como Manuelzinho, um dos filhos do fundador da Peixe.

Manuelzinho de Britto enfrentou inúmeros obstáculos “para instalar e desenvolver a exploração das massas de tomate e o aumento intensivo dos doces de frutas, produtos regionais que deram também ao Estado uma posição de grande relevo na sua produção e exportação (Manuel de Britto era incansável e foi para a época, certamente um empresário nato, de grande tenacidade)” 88.

Mesmo sendo o tomate um fruto alienígena, adaptou-se muito bem no Agreste pernambucano e como é uma cultura que necessita de concentração espacial e proximidade das unidades de processamento, por ser muito perecível, as indústrias pesqueirenses incentivaram o seu cultivo não só no município, mas também em outros municípios circunvizinhos, convertendo o Agreste Centro Ocidental de Pernambuco 89 na maior área

produtora de tomate rasteiro do país.

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88 BARROS, Souza. Op. Cit., p. 52.

89 O cultivo de tomate no Agreste Centro Ocidental de Pernambucano, mais precisamente na Microrregião do Vale do

Ipojuca, na qual situa-se Pesqueira, representou uma nova e importante atividade econômica para a região, já que por muito tempo o Agreste ficou condicionado à função de abastecedor de gado bovino e eqüino para a as regiões da Zona da Mata e do Litoral e, posteriormente, sua economia ficou restrita às atividades agrícolas de subsistência (milho, feijão, mandioca, cana para a fabricação de mel e rapadura etc.) e ao plantio de algodão. ANDRADE, Manuel Correia. A Pecuária..., p. 52.

A partir daí o Agreste do Vale do Ipojuca e algumas outras mesorregiões próximas seriam invadidas pelo cultivo de tomate, cujas plantações eram todas asseguradamente compradas pelas fábricas pesqueirenses e, junto com a goiaba, a banana, o abacaxi, o caju, o figo e outros frutos, formavam a base de insumos para a produção das indústrias alimentícias do município.

Pesqueira, então, da década de 1910 até meados de 1950 viveria os melhores anos de sua história. Com a fabricação de doces, conservas de tomate e também a produção de laticínios, o município crescia vertiginosamente. O número de habitações aumentava sem cessar, embora o maior número dessas residências fosse de casas consideradas modestas 90,

ocupadas pelos operários das fábricas, situadas na periferia, nos chamados bairros proletários. Por muitos anos a cidade também possuiu um bom sistema de transporte em ferro-carril de tração animal; grandes edifícios foram sendo construídos para abrigar mais instalações fabris, várias repartições públicas e colégios; as principais ruas e praças foram melhoradas, o que deu a cidade um aspecto mais moderno e com melhor estilo arquitetônico. Enfim, o progresso chegara 91.

Indubitavelmente, a utilização industrial do tomate foi uma atitude de visão empreendedora que trouxe ótimos resultados e que se consolidaria como o principal produto fabricado pelas indústrias do município, ultrapassando, em muito, a fabricação original de doces.

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90 Conforme os dados referentes aos percentuais de tipos de casas existentes em Pesqueira na década de 1950, verifica-se que

a atividade industrial era de suma importância para a cidade, pois o predominante número de casas modestas, habitadas pelos operários das fábricas e suas famílias, demonstra o quanto a economia do município dependia dessas indústrias. “O quadro percentual (...) evidencia que, tendo em vista as diferentes categorias em que classificamos as suas construções residenciais, Pesqueira, por ser uma cidade de atividades industriais, enriquece a muito poucos mas, em compensação, proporciona trabalho e ganho de vida à grande maioria de seus habitantes.

Casas de gente rica... 9... 0,38% Casas da classe média... 353... 14,95% Casas modestas... 1719.... 72,87% Casebres miseráveis... 278... 11,79% TOTAL.... 2359... 100,00% SETTE, Hilton. Op. Cit. p. 81.

A produção de tomate compeliu às fábricas a adquirirem novas máquinas, aumentarem as suas instalações, contratarem mais mão-de-obra e melhorarem o seu potencial tecnológico. A exemplo disso podemos citar as aquisições feitas pela Fábrica Rosa: “(...) para massa e estracto de tomate conta oito vácuos com capacidade cada um de 800 kilos, de seis em seis horas, seis despolpadeiras e quatro trituradores de tomates com quatro bombas alimentadoras dos vácuos” 92.

O setor industrial não parava de se desenvolver, as plantações frutíferas e de tomate da região já não eram suficientes para abastecer as fábricas e o município passou a importar frutos de uma vasta área do Agreste, o que também modificou o cenário urbano de Pesqueira, pois era sempre crescente o número de migrantes do campo para a cidade, devido à oferta de emprego.

Outras fábricas logo começam a surgir e, em 1919, quando é fundada a Fábrica Tigre, Pesqueira torna-se, inquestionavelmente, um centro industrial. O crescimento era tanto que as fábricas, principalmente a Peixe, mudaram não só a estrutura da cidade como também da zona rural do município. A partir da década de 1920, a Fábrica Peixe, além de comprar toda a produção de frutas que lhe fosse oferecida pelos agricultores, começou o seu próprio plantio 93, adquirindo muitas propriedades rurais nas redondezas e com essa inovação

provocou outra, passou a ter trabalhadores assalariados.

O trabalho assalariado era algo incomum no Agreste pernambucano 94, sendo

mais utilizadas as formas de pagamento por produção ou tempo trabalhado, por isso se diz que foi uma inovação, já que o salário fixava o trabalhador rural na propriedade, tirando-o de uma condição semelhante a dos bóias-frias, que conseguem ocupações apenas sazonais.

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92 PERES, A.; CAVALCANTI, M. Machado. Op. Cit., p. 66.

93 FREITAS, M. Britto de. A Parceria Agrícola de Indústrias Alimentícias Carlos de Britto S/A (Fábrica “Peixe”) na

Agroindústria do Tomate de Pesqueira. Recife: 1966, p. 17.

94

Embora já houvesse no Brasil leis ordinárias que tratavam de direitos trabalhistas, como o trabalho de menores (1891), da organização dos sindicatos rurais (1903) e urbanos (1907), o trabalho das mulheres (1932) etc., apenas com a Constituição de 1934 o Direito do Trabalho teve um tratamento específico, garantindo ao trabalhador a liberdade sindical (art. 120), isonomia salarial, salário mínimo, jornada de trabalho de oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas (art. 121, § 1º) etc. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. São Paulo: Atlas, 2003, p. 39.

Todavia, os salários pagos tanto aos trabalhadores rurais como aos operários eram muito baixos, o que não lhes proporcionava uma boa condição de vida 95. As fábricas se

anteciparam a uma provável insatisfação fazendo uso de uma espécie de assistencialismo para gratificar seus empregados, como exemplo, doavam bolsas de estudos aos filhos dos funcionários que mais se destacavam em suas funções fabris, mantinham escolas primárias para os filhos dos operários e davam casas para os funcionários que não tinham onde morar, deste modo, firmava-se a figura do “bom patrão”, figura bem utilizada na época pelas fábricas do município 96.

O processo industrial estava tão bem consolidado, que mesmo com a morte do pioneiro da industrialização pesqueirense, Cel. Carlos de Britto, em 1920, não houve descontinuidade no desenvolvimento das Indústrias Peixe e, conseqüentemente, do município, mas pelo contrário, seus familiares deram seguimento às atividades industriais e alargaram os horizontes comerciais, expandindo em muito a sua atuação com a aquisição de outras indústrias do mesmo ramo em vários municípios e até em outros estados do país, com o que passaram a fabricar novos produtos.

Manuel de Britto, após o falecimento do pai, assume a direção das Indústrias Peixe, em 1920, contando com a participação dos demais familiares na administração dos negócios. O grupo Peixe fez grandes aquisições a partir desse período com a compra de várias unidades industriais em Recife, entre elas as fábricas Talher, Milton de Oliveira e Indústrias Reunidas Bernardino Costa, onde foi instalada uma estamparia com o nome Maria Britto. No interior do Estado também foram compradas mais duas fábricas alimentícias: a de doces Antônio Raposo, em Goiana e outra fábrica doceira em Bezerros 97.

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95 Os salários pagos aos operários pelas fábricas pesqueirenses eram ínfimos e as condições de trabalho não eram boas, eles

tinham pouco tempo de descanso, não recebiam alimentação apropriada e o local de trabalho não recebia uma limpeza adequada, além disso, ressalte-se ainda que em períodos de maior produção, como nas épocas de safra, a jornada de trabalho costumava chegar até 24 horas. A história do trabalho “identifica-se com a história da subordinação, do trabalho subordinado (...)”. Ibidem. p. 37.

96 CAVALCANTI, Bartolomeu. Op. Cit., pp. 51-52. 97 Ibidem, p. 50.

Em 1924 o extrato de tomate já exercia uma enorme importância na economia estadual 98 e em 1928 novamente a Peixe acrescia as suas instalações, modernizando os

equipamentos produtivos, que eram importados e seguiam a maquinaria européia, o que possibilitava uma ativa produção de extrato de tomate enlatado e, em decorrência de sua grande produção em latas, a Peixe era o maior consumidor de flandres do Estado 99.

Na década de 1930 a industrialização de Pesqueira estenderia seus horizontes. O município firmara-se como um dos maiores centros industriais do interior nordestino. Nessa década, as Indústrias Peixe alargaram suas pretensões fabris para além de Pernambuco, instalando fábricas no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A aspiração dos dirigentes era que a marca Peixe ganhasse os mercados do Centro-Sul e, já não se contentando apenas com a fabricação de doces e de tomate, o grupo Peixe passou a investir em outras indústrias alimentícias, como a Fábrica Sul América, a Fábrica Duchen (importante indústria de biscoitos) e a Usina Central de Barreiros, cuja aquisição, de expressivo valor, tinha como um dos objetivos baratear o custo do açúcar utilizado pelas suas fábricas.

Em 1934 o extrato de tomate pesqueirense atingiu o mercado nacional e provocou uma grande redução na importação do produto que vinha do exterior, particularmente da Itália, como o famoso “Pomidoro” italiano, superado pelo extrato de tomate Peixe.

As indústrias do município estavam em plena ascensão, principalmente as Indústrias Peixe, cujo administrador, Manuel de Britto, numa entrevista concedida ao Jornal Folha da Manhã, em 1938, disse ter ido a Nápoles, na Itália, para conhecer as instalações das fábricas Cyrio e observar as novidades em maquinário e tecnologia que poderia empregar nas suas fábricas 100. Essa era uma relevante característica dos industriais da Peixe, estavam

sempre ávidos por novidades do mercado. As visitas a outros estabelecimentos industriais, principalmente do exterior, mantinha-os atualizados sobre os melhores e mais modernos equipamentos e novas técnicas de produção.

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98 SANTA CRUZ, Pedro et al. Op. Cit., p. 35.

99 SOUZA, José de Anchieta. As Dobras da Vida. Recife: Ed. do Autor, 2006, p. 35. 100 CAVALCANTI, Bartolomeu. Op. Cit., p. 50.

Outro importante empreendimento para o município de Pesqueira foi a construção do campo de aviação, pela iniciativa privada (Indústrias Peixe), na década de 1940, único numa vasta área, utilizado com freqüência pelo avião da Peixe e vez por outra por autoridades que visitavam a cidade. Os habitantes da cidade já conheciam até o estilo de chegada do avião da Peixe. Quando ele dava duas voltas sobre a cidade todos logo sabiam que pessoas da família Britto estavam aterrissando e as voltas avisavam aos serviçais que se dirigissem ao campo de aviaçãopara buscá-los 101.

O aeródromo, que ficava em um ponto alto e com bela vista, a uns três quilômetros da cidade, fora construído dentro de um padrão da aviação na época, capaz de receber em sua pista de pouso não só pequenas aeronaves, mas também aviões de porte maior e ainda contava com um amplo hangar.

Devido à dimensão das Indústrias Peixe, tornou-se um dos campos mais bem utilizados do interior do Estado e até um avião da Força Aérea Brasileira, um DOUGLAS DC 3, esteve no Campo de Aviação de Pesqueira, como relata o Jornal Folha de Pesqueira, em 1947:

“Causou um acontecimento marcante de entusiasmo a vinda a esta cidade de um DOUGLAS, das Forças Aéreas Brasileiras. A aterrisagem do importante aparelho verificou-se de modo magnífico. Numa simples manobra, muito naturalmente, o bi-motor desceu no campo de pouso, ante o entusiasmo da população, calculada em cerca de três mil pessoas, que tinham até ali ido assistir ao embarque do ex- bispo de Pesqueira.

– ‘Ótimo campo’ – respondeu-nos o tenente-coronel aviador Vitor Barcelos, quando o interpelamos. Acrescentando que tinha feito sua aterrisagem sem a menor preocupação e sem o menor incidente, tanto assim que aterrisara em posição contrária, tal a confiança que lhe inspirou a segurança do campo, já anteriormente inspecionado” 102.

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101

GALINDO, Givanildo. Op. Cit., p. 123.

Não se pode deixar de mencionar que com o crescimento da industrialização, necessariamente foi surgindo no município toda uma rede estrutural constituída para atender à atividade agroindustrial, cujo arranjo produtivo era formado por uma cadeia de serviços que, embora de pequena visibilidade, apresentava grande importância econômica para a região.

O arranjo produtivo local ou cluster pode ser compreendido como “todo tipo de aglomeração de atividades geograficamente concentradas e setorialmente especializadas – não importando o tamanho das unidades produtivas, nem a natureza da atividade econômica desenvolvida, podendo ser da indústria de transformação, do setor de serviços e até da agricultura”. Diz ainda o mesmo autor que o “objetivo primordial a ser seguido é o de criar, em cada local ou região, uma atmosfera favorável ao desenvolvimento de atividades econômicas (...)” 103. Conforme tal explanação, não há dúvida que em Pesqueira existiu o

cluster da indústria do doce e do tomate e devido à produção local foram criadas